Editorial
Nos últimos anos, o conhecimento de artesãos, rezadeiras, curandeiras, mestres de danças e de festas populares vem ganhando proteção e reconhecimento do Estado brasileiro como patrimônio imaterial da cultura nacional. Em vista disso, a 54ª edição da newsletter aborda políticas públicas que valorizam nossos mestres da cultura popular. Confira em Matéria do MÊS.
O desenvolvimento de políticas públicas para o artesanato também é tema tratado pela socióloga Lizete Prata, da Associação Mundaréu. Este e outros assuntos são discutidos em Entrevista e em Boa leitura. Não perca!
Comunicado:
A CASA estará fechada entre os dias 4 e 8 de dezembro para o lançamento da coleção de bordados "Os Jardins da Conceição", do grupo de bordadeiras do Jardim Conceição.
Acontece
no
museu A CASA
Cunha
Gago, 807
Exposição 3° Prêmio Objeto Brasileiro

Exposição apresenta os objetos e projetos premiados e os de maior destaque do 3° Prêmio Objeto Brasileiro. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Sábados, das 12h às 16h. Saiba mais.
entreVistas design + artesanato – Vol. II

Segundo volume do livro “entreVistas design + artesanato” reúne entrevistas realizadas com Adélia Borges, Alcides Ribeiro, Antonio Arantes, Auresnede Pires Stephan, Eronildes Correa de Menezes, Fernanda Martins, Jum Nakao, Luciana Vale, Luis Donisete Benzi Grupioni e Nido Campolongo. O livro está à venda no museu A CASA. R$ 30.
www.acasa.org.br
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Entrevista - Lizete Prata
“Inventar que artesanato pode ser brinde é uma loucura”
Lizete Prata é socióloga, consultora e diretora executiva da Associação Mundaréu.

Desde o final de 2010, a Associação Mundaréu vem passando por mudanças intensas. Em que consistem essas mudanças?
A Mundaréu surgiu num contexto em que a expectativa que se tinha em torno das iniciativas do terceiro setor era a de que se ampliassem, crescessem. A ideia era ter várias filiais da loja e havia pessoas solicitando que abríssemos em outros estados como Recife e Rio de Janeiro. Porém, por conta de várias transformações contextuais, constatamos a inviabilidade de realizar a comercialização de produtos de comunidades sem que houvesse subsídios. A comercialização dessa cadeia produtiva tem sobrevivido apenas nos casos em que existe apoio financeiro externo. Entre outras coisas, isso fez com que, em vez de crescer, mudássemos de rota.
A comercialização de produtos artesanais sem subsídios não é viável?
Não. Em primeiro lugar, há um custo de produção elevado, pois são pequenas estruturas com baixa produtividade. Isso faz com que as matérias-primas sejam adquiridas em pequenas quantidades, o que significa pagar um preço mais alto. Além disso, para todas as organizações envolvidas com o comércio justo, existe um cuidado de que o produtor receba uma remuneração adequada pelo seu trabalho. Isso também gera um custo de mão de obra mais elevado do que aquilo que se paga para quem está numa fabriqueta e ganha centavos pelo que faz. Finalmente, se houver uma estrutura para a comercialização, qualquer que seja ela, haverá também um custo. Porém, mesmo considerando tudo o que está por trás dos produtos, quem compra não acha que os preços podem ser mais altos. Ao contrário, muita gente diz que tem de ser mais barato. Estamos no mesmo mercado de quem explora mão de obra e de grandes empreendimentos que tem muito capital de giro para investir. Nosso produto deveria ser percebido como aquele que tem valor agregado; porém, na lei do mercado, produto mais caro, dança.
Deve-se estimular a comercialização de produtos artesanais no atacado?
O artesanato tem um perfil de venda no varejo. Inventar que artesanato pode ser brinde é uma loucura. Uma coisa que é feita uma a uma não tem economia de escala, não adianta. Se fizer mil é mais barato? Não, não é mais barato. Às vezes, os grupos fazem concessões para poder vender. E, às vezes, pegam uma encomenda grande e fica difícil entregar. Existe certa incompatibilidade entre artesanato e mercado em termos da lógica.
Como as organizações que atuam nesse setor poderiam colaborar entre si? É importante que essa articulação aconteça?
Há uma série de questões que deveriam ser pensadas de maneira coletiva. Várias organizações estão passando por situações semelhantes à nossa e poderíamos compartilhar reflexões e ações. Porém, ao contrário do que se pensa, tais organizações são tão competitivas quanto as empresas. Por conta disso, poucas se dispõem a conversar sobre suas dificuldades. Se sentarmos para conversar, compartilhar dificuldades e pensar soluções coletivas, podemos ser muito mais eficazes. Para fazer pressão junto ao governo por políticas públicas, por exemplo, é obvio que se tivermos um número maior de organizações e de pessoas nessa movimentação as coisas ficarão mais visíveis e vão acontecer com mais rapidez. Então, este é um chamamento às organizações. Sei que, na maioria das vezes, as organizações são pequenas, as pessoas trabalham muito e não têm tempo de pensar. Mas, no caso da Associação Mundaréu, resolvemos parar para pensar e, com isso, estamos abrindo todos esses espaços e todas essas possibilidades que eu considero muito ricas.
Leia entrevista na íntegra
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Matéria do Mês
Políticas públicas valorizam mestres da cultura popular
por Lígia Azevedo
Artesãos, rezadeiras, curandeiras, mestres de danças e festas populares são referências inegáveis para a cultura popular brasileira, seja em suas comunidades ou mesmo fora delas, por vezes até internacionalmente. Nos últimos 10 anos, esses mestres, suas expressões e conhecimentos vêm ganhando também reconhecimento, proteção e valorização oficial como patrimônio imaterial da cultura nacional, através das “Leis de Patrimônio Vivo”, “Leis de Tesouros Vivos da Cultura”, ou “Leis de Mestres”.
Tais leis garantem um auxílio financeiro a pessoas ou grupos com mais de 20 anos de atuação na área, para a manutenção de suas atividades. O abono é vitalício e tem o valor médio de um salário mínimo. À renda é acrescido, na maioria das vezes, um título público, além de prioridade a projetos desses mestres em programas públicos. A contrapartida exigida aos mestres é a comprovação da transmissão de seus conhecimentos a alunos e aprendizes, seja em sua própria comunidade ou em instituições de ensino e ações das secretarias de cultura.
As Leis de Mestres vêm sendo adotadas em âmbito municipal e estadual desde 2002, em estados como Paraíba, Pernambuco, Bahia, Ceará, Alagoas, e Rio Grande do Norte, e cidades como Laranjeiras e Brasília. De lá para cá, quase 150 mestres já foram contemplados, alguns com mais de 60 anos de trabalho. Entre eles, figuras conhecidas como Lia de Itamaracá, J. Borges e Mestre Salustiano. Na área de artesanato, há rendeiras, xilógrafos, luthiers, ceramistas e artesãos de tradição em couro e madeira.
O ceramista João das Alagoas é famoso pelas esculturas inspiradas em motivos religiosos, nas brincadeiras infantis, e em especial na festa de boi bumbá. É reconhecido como um dos maiores escultores do país, e já participou de exposições nacionais e internacionais. Há dois anos, o artesão foi eleito Mestre do Patrimônio Vivo de Alagoas. Além de ter mais reconhecimento e visibilidade a seu trabalho, com o título foi possível para o artesão dedicar mais tempo aos aprendizes, resgatar produtos de tradição que não têm valor comercial, como os presépios, e ainda ter segurança pra aumentar preço das peças. “Como não temos renda fixa, às vezes numa negociação fechamos o preço mais razoável para garantir encomenda. Agora, temos mais folga para negociar. E, mais do que pra vender, nossa preocupação passa a ser fazer o trabalho para resgatar a tradição e passar o conhecimento para garantir a cultura.”
Mas João conta que por vezes há falhas e atrasos no pagamento. “O valor do benefício é satisfatório, mas às vezes pagam com até três meses de atraso. Se pagassem sempre em dia, o mestre poderia se organizar mais em suas atividades e fazer outras coisas – como, no meu caso, uma exposição de presépios.”
Pautas a nível nacional
A Lei dos Mestres ainda não foi implementada em âmbito federal, está em tramitação no Congresso desde 2010. Por hora, o reconhecimento aos mestres pelo Governo se dá através de premiações do Ministério da Cultura, como o Prêmio Culturas Populares. Realizado desde 2007, o Prêmio já soma 695 premiados em todo o país e um investimento total de R$ 6,9 milhões. A cada ano, o prêmio homenageia um mestre, a exemplo de Mestre Duda (2007), Mestre Humberto de Maracanã (2008) e Mestra Dona Izabel (2009). A edição 2012 homenageará Mazzaropi, terá inscrições abertas em 5 de janeiro de 2013 e premiará 350 candidatos, entre mestres, grupos e comunidades, e ainda herdeiros de mestres falecidos.
Para Marcelo Manzatti, presidente do Fórum das Culturas Populares, os prêmios são uma alternativa à burocratização que dificultam as contratações desses mestres. Mas trata-se de ações pontuais, sem consequências a longo prazo. “O próprio modelo atual das Leis de Mestres é pouco, em especial em estados nos quais sua implementação ainda é bastante frágil, mas ainda assim já é um avanço. O Iphan está levantando uma discussão mais interessante, de o mestre ser reconhecido como Doutor Honoris Causa e, além do salário mensal, ser criada uma previdência complementar para eles, mantida por um fundo do Ministério da Cultura. Um próximo passo também é regulamentar os direitos autorais dos artistas populares”, considera.
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A CASA indica
O povo do Candeal: caminhos da louça de barro

Lançado no início de novembro, o livro do antropólogo Ricardo Gomes Lima é resultado de pesquisas etnográficas realizadas em Candeal, povoado do município de Cônego Marinho, ao norte de Minas Gerais, conhecido pela produção artesanal de louça de barro. Editora Aeroplano. Saiba mais.
26º Prêmio Design MCB

Exposição apresenta os projetos que foram destaque no 26° Prêmio Design MCB. A seleção nas categorias mobiliário, utensílios, iluminação, têxteis, equipamentos eletroeletrônicos, equipamentos de construção, equipamentos de transporte e trabalhos escritos foi feita com base em critérios como originalidade, concepção formal, inovação tecnológica, adequação ao mercado, viabilidade industrial, segurança e proteção ambiental. De terça a domingo, das 10h às 18h. Museu da Casa Brasileira. Av. Brigadeiro Faria Lima, 2705. São Paulo-SP. Telefone: 11 3032 2564. Saiba mais.
Museu Xingu

Com curadoria de Maria Paula Almeida, exposição permanente apresenta artefatos indígenas confeccionados com fibras, penas, argila, madeira e decoradas com urucum e jenipapo. De segunda a sexta, das 14h às 19h. Rua José Maria Lisboa, 838. São Paulo-SP. Telefone: 11 3884 9112. Saiba mais.
Textos Escolhidos de Cultura e Artes Populares 9-1 e 9-2

Publicada semestralmente em edição impressa e digital pelo Núcleo de Cultura Popular da UERJ e pelo Centro de Referência do Carnaval, a revista reúne artigos de diversos autores com o objetivo de ampliar e difundir o pensamento contemporâneo sobre a cultura popular. Veja aqui.
DVD "Modos do Fazer" - Entremontes/AL

Vídeo do Artesanato Solidário apresenta a produção de bordados redendê e ponto-cruz em Entremontes, Alagoas. Veja aqui.
Boa
leitura
A Mundaréu tem passado por mudanças intensas, desde o final de 2010. São transformações que se relacionam à nossa concepção de trabalho, como uma organização não governamental voltada para a geração de trabalho e renda e, também ao contexto em que estamos inseridos. (...) Essas considerações tem a intenção de qualificar as reflexões que apresentamos a seguir. São ponderações que nos sentimos na responsabilidade de expressar, como forma de contribuição para o debate e encaminhamento de alternativas coletivas, em beneficio dos negócios populares.
Lizete Prata
Geração de renda e políticas públicas
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