A CASA - Newsletter #37 - Ano 4 | Junho de 2011

Newsletter N°37

Junho de 2011

 

Editorial

 

A Economia Criativa é destaque da 37ª edição da newsletter, que inaugura o quarto ano da publicação. Em Entrevista, a economista Ana Carla Fonseca Reis, fala sobre a história do conceito e afirma que o potencial de mercado de produtos com conteúdo simbólico e cultural nem sempre é aproveitado.

 

Localizada em Sergipe, Divina Pastora é mundialmente conhecida por sua produção de renda irlandesa. Faça uma viagem à cidade em Matéria do MÊS.

 

Em Boa Leitura, o primeiro de uma série de artigos da antropóloga Thais Brito sobre o bordado e as bordadeiras de Caicó-RN. Não perca!

 

Corpus Christi

Em razão do feriado, A CASA estará fechada nos dias 23 e 24 de junho.


 

 

Acontece no
museu A CASA

 

 

Cunha Gago, 807

 

 

Exposição TENET - Tecendo na Net


 

Uma foto em preto e branco de 1989 publicada no Facebook, com os participantes de um antigo projeto chamado “Tecendo na rua”, gerou dezenas de comentários e a enorme vontade de um encontro. Foi assim que cerca de 50 artistas têxteis de diversos estados do país reuniram-se para desenvolver trabalhos a partir de um kit de materiais variados que lhes foi fornecido pelos organizadores do evento, Renato Imbroisi, Juan Ojea e Marta Meyer. O resultado desta experiência pode ser visto na exposição TENET - Tecendo na Net. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Até 8/7. Saiba mais.

 


 

www.acasa.org.br

 

 

 

Coleção Joia Contemporânea Brasileira

 

 

Já está no ar a coleção que traz os objetos apresentados na última exposição de A CASA. Os trabalhos, que enfatizam o papel da joia como objeto de arte e sua relação com o corpo humano, são de artistas de diversas regiões do país, entre designers de joias, cooperativas de artesãos e comunidades indígenas. A curadora Miriam Korolkovas buscou evidenciar ainda o uso de materiais alternativos, não usualmente considerados nobres dentro da joalheria, como sementes, látex,  lã, brinquedos, PET, papel craft e jornal. Veja aqui.


 

 

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A CASA está se integrando ainda mais às redes sociais. Agora, através da nossa página no Facebook, vamos divulgar eventos, postar fotos, vídeos e outras novidades do museu. Curta, comente, indique para amigos! Veja aqui.

 

 

 

Apoio

 

Entrevista - Ana Carla Fonseca Reis

 

 

“Não interferir no conteúdo cultural, mas dar uma visão de mercado à forma”


Ana Carla Fonseca Reis é economista com doutorado em urbanismo e atua como conferencista e consultora internacional em 22 países.


 

 

O que é Economia Criativa?

Não há uma definição única, mas o que se entende, via de regra, por Economia Criativa, é aquela economia que é movida por intangíveis. A Economia Criativa surge na segunda metade da década de 1990, quando a Globalização e as mídias digitais fazem com que tudo seja muito mais facilmente transferível no mundo. Antes, havia grandes bastiões da competitividade na economia, como capital e tecnologia. Hoje, eles continuam sendo importantes, mas circulam no mundo de uma forma quase volátil. O que se percebeu ao longo desse processo foi que o que não era tão facilmente transferível – e, aí sim, daria uma competitividade maior à economia – era a criatividade das pessoas.

 

Os conceitos de “Economia Criativa” e “Indústria Criativa”, que associam economia e indústria à criatividade e à cultura são vistos com desconfiança pelos defensores de uma suposta “pureza” do campo cultural?

Quando eu comecei lidar com Economia da Cultura, e depois com Economia Criativa, a primeira reação que as pessoas tinham era “lá vem a Economia conspurcar a nobre arte”. Mas a Economia não dita o que a Cultura fará ou deixará de fazer. A partir do momento em que se tem uma política cultural ou de desenvolvimento bem definida, a Economia oferece um corpo de instrumentos que indica: “se você quer chegar até lá, vá por esse caminho”. É mais um GPS do que qualquer outra coisa. Precisamos romper com essa lógica de que a Economia vai ditar alguma coisa, porque ela não é normativa.

 

A Economia Criativa pode contribuir para emancipar aqueles que trabalham na área cultural, ainda muito dependentes de editais e incentivos públicos e privados?

No Brasil, a gente tem uma tendência a pensar que, sendo produzido, o produto escoa no mercado quase por combustão espontânea, e isso não é verdade. Há um gargalo grande de distribuição e um gargalo ainda maior de demanda. A partir do momento em que você começa a fazer com que as pessoas percebam que não adianta colocar todas as fichas em produção, que você tem que pensar num fluxo, há, sim, um potencial de contribuição para que esses talentos se concretizem como agentes econômicos. Agora, do lado do produtor e do artista, também temos que ter uma mudança de mentalidade. Muitas vezes as pessoas querem produzir e criar apenas porque gostam, mais sem pensar no outro, ou seja sem pensar no "consumidor". A pessoa cria para o seu bel prazer. Isso é diletantismo. Se ela depende de recursos públicos ou privados e não pensa no potencial de mercado, é porque ela está criando para si e não criando para o outro. Se a pessoa quer se entender como artista profissional, como um agente econômico, ela tem que lembrar que seus produtos vão encontrar um mercado e verificar quem é o potencial consumidor. Essa passagem de assistencialismo para empreendedorismo é algo que muitas vezes, no Brasil, causa certo mal-estar. Ainda existe aquele ranço, que vem desde a Idade Média e é uma grande visão romântica, de que “eu tenho que ter um mecenas, seja público, seja privado, para pagar as minhas contas”. Isso não funciona mais e vai funcionar cada vez menos, porque o governo tem cada vez menos dinheiro e as empresas privadas estão cada vez mais concorrenciais, tendo também cada vez menos recursos para investir.

 

Por sua compreensão do mercado e capacidade de tradução ao consumidor de conteúdos simbólicos e culturais, o design é um dos conceitos chave da Economia Criativa. Qual a importância de aliar o design ao artesanato na promoção do objeto brasileiro?

Existem diversas formas de você incorporar o Design no artesanato. Tem a forma mais acintosa, problemática e assassina de agir, que é quando se transforma o conteúdo cultural que está embutido no artesanato, falando assim: “Deixe de fazer isso da forma como você faz, comece a utilizar outros materiais, porque é isso que o mercado quer”. Com isso, você se vende ao mercado e esvazia aquele conteúdo cultural. O extremo da escala é quando se fala assim “Que maravilha, que bacana, vamos vender tal qual”, e daí ninguém vende, ou vende naquela história de alguém comprar porque acha super bacana a forma como foi produzido, mas quando chega em casa não sabe nem o que fazer com aquilo. O meio do caminho, que, via de regra, é o mais sábio, é não interferir no conteúdo cultural, mas dar uma visão de mercado à forma. Por exemplo, se eu sei que determinado produto vai ser transportado, tenho que fazer uma embalagem propícia ou pensar num material que não vá se espatifar no meio do translado; se eu faço grandes peças e as pessoas, normalmente, moram em apartamentos diminutos, não adianta eu continuar a fazer naquele tamanho, talvez tenha que diminuir a escala. Então, você mexe na forma, mas não no conteúdo. Se adotarmos isso como estratégia dentro do setor, é interessante, porque começaremos a perceber que, de novo, as coisas são conciliáveis. Com isso, há um olhar sobre o outro, e não aquele artista desconectado do mundo, que produz o que quer e acha que o outro “vai ter o bom senso de adorar aquilo que eu faço”. O artista deve pensar no outro de modo que ele adore seus produtos e possa ter acesso àquilo. Esse é o grande desafio: conseguir fazer com que todo mundo ganhe.

 

Nem tudo o que tem grande valor simbólico e cultural tem valor de mercado. Qual a solução para a valorização e preservação deste tipo de bem?

Precisamos utilizar a Economia para resolver o que tem potencial de mercado de modo que sobre dinheiro público, e até de editais privados, para o que não tem. Sem dúvida, há coisas que vão continuar não tendo potencial de mercado, mas que merecem ser preservadas dentro da nossa política de valorização. Tem coisas que vão precisar de dinheiro sempre, porque são vistas como investimento na sociedade. Só que para isso você tem que ter liberado recursos do que hoje é aplicado as borbotões no que poderia ter potencial de mercado e que acaba bebendo das mesmas fontes.


 

Leia entrevista na íntegra

 

 

 

Matéria do MÊS

 

 

Renda Irlandesa, Patrimônio Cultural Brasileiro

 


Chama a atenção de quem visita esta pequena cidade, localizada a 40 km de Aracaju, a coincidência entre seu nome peculiar e a paisagem bucólica em que se insere. A região, formada por campos verdes onde hoje se multiplicam pequenos poços de extração de petróleo, é testemunho do passado histórico do estado de Sergipe, marcado pela próspera vida rural nos engenhos.

 

O nome da localidade tem origem na santa padroeira da cidade, Nossa Senhora da Divina Pastora, cuja imagem se encontra no altar da imponente igreja matriz. Situada na praça central, a bela edificação do século XVIII integra a lista dos bens tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

 

Também se deve ao passado rural da região outra característica distintiva da cidade sergipana: a produção da requintada renda irlandesa. Embora não se se saiba ao certo quando esta prática artesanal foi introduzida na região, há relatos de que teria sido ensinada às mulheres que trabalhavam nos engenhos por senhoras da aristocracia local, integrantes das famílias dos senhores-de-engenho. Transmitido de mãe para filha, o ofício é hoje praticado por cerca de uma centena de rendeiras na cidade.

 

Alzira Alves dos Santos aprendeu a tecer aos 10 anos de idade com sua tia Sinhá, que por sua vez aprendeu com a madrinha Marocas. Das tias, Alzira herdou alguns desenhos (riscos) que servem de base para tecer a renda irlandesa. Com invejável habildade, Alzira alinhava o lacê (uma espécie de cordão sedoso) sobre os contornos do desenho e preenche os espaços vazios com diferentes pontos tecidos com linha e agulha. Produz colchas de cama, toalhas e caminhos de mesa, guardanapos, toalhas de lavabo, jogos americanos e, mais recentemente, porta celulares.   

 

Quando não está cuidando da casa, Alzira se dedica ao ofício da renda. Depois de quase 50 anos de prática, ela não precisa mais fixar sua atenção exclusivamente à peça que está tecendo, pode conversar ou ver televisão ao mesmo tempo, o que torna a atividade muito prazerosa. Segundo Alzira, algumas mulheres gostam de cantar juntas enquanto tecem. Ciente da importância e da beleza da renda irlandesa – registrada como Patrimônio Cultural Brasileiro em 2008 – Alzira lamenta a falta de interesse das novas gerações, que não têm paciência para se dedicar à lenta confecção das peças de renda.

 

Valorizada no mercado, a sofisticada renda irlandesa é, antes de tudo, resultado da delicada articulação entre um saber artesanal altamente qualificado e o modo de vida da pacata população de Divina Pastora.

 

A cidade é um passeio imperdível para quem visita o estado de Sergipe.

A CASA indica

 

 

Economia criativa como estratégia de desenvolvimento: uma visão dos países em desenvolvimento

 

 

Organizado por Ana Carla Fonseca Reis, o livro foi publicado apenas em versão digital e traz artigos de diversos autores que abordam e ligação entre cultura e desenvolvimento em países da África, América Latina e Ásia. Veja aqui.


 

Modos do Fazer


 

Produzidos pelo Artesanato Solidário, cinco vídeos da série “Modos do Fazer” estão agora disponíveis no canal ELO SUSTENTÁVEL, da ELO COMPANY, e contam a história do trabalho artesanal em diversas regiões do Brasil. Brinquedos, Cerâmica, Instrumentos Musicais, Rendas e Bordados e Tecelagem são compostos por entrevistas com artesãos e belas imagens dos locais onde técnicas centenárias se mantém ainda vivas. Veja aqui.


 

Tubaína Bar

 

 

Bar especializado no típico refrigerante regional Tubaína, com aquele gosto de infância e do interior e visual da “casa da vó”. O cardápio traz mais de 20 tipos de Tubaínas produzidas em diversas cidades – como a Orlando e a Guarani, de Piracicaba, e a Itubaína e a Gengibirra Limonge, de Rio das Pedras. Com um sommelier especializado em Tubaínas, o bar oferece ainda coquetéis criados com o refrigerante. As garrafas e os rótulos das Tubaínas, todos originais, também são uma atração à parte. Rua Haddock Lobo, 74. Bela Vista. São Paulo-SP. Telefone: 11 3129 4930. De segunda a sábado, a partir das 18h. Saiba mais.

 

 

Produtos imperfeitos, Mobiliário contemporâneo

 

 

Os materiais, a tradição e o comportamento que está por trás são os aspectos mais importantes dos produtos de Christian Ullmann apresentados na exposição. Para o designer, os projetos atuais devem levar em conta as novas responsabilidades sociais, ambientais, culturais e éticas, o que constitui um desafio aos designers neste início de século 21. Museu da Casa Brasileira. Av. Brigadeiro Faria Lima, 2705. São Paulo-SP. Telefone: 11 3032-3727. De terça a domingo, das 10h às 18h. Até 17/07. Saiba mais.

 



Boa leitura

 

Caicó é a “terra do bordado”, cuja arte está no cotidiano e nas festas. As roupas, os enxovais, os adereços vão além do traje e da função ornamental de uma casa, apresentam o prazer da beleza o que, talvez, revele um ato transgressor frente aos discursos de miséria e confinamento que cercam o imaginário acerca do sertão nordestino.

 

Thais Brito

As Bordadeiras de Caicó: a Festa de Sant’Ana e o uso do Bordado

 

Leia o texto na íntegra


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