Editorial
O designer Renato Imbroisi está em alta na 39ª edição da newsletter. Uma retrospectiva de seus mais de 20 anos de trabalho com comunidades de artesãos de todo o Brasil será apresentada em A CASA, a partir do dia 1 de setembro. Confira todas as informações sobre a mostra em Matéria do MÊS.
A entrevista desta edição é com a artesã Ana Claudia Matos, natural do Povoado Quilombola de Mumbuca (Jalapão, TO), um dos locais percorridos por Imbroisi. Lembrando da imagem negativa do homem branco que existia na comunidade e do primeiro contato que tiveram com o designer, revela: “Quando o Renato chegou, achávamos que ele era o dito cujo que iria roubar nosso coração”. O resultado deste encontro ainda pode ser visto na exposição Capim dourado: costuras e trançados do Jalapão, aberta ao público até o dia 12 de agosto.
Acontece
no
museu A CASA
Cunha
Gago, 807
Capim dourado: costuras e trançados do Jalapão

Exposição apresenta inúmeros objetos em capim dourado de cinco comunidades de artesãos do Tocantins. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Até 12/08. Saiba mais.
Desenho de Fibra de Renato Imbroisi

A exposição apresenta criações do tecelão e designer Renato Imbroisi em parceria com comunidades de artesãos das cinco regiões do país. Abertura dia 1 de setembro, das 19h30 às 22h30. Visitação de segunda a sexta, das 10h às 19h. Até 18/11. Saiba mais.
www.acasa.org.br
Coleção Renata Meirelles

Coleção reúne colares, gargantilhas, echarpes, xales e paineis de Renata Meirelles. Utilizando corte a laser para dar forma aos tecidos e misturando técnicas artesanais e industriais na confecção de suas peças, a artista obtém efeitos surpreendentes. Veja aqui.
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Entrevista
- Ana Cláudia Matos
“Artesão também é artista”
Ana Claudia Matos é artesã de capim dourado, agente cultural e diretora de projetos da Associação de Artesãos e Extrativistas do Povoado de Mumbuca.

Você estava presente quando houve o primeiro encontro da comunidade com o designer Renato Imbroisi. Como ele foi recebido?
Eu era criança, e ele foi um dos primeiros brancos que nós vimos. A comunidade ficava a 36 km da cidade e era protegida por um rio sem pontes que impedia que outras pessoas que não fossem da região entrassem. O Renato chegou quando já havia a ponte, mas todo mundo ainda tinha medo de gente de fora, dos carros. Nós éramos uma comunidade que, para sobreviver, dependia da caça de animais, e os nossos pais falavam que os brancos não gostavam que a gente caçasse, que quem caçasse seria morto, seria levado embora; que as pessoas de fora poderiam vir para matar as crianças, pegar o olho, o coração. Quando o Renato chegou, achávamos que ele era o dito cujo que iria roubar nosso coração. Então tínhamos muito medo. Mas com o jeito dele, as coisas foram dando certo. A comunidade gosta muito de cantar na hora em que está costurando, e ele entrou, começou a aprender e exigir: “Quero que cantem aquela música!”, e todo mundo cantava; “Canta de novo!”, e nós cantávamos. Assim, começamos a nos enturmar.
O contato com designers gerou mudanças significativas na comunidade?
Houve muita mudança! A primeira mudança que ocorreu foi na forma de fazer e valorizar o produto, que a gente via em poucos lugares. Fazíamos só bolsas, sacolas, potes, chapéus. São as peças tradicionais que a nossa avó nos ensinava. O Renato veio com uma visão de fora: “Olha, faz a mandala que a mandala é boa”; “Vamos fazer brincos”; “Faça isso, faça aquilo”. Isso fez com que os turistas chegassem. A forma de organização também mudou. Ele falou: “Olha, vocês têm que organizar um ponto de venda”. Antes, vendíamos só na casa de nossa avó. Realmente, ela era referência da comunidade e todo mundo chegava em sua casa e comprava lá. Mas, naquela época, os mais velhos nem sabiam fazer contas. Os turistas chegavam para comprar e perguntavam: “Quanto custa?”; e eles não sabiam nem o preço, nem como receber, nem se estavam recebendo certo, nem como dividir esse dinheiro. Aí fizemos a loja da comunidade, colocamos uma pessoa para receber e fazer a negociação com o cliente, pagar o artesão. Foi muito bacana. Mudou muito, muito, muito mesmo. E para melhor.
Desde o final dos anos 1990, vocês já receberam inúmeras visitas de designers com o objetivo de renovarem as coleções. Não existe o risco de, com isso, a comunidade ficar dependente desse saber do designer que vem de fora?
Embora as cidades vizinhas tenham recebido outros designers, em Mumbuca a referência para o trabalho com capim dourado é o Renato Imbroisi. Acho que não corremos o risco de ficarmos dependentes porque há muita criatividade. Por exemplo, só havia caixinhas redondas e ovais. Foi a própria comunidade que fez caixinhas quadradas, caixinhas em formato de coração. O Renato fez bolsa redonda e não oval, como tem agora. Já tem bolsa tipo carocinho de feijão. Enfim, renovamos algumas peças. Mas ainda há os modelos tradicionais, inventados pelo Renato, e isso sempre vai existir, porque são pedidos, as pessoas querem consumir aqueles produtos, não tem como mudar. O diferencial do trabalho do Renato Imbroisi é que quando ele chega à comunidade, não fala assim: “Faz esse modelo”. Ele fala: “Vamos criar juntos”. Aí alguém diz: “Ah, Renato, eu pensei em criar um jabuti”. E ele responde: “Então cria o jabiti, se vira com o jabuti”. Ele dá a liberdade para a pessoa desafiar sua própria inteligência. O Colar Ninho, por exemplo. Ele colocou um monte de capim em cima da mesa e disse: “Se virem agora, vamos lá, criem alguma coisa diferente que vocês nunca viram no capim”, e ia ajudando. Então, foi uma criação conjunta, uma criação que dá possibilidade de continuarmos a criar quando o Renato sai. Claro que com o olhar do designer é diferente, porque ele está na cidade grande, ele sabe o que está na moda, o que está pegando. Nisso, essa dependência existe, é claro, porque nós não estamos na cidade grande, nós temos a visão do mato.
Comumente, os conceitos de artista e artesão são utilizados para ordenar não só o tipo de produto de sua criação, mas, principalmente, a classe social dos envolvidos – as elites e as camadas populares, respectivamente. Em algum momento será possível imaginar o artesão com o mesmo status do artista?
Sim, nós corremos atrás disso. O artesão não é aquele pobrezinho que não sabe nada, o artesão também é artista, que transforma sua arte, que coloca sua paciência e todo seu momento, um momento tão delicado, nas coisas que faz. Embora ele não tenha conhecimento de livros, de faculdade, ele tem aquele conhecimento que as pessoas que têm faculdade não têm. Gostaria que vissem o artesão como um artista, e não como alguém que não tem informação, uma pessoa pobre. Muitas vezes, quando me vêem falando, olham para mim e perguntam: “Você é artesã mesmo?”. Eu respondo: “Sim, eu sou artesã, você quer que eu costure na sua frente?”. “É porque não parece artesã...”. Eles têm essa visão e isso tem que mudar. O artesão é artista, dono do seu próprio negócio, ele sabe fazer e faz bem, faz com a alma, com paciência, com amor.
Leia
entrevista na íntegra
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Matéria do MÊS
25 anos de artesanato têxtil brasileiro em exposição

Um nome unânime em consultoria de projetos em design e artesanato é o de Renato Imbroisi. Designer e tecelão autodidata, além de seu trabalho autoral, teve uma trajetória de ação junto a grupos de artesãos pautada por dar protagonismo e autonomia às comunidades. Em cerca de 25 anos de carreira, já coordenou cerca de 140 projetos de desenvolvimento de artesanato em 23 estados do Brasil, além de trabalhos no exterior, em Moçambique e São Tomé e Príncipe, Itália e Japão.
A partir do dia 1 de setembro, às 19h30, uma retrospectiva de seu trabalho pode ser vista na exposição Desenho de Fibra, que estará aberta no museu A CASA. Visitação de segunda a sexta, das 10h às 19h, até o dia 18 de novembro. São dezenas de peças desenvolvidas em projetos coordenados por ele nas cinco regiões do país, a partir da associação entre elementos de design e as diversas variantes do artesanato têxtil: crochê, bordado, rendas e cestaria.
Entre os projetos que integram a mostra estão Capim Dourado, do Jalapão – Tocantins; Muquém, de Minas Gerais; Bichos do Mar de Dentro, do Rio Grande do Sul; Flor do Cerrado, do Distrito Federal; e Paraíba em Suas Mãos, da Paraíba, que congregam desde associações de artesãos e pequenas empresas a grupos de produção independentes, sem formalização.
A exposição foi concebida a partir do livro Desenho de fibra: artesanato têxtil no Brasil (editora Senac), escrito por Renato Imbroisi e Maria Emilia Kubrusly, cujo lançamento em São Paulo está previsto para o próximo dia 15 de agosto na Livraria da Vila. O livro traça uma trajetória do designer, apresenta sua metodologia de trabalho e traz ainda informações conceituais e históricas sobre o artesanato, em especial o têxtil, e sua aliança com o design.
A curadoria para a exposição se pautou pela longevidade dos projetos, possível a partir da junção bem sucedida entre design e artesanato. “Dentre os diversos projetos dos quais já participei, selecionamos alguns que tiveram importância em continuidade, que permanecem até hoje. Muquém, em Minas Gerais, por exemplo, existe há 25 anos. Outros há 10, 15 anos. Em todos eles, houve o aprendizado do desenvolvimento do produto, e os artesãos exercitam isso até hoje com algumas pequenas modificações. O que mostro na exposição é justamente qual foi a essência maior de desenvolvimento de produtos”, explica Renato.
Renato conta que voltou a algumas regiões depois de alguns anos da realização de seu trabalho junto aos artesãos e viu que o que tinha feito permanecia vivo em termos de comercialização, distribuição e, principalmente, no aprendizado sobre o produto. Alguns exemplos que podem ser citados são os do Tocantins, Amazonas e Paraíba. “No Tocantins, onde trabalhei entre o final dos anos 90 até 2000, o carro-chefe de venda dos artesãos até hoje são as mandalas e bolsas redondas que desenvolvemos naquela época. No Amazonas, onde estive há 8 anos e retornei agora, permanecem até hoje os colares e cestas de tucum. No projeto Memória da Paraíba, em 2001, desenvolvemos alguns xales diminuindo excessos de renda, e as artesãs aprenderam o conceito, interpretaram e hoje produzem desenhos similares”, comenta.
Serviço
Exposição Desenho de Fibra de Renato Imbroisi
Abertura: 1 de setembro, quinta-feira, das 19h30 às 22h30 (manobristas no local)
Visitação: de 2 de setembro a 18 de agosto, de segunda a sexta, das 10h às 19h
A CASA museu do objeto brasileiro
Rua Cunha Gago, 807, Pinheiros, São Paulo
Informações: T + 55 11 3814 9711 | acasa@acasa.org.br | www.acasa.org.br
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A CASA indica
Desenho de fibra: artesanato têxtil no Brasil

O livro mostra a trajetória profissional de Renato Imbroisi como consultor em design de artesanato, por meio de seus relatos sobre parcerias bem-sucedidas com artesãos têxteis. Lançamento dia 15 de agosto, das 18h30 às 21h30. Livraria da Vila. Rua Fradique Coutinho, 915. Vila Madalena. São Paulo-SP. Editora Senac São Paulo. 208 páginas. R$70,00. Saiba mais.
20ª Paralela Gift

Com curadoria de Marisa Ota, a feira é um dos mais importantes eventos de design contemporâneo no Brasil, ao estimular a criação autoral, a utilização de novos materiais e a produção sustentável. Destinado a lojistas, traz expositores nas áreas de acessórios, brinquedos, cerâmica, design têxtil, joalheria, luminárias, mobiliário, objetos de design, papelaria, vestuário e produtos artesanais. De 24 a 27 de agosto, das 10h às 20h. Prédio da Bienal - Parque Ibirapuera, Portão 3, Pavilhão Ciccillo Matarazzo. São Paulo-SP. Saiba mais.
Casa das Áfricas

Centro de pesquisa e de promoção de atividades culturais relacionadas ao continente africano. O espaço, situado em São Paulo, conta com uma biblioteca-midiateca e um acervo de cultura material, disponíveis para consulta. Já o site da instituição traz inúmeros textos, fotografias, mapas e palestras em vídeo sobre o assunto. Saiba mais.
Cama patente: memória e imaginário

Criada em Araraquara, em 1915, a Cama Patente foi um marco da passagem dos móveis desenhados e entalhados um a um, para mobiliário industrializado e produzido em série. Como o próprio nome sugere, foi o primeiro móvel brasileiro com design patenteado. A exposição narra essa história desde a produção artesanal de Celso Martinez Carrera, passando pelo processo de industrialização impulsionado por Luiz Lício, até a releitura realizada nos anos 80 pelo designer Fernando Jaeger. Sesc Araraquara. Rua Castro Alves, 1315. Quitandinha. Araraquara-SP. De terça a sexta, das 13h30 às 21h30. Sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h. Grátis. Até 18/09. Saiba mais.
Boa
leitura
Os bordados são elaborados por meio de um aprendizado inteligente, feito com destreza, agilidade e asseio, tem efeito visual, fruto de uma técnica específica e de muita disciplina. Trazem consigo relações pessoais em torno do objeto: a mão de quem faz, a escolha das cores, a sensação do bordado no corpo de quem o toca. Apesar de geralmente anônimo, guarda em si o caráter coletivo da criação, da transmissão, da produção e da circulação das peças, essa percepção demonstra que o bordado apresenta, também relações sociais.
Thais Brito
Por que comprar bordados? Consumo de bordados e performance de bordadeiras em feiras de artesanato e design
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