Editorial
O encontro entre Design e Artesanato nas universidades é destaque na 60ª edição da newsletter. Em Entrevista, a equipe do O Imaginário, laboratório de design da Universidade Federal de Pernambuco, fala sobre o trabalho desenvolvido pelo grupo, que visa integrar professores, estudantes e comunidades para transformar a atividade artesanal em um meio de vida sustentável.
Exemplos como esse em outras universidades do país podem ser conferidos também em Matéria do MÊS. Conheça os projetos desenvolvidos em diversas regiões do Brasil.
Já em Boa Leitura, Valeska Zuim, Ana Claudia Farias, Maria Silvia Barros de Held e Antonio Takao Kanamaru descrevem como a arte em couro de Espedito Seleiro foi implantada como metodologia de ensino junto aos alunos de graduação em Design de Moda da Faculdade Católica do Ceará.
Acontece
no
museu A CASA
Cunha
Gago, 807
Espedito Seleiro: da sela à passarela

Exposição apresenta gibões de vaqueiro, selas, sandálias, bolsas, cintos e chapéus de couro oriundos do trabalho de Espedito Seleiro. Instalado em Nova Olinda, na Chapada do Araripe, ao sul do Ceará, o artista transita entre tradição e modernidade, aliando memória e inventividade em todas as suas criações. As peças de Espedito Seleiro estarão à venda na exposição, que é resultado de uma parceria entre A CASA e Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular/Iphan/MinC. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Sábados, das 12h às 16h. Até 21/06. Saiba mais.
www.acasa.org.br
Coleção Virtual Miriam Mamber

Coleção virtual reúne joias da artista plástica Miriam Mamber, produzidas a partir da união entre materiais nobres como ouro, prata e diamante, e materiais orgânicos como cascas de árvore e sementes. Veja aqui.
Vídeo | Construção da nova sede do museu A CASA

Vídeo apresenta uma seleção de imagens que revelam o andamento das obras de construção da nova sede do museu A CASA. O término das obras está previsto para o início de 2014. Veja aqui.
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Entrevista - Ana Maria Queiroz de Andrade e Virgínia Pereira Cavalcanti
“A pesquisa na universidade deve ser útil à sociedade”
Ana Maria Queiroz de Andrade e Virgínia Pereira Cavalcanti são coordenadoras do O Imaginário, laboratório de design da Universidade Federal de Pernambuco.

O que é e como surgiu o laboratório O Imaginário?
Ana Maria Queiroz de Andrade: O laboratório surgiu como um projeto de extensão universitária que tinha por objetivo aproximar design e artesanato, mas com um olhar de pesquisa também. A ideia era não só prestar o serviço à comunidade, mas realizar pesquisas sobre design, artesanato e todas as questões que o artesanato como ferramenta para gerar renda e incluir socialmente envolvia. Instituímos um núcleo na UFPE e, para fazer com que esse grupo sobrevivesse sem depender tanto do apoio governamental, começamos a prestar serviço também à indústria.
Como foi a receptividade desse projeto na UFPE?
Ana Maria Queiroz de Andrade: A universidade está fincada em três eixos: ensino, pesquisa e extensão. A extensão, porém, sempre foi o “patinho feio”. Por muitos anos, era o professor visto como aquele que não sabia fazer pesquisa e, por isso, acabava fazendo extensão.
Virgínia Pereira Cavalcanti: Os próprios órgãos de fomento à pesquisa estimulam isso, ao enfatizar a “pesquisa pura”. Existe essa restrição acadêmica em relação a esse trabalho que valoriza não só as questões teóricas, de laboratório, mas também as questões práticas, a pesquisa aplicada. E o que fazemos é pesquisa aplicada.
Ana Maria Queiroz de Andrade: Felizmente, acho que há uma tendência de mudança. Um país como o Brasil não pode se dar ao luxo de ter uma pesquisa encastelada. A pesquisa na universidade deve ser útil à sociedade.
Além dos projetos realizados junto aos grupos produtores de artesanato, há uma preocupação em refletir sobre o quê está sendo feito. De que maneira isso ocorre e qual a importância disso?
Virgínia Pereira Cavalcanti: A relação entre pesquisa, ensino e extensão não é fácil, mas temos conseguido fazer isso de uma forma bastante interessante. Na verdade, o que ocorre é que as pesquisas são feitas sobre o trabalho do Imaginário e vice-versa. Tanto os projetos geram a pesquisa, quanto a pesquisa se interessa por problemas que acontecem depois do projeto. Eles transcendem o fato de serem problemas reais e passam a ser problemas de pesquisa. Isso é o que vem gerando artigos, dissertações, monografias. Em 2006, criamos um grupo de pesquisa chamado Design, Tecnologia e Cultura, certificado pelo CNPq, e que é, também, uma linha de pesquisa do Programa de Pós Graduação em Design do Departamento. Esse grupo tem o viés da pesquisa científica sobre as atividades de extensão que o Imaginário desenvolve.
Ana Maria Queiroz de Andrade: A não dissociação da pesquisa e da extensão é o grande desafio e nosso diferencial. De fato, não dissociamos.
Virgínia Pereira Cavalcanti: Isso contribui para o trabalho que O Imaginário desenvolve, porque somos forçados a refletir e questionar constantemente. Isso vem se tornando uma realidade tão concreta que recebemos pessoas do país inteiro interessadas especificamente nessa relação entre design e artesanato para a orientação de mestrado e doutorado.
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Matéria do Mês
Artesanato ganha espaço em cursos de Design através de projetos de extensão
por Lígia Azevedo
Há cerca de 10 anos, os cursos superiores de design vêm abrindo espaço para projetos de extensão universitária que trabalham com produtos e comunidades artesanais. Os conceitos de sustentabilidade, ecodesign e economia solidária, e a valorização do patrimônio material e imaterial do artesanato são pontos comuns destas ações, como o Projeto Ecosol, da Universidade da Região de Joinville (Univille), que desde 2010 atua junto a artesãos do Fórum de Economia Solidária de Joinville e Norte Catarinense, e o Programa Minas Raízes (UEMG), que há dois anos promove ações junto a comunidades da região metropolitana de Belo Horizonte.
“Dentro da nossa universidade, a extensão passou a ser entendida como um processo articulado ao ensino e à pesquisa, mas suficientemente aberto para promover diálogos com os conhecimentos ditos populares ou leigos. A troca de saberes resultantes desse encontro (científico-popular), além de favorecer a democratização do conhecimento, contribui para uma formação mais humanizada de nossos alunos. E temos visto que projetos dessa natureza impactam não somente aos alunos, mas, toda a equipe, inclusive aos professores”, comenta Maria Flavia Vanucci, professora da UEMG que coordena o projeto Minas Raízes. “Paralelamente a isso, o mercado vinha demandando por designers com uma formação mais humanizada e holística para trabalhar junto a programas de apoio ao artesanato, que rapidamente se disseminaram pelo país. A partir de então, o designer passou a enxergar nessa atividade uma forma de atuação profissional”, acrescenta.
A pioneira neste tipo de iniciativa no país foi a Universidade Federal de Pernambuco com o projeto Imaginário Pernambucano, atualmente denominado Laboratório O Imaginário. Criado em 2000, conta com uma equipe multidisciplinar de professores, alunos e técnicos para o desenvolvimento de objetos industriais e artesanais, trabalhando com comunidades tradicionais e não-tradicionais. Já atuaram junto a comunidades de história, produção e uso de matérias-primas bastante diversos – cerâmica figurativa em Alto do Moura, Kambiwa (2002) e Tracunhaém (2004); cerâmica utilitária em Cabo de Santo Agostinho (2003); cestaria em Goiana, (2003); barro, caroá, palha e imbira na comunidade quilombola de Conceição das Crioulas (2001). Desde sua criação, angariaram diversos parceiros, entre eles Sebrae, Senai e CNPQ, e receberam inúmeras premiações, como o prêmio Idea 2008 e, no mesmo ano, menção honrosa na categoria Ação Sócio-Ambiental no 1° Prêmio Objeto Brasileiro.
Iniciativas como estas têm se configurado não só como importantes espaços de intercâmbio entre universidade e comunidades, como também entre comunidades e mercado, e diferentes comunidades produtoras entre si. Primeira ação do Laboratório de Design Solidário - LABSOL (UNESP Bauru), em 2007, o projeto Box, por exemplo, agregou ao trabalho de decupagem de guardanapos sobre caixas de MDF, realizado por artesãos da Associação de Artesãos da cidade de Assis (SP), outras peças artesanais de diferentes regiões, tais como a escultura em baixo relevo da Associação de Artesões de Bichinho e de Tiradentes (MG) e papel artesanal produzido a partir de fibras de bananeira por comunidades do Vale do Paraíba (SP).
A militância política junto às comunidades envolvidas é outro traço que projetos como este estão ganhando, a exemplo de um dos mais recente programa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Deseja.ca – Desenvolvimento Sustentável e Empreendedorismo Social no Jardim Canadá. Sua zona de atuação, o Jardim Canadá, é um bairro formado por imigrantes recentes, localizado na região metropolitana de Belo Horizonte entre as margens de um parque natural, uma mineração, condomínios de luxo e uma importante rodovia federal. Desde 2011, uma equipe de alunos e professores dos cursos de Design, Artes Visuais e Arquitetura e Urbanismo vêm atuando junto à comunidade com o objetivo de melhorar a qualidade de vida e nível de renda dos moradores do bairro. Isso, através de oficinas de capacitação em marcenaria, tecelagem e estamparia, da transformação do lixo gerado principalmente pelas microindústrias e mineradoras locais em produtos desenvolvidos nas oficinas, e de intervenções arquitetônicas e urbanas para a melhoria da qualidade dos espaços cotidianos da comunidade.
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A CASA indica
Zanini de Zanine

Com curadoria de Waldick Jatobá, exposição apresenta nova série de móveis do designer Zanini de Zanine. A mostra reúne oito peças inéditas e com edição limitada, como a cadeira corten, a poltrona Anil e o banco Sonia. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Sábados, das 10h às 14h. Até 30/06. Galeria Firma Casa. Al. Gabriel Monteiro da Silva, 1487. Jardim Paulistano. São Paulo-SP.
Projeto Anônimos e Artistas

Dando continuidade ao ciclo de exposições Anônimos e Artistas, que procura revisitar a origem de uma identidade no design brasileiro, o Instituto Tomie Ohtake apresenta as mostras “Edson Meirelles vê a Gráfica Popular" e "Ruben Martins, o primeiro transgressor". De terça a domingo, das 11h às 20h. Até 02/06. Instituto Tomie Ohtake. Av. Brigadeiro Faria Lima, 201. Entrada pela Rua Coropés. Pinheiros. São Paulo-SP. Saiba mais.
Um Século de Moda

Novo livro do estilista e professor João Braga apresenta curiosidades que marcaram a história da moda no século XX, como o nascimento da Lacoste, a patente do soutien e o lançamento do perfume Chanel n.º 5. O texto de apreentação é assinado por Gloria Kalil. Editora D'Livros. 120 páginas. R$30. Saiba mais.
Simpósio e Salão do Artesanato Design

Buscando promover o contato entre artesãos e micro e pequenos empresários, a segunda edição do Simpósio e Salão do Artesanato Design contará com a presença de compradores e distribuidores nacionais e internacionais de produtos de origem artesanal. De 06 a 09/06. Londrina Country Club. Rua Fernando de Noronha, 977. Londrina-PR. Saiba mais.
Boa
leitura
A relação do fazer artesanal com o design nos traz muitas possibilidades criativas de exploração, onde agrega-se valor aos produtos fabricados pelos artesãos, além do resgate pelo design de costumes e tradições culturais. Mesmo em uma sociedade contemporânea, em que a tecnologia virtual se sobressai às práticas manuais, é possível se atrelar o fazer artesanal ao design, uma vez que possuem características que atendem aos interesses da sociedade de consumo e agrega o valor estético e simbólico aos bens produzidos [...] Tanto o designer como o artesão podem trabalhar simultaneamente o repertório de suas vivências e experiências com os recursos tecnológicos disponíveis.
Valeska Zuim, Ana Claudia Farias, Maria Silvia Barros de Held e Antonio Takao Kanamaru
Design e Identidade: a arte em couro de Espedito Seleiro como metodologia de ensino em sala de aula.
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