Editorial
Voltada, nos últimos anos, à divulgação e reflexão sobre a produção artesanal e o design brasileiros, A CASA decidiu, em 2011, retomar a vocação de atuar diretamente junto a comunidades de artesãos. A localidade escolhida para tanto foi o município de Cerro Azul (PR), e o resultado do projeto poderá ser visto em exposição a ser inaugurada em breve. Confira mais informações sobre a mostra em Acontece no museu A CASA e em Matéria do MÊS.
Não deixe de ver também a entrevista sobre empreendedorismo social realizada com a consultora Antonieta Contini.
Acontece
no
museu A CASA
Cunha
Gago, 807
Exposição Desenho de fibra

A exposição apresenta criações do tecelão e designer Renato Imbroisi em parceria com comunidades de artesãos das cinco regiões do país. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Até 18/11.
Saiba mais.
Poética da palha – Cerro Azul

Mostra reúne objetos de artesãos de Cerro Azul-PR, criados em parceria com o designer Renato Imbroisi, em projeto realizado por A CASA. Abertura dia 23/11, às 19h30. Saiba mais.
www.acasa.org.br
Coleção Domingos Tótora

Coleção reúne pratos, mesas, bancos e vasos do designer Domingos Tótora, que mistura materiais diversos fibra de bananeira, papel craft reciclado e pigmentos naturais em suas criações. Veja aqui.
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Entrevista
- Antonieta Contini
“Temos que respeitar a vocação das pessoas”
Antonieta Contini é consultora, com especialização na área de desenvolvimento local.

O que é empreendedorismo social?
Quando pensei nesse nome, “empreendedorismo social”, o objetivo era a inclusão social por meio da geração de trabalho e renda. Inclusão social se faz com oportunidades, capacitação. Muitas dessas mulheres voltaram a estudar e os filhos se formaram em faculdades. Para mim, é melhoria na qualidade de vida, dar oportunidade a quem nunca teve. Essa oportunidade muda muito a cabeça das mulheres. Muitas delas, hoje, são multiplicadoras e estão trabalhando em outros estados e até em outros países. É gratificante. Até o jeito que ela se porta e se veste é outro, a vaidade e a autoestima afloraram. Há uma artesã em Brasília chamada Lúcia que faz um trabalho fantástico. Lembro que ela não levantava a cabeça, não me olhava, quando começou a trabalhar comigo. Um dia, tivemos uma reunião com um deputado e a vi discutindo política com ele! Veio-me até lágrimas nos olhos.
O artesanato é utilizado como meio para o empreendedorismo?
Sim, mas não só o artesanato, trabalhamos com diversas atividades. Utilizamos aquilo que as mulheres sabem fazer. Aprendi isso no Pró-Mulher, onde tive uma lição de vida. Lembro-me de que quando eu chegava, tinha uma mulher que havia feito um curso de modelagem, costura industrial e estilismo e estava sempre passando os uniformes que eram produzidos ali. Uma vez, perguntei: “Por que você só fica passando roupa ao invés de participar da confecção?”; ela respondeu: “Vou te confessar uma coisa: detesto costura, estou aqui porque gosto do grupo”. Aí, quis saber: “O que você gosta de fazer?”. Ela respondeu: “Sou doceira”. Compreendi que aquele não era o seu lugar. Fui visitá-la em sua casa, e percebi que já tinha uma pequena estrutura, onde ela fazia doces e tortas. Ela estava pronta, era só uma questão de empreendedorismo. Temos que respeitar a vocação das pessoas.
Qual a importância das feiras para o empreendedorismo?
As feiras são muito importantes, porque abrem mercado. O Brasil todo vai comprar em São Paulo, então é lá que temos que estar. E nosso espaço nas feiras era um dos mais bonitos, fazíamos para encher os olhos das artesãs, para se motivarem. Agora, nossas líderes já são empreendedoras individuais, passaram por toda a caminhada que o empresário deve passar, tiveram todos os cursos de empreendedorismo, consultorias de gestão, já conseguiram até nota fiscal. Uma das líderes tem hoje um showroom em Brasília!
O projeto é desenvolvido principalmente com mulheres, sempre visando seu empoderamento. Como os maridos se posicionam em relação a isso considerando que, muitas vezes, o trabalho é desenvolvido em comunidades machistas?
No início os maridos são contra. Já ouvi maridos falarem que lugar da esposa é na pia e no fogão. Precisamos convencê-los de que ela tem tanto talento quanto ele, só precisa de uma oportunidade. Hoje, os maridos têm orgulho das mulheres. Elas compram televisão, trocam o sofá, aumentam casa e ajudam em tudo. O dinheiro que entra é todo para a casa, para a família. Hoje, a situação se inverteu: todo marido quer ter uma mulher mais esclarecida, mais informada.
Qual a importância da formalização desses grupos?
É muito importante, é o nosso objetivo. Mas não queremos formalizar por formalizar, há um caminho a seguir, é preciso se preparar para ser empresário. Há muitos aventureiros e isso faz com que o índice de mortalidade de empresas ainda seja grande.
Leia
entrevista na íntegra
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Matéria do MÊS
Poética da palha – Cerro Azul
por Daniel Douek

Seguindo de carro a partir de Curitiba, a estrada que leva até Cerro Azul é sinuosa, cercada de árvores que, no final do mês de maio, estão carregadas de inúmeras variedades de tangerina. Caixotes cheios de frutas próximos às casas à beira da estrada já indicam a principal atividade econômica da região. Cerro Azul é conhecida como “terra da laranja” ou “capital da laranja”.
Embora a agropecuária ocupe a maior parte do tempo dos moradores, o artesanato com palha de milho, taboa, criciúma e bambu é feito nas horas vagas e complementa a renda familiar. Muitas vezes, as matérias primas são encontradas no próprio quintal da casa das artesãs, na lavoura em que trabalham ou proximidades. O processo técnico tem início cortando-se as “tiras” do material na largura desejada, o que varia de acordo com o tamanho e o tipo de peça a ser produzida. Em seguida, parte-se para o trançado propriamente dito, que segue caminhos diversos, resultando nos mais variados efeitos. A maior parte dos objetos é vendida em sua cor natural, mas, recentemente, artesãos introduziram tintas industrializadas em algumas peças. A atividade costuma ser realizada em ambiente doméstico e, não raro, conta com a colaboração da família para as tarefas mais simples.
Visando a conquista de mercados diversificados, A CASA convidou o artesão e designer Renato Imbroisi para a realização de oficinas para desenvolvimento de novos produtos com design e qualidade diferenciada, utilizando referências locais, como a cultura da laranja, para definir a identidade de Cerro Azul. Além disso, o projeto investiu no aperfeiçoamento das técnicas de trançado e cestaria com introdução de novas possibilidades técnicas; na capacitação para o tingimento natural a partir de espécies locais em substituição às tintas industrializadas; e, finalmente, buscou apontar novos nichos de mercado, fornecendo ferramentas de gestão aos artesãos.
A expectativa é a de que o projeto torne os produtos artesanais de Cerro Azul conhecidos em todo o país, possibilitando aos moradores uma alternativa de trabalho durante a entressafra da laranja. Famoso nacionalmente pela citricultura, está na hora de Cerro Azul apresentar ao Brasil suas habilidades artesanais.
Trechos retirados do catálogo da exposição.
Serviço
Exposição Poética da palha - Cerro Azul
Abertura: 23 de novembro, quarta-feira, das 19h30 às 22h30
(manobristas no local)
Visitação: 24 de novembro a 17 de fevereiro
de segunda a sexta, das 10h às 19h
A CASA museu do objeto brasileiro
Rua Cunha Gago, 807, Pinheiros, São Paulo
Informações: T + 55 11 3814 9711
acasa@acasa.org.br | www.acasa.org.br
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A CASA indica
Acervo Barca

Através do projeto Turista Aprendiz, A Barca viajou por nove estados brasileiros, visitando quilombos, aldeias indígenas, cidades ribeirinhas e sertanejas, além de periferias de capitais. Foram feitos registros inéditos em áudio e vídeo que revelam as manifestações da cultura popular. O trabalho acaba de ser premiado pelo IPHAN. Confira.
Acervo Digital Chiquinha Gonzaga

O projeto disponibiliza gratuitamente cerca de 300 partituras, muitas inéditas, da obra da compositora Chiquinha Gonzaga. Contém ainda texto da biógrafa Edinha Diniz sobre cada peça, além de um resumo biográfico preparado especialmente para o Acervo Digital. Confira.
Penélope

A instalação da artista plástica Tatiana Blass consiste em um tapete vermelho de 13 metros que vai da porta de entrada da Capela até um grande tear manual de pedal localizado próximo ao altar, onde sua urdidura está presa. Os fios saem do outro lado do tear em grande quantidade, caem pelo chão e passam pelos buracos das paredes de taipa, chegando até a área externa. Capela do Morumbi. Avenida Morumbi, 5387. Morumbi. São Paulo-SP. Telefone: 11 3772-4301. Grátis. Até 26/02. Saiba mais.
25° Prêmio Design

A exposição apresentará os vencedores do 25° Prêmio Design do Museu da Casa Brasileira, além de trazer os cartazes que divulgaram o prêmio ao longo de sua trajetória. Abertura: 22/11, às 19h30. Museu da Casa Brasileira. Av. Brigadeiro Faria Lima, 2705. São Paulo-SP. Telefone: 11 3032-3727. Saiba Mais.
Boa
leitura
Em casos de projetos de extensão universitária, nos quais quase sempre existe uma relação cotidiana com uma comunidade em estado de vulnerabilidade social, é preciso estar atento, a todo momento, ao perigo do estabelecimento de relações de poder entre os alunos e professores universitários (designers) e os beneficiários da comunidade. É necessário entender que o trabalho envolvendo realidades sociais díspares deve estabelecer um ambiente de troca de experiências de vida e de conhecimento. Acredita-se na potência de invenção latente nas relações geradas pela fricção entre o erudito e o conhecimento popular. Muitos resultados positivos do ponto de vista coletivo, social e pessoal, são difíceis de mensurar, mas precisam também ser mapeados e agregados aos resultados qualitativos positivos dos projetos.
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Natacha Rena e Bruno Oliveira
Programa ASAS: design militante e tecnologia social
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