Editorial
Atravessar pontes parece ser a vocação do designer paulista Marcelo Rosenbaum. Em seus projetos, o popular e o erudito, o urbano e o rural, o tradicional e o contemporâneo, o rústico e o tecnológico convivem harmonicamente. Em Entrevista, o designer fala sobre a importância dos valores imateriais como ativos econômicos que podem contribuir para a promoção do desenvolvimento em comunidades tradicionais.
Já em clima de carnaval, a newsletter revela uma prática comum nas escolas de samba: o reaproveitamento de materiais – seja na construção do barracão, na produção de instrumentos musicais ou na confecção das fantasias. Confira em Matéria do MÊS.
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Acontece
no
museu A CASA
Cunha
Gago, 807
Projeto Corrente

Com curadoria de Marina Sheetikoff, projeto reuniu 65 artistas de 18 países. O resultado é uma peça única de 12 metros formada por diversas matérias-primas, como concreto, papel, silicone, ouro, prata e materiais orgânicos. Abertura dia 20/02, das 19h30 às 22h30. Visitação de segunda a sexta, das 10h às 19h. Sábados, das 12h às 16h. Até 23/03. Saiba mais.
entreVistas design + artesanato – Vol. II

Segundo volume do livro “entrevistas design + artesanato” reúne entrevistas realizadas com Adélia Borges, Alcides Ribeiro, Antonio Arantes, Auresnede Pires Stephan, Eronildes Correa de Menezes, Fernanda Martins, Jum Nakao, Luciana Vale, Luis Donisete Benzi Grupioni e Nido Campolongo. O livro está à venda no museu A CASA. R$ 30.
www.acasa.org.br
Coleção 3° Prêmio Objeto Brasileiro

Coleção virtual apresenta os objetos e projetos premiados e os de maior destaque do 3° Prêmio Objeto Brasileiro. Veja aqui.
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Entrevista - Marcelo Rosenbaum
“Valor imaterial é valor material”
Marcelo Rosenbaum é designer.

O que é o projeto A Gente Transforma?
O projeto A Gente Transforma é um movimento que usa o design para identificar valores culturais de comunidades tradicionais nesse Brasil profundo, esquecido. Quando chego a uma comunidade e vejo a casa das pessoas, enxergo beleza em todas aquelas construções: o piso de cimento queimado, a parede branca caiada, linda, a rede vermelha, bem colocada. Mas se eu digo que aquela casa é bonita, eles não acreditam: “você está louco”, “meu sonho é ganhar dinheiro e colocar cerâmica nesse piso, com estampas e brilho”, “quero uma janela de alumínio no lugar desta de madeira”. Você olha e fala: “mas isso é lindo!”. Para eles, é mentira. Precisamos conscientizá-los de uma forma muito honesta e horizontal que aquilo é valor, é o dinheiro deles, porque valor imaterial é valor material, identidade é dinheiro, e isso pode ser feito com design. Os avós e bisavós dos moradores de Várzea Queimada, por exemplo, já trabalhavam com a palha de carnaúba. Eles faziam bogoiós gigantes para guardar alimentos do trabalho na roça. Quando chegaram aqueles baldes de plástico coloridos vistos como muito mais bacanas e custando R$ 1,99, eles deixaram de fazer o bogoió, que se tornou referência de pobreza, de passado, de vida dura. Quando visitamos a comunidade e nos encantamos com aquele bogoió antigo, que seria jogado fora, e isso vira uma coleção de sucesso que vai à Milão, à Paris, e é vendida em quinze lojas, esse pertencimento retorna a eles. Isso porque não estamos inventando nada. Não estamos sugerindo que as pessoas daquela comunidade se tornem produtores de capinhas de palha para celular ou de brindes. Não vejo esse artesanato como brinde. Esse artesanato é design, é valor agregado, é identidade brasileira, é tradição cultural. É muita coisa que não brinde. Não é para ser baratinho. É produto bom, produto feito à mão, marca Brasil, marca Várzea Queimada. Eles estão recuperando suas próprias ancestralidades e percebendo que aquilo é valor.
Em que consiste o trabalho do designer num projeto como esse? Há algum tipo de interferência nos produtos?
O que levamos a eles é uma sistematização do processo de produção. Podemos mexer, por exemplo, nas proporções, mas é o bogoió, nós damos o nome de bogoió, e isso vai criando uma conexão. Nós vamos trabalhar com eles, estimular, relembrar, pôr uma lente de aumento, criar um produto e colocar no mercado. Isso eu sei fazer. Tenho potencial de chegar aqui e gritar. Gritamos para mídia, participamos de premiações, ligamos para as lojas, fazemos essa conexão.
Seu sonho sempre foi fazer móveis para a casa popular. Quais as principais diferenças na produção de mobiliário voltada às classes A e B em relação à produção voltada às classes C e D?
Existe adequação. Hoje, o popular compra móveis que não cabem em sua casa. Veja o programa Minha Casa, Minha Vida, por exemplo. O tamanho da casa é reduzido e, portanto, não é qualquer móvel que cabe. Além disso, existe um comportamento específico dessa nova classe: as formas de usar a casa, o modo como a família se reúne, o acesso aos equipamentos eletrônicos. O gosto popular também tem as suas particularidades. Acho equivocado fazer o móvel do rico para o pobre de uma forma simples. Existe uma estética própria, um gosto próprio.
Leia entrevista na íntegra
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Matéria do Mês
Do lixo, o luxo do samba
por Lígia Azevedo

No meio da periferia de Santo André, em São Paulo, no alto de uma das milhares de ladeiras da comunidade do Jardim Santa Cristina, vê-se um barracão de paredes de metal rodeado por restos de estruturas de carros alegóricos. É a sede da Asa Branca, escola de samba local cujo trabalho exemplifica uma prática frequente em pequenas agremiações e comum também em grandes escolas: o reaproveitamento de materiais. Em tempos de extrema preocupação com redução de lixo e consumo, o carnaval dá seu exemplo: o que iria para o lixão vai para a avenida do samba.
“Tudo o que chega na nossa mão vira matéria-prima”, afirma o presidente da escola Wellington dos Santos. Todo o barracão foi construído com material reaproveitado: antigos postes de luz se transformaram nas vigas do barracão, pedaços de carpete se tornam revestimento das paredes e restos de madeirite serviram para construir mesas e bancos.
Na ala da bateria, também é preciso muita criatividade para estender ao máximo a vida útil dos instrumentos. Além das clássicas soalheiras (chocalhos) feitas de tampinhas de garrafa, os surdos são os exemplos mais comuns disso. Toda sua estrutura pode ser remontada: o corpo do instrumento, originalmente de madeira, é reproduzido com latões de lixo; parafusos de construção substituem os pinos originais que fixam a pele na parte superior; e a pele original de couro ou PVC é remodelada para recuperar a afinação e, quando não pode ser reaproveitada, é substituída por recortes de lona.
“Depois de um tempo as peles sofrem um esgarçamento e perdem sua afinação. Mas usamos técnicas que fazem a pele encolher e voltar a ter a sonoridade original”, explica o mestre Alek Reis, diretor de bateria da Asa Branca. “As peles de couro são encolhidas com água e as de PVC com aquecimento no fogo”.
Mas nem sempre o reaproveitamento é garantia de segurança para o percussionista. “Isso é o que chamam de ‘engenharia arriscada’”, conta o presidente da escola. “Geralmente no surdo os pinos ficam na parte de baixo. Como aproveitamos o outro lado do instrumento, as pontas dos pinos ficam para cima e, se não tomar cuidado, quem está tocando pode machucar as mãos ali”, explica.
As fantasias também são reutilizadas ano a ano, frequentemente repassadas de uma escola para outra. “Compramos fantasias que outras escolas usaram em desfiles passados. Aqui, elas são reformadas pelos próprios integrantes para serem adaptadas ao enredo do nosso carnaval”, conta o carnavalesco Felipe Milanes.
“Todas as escolas pequenas e mesmo as grandes escolas também praticam o reaproveitamento, pois a cada desfile gasta-se muito material e levantar um carnaval sai muito caro”, comenta Felipe. A verba pública recebida é insuficiente, completada com arrecadações de festas, vendas de camisetas da escola e investimento pessoal dos membros da diretoria. “No ano passado, recebemos R$ 8 mil da Prefeitura e gastamos R$ 40 mil para montar nosso carnaval”, completa o carnavalesco.
Da garagem ao barracão
A Asa Branca foi fundada em 2008 e funcionava inicialmente numa garagem alugada – que depois deu lugar a uma igreja evangélica. Os ensaios gerais das alas eram feitos na rua, diante de um “palco” de cimento.
Hoje, a “verde-e-rosa do ABC” é composta por 300 integrantes, da própria comunidade. Na quadra recém-inaugurada, construíram espaços para ensaios e festas, depósito de instrumentos e de figurinos.
Por dois anos consecutivos, a escola foi vencedora do grupo de acesso do carnaval de Santo André. Este ano, batalha por seu terceiro título com um enredo sobre a alquimia. Ao que parece, os alquimistas já lhes abençoaram com o dom da transmutação.
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A CASA indica
Design da periferia

A exposição pretende dar visibilidade à inventividade do povo brasileiro e às suas preciosas lições de design. Composta por objetos, vídeos e fotografias, a mostra tem curadoria de Adélia Borges e está dividida em quatro módulos: “Rua”, “Casa”, “Corpo” e “Brincadeiras”. Parque Ibirapuera. Rua Pedro Álvares Cabral, s/nº. São Paulo-SP. De terça a domingo, das 9h às 17h, com permanência até às 18h. Até 29/07/2013. Saiba mais.
IBIRÁ

Com curadoria de Renato Imbroisi, a exposição retrata a flora do Parque Ibirapuera em 1.800 metros de tecidos feitos à mão no bairro rural Muquém, do município de Carvalhos, ao sul de Minas Gerais. A mostra integra a primeira etapa do Projeto IBIRÁ, que tem como tema o Parque Ibirapuera em três aspectos: Flora, Fauna e Gente. Durante a permanência da exposição, serão realizadas oficinas com curadoria da artista plástica e designer têxtil Liana Bloisi. Pavilhão das Culturas Brasileiras. Parque Ibirapuera. Rua Pedro Álvares Cabral, s/nº. São Paulo-SP. De terça a domingo, das 9h às 17h, com permanência até às 18h. Até 29/07/2013. Saiba mais.
Prêmio Culturas Populares

O concurso, que nesta edição homenageia o ator, produtor e cineasta paulista Amácio Mazzaropi, visa reconhecer e premiar a atuação de Mestres e Grupos / Comunidades responsáveis por iniciativas exemplares que envolvam as expressões das culturas populares brasileiras. Serão selecionados 350 projetos que receberão o prêmio de R$ 14.285,72. Inscrições até 05/04. Saiba mais.
Prêmio Salão Design Casa Brasil 2013

Promovido pelo Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (SINDMÓVEIS), o concurso oferece R$ 175 mil em prêmios nas modalidades Estudante, Profissional e Indústria. Inscrições até 22/02. Saiba mais.
Zanini – 10 anos

Exposição apresenta uma retrospectiva dos trabalhos realizados na última década pelo designer Zanini de Zanine. Casa Eletrolux. Rua Colômbia, 157. Jardim América. São Paulo-SP. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Sábados, das 10h às 17h. Domingos, das 11h às 15h. Até 28/02. Saiba mais.
Boa
leitura
O presente trabalho discorre sobre Design, artesanato e suas possíveis inter-relações aplicadas ao design de produto: seja na apropriação de signos típicos ou de técnicas artesanais. Através de uma pesquisa exemplificada, analisou-se iniciativas locais (Pará) e nacionais. Após esses estudos, pode-se perceber que o artesanato paraense e brasileiro somente tem a engrandecer os valores estéticos e simbólicos dos produtos concebidos.
Emanoel Tavares Moreira
O artesanato como estratégia para a concepção de produtos culturalmente relevantes
Leia o texto na íntegra
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