Editorial
Nas últimas semanas, foram deferidas as duas primeiras Indicações Geográficas para artesanato no Brasil: o artesanato de capim dourado do Jalapão (TO) e a panela de barro de Goiabeiras (ES). Em Entrevista, Carla Arouca Belas explica o que significa e quais as potencialidades dessa certificação.
Presença constante nas casas do interior e fazendas, hoje a moringa está presente também em contextos urbanos, ocupando mesas de escritório e casas de classe média e alta em todo o país. A transformação dessa peça tradicional em objeto de desejo é tema da Matéria do MÊS. Não perca!
Acontece
no
museu A CASA
Cunha
Gago, 807
Exposição Desenho de fibra

A exposição apresenta criações do tecelão e designer Renato Imbroisi em parceria com comunidades de artesãos das cinco regiões do país. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Até 18/11. Saiba mais.
www.acasa.org.br
Coleção Rosângela Ortiz de Godoy

Utilizando fibras naturais e tecidos diversos, Rosângela Ortiz de Godoy cria peças para casa, como almofadas e tapetes, e acessórios de moda. Veja aqui.
Mesa redonda – Joia Contemporânea Brasileira

Com mediação de Miriam Mirna Korolkovas, os palestrantes León Kossovitch, Luise Weiss, Monica Moura e Suzana Avelar discutiram a produção contemporânea de joalheria no Brasil. Dividido em 17 pequenos vídeos, a íntegra do encontro já está disponível. Veja aqui.
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Entrevista
- Carla Arouca Belas
“A Indicação Geográfica foi identificada como o único mecanismo de proteção do sistema de Propriedade Industrial capaz de garantir direitos coletivos”
Carla Arouca Belas é Doutoranda da UFRRJ, onde desenvolve projeto relacionado ao uso das Indicações Geográficas para valorizar comercialmente produções artesanais de populações tradicionais. Como consultora do IPHAN, foi responsável pela realização de inventários e planos de salvaguarda na área de patrimônio imaterial.

O que é Indicação Geográfica?
Indicação Geográfica é um selo que serve para identificar produtos ou serviços que se tornaram notórios em função de características associadas aos seus locais de origem. É uma espécie de marca, mas enquanto a marca simplesmente diferencia um produto de outro no mercado, a Indicação Geográfica, além disso, informa que determinado produto possui características específicas que podem ser atribuías ao seu território de origem, relacionadas a condições naturais e sociais de produção. Isso tem implicações muito mais amplas do que uma marca, individual ou coletiva. A marca garante direitos para o seu titular; no caso da Indicação Geográfica, toda a coletividade que estiver naquele território e cumprir com o regulamento de uso têm direito a utilizar esse selo para identificar os seus produtos. Também o consumidor tem mais garantias e informações tanto sobre o produto quanto do processo de produção, pois para ter direito à utilização do selo, o produtor ou artesão deve cumprir uma série de regulamentos que, a depender do produto, pode incluir padrões de qualidade, normas ambientais e outros definidos pelos próprios produtores.
Há exemplos de produtos que já têm Indicação Geográfica?
No mundo, o mais famoso é Champagne. Se alguém for ao supermercado, hoje, no Brasil, não conseguirá comprar um produto com o nome Champagne que não seja da região de Champagne, na França. Pode-se comprar Chandon ou outros vinhos espumantes, mas não Champagne, porque a Indicação Geográfica dá exclusividade do uso do nome.
Como a Indicação Geográfica pode beneficiar pequenos produtores?
Uma das funções da Indicação Geográfica é justamente a proteção dos pequenos agricultores frente à agricultura em larga escala. Era uma forma de garantir a sobrevivência de culturas que estavam morrendo por um processo de padronização da agricultura, reservando um nicho de mercado para pequenos produtores. Isso possibilitava a concorrência com as grandes empresas, que compravam todas as áreas de produção e vendiam os produtos bem mais barato, de forma massificada. Com a Indicação Geográfica, o pequeno produtor pode falar para o consumidor: “Meu produto tem uma qualidade diferenciada, ele merece um preço diferente”. A Indicação Geográfica foi identificada como o único mecanismo de proteção do sistema de Propriedade Industrial capaz de garantir direitos coletivos, pois não é concedida a um titular, mas a um representante legal, conferindo direitos à coletividade de um determinado território. Além disso, a ancestralidade é valorizada, uma vez que a descrição dos processos históricos de produção é fundamental para comprovar a reputação do produto. Por fim, a proteção não está restrita a um período temporal específico, é concedida por prazo indeterminado.
No Brasil, quais as perspectivas para novas certificações em geral e, especialmente, para produtos artesanais?
Ainda estamos engatinhando em relação a isso. Por enquanto, são apenas 12 Indicações Geográficas no país. Para se ter ideia da diferença, a França, só para vinho, tem 360. Mas acho que daqui a um tempo, especialmente em relação à questão do artesanato, teremos uma grande demanda. No final do mês de agosto, foi concedida a nossa primeira IG referente a produtos artesanais: a Indicação de Procedência da Região do Jalapão para o artesanato de capim dourado. Há ainda três outros processos em andamento: Goiabeiras para panelas de barro, São João Del Rei para artesanato em estanho e Pedro II para joias artesanais de pedras opala. E, por todo o Brasil, artesãos têm se organizado em torno da reunião de documentação para novas solicitações: Abaetetuba para os brinquedos de miriti e Alagoas, Natal, Sergipe e Paraíba para diferentes tipos de rendas.
O Ofício das Paneleiras de Goiabeiras e o Modo de fazer Renda Irlandesa em Divina Pastora são dois bens registrados pelo Iphan como Patrimônios Culturais Brasileiros. Atualmente, estas comunidades estão buscando a Indicação Geográfica para seus produtos. Quais as diferenças entre essas duas formas de certificação?
A finalidade do registro do patrimônio imaterial é a salvaguarda e a preservação para as gerações futuras. O problema é que as ações de inventários e registros empreendidas pelo IPHAN garantem visibilidade aos bens culturais sem oferecer qualquer proteção contra a apropriação de terceiros interessados em obter vantagens comerciais. Como o título de patrimônio cultural não gera nenhum tipo de direito de exclusividade comercial, não é possível evitar que os bens culturais, sobretudo produtos artesanais, uma vez valorizados, venham a ser copiados e vendidos por terceiros sem qualquer repartição de benefícios com as comunidades que os originou.
Leia
entrevista na íntegra
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Matéria do MÊS
Água de beber - e de enfeitar

Bilha, moringue, quartinha, quartião, purrão, moringa. Vários são os nomes possíveis para esse objeto que era característico de casas do interior e fazendas e virou coqueluche nas lojas de artigos para casa e design, ganhou as mesas de escritório e cabeceiras de camas de classe média e alta em todo o país.
Os motivos que trouxeram a moringa à moda, comuns também a outros utensílios domésticos cujo uso está sendo resgatado, como as tigelas de porcelana e filtros de barro, podem ser os mais diversos: desde a busca pela substituição do plástico por materiais como vidro, porcelana e aço inoxidável após pesquisas indicarem a reação da água e alimentos armazenados com substâncias usadas na fabricação plástica, gerando compostos semelhantes ao hormônio feminino; o apelo sustentável à redução do uso de garrafas e copos plásticos; a preferência pelo “gostinho do filtro de barro” e pela água naturalmente fresca; e ainda a maior praticidade de não precisar levantar-se várias vezes para ir ao bebedouro dentro do escritório.
Mas para Olívia Yassudo Faria, do coletivo Amor de Madre, são ainda outros os motivos desse resgate. “As pessoas não confiam na qualidade da água dos reservatórios dos filtros nem das águas comercializadas, porque muitas vezes aquilo não é água mineral. Estão voltando a existir hábitos mais caseiros de ferver a água, por exemplo. E as pessoas têm cada vez menos vergonha de ter saídas mais baratas para o dia-a-dia. A moringa está tomando a vez da garrafa térmica no ambiente de escritório. E, em casa, ela acaba se tornando um bibelô ao lado da cama, às vezes é mais uma questão de ser uma peça decorativa. Também é uma questão de modismo, é cool ter uma moringa. Mas se precisar virar moda para todos terem uma atitude coerente na vida, que ótimo”. Segundo Olívia, um outro fator inusitado também determina (e muito) a demanda pelas moringas na loja: “Brasileiro é um povo muito ligado à magia. Recebo muita gente procurando garrafas azuis de vidro para deixar no sol e receber a radiação certa para que a água tenha determinada energia, ou que apareçam mensagens na água. Há também esse fator místico”, conclui. Vale lembrar que a moringa é um importante instrumento de rituais da cultura afro-Brasileira.
Uma solução prática, saudável, ecológica, e que ainda pode ser muito estilosa, quando ganha desenhos de formas divertidas e design inusitado, a exemplo da Moringa #1, da Jodja. Ganhadora do iF Product Design Award 2011, é feita em porcelana branca ou estampada. Sua tampa pode ser usada também como copo, e sua forma levemente inclinada parece desafiar o equilíbrio da peça.
A Imaginarium, que já possuía uma linha de moringas já há certo tempo, visando atingir o público feminino apostou na customização da linha Moringa Renda, feita de acrílico com motivos de renda estampados. “Pensando em ter uma nova moringa delicada, percebemos que a renda era uma boa maneira de atingir esse público com algo próximo, familiar. A renda está presente na vida dos brasileiros e acabou sendo uma boa maneira de traduzir o artesanal, o pessoal ao produto”, conta Gilberto Carvalho, Gerente de Marketing da rede. Segundo ele, a moringa sempre foi um produto bem aceito pelo consumidor da Imaginarium e, no caso da linha rendada, o faturamento geral cresceu na faixa de 25%.
O retorno dessa demanda pelas moringas também pode ser uma boa fonte de renda para os artesãos, a exemplo do que conta André Araújo, curador do projeto Conexão Solidária, que congrega 40 comunidades no nordeste do país: “Uma das primeiras coisas sobre as quais fomos perguntados pelos lojistas quando apresentamos nosso piloto aqui em São Paulo foram as moringas”, diz. Uma das comunidades atendidas pelo projeto, em Cascavel, no Ceará, é forte produtora de cerâmica e tem um trabalho diferenciado em moringas: o barro puro, sem tratamento, recebe uma aplicação de renda em relevo. A técnica é exclusiva de uma família da região, passada de avós para filhos e netos, dentro de um grupo restrito de 20 artesãos. As peças, de uso cotidiano dos moradores, passaram a atender uma demanda de hotéis e pousadas da região e agora também serão vendidas a lojistas de todo o Brasil, através da inauguração no próximo dia 20 de sua central de comercialização em São Paulo. “Estamos com um projeto piloto com Tok Stok e, se funcionar, devemos desenvolver com uma linha de objetos de barro, incluindo as moringas”, comenta André. Até lá, as peças podem ser compradas no atacado através do site www.conexaosolidaria.org.
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A CASA indica
Brasil: gastronomia, cultura e turismo

Das influências indígenas vêm as combinações de peixe com mandioca presentes no Norte do Brasil; o Sul preserva a culinária trazida pelos europeus, repleta de massas e doces; o azeite de dendê e o leite de coco denunciam a influência africana no Nordeste. Neste livro, recheado de fotografias e ilustrações, Eva Ribenboim Steinbruch apresenta histórias sobre pratos brasileiros e dezenas de receitas que conheceu em viagens que fez por todo o Brasil. Bei. 244 páginas. R$105. Saiba mais.
Portal Africas

Portal de conteúdo voltado à cultura negra e à discussão sobre o racismo, idealizado por Washington Andrade, ex-consultor da Secretaria Especial de Politicas e Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR). O conteúdo traz contatos de organizações do setor nas diversas regiões do Brasil, um calendário com datas relevantes para a cultura negra, notícias sobre educação, cultura, religião, esportes, viagem e beleza relacionados à comunidade afro-descendente, e ainda artigos, entrevistas e biografias de grandes personalidades negras. Veja aqui.
ArteFatos Indígenas

Com curadoria de Cristiana Barreto e Luis Donisete Benzi Grupioni, exposição apresenta 270 peças dos grupos Wajãpi, Galibi, Palikur, Karipuna, Galibi-Maworno, Tiriyó, Kaxuyana, Wayana, Aparai, Asurini, Kayapó e Kayapó Xikrin. De terça a domingo, das 9h às 18h (entrada até 17h). Pavilhão das Culturas Brasileiras. Parque do Ibirapuera. Rua Pedro Álvares Cabral, s/ nº. São Paulo-SP. Telefone 11 5083 019. Grátis. Saiba mais.
Mobiliário contemporâneo do acervo do SESC – Design para todos

Exposição apresenta peças de designers renomados como Paulo Mendes da Rocha, Irmãos Campana, Carlos Motta, Lina Bo Bardi e Ruy Ohtake. SESC Araraquara. De terça a sexta, das 13h30 às 21h30. Sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h. Rua Castro Alves, 1315. Quitandinha. Araraquara-SP. Até 18/09. Saiba mais.
Boa
leitura
O bordado é uma prática artesanal que gera trabalho e renda, e, ao mesmo tempo, urdi experiência estética, vínculos, contextos de produção e de circulação. Inclui, ainda, valores que envolvem desde a produção das peças - o modo de fazer - até o comportamento das bordadeiras em relação ao bordado (Appadurai; 1986). O bordado é um artefato que carrega, cria e recria discursos vários, envolvendo noções sobre o belo, redes de sociabilidades e ações políticas em torno de si.
Thais Brito
Bordado e bordadeiras: representações, inserções, negociações e resistências na produção estética em Caicó-RN.
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