Editorial
A relação entre artesanato e mercado é o destaque da edição 48 da newsletter. Em Entrevista, Ricardo Pedroso, idealizador do Projeto Terra, alerta para o fato de que inúmeros projetos de artesanato no Brasil geram expectativas que serão frustradas, pois não há onde vender. De acordo com ele, “existem milhões de reais sendo gastos nas comunidades para produzir, e praticamente zero na ponta de venda”. Já em Matéria do MÊS, o assunto são os selos verdes. Conheça os principais deles e os benefícios da certificação para o meio ambiente e para a venda dos produtos.
Acontece
no
museu A CASA
Cunha
Gago, 807
Exposição Tenet - Tecendo na Net

Últimos dias! Com curadoria de Juan Ojea, Marta Meyer e Renato Imbroisi, exposição apresenta trabalhos em arte têxtil de 70 designers, artesãos e artistas plásticos de todo o Brasil. O tema escolhido para a criação das obras foi a cor preta. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Até 25 de maio. Saiba mais.
Lã em Casa

Exposição traz objetos artesanais desenvolvidos pelas arquitetas e designers Tina Moura e Lui Lo Pumo em parceria com artesãos do grupo Ladrilã, das cidades de Pelotas, Jaguarão e Pedras Altas, Rio Grande do Sul. Abertura dia 4/06, das 19h30 às 22h30. Visitação de 5/06 a 2/08, de segunda a sexta, das 10h às 19h. Sábados, das 12h às 16h. Saiba mais.
3° Prêmio Objeto Brasileiro

Estão abertas as inscrições para o 3° Prêmio Objeto Brasileiro, que vai destacar e premiar o melhor do encontro entre design e artesanato em quatro categorias: Objeto de Produção Autoral, Objeto de Produção Coletiva, Ação Socioambiental e Novos Projetos. Os prêmios vão de R$ 1.500 a R$ 10.000 e as inscrições podem ser feitas pelo correio ou internet. Saiba mais.
www.acasa.org.br
O mar está pra peixe

Passeio virtual pela exposição que apresentou bordados das comunidades Bonito Feito à Mão (MS), Brincando com Linhas (DF), Arcanjo (DF), Ser Brasileiro (DF), Agulha Mágica (DF) e Bordadeiras do Jardim Conceição (SP). Veja aqui.
Museu A CASA nas redes sociais

Apoio

|
Entrevista
- Ricardo Pedroso
“Ninguém olha para mercado”
Ricardo Pedroso é idealizador do Projeto Terra.

Atualmente, há uma série de projetos de promoção do artesanato com muita dificuldade na hora de vender. Há uma retração nesse mercado?
Existe um problema seriíssimo no artesanato. Primeiro, pela questão de oferta: existem centenas, talvez milhares, de projetos no Brasil inteiro, apoiados pelos mais diversos tipos de instituições gerando produtos e, mais do que isso, gerando sonhos que não vão ser realizados porque não tem onde vender. Existem milhões de reais sendo gastos nas comunidades para produzir, e praticamente zero na ponta de venda. Ninguém olha para mercado, ninguém pensa onde vai vender, por quanto vai vender. Há um problema seriíssimo de preço e, ao longo do tempo, esse problema foi se agravando. Tenho uma percepção de que design é usado como uma palavra mágica: “ah, tem design, então beleza! Agora eu vou cobrar mesmo!”. Só que o consumidor não está disposto a pagar. Essa crise existe sim, eu conheço um monte de lojista que fechou, mudou de ramo. Eu viajo pelo Brasil, encontro esse povo todo, e vou falar: somos heróis. Ou teimosos. Meus irmãos falam: “você é teimoso”. Digo que não sou teimoso, eu sou insistente.
O Projeto Terra é um intermediário entre as comunidades de artesãos produtoras e o consumidor final. Como se negocia o preço de compra com o artesão e como se estabelece o preço para a venda ao consumidor?
O artesão não é meu sócio. Compro e pago. O que eu vou fazer de lá para cá é problema meu. O que eu não faço é oferecer menos do que o artesão pediu. Se ele quer dez, é dez. Agora, eu vou botar minha margem na loja. O que eu estou oferecendo? Uma prateleira, um espaço fantástico para o produto do artesão se sobressair. Se ele estiver com o atributo certo, vou continuar comprando e ele terá aquele espaço para sempre. Se tiver algum atributo errado, o consumidor vai rejeitar. Eu não mexo no preço do produtor, mas também não quero que ele venha questionar. Muitas vezes, artesãos afirmam: “doutor, sou eu quem inventa, quem cria, quem sua, quem colhe, quem faz; eu vendo para o senhor por dez e o senhor vende por vinte; o senhor ganha dez sem fazer nada!”. O cara não reconhece quanto custa ter a loja, quanto custa o imposto, funcionários, quanto se paga de luz... Ele acha que eu ganho dez sem fazer nada, que estou tendo lucro em cima dele. Eu sempre digo o seguinte: o relacionamento que temos com as pessoas que nos fornecem é baseado em equilíbrio, dignidade e respeito. Isto faz do Projeto Terra um empreendimento com uma forma de atuação peculiar, com comportamento de ONG nas relações de compra e de empresa nas relações de venda. Mas no final das contas, o que nos diferencia mesmo é que, no nosso empreendimento social, quem nos sustenta é o consumidor, são os nossos clientes. Se o negócio der dinheiro, deu, se não der, sou eu que tenho que bancar.
Qual a importância de selos ambientais, de comércio justo etc.? O consumidor atual está disposto a pagar mais por um produto que tenha essas certificações?
Eu acho que o conceito erra quando a pergunta começa assim “ele está disposto a pagar mais?”. Por que ele tem que pagar mais?
Seguir os princípios estabelecidos pelas certificações pode encarecer a produção.
Nem sempre é assim que funciona. Havia uma época em que eu consumia o filtro de café que diziam ser ecológico pois não era branqueado. Ora, branquear o papel é uma etapa a mais; se há uma etapa a menos, deve-se cobrar igual ou menos. Mas eles cobravam muito mais! Existe certo oportunismo nessa questão dos selos.
Leia
entrevista na íntegra
|
Matéria do MÊS
Selos verdes ajudam a agregar valor ao produto e conquistar o mercado
por Lígia Azevedo
Economia verde, sustentabilidade e responsabilidade socioambiental são termos cada vez mais recorrentes, que contribuem para o aumento da exigência de empresas e consumidores no mercado nacional e internacional. Para agregar valor ao produto e atender a essas preocupações do mercado, uma das ferramentas cada vez mais procuradas são os selos de certificação ambiental, em especial para quem tem como matérias-primas a madeira e demais produtos de extração florestal.
O sistema de certificação florestal de maior credibilidade internacional é o selo do FSC (Forest Stewarship Council), iniciativa criada em 1993 cujo braço no Brasil é o Conselho Brasileiro de Manejo Florestal / FSC Brasil. O FSC possui dois tipos de selo: a Certificação de Manejo Florestal e a Certificação Cadeia de Custódia. A primeira certifica o produto em sua origem, é voltada a pequenas ou grandes operações florestais ou associações comunitárias que fazem a extração de matérias-primas florestais. A segunda é dirigida a produtores que processam a matéria prima de floresta certificada - serrarias, fabricantes, designers etc - e garante a rastreabilidade, integra a cadeia produtiva desde a floresta até o produto final.
A Certificação de Manejo Florestal assegura um manejo florestal responsável pautado por dez princípios e critérios, que envolvem atributos de valor ambiental, sociocultural e econômico, como respeito às leis e à posse de terras, respeito aos povos indígenas, impacto ambiental e relações trabalhistas. O certificado é válido por 5 anos, sendo realizado pelo menos um monitoramento a cada ano.
Segundo Adriana Reis, coordenadora técnica do FSC, “os efeitos positivos da certificação FSC já comprovados são melhoria de acesso ao mercado, podendo ampliar o marketshare de quem comercializa produtos florestais certificados, preços mais elevados, contratos de compra e venda mais estáveis, acordos de crédito favoráveis, eficiência de produção e melhoria da imagem pública do empreendimento certificado”.
No Brasil, há 5 certificadoras credenciadas no FSC, sendo uma das principais a Imaflora. Dos 6,5 milhões de hectares de florestas plantadas no Brasil, 57% são certificados pelo sistema FSC, sendo 3 milhões deles através do Imaflora. O que significa também cerca de 20 mil trabalhadores beneficiados pela certificação.
O Imaflora é a única ONG que faz certificação na Amazônia. Atua em empreendimentos tanto florestais como agropecuárias e, além de realizar os processos de certificação em si, mantém ainda um fundo social para viabilizar a certificação dos pequenos produtores, que muitas vezes não têm recursos próprios para financiar o processo.
As artesãs de Urucureá (PA), que trabalham com cestaria de palha de tucumã, procuraram espontaneamente o Imaflora para certificar o manejo das palmeiras através desse fundo. Com a comercialização dos produtos artesanais certificados, as mulheres passaram a completar a renda familiar e movimentar a economia do município. Leonardo Sobral, membro da equipe do Imaflora, conta que este foi o único caso de projetos em artesanato que certificaram. “Mas o exemplo pode ser replicado a outros casos e outras comunidades. A certificação considera critérios sociais e ambientais aplicados a um produto, madeireiro ou não, extraído de determinada floresta. Qualquer floresta que tenha esse tipo de produção pode ser certificada”, enfatiza.
|
|
A CASA indica
Loja do Projeto Terra

Com curadoria apurada de Ricardo Pedroso, loja do Projeto Terra traz grande variedade de objetos artesanais produzidos em diversos estados do país. Adotando o conceito de Comércio Solidário, a loja oferece produtos brasileiros provenientes de trabalhos sociais, ou que tenham origem reconhecidamente ecológica. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Sábados, das 10h às 18h. Rua Harmonia, 150, loja 4 – Vila Madalena. São Paulo–SP. Telefone: (11) 3034 3550. Saiba mais.
Simpósio e Salão do Artesanato Design – I Feira Internacional do Artesanato Design

Organizado pela Associação de Artesanato & Estilo (Artest), e apoiado pelo museu A CASA, o evento tem como objetivo promover os negócios de artesanato e design, além de sediar palestras, oficinas e workshops sobre o tema. De 31/05 a 2/06, das 14h às 22h. Dia 3/06, das 14h às 18h. Londrina Country Club. Rua Fernando de Noronha, 977. Londrina–PR. Informações: (43) 3025-5223. Saiba mais.
O pesquisador do museu A CASA Daniel Douek é dos convidados do simpósio e fará a palestra De Serrita (PE) a Cerro Azul (PR): histórias do encontro entre designers e artesãos no dia 1/06, às 20h45.
Rede Asta em São Paulo

Há poucas semanas, a carioca Rede Asta inaugurou showroom em São Paulo, onde vende produtos de grupos de artesãos do Rio de Janeiro. O local funciona de segunda a sexta, das 10h às 18h. Rua Diacuí, 81 – Moema. São Paulo–SP. Saiba mais.
Iconografia do Cangaço

Livro reúne fotografias que mostram detalhes do cotidiano de Lampião e seu bando. Um DVD de 13 minutos que acompanha o livro traz cenas inéditas gravadas por Benjamin Abrahão. Ricardo Albuquerque (org.). Editora Terceiro Nome. 216 páginas. R$ 120. Saiba mais.
Boa
leitura
O designer, quando inserido em um campo de pesquisa tem uma dupla tarefa acerca da categoria representação: apreender as representações dos sujeitos de sua pesquisa, por meio da vivência no lugar da pesquisa e constatar preferências, gostos, novas formas de fazer, o saber local (símbolos da identidade cultural), que podem ser inspiradores, servindo como referência ao seu projeto; e representar, traduzir em linguagem gráfica (ou imagens, ou ícones da identidade cultural) as representações coletivas destes sujeitos. Quando estes ícones da identidade cultural são lançados ao consumo, com a sua transformação em produtos, acontece um novo processo de tradução, o da sua apreensão por parte de quem os consome conhecendo pouco ou mesmo não conhecendo a sua dimensão simbólica enquanto representação coletiva da cultura de um grupo social.
Raquel Noronha
O designer e a produção de sentido na construção de iconografias
Leia o texto na íntegra |