A CASA - Newsletter #44 - Ano 4 | Janeiro de 2012





Newsletter N°44

Janeiro de 2012

 

Editorial

 

O ano de 2012 começa com uma grande contribuição à bibliografia a respeito do encontro entre designers e artesãos. É que no dia 2 de fevereiro será lançado em São Paulo o livro Design + Artesanato: o caminho brasileiro, de Adélia Borges. Confira as informações sobre a publicação e as datas de lançamento em outras capitais do país em Matéria do MÊS.

Iconografia e a metodologia do design etnográfico são os destaques da entrevista com a professora da UFMA Raquel Noronha. É dela também o texto do Boa Leitura em que discute o lugar do designer em projetos de parceria com artesãos. Não perca!

 

 

Acontece no
museu A CASA

 

 

Cunha Gago, 807

 

 

Lançamento do livro Design + Artesanato: o caminho brasileiro


 

O livro, de Adélia Borges, apresenta um panorama dos caminhos que têm sido percorridos por designers e artesãos na revitalização do objeto artesanal brasileiro. Lançamento dia 02/02, das 19h30 às 22h. Saiba mais.

 

 

Poética da palha – Cerro Azul

 

 

Exposição reúne objetos de artesãos de Cerro Azul-PR, criados em parceria com o designer Renato Imbroisi, em projeto realizado por A CASA. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Saiba mais.

 

 

 

www.acasa.org.br

 

 

Vídeo da exposição Desenho de Fibra

 

 

Passeio virtual pela exposição Desenho de Fibra, que apresentou criações do tecelão e designer Renato Imbroisi em parceria com diversas comunidades de artesãos do Brasil. Veja aqui.

 

 

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Apoio

 

Entrevista - Raquel Noronha

 

“O design etnográfico nos possibilita exercer o distancimento do olhar”

 

Raquel Noronha é designer, mestre e doutoranda em ciências sociais, professora assistente do departamento do Departamento de Desenho e Tecnologia da UFMA e coordenadora do projeto Iconografias do Maranhão.


O que é iconografia?
Existem vários conceitos para iconografia. Os mais tradicionais estão relacionados a imagens de santos, imagens religiosas. Penso numa definição que amplie essa noção da própria imagem. Iconografia é mais do que representação gráfica, é um processo semiótico de tradução de uma representação coletiva. Nosso papel de designer nesse âmbito da cultura tradicional é construir a materialidade desses símbolos elaborados cultural e socialmente. Entendo iconografia como a tradução de um símbolo para um ícone num processo compartilhado, dialógico, que envolve todas as partes da construção da imagem, desde a percepção até a tangibilização desse imaginário.

Por um lado, a cultura é dinâmica, está em constante transformação; ícones, por sua vez, são representações estáticas. Como não petrificar a cultura com o estabelecimento de ícones?
Acho que pela a forma como utilizamos essas imagens. Nossa proposta não é fazer com que aquilo se torne símbolo novamente, isto é, não pretendo que aquilo simbolize o que nós reconhecemos como símbolo de determinada comunidade. Mas isso está um pouco fora do nosso controle. Por exemplo, tem um ícone do Boi da Floresta publicado no livro que são umas bandeirinhas verdes e rosas na sequência verde, rosa, verde, rosa, verde, rosa, porque era a forma como eles colocavam as bandeirinhas no barracão do boi. Quando foram trocar o telhado, tiraram as bandeirinhas, jogaram fora, e, depois que o telhado ficou pronto, colocaram bandeirinhas novas. A Nadir, coordenadora do grupo e esposa do seu Apolônio, mestre do boi, falou: “Não podemos fazer uma fileira verde e outra rosa, porque lá no livro está verde e rosa, verde e rosa, verde e rosa”. Então, de certa forma, já estamos influenciando uma visualidade. É preciso dizer que aquilo não é uma verdade absoluta; que aqueles ícones foram escolhidos pela nossa percepção naquele momento com aquela pessoa. A iconografia não é uma coisa encerrada em si própria. Vejo como uma coisa que faz parte da própria imagem, é fugaz, é efêmera, se ressignifica, se transforma em outra coisa, não fica estática, parada no tempo.

Como fazer para que um ícone não se transforme num estereótipo?
Aí entra uma questão muito importante que é o conhecimento da pesquisa de campo da metodologia antropológica, isto é, a metodologia da pesquisa etnográfica no trabalho do designer. A confluência desses dois campos de conhecimento, design e antropologia, é fundamental. Por quê? Porque faz com que possamos construir imagens como textos contemporâneos, imagens que têm portas e janelas para se comunicar com o mundo – não são imagens fechadas. Para chegar a uma imagem que não constitua um estereótipo, sempre deixei meus alunos muito à vontade: “Pode ser dessa cor?”. “Pode”. “Pode ser dessa outra cor?”. “Pode”. “Pode ser mais dessa cor?”. “Pode”. Eles falam: “Raquel, parece que pode tudo!”. Pois é, o que não pode é eu dizer como deve ser feito. Como coordenadora, tenho que dar a liberdade e o consentimento para que aquele aluno, aquele artesão ou aquele músico coloquem a mão deles também. Acredito também que essa possibilidade do compartilhamento evita que as imagens se tornem estereótipos.

Qual o papel da etnografia nos projetos de design?
O design etnográfico, ou a pesquisa etnográfica aplicada ao design, possibilita a familiaridade com o que nos é estranho e um estranhamento com o que nos é familiar. Por meio de técnicas e metodologias, o design etnográfico nos possibilita exercer, de forma consciente e intencional, o distanciamento do olhar. Assim, podemos desconstruir pré-noções e preconceitos, bem como a ideia de uma imagem que se tome ou que se perceba como uma verdade absoluta. A antropologia aplicada ao design nos dá essa chave de olhar de uma forma que vai além do olhar do designer. Faz-nos questionar nosso próprio papel na sociedade, com aquelas pessoas; faz-nos perceber que o artesanato que estamos pesquisando, traduzindo e representando tem um papel social. A partir dos objetos que são produzidos, podemos falar sobre aquela cultura específica.

Leia entrevista na íntegra

 

 

Matéria do MÊS

 

Adélia Borges lança seu novo livro no museu A CASA no dia 2 de fevereiro

por Lígia Azevedo


Uma síntese das principais questões relacionadas à união entre artesanato e design, em um relato pessoal e apaixonado de quem acompanha o tema desde a década de 70. Assim é “Design + Artesanato: o caminho brasileiro”, a mais recente obra da curadora, escritora e professora da história do design Adélia Borges, que será lançada no museu A CASA no próximo dia 2, quinta-feira, das 19h30 às 22h.

 

A partir do título já se pode apreender o conteúdo e a proposta do livro, como explica Adélia: “A relação entre o design e o artesanato é uma soma, não é subtração, oposição ou diminuição do design, por isso o + era um sinal importante de se cunhar. Também o título fala de um caminho brasileiro porque a realidade que existe no nosso país é muito particular. É o caminho brasileiro em oposição ao caminho africano, ao europeu. E quis colocar coisas que tenho lido ou acompanhado pessoalmente para sinalizar que há um caminho trilhado. E esse é um caminho plural, não existe uma trilha única”.

 

A obra vem se unir a outras publicações que tentam preencher a lacuna de bibliografia nessa área, e deve se tornar referência para pesquisa no tema. Antes mesmo de ser lançado, já está tendo repercussão, dentro e fora do país. 600 exemplares foram distribuídos gratuitamente nas associações de artesãos citadas no livro, em bibliotecas públicas de todo o país e faculdades de design. “Houve até um professor indiano que me escreveu comentando as semelhanças entre as realidades brasileira e a indiana. Espero que daqui a pouco tenhamos uma coletânea de comentários”, relata Adélia.

 

O livro foi realizado com patrocínio do BNDES e da agência de publicidade Leo Burnett Tailor Made (LBTM) e editado em português e inglês pela editora Terceiro Nome. Terá distribuição em livrarias e será também vendido pelo site da editora.

 

A agenda de lançamentos segue em mais quatro capitais: no dia 8/2 em Belo Horizonte, no bar Outono 81, no Carmo Sion; no dia 9/2, no Rio de Janeiro, no Museu de Arte Moderna; e no dia 13/3 em Recife, no Museu do Homem do Nordeste.

 

A pesquisa para o livro rendeu de tal forma que Adélia já tem quase o material completo para um novo livro e vai iniciar as buscas por patrocinadores para o próximo empreendimento. “Tenho um forte desejo de fazer pelo menos mais um livro semelhante a esse, em que possa me deter mais em algumas experiências de projetos, vinculando-as com o território, porque a questão do artesanato tem um forte componente territorial”, adianta a autora.

 

 

A CASA indica

 

 

Cidades Criativas - Perspectivas

 

 

Organizado por Ana Carla Fonseca Reis e Peter Kageyama, o livro digital traz artigos de autores de diversos países abordando os traços básicos de uma cidade criativa e apresentando propostas sobre como as dinâmicas urbanas podem ser favorecidas pela criativdade de seus habitantes. Veja aqui.

 

 

Site do Prêmio Design Museu da Casa Brasileira

 

 

 

Site conta a história dos 25 anos do Prêmio Design do Museu da Casa Brasileira, um dos mais importantes do gênero no Brasil, trazendo os cartazes e produtos premiados em todas as edições. Saiba mais.

 

 

O Sertão: da Caatinga, dos Santos, dos Beatos e dos Cabras da Peste

 

 

Com curadoria de Emanoel Araujo, a exposição traz pinturas, esculturas, gravuras, ex-votos, roupas, fotografias, instalações e documentos que reconstroem a vida sertaneja e seus personagens lendários, como os cangaceiros Lampião e Maria Bonita, o padre Cícero e o líder da revolta de Canudos, Antonio Conselheiro. De terça a domingo, das 10h às 17h. Museu Afro Brasil. Av. Pedro Alvares Cabral, s/n. Parque Ibirapuera – Portão 10. São Paulo-SP. Telefone: 11 3320 8900
Até 01/04. Saiba mais.

 

 

Workshop na Argentina

 

 

Voltado a alunos de design, arte e arquitetura do mundo inteiro, o workshop, desenvolvido pela organização Satorilab, propõe uma imersão no Delta do Tigre, Argentina, com o objetivo de explorar o local e suas riquezas naturais. De 5 a 9 de março. Saiba mais.

 

 

Mais Cultura – Microprojetos Rio São Francisco

 

 

Últimas semanas para inscrição no programa Mais Cultura – Microprojetos Rio São Francisco, voltado à realização de projetos culturais de baixo custo na região da Bacia do Rio São Francisco. Serão contemplados 1.050 projetos no valor de R$ 15 mil. Saiba mais.

 

 

 

Boa leitura

 

Talvez seja possível nos posicionarmos de uma forma estratégica no sistema de produção imposto como um padrão, possibilitando que tenhamos nas nossas atividades profissionais e acadêmicas uma postura de tradutores efetivos e não de reprodutores de linguagem. Propomos, com isto, um deslocamento, do centro dos processos para o meio deles, entre os artesãos e os consumidores, como uma estratégia de melhor nos alfabetizarmos na linguagem do outro, mediando assim o léxico específico daquelas comunidades, do mercado e o repertório teórico do nosso campo de atuação.

 

Raquel Noronha

Do centro ao meio: um novo lugar para o designer

 

Leia o texto na íntegra


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