A CASA - Newsletter #41 - Ano 4 | Outubro de 2011





Newsletter N°41

Outubro de 2011

 

Editorial

 

O produto artesanal brasileiro é caro? Esta e outras questões sobre a comercialização de artesanato no Brasil foram respondidas por Andressa Trivelli, da Rede Tekoha, em Entrevista. Em Matéria do MÊS, Cláudia Vendramini revela alguns dos segredos de Ilha do Ferro, cidade em Alagoas que encanta e surpreende os visitantes. Já em Boa Leitura, Helena Sampaio mostra como o pintor holandês Eckhout serviu de inspiração a artesãos de Pitimbu (PB). Não perca!

 

Entre as novidades de A CASA, não deixe de conferir a coleção virtual Capim dourado: costuras e trançados do Jalapão e a íntegra em vídeo da mesa redonda Capim dourado: como manter o brilho deste capim?

 

 

 

Acontece no
museu A CASA

 

 

 

Cunha Gago, 807

 

 

Exposição Desenho de fibra


 

A exposição apresenta criações do tecelão e designer Renato Imbroisi em parceria com comunidades de artesãos das cinco regiões do país. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Até 18/11. Saiba mais.

 

 

A CASA vai mudar de endereço...

 

 

Em 2012, A CASA vai mudar de endereço. Confira os primeiros passos da construção da nova sede! Veja aqui.

 

 

 

www.acasa.org.br

 

 

Coleção Capim dourado: costuras e trançados do Jalapão

 

 

Coleção traz diversas peças em capim dourado de cinco comunidades de artesãos do Tocantins. Veja aqui.

 

 

Mesa Redonda - Capim dourado: como manter o brilho deste capim?

 

 

Considerando os desafios de ordem social, econômica e ambiental que se impõem diante da produção de peças artesanais que utilizam o capim dourado como matéria-prima, e visando discutir soluções, A CASA convidou quatro profissionais ligados ao tema para debater: a artesã Ana Cláudia Matos Silva, a pesquisadora Carla Arouca Belas e os designers Eliane Damasceno e Renato Imbroisi. Veja aqui.

 

 

Museu A CASA no Twitter

 

 

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A CASA está se integrando ainda mais às redes sociais. Agora, através da nossa página no Facebook, vamos divulgar eventos, postar fotos, vídeos e outras novidades do museu. Curta, comente, indique para amigos! Veja aqui.

 

 

 

Apoio

 

Entrevista - Andressa Trivelli

 

"Se o preço dos produtos artesanais continuar aumentando, sua venda será inviabilizada"

 

Andressa Trivelli é administradora de empresas pela PUC-SP. Lidera a gestão da Rede Tekoha desde 2007, além de atuar como consultora em projetos de organizações parceiras.


Atualmente, muitas instituições e profissionais que trabalham com comunidades de artesãos têm encontrado dificuldades na venda dos produtos. O que ocorre? Por que é tão difícil comercializá-los?

Uma dificuldade para a comercialização é a concorrência internacional. Há muitos produtos artesanais de lugares como China, Índia, Indonésia, Malásia com um preço muito mais barato. E não são produtos provenientes de trabalho escravo! Mesmo se considerarmos apenas comércio justo, veremos que são cinco, seis ou sete vezes mais baratos do que produtos de comércio justo no Brasil. Isso por um motivo, de certa forma, até simples, que é o custo de vida nesses lugares. Muitas vezes, me perguntam: “Você já pensou em exportar artesanato brasileiro?”. Já, já pensei muito nessa possibilidade, mas dentro do modelo de negócios normal, não dá para competir. Certa vez, numa negociação com uma grande corporação varejista americana, eu estava oferecendo um suplat de carnaúba. Já havia perguntado para as mulheres da comunidade que iria produzir se havia algum jeito de diminuir um pouco o preço, pois como a quantidade era muito grande, valeria a pena para elas. Elas baixaram um pouco e eu cheguei ao meu limite operacional – pagava as contas, não sobrava nada – para conseguir fechar com a empresa. Era um preço que provavelmente faria com que eu perdesse dinheiro, mas queria muito fechar, pelo fato de ser uma cliente constante. Ofereci o produto a US$2,50 e ela respondeu: “Encontro no México um produto que não é exatamente igual, mas muito parecido, por US$0,30”. É quase dez vezes mais barato!

 

O produto artesanal brasileiro é caro?

Varia muito. Ainda existem atravessadores, exploradores da produção artesanal, que pagam muito pouco pelos produtos artesanais. Vemos isso em comunidades com que trabalhamos. Mas acho que essa realidade foi amenizada nos últimos dez anos, e o artesão está muito firme em sua postura: “É isso que vale o meu produto”. Hoje em dia, a grande reclamação dos intermediários é justamente que o artesão não tem flexibilidade no preço. Isso fica claro nas feiras ou rodadas de negócios.

 

Há anos, instituições que promovem a interação entre design e artesanato têm insistido na necessidade agregar valor aos produtos artesanais por meio da inserção de referências culturais, utilização de etiquetas e embalagens específicas, aprimoramento da qualidade etc, com o objetivo de elevar o preço dos produtos artesanais. Trata-se de um equívoco?

Se o preço dos produtos artesanais continuar aumentando, sua venda será inviabilizada. Não adianta nada ter um produto lindo que eu não consiga vender, gerar renda às comunidades. A renda é gerada quando o produto sai da mão do grupo e vai para a mão do lojista. Se não tem venda, não tem renda. Quando um consumidor compra diretamente do artesão, sem intermediários, é um preço razoável. Não é barato, mas é possível. Só que isso quase nunca acontece, são raras as oportunidades em que as pessoas podem comprar diretamente do artesão. É necessário trabalhar para que os artesãos consigam vender em maiores quantidades, porque se forem depender da venda para pessoas físicas, não vão alcançar a quantidade de consumidores necessários para sobreviver disso. Então, tem que ter um preço diferente para lojistas, porque é onde os artesãos vão ganhar escala. Grandes lojas geram uma demanda enorme e constante, e não tem coisa melhor. É isso o que vai garantir o acesso ao mercado aos grupos, que muitas vezes estão afastados dos grandes centros. Quem vai dar visibilidade e atuar no mercado de artesanato, promovendo a valorização dos produtos? Uma comunidade escondida no interior do Piauí, ou um lojista de Ipanema ou Copacabana, que vai receber todos os turistas da Copa? Quem vai mostrar o que é o Brasil? Não estou desmerecendo o artesão, mas, na prática, quem faz isso é o cara que tem a loja em Copacabana e em Ipanema, ou o cara que está aqui na Rua Oscar Freire. Lógico que tudo deve ser feito de maneira transparente, mas temos que parar de pensar no lojista, no supermercado ou no atacadista como os vilões da história. Eles podem até serem vilões efetivamente, mas é possível criar mecanismos para que o grupo seja forte o suficiente para não se deixar explorar. O mercado é uma ferramenta para empoderar as comunidades. E o artesão precisa dessa ponta que mostra para o mundo o que é o artesanato brasileiro, não é comunidade que vai fazer isso.

 

Leia entrevista na íntegra

 

 

Matéria do MÊS

 

Encantos da Ilha do Ferro

por Cláudia Vendramini


Saindo de Maceió, de carro, leva-se cerca de três horas para chegar ao município de Pão de Açúcar, no estado de Alagoas, à margem do rio São Francisco. Passa-se por Marechal Teodoro, Arapiraca, e muitos povoados com nomes interessantes como Pé Leve, Olho d’Água das Flores, Campo Alegre, Jacaré dos Homens, entre outros. A paisagem é deslumbrante, com trecho da estrada ladeada de árvores “Brinco de viúva”, que dá uma frutinha preta, parecida com uma azeitona. Passe-se por grandes plantações de cana-de-açúcar e algumas de milho. Tem-se ainda o cultivo do tabaco, longos pastos para a criação de gado e no horizonte montanhas em contraste com um céu de azul intenso.

 

Chegando em Pão de Açúcar, percorre-se 18km numa estrada de terra com cenário totalmente diferente. Abre-se caminho para o sertão alagoano, para a caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro. O ar é mais seco, a vegetação é mais rasteira, verde claro quase esbranquiçada, cheia de espécies de cactos. A gruta de Angicos (SE), local onde morreu Lampião, o famoso cangaceiro que assombrava com seu bando o Sertão, fica entre Pão de Açúcar e o município de Piranhas (AL). Entre eles, também localiza-se o povoado de Ilha do Ferro, à margem do vigoroso Velho Chico. O colorido das fachadas das casas encanta o lugar. Os moradores são acolhedores e generosos.

 

Nesse local, nasceu e viveu Fernando Rodrigues dos Santos (1928-2009), mais conhecido como seu Fernando da Ilha do Ferro. Criava bancos, cadeiras e esculturas com raízes e troncos de imburana, craibreira, pereira e mulungu. Além de seu Fernando, uma legião de artistas trabalham com o mesmo material na Ilha do Ferro e em Pão de Açúcar. É o caso de Aberaldo Sandes Costa Lima, Eraldo Dias Lima, Fabrício Dias Lima, Nan (Normando Sandes), José Petrônio Farias dos Anjos, Vieira (José Bezerra Sandes), Zé de Tertulina (José Alvacir de Melo), Valmir Lessa Lima, entre tantos outros. Esses artistas produzem, artesanalmente, peças que representam animais e pássaros da região, pequenas embarcações, móveis, figuras imaginárias e esculturas de animais híbridos. A tradição do povoado na carpintaria, no uso da madeira em seu estado natural, vem provavelmente das construções das canoas de tolda que eram feitas pelos avós desses artistas, utilizadas no baixo São Francisco para transporte de madeira e mantimentos como açúcar, farinha e frutas. Mas não é só com trabalho em madeira que os moradores mostram seus talentos, é também no feitio do bordado boa-noite, executado pelas mulheres da Cooperativa de Artesãs da Ilha do Ferro – Art Ilha. Trata-se de uma técnica de bordado que foi quase extinta e que consiste em desfiar o tecido e recompô-lo em faixas com motivos florais. Boa-noite é a denominação de uma singela flor da região, geralmente encontrada na cor rosa e branca, semelhante à maria-sem-vergonha. O bordado é feito em tecidos como o linho puro, a cambraia e o percal, mas se aplica também ao pano de saco e ao algodão, gerando lindos panos de pratos, guardanapos, jogos americanos e toalhas de mesa.

 

A Ilha do Ferro encanta também por suas estórias e cultura. Plantava-se arroz; existia olaria de tijolo batido e telhas; produzia-se tamancos de imburana de cambão com couro de boi ou de carneiro tingido de preto à partir do fruto do pau-ferro. Dona Morena (Bernadete Rosália Teixeira — 1926), contadora de estórias, sorridente, é uma das mais antigas do povoado. Começou a contar estórias para a comunidade aos 20 anos e até hoje emociona adultos e crianças com peças inventadas, inspiradas em Lampião, Corisco e seu bando, ou em contos do Sertão. Festas populares como as de Bom Jesus dos Navegantes — conhecida também na região como Festa de Reis —, de São João, de São Pedro, além de procissões e corridas de canoas não poderiam faltar para colorir ainda mais o dia a dia desse belo povoado. Esse relato contém apenas as primeiras impressões de uma comunidade que está sendo pesquisada para a realização de uma exposição em São Paulo, em 2012. A curadoria é de Adélia Borges, que me convidou a fazer a produção. Aguardem!

A CASA indica

 

 

Museu do Barro de Caruaru

 

 

O Museu apresenta a história da produção cerâmica de Caruaru e conta com acervo de mais de 2000 peças. O bairro Alto do Moura, de onde surgiram artistas como Manuel Eudócio, Mestre Vitalino e Zé Caboclo e hoje é reconhecido pela Unesco como maior centro de artes figurativas das Américas, tem destaque especial. De terça a sábado, das 8h às 17h. Domingo, das 8h às 13h. Praça Coronel José de Vasconcelos, 100, Pátio do Forró, Centro. Caruaru-PE. Telefone: 81 3721 2545. Saiba mais.

 

 

Brasiliana Digital

 

 

Acervo digitalizado conta com diversas obras raras. Entre os destaques, encontra-se o Acervo Digital das Revistas Culturais Brasileiras com periódicos do final do século 19. Saiba mais.

 

 

Espasso

 

 

Galeria em Nova York dedicada exclusivamente ao design brasileiro apresenta o trabalho de nomes consagrados como Carlos Motta, Claudia Moreira Salles, Isay Weinfeld, Joaquim Tenreiro, Jorge Zalszupin, José Zanine Caldas e Sérgio Rodrigues. 30 N. Moore Street, Nova York. Saiba Mais.

 

 

Bordando Design

 

 

Antonio Bernardo, Baba Vacaro, Carlos Motta, Claudia Moreira Salles, Estudio Manus, Irmãos Campana, Isay Weinfeld, Jaqueline Terpins, Jun Sakamoto, Kimi Nii, Marcelo Rosenbaum, Nido Campolongo, Rodrigo Almeida e Sérgio Rodrigues são os designers que apresentam trabalhos nesta exposição. Galeria Vermelho. Rua Minas Gerais, 350. São Paulo-SP. De terça à sexta, das 10h às 19h. Sábado, das 11h às 17h. Até 29/10. Informações: 11 3138 1520.

 

 

Arquitetura Conversável

 

 

Novo livro de Marcelo Ferraz aborda relação entre arquitetura e cultura. A publicação reúne artigos e entrevistas, além de trazer ensaios sobre o trabalho do autor. Azougue Editorial. 242 páginas. R$ 48.

 

 

 


Boa leitura

 

Insisto no tema: quando o artesanato é de tradição, a interferência no saber fazer deve se orientar por uma única palavra: respeito. Respeito ao mestre e à sua perícia, aos artesãos e à sua tradição, respeito ao entorno, ao meio ambiente, especialmente nos casos em que a matéria-prima do artesanato é obtida por meio do extrativismo, como acontece com os trançados, o entalhe em madeira e a cerâmica. Como proceder para que a recomendação não seja meramente retórica? Ou, mais complicado, para que o respeito almejado não se renda ao imobilismo preservacionista? O respeito nas políticas de valorização do artesanato de tradição deve partir de um gesto simples: olhar para o que é feito e buscar estabelecer com esse produto de artesanato e com o seu artífice - mestres e artesãos - um diálogo delicado. Estabelecer pontes com o mundo, alargar fronteiras sem atropelar o que sustenta o processo criativo e o ritmo próprio de quem sabe fazer.

 

Helena Sampaio

Olhando para Eckhout

 

Leia o texto na íntegra


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