A CASA - Newsletter #58 - Ano 5 | Março de 2013





Newsletter N°58

Março de 2013

 

 

Editorial

 

 

A CASA vai virar sertão. Com direito a gibão de vaqueiro, selas, sandálias, bolsas, cintos e chapéus de couro que farão parte da exposição “Espedito Seleiro – da sela à passarela”.

 

Apresentada inicialmente no Rio de Janeiro, a exposição é resultado de uma parceria com o CNFCP/Iphan/MinC. Confira todas as informações sobre a mostra em Acontece no Museu A CASA e em Matéria do MÊS. Em Entrevista, a antropóloga Guacira Waldeck apresenta o trabalho do CNFCP.

 

Espedito Seleiro participará ainda da quarta edição do Papo Artesanal, atividade realizada pelo Artesol em São Paulo. Saiba mais em A CASA indica.

 

 

 

Acontece no
museu A CASA

 

 

 

Cunha Gago, 807

 

 

Espedito Seleiro: da sela à passarela

 


Exposição apresenta gibões de vaqueiro, selas, sandálias, bolsas, cintos e chapéus de couro oriundos do trabalho de Espedito Seleiro. Instalado em Nova Olinda, na Chapada do Araripe, ao sul do Ceará, o artista transita entre tradição e modernidade, aliando memória e inventividade em todas as suas criações. As peças de Espedito Seleiro estarão à venda na exposição, que é resultado de uma parceria entre A CASA e Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular/Iphan/MinC. Abertura dia 03/04, das 19h30 às 22h30. Visitação de segunda a sexta, das 10h às 19h. Sábados, das 12h às 16h. Até 17/05. Saiba mais.

 

 

 

 

entreVistas design + artesanato – Vol. II

 

 

Segundo volume do livro “entrevistas design + artesanato” reúne entrevistas realizadas com Adélia Borges, Alcides Ribeiro, Antonio Arantes, Auresnede Pires Stephan, Eronildes Correa de Menezes, Fernanda Martins, Jum Nakao, Luciana Vale, Luis Donisete Benzi Grupioni e Nido Campolongo. O livro está à venda no museu A CASA. R$ 30.

 

 

 

 

www.acasa.org.br

 

 

Coleção Projeto Corrente

 

 

Coleção virtual apresenta as peças dos 65 artistas de 20 países que integraram o Projeto Corrente. Com curadoria de Marina Sheetikoff, o projeto resultou na criação de uma corrente única de 12 metros formada por diversas matérias-primas, como concreto, papel, silicone, ouro, prata e materiais orgânicos. Veja aqui.

 

 

 

 

Museu A CASA nas redes sociais

 

 

 

 

Apoio

 

Entrevista - Guacira Waldeck

 

"Objetos condensam múltiplos significados"

 

Guacira Waldeck é antropóloga, pesquisadora do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular/Iphan.

 

 

O trabalho institucional do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular se desenvolve em torno de quatro linhas estratégicas de atuação: a pesquisa, a documentação, a difusão e o apoio e fomento à produção e a seus diferentes agentes. Como essas linhas de atuação se articulam na prática e realizam a missão do Centro de atender as demandas sociais no campo da cultura popular?

As demandas sociais são tantas e nela estão envolvidos instituições locais, organizações não governamentais, e, na atualidade, temos a presença de mediadores de diferentes perfis atuando. Somos uma instituição de abrangência nacional e sempre privilegiamos o diálogo, colaboração, apoio e parceria. Num país de contrastes e dimensões continentais realmente é essencial. Ao longo do tempo, contamos com programas de políticas públicas, privilegiando não o evento, mas, a partir de análise, a atuação no sentido de criar possibilidade para a continuidade de uma série de expressões do amplo espectro das culturas populares, bem como pesquisas cobrindo diferentes temas, festas, como o projeto de romarias brasileiras, pesquisa sobre carnaval, e sobre a constituição dos campos de estudos de folclore no Brasil. Temos a preocupação de promover encontros que possam abrir mais um espaço interlocução em temas específicos, e na medida de nossas possibilidades, o propósito é a edição das comunicações.

O que é a Sala do Artista Popular?

A Sala do Artista Popular consiste em atividade de constituição de valores. A exposição de abertura foi de “Jota Rodrigues: folhetos, romances, literatura de cordel” em maio de 1983. São 30 anos. No texto de apresentação: o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (então Instituto Nacional de Folclore e Cultura Popular) “percebe como legítimo os agentes individuais ou comunitários ocuparem um espaço real nesta instituição de forma a que possam veicular expressões culturais próprias, abrangendo aspectos do fazer dos segmentos sociais a que pertencem” – aí está espírito deste Programa, idealizado pela poeta, historiadora da arte, autora de livros de referência e museóloga Lélia Coelho Frota (1938-2010). Ao ler este trecho de apresentação de Lélia, não deixei de pensar numa certa sintonia com esses tempos de “occupy”, e também no termo tão recorrente na atualidade de fazer e saber. Objetos condensam múltiplos significados, e só existem pelo trabalho humano investido, por conhecimentos que atravessam gerações. Em alguma, medida somos por eles constituídos simbólica e socialmente, ou nos termos de Marshal Sahlins: “os homens reciprocamente definem os objetos em termos de si mesmos, e definem-se em termos dos objetos”. O Programa portanto se revela nessa mostra de objetos numa metrópole, mas o propósito é partir das coisas para revelar um pouco as diferentes maneiras de conhecer, concepções outras de conferir alguma ordem a vida, ao trabalho.

 

Qual a importância da pesquisa etnográfica como metodologia para a compreensão e promoção do artesanato e da arte popular?

Em linhas sucintas, o método etnográfico supõe estada mais prolongada do pesquisador em campo. Uma das contribuições fundamentais é um certo estado de alerta e suspeita quanto à centralidade de nossos valores como medida inflexível para uma tradução ou leitura do mundo do outro. A meu ver, uma das contribuições importantes é não aderir às concepções de arte popular ou artesanato como categorias estáveis, com conteúdo definido, mas observá-las como uma entre tantas outras classificações possíveis. De certa forma, a atividade de etnografia, ao longo do tempo, constitui esses objetos como valores culturais e artísticos, à medida que permite a travessia de seus contextos de origem, imersos na vida social em múltiplos significados, para centros culturais, museus etnográficos, museus de arte. O que a etnografia permite é a aproximação de seus significados em seus contextos de origem.

 

Leia entrevista na íntegra

 

 

Matéria do Mês

 

 

“Da Sela à Passarela” – a obra de Espedito Seleiro chega ao museu A CASA

por Lígia Azevedo

 

 

São 8 horas de um domingo e a voz do outro lado do telefone atende com bastante vigor: “Minha filha, aqui estou de pé trabalhando desde as 4h da manhã, todos os dias”. Este incansável senhor de 73 anos de jeito simples e sábio é Espedito Seleiro, artesão cearense cujos sapatos e acessórios em couro ganharam passarelas da moda, feiras e museus ao redor do país. Inspiradas na vida no sertão nordestino, suas peças podem ser vistas no museu A CASA de 3 de abril a 17 de maio na exposição “Espedito Seleiro - da Sela à Passarela”.

 

O título da exposição traduz bem a trajetória do artesão. Espedito começou a trabalhar com couro fazendo selas, chicotes, chapéus, botinas e demais acessórios de vaqueiro para vender nas feiras do sul do Ceará, e com o ofício de seleiro ganhou renome na região. Mas a queda da atividade rural fez reduzir drasticamente a venda dessas peças, e ele então optou por mudar seu estilo de trabalho.

 

Sandálias, bolsas, cintos e outros acessórios em couro cru, que antes adornavam os homens que se aventuravam pelo campo, tornaram-se objetos de moda ao ganharem desenhos em cores, grande marca de suas criações. “As primeiras que fiz não eram coloridas, não, eram de couro. (…) Esse pessoal mais sabido chama design, eu chamo desenho colorido. Bota uns nomes mais bonitos, mas eu chamo assim”, comenta.

 

Descoberto na década de 80 “pelo povo da cultura”, como ele mesmo diz, Espedito passou a receber um número crescente de encomendas. A primeira foi de um amigo, que pediu uma sandália igual à da lendária figura de Lampião. Desde então, as criações com motivos sertanejos já compuseram coleções da grife paulista Cavalera e da carioca Cantão, e serviram até de figurino de cinema ao protagonista Marcos Palmeira no filme “O homem que desfiou o Diabo”.

 

Além das encomendas, boa parte das peças é vendida a turistas que visitam sua casa – hoje ponto turístico oficial de Nova Olinda, cidade onde há mais de 30 anos reside. Uma clientela local assídua são as bandas de forró, que procuram seus sapatos cheios de cores para usarem nos shows, além das “malas de mecânico” em versão colorida e redimensionada para caber os CDs dos artistas. “E, quando é tempo de Vaquejada, o pessoal daqui corre pra cá pra comprar arreio pra festa”, enfatiza.

 

Espedito é hoje Mestre da Cultura pelo governo do Ceará, e como tal faz questão de cumprir o compromisso de repassar seus conhecimentos a quem tem interesse. “Dos que eu ensinei, uma parte mantém [o trabalho] até hoje, outros abandonaram. Tem até uns cabras que eu não ensinei, mas que copiaram meu modelo e estão enricando”, diverte-se. Foi inclusive para se precaver das cópias e preservar o segredo do molde – “a ciência do trabalho”, como diz –, que criou a marca Espedito Seleiro, da qual os filhos são os únicos que também assinam os desenhos.

 

O ofício de seleiro é herança de família, passado de geração em geração desde seu avô. Hoje, esposa, filhos e netos trabalham na confecção, e Espedito espera que continuem na profissão. “Com isso, acabei de criar a mim e à minha família”, conta. “E acho que, se meu avô e meu pai pudessem ver o que fizemos com o trabalho, não iam acreditar”.

 

Espedito faz questão de continuar produzindo os velhos acessórios sertanejos. Mesmo que não venda, gosta de ter por perto uma sela, um traje de vaqueiro. “Não esqueço do meu sertão. Foi lá que aprendi a trabalhar. E fico feliz quando as pessoas me dizem que eu consegui mostrar aquelas coisas nossas, do nosso sertão, que viviam entocadas lá”, conclui.

 

 

 

A CASA indica

 

 

Papo Artesanal com Espedito Seleiro

 


Buscando promover reflexões sobre o artesanato brasileiro, a quarta edição do Papo Artesanal contará com a presença de Espedito Seleiro. Dia 04/04, das 13h às 15h. Artesol. Rua Pamplona, 1005. 2° andar. São Paulo-SP. Saiba mais.

 

 

Brasiliana USP

 

 

Inaugurada no último dia 23/03, a biblioteca reúne milhares de títulos que integravam o acervo do colecionador José Mindlin. Além de receber pesquisadores e visitantes, o espaço espera abrigar exposições, eventos e outras atividades acadêmicas e culturais. Seu mobiliário é assinado por designers brasileiros como Sérgio Rodrigues, Zalszupin, Carlos Motta e Claudia Moreira Salles. Rua da Biblioteca, s/n. Cidade Universitária. São Paulo, SP. Saiba mais.

 

 

 

Ronaldo Fraga: caderno de roupas, memórias e croquis

 

 

O livro apresenta os temas e inspirações das coleções do estilista Ronaldo Fraga e conta com textos de Costanza Pascolato, Cristiane Mesquita e Regina Guerreiro. Editora Cobogó. 272 páginas. R$ 120. Saiba mais.

 

 

 

Artesãos do Brasil - Volume II

 

 

Editado pela revista Casa Claudia, o livro apresenta o trabalho de dezenas de artesãos e grupos artesanais brasileiros que utilizam os mais diversos tipos de materiais em sua produção, tais como madeira, fibra, papel e couro. Disponível em livrarias e bancas de jornal. R$ 90. Saiba mais.

 

 

 

DVD "Modos do Fazer" – Chapada do Norte: Cuba/MG

 

 

Vídeo do Artesol apresenta o trançado em palha de milho para a confecção de bolsas e sacolas em Chapada do Norte, Minas Gerais. Veja aqui.

 

Boa leitura

 

O Estado do Pará, assim como diversos outros Estados brasileiros, vem apresentando um processo de valorização do artesanato, contando com programas de desenvolvimento local realizados por organizações governamentais e não governamentais. Nesse contexto, é necessário abordar as relações do artesanato com o design, tendo em vista que o diálogo entre esses conceitos podem ser encarados não só como importantes ferramentas de transformação socioambiental como também de difusão cultural. A Universidade do Estado do Pará, por sua vez, apresenta-se como importante órgão de incentivo a essa prática, uma vez que desenvolve ações de pesquisa e ensino voltadas para o setor do artesanato. Este trabalho tem como objetivo apresentar os principais exemplos de ação que abordam o artesanato no curso de Bacharelado em Design da UEPA de 2003 a 2009.

 

Emanoel Tavares Moreira e Pinto, Rosângela Gouvêa

Inserção do Artesanato no Ensino do Design da Universidade do Estado do Pará – UEPA

 

 

Leia o texto na íntegra


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