A CASA - Newsletter #62 - Ano 6 | Julho de 2013





Newsletter N°62

Julho de 2013

 

 

Editorial

 

 

No final do mês de junho o governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, anunciou o encerramento das atividades da Sutaco, Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades, autarquia responsável por preservar, desenvolver e difundir o artesanato paulista. Em vista disso, a 62ª edição da newsletter aborda os últimos acontecimentos e as incertezas que ainda restam sobre o destino da instituição. Confira em Matéria do Mês.


Em Entrevista, o crítico português Frederico Duarte fala sobre o design brasileiro e o papel dos designer do país como agentes de transformação social.


Já em Boa Leitura, Silva Helena dos Santos Cardoso relata como viagens pelo cerrado jalapoeiro contribuíram para a sua investigação poética sobre o capim dourado.

 

 


Acontece no
museu A CASA

 

 

 

Cunha Gago, 807

 

 

 

TENET - Tecendo na NET

 


Coordenada por Juan Ojea, Marta Meyer e Renato Imbroisi, terceira edição da Tenet - Tecendo na Net apresenta trabalhos em arte têxtil que abordam a expressão de emoções, ideias ou sentimentos e, pela primeira vez, conta com a participação de artistas internacionais: Andrea Eimke (Nova Zelândia), Beatriz Oggero (Uruguai) e Maria Eugenia Cordero (Argentina). De segunda a sexta, das 10h às 19h. Sábados, das 12h às 16h. Saiba mais.

 

 

Tecendo comentário, com Juan Ojea

 

O objetivo do encontro é trazer à tona a possibilidade de fazer uma avaliação da produção têxtil contemporânea produzida para o encontroTENET 2013 e seus possíveis desdobramentos através da análise e reflexãoda produção apresentada. Sob a ótica do artista e curador Juan Ojea, cada trabalho será discutido não sob o ponto de vista técnico e sim sob o ponto de vista estético. Isto é, a interpretação das obras por seu conteúdo de composição, cor, forma e conceito. Dia 13 de agosto de 2013, das 14h às 17h. R$ 120 (artistas TENET). R$ 170 (públcio em geral). Saiba mais.

 

 

 

www.acasa.org.br

 

 

 

Coleção Espedito Seleiro

 

 

Coleção virtual apresenta objetos confeccionados pelo artesão Espedito Seleiro, na cidade de Nova Olinda, Ceará. São bolsas, sapatos, carteiras, selas e chapéus produzidos a partir da variedade de cores e tons do couro de boi. Veja aqui.

 

 

Museu A CASA no YouTube

 

 

Os vídeos do museu A CASA agora estão no YouTube! Acesse o canal e confira o registro de exposições, palestras e entrevistas. Inscrever-se.

 


Museu A CASA nas redes sociais

 

 

 

Apoio

 

Entrevista - Frederico Duarte

 

“O Brasil é a imagem do futuro do mundo”

 

Frederico Duarte é crítico de design.

 

O que o levou a estudar o design brasileiro?

Fui fazer meu mestrado na School of Visual Arts, em Nova Iorque. Na primeira reunião, perguntaram: “Você quer fazer sobre o quê?”. Eu respondi: “Quero fazer sobre o Brasil”. Foi uma coisa completamente irrefletida, eu conhecia muito mal o Brasil e senti que era tempo de ver as mudanças sociais e econômicas pelas quais o país estava passando. Queria saber como era ser designer no Brasil, e esse foi o ponto de partida. Depois, fui limitando e entendi que o quê me interessava mesmo era o impacto das mudanças sociais no design.

 

Ao mesmo tempo em que o Brasil possui enorme riqueza no que se refere à variedade de seu povo, ainda enfrenta problemas sociais gravíssimos. De que forma essa contradição se manifesta no design do país?

Quando você faz uma coisa para uma população nacional que é em si, miscigenada, multicultural, uma espécie microcosmo do mundo, isto é muito interessante. O Brasil é uma espécie de imagem do futuro do mundo: um mundo radicalmente miscigenado, híbrido, bastardo, na forma mais natural do termo. Por outro lado, a desigualdade social é evidente. Existia a ideia de que o design era uma atividade desempenhada por uma elite para uma elite, mas estamos vivendo um momento em que essa imagem pode ser desconstruída. A mobilidade social da chamada “classe C” está mudando radicalmente o país. Precisamos entender o que aquelas pessoas querem, o que elas desejam, e dialogar com elas, não numa forma pedagógica, mas de maneira mercadológica. Será que esse cidadão de classe média baixa quer ter os mesmos usos, os mesmos vícios e os mesmos desejos que a elite ou quer outra coisa? E essa outra coisa, o que é? De que forma os designers podem chamar para si essa missão de oferecer produtos e serviços que ajudem a mudar uma mentalidade?

 

De que forma o designer pode ser um agente de transformação social?

Para mim, a atividade do designer tem a ver com a resposta a uma pergunta, e não necessariamente com a solução de um problema. Tem a ver com a relação que estabelecemos com o cliente. Hoje em dia, é impossível ignorar a responsabilidade social de qualquer profissão. Mas é importante entender que o designer não controla todo o processo. Os designers podem, sim, tentar procurar clientes que pensem como eles, tentar encontrar condições de trabalho que tenham a ver com a sua posição ética. Isso não quer dizer que os designers se tornem uma espécie de pessoas que só trabalham com a área da cultura ou com a área social. Pequenas mudanças que a Coca-Cola ou o Banco Itaú podem fazer têm um impacto gigantesco, muito mais importante do que fazer uma cadeira de papel reciclado, por exemplo. “Ah, é ecodesign”. Não! Ecodesign é poupar 5% de energia usada em uma agência bancária. Às vezes, porém, os designers optam pela parte mais fácil. Acabam fazendo coisas que são simbolicamente muito fortes e irão expressar essa característica social e não veem onde realmente se pode mudar as coisas.

 

O que é o “fator favela”?

O fator favela tem a ver com o fato de alguns designers explorarem uma dimensão estereotipada do povo brasileiro, usando esse estereótipo como forma de vender seus produtos – e vender, geralmente, a um público estrangeiro. Pode-se dizer que esse processo teve início com a Cadeira Favela (1991), dos Irmãos Campana. Depois, outros designers e arquitetos têm usado essa “muleta formal”, que, para mim, é muito pouco interessante. O designer Brunno Jahara, por exemplo, tem uma série de mobiliário em que cada peça tem o nome de uma favela brasileira. A pergunta que eu faço é: por quê? Vende mais? Trata-se de uma coisa muito predatória em termos simbólicos. Os designers que fazem isso representam uma elite e contribuem para a perpetuação de um estereótipo.

 

Leia entrevista na íntegra

 

 

Matéria do Mês

 

As incertezas do destino da Sutaco

por Lígia Azevedo

 

 

Incerto é o destino de 80 mil artesãos paulistas e de cerca de 40 anos de trabalho dedicados ao artesanato do estado de São Paulo. No dia 29 de junho, com o argumento da compensação dos cofres públicos pela redução da passagem de metrô, o Governador Geraldo Alckmin anunciou uma série de cortes nos gastos estaduais. Entre eles, estaria o encerramento das atividades da Sutaco (Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades), autarquia criada na década de 70 para formalizar, difundir e estimular a produção artesanal paulista, que hoje possui cerca de 80 mil credenciados. Enquanto autarquia, a Sutaco se configura como pessoa jurídica autônoma, vinculada à Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho – SERT. Entre suas ações, estão a promoção de cursos e palestras para os artesãos, comercialização de produtos, participação em feiras, emissão de notas fiscais e da Carteira do Artesão, que regulariza o trabalho artesanal. É também o órgão coordenador do PAB (Programa do Artesanato Brasileiro) no estado de São Paulo.

 

O anúncio de sua extinção suscitou um abaixo-assinado pela internet, pressão nas redes sociais, um ato durante a feira Mega Artesanal e a convocação de um encontro, no dia 17 de julho, no qual compareceram cerca de 200 artesãos cadastrados na Sutaco. Desde então, um calendário de reuniões sequencias vem acontecendo, visando esclarecer pontos sobre o tema, planejar e executar ações reivindicativas dos artesãos junto ao governo. Na pauta das reivindicações, está não só a manutenção das ações hoje realizadas pela Sutaco e do corpo técnico especializado que hoje nela atua, como também a ampliação de sua atuação e divulgação, com a criação de novos pontos de venda para todos os aeroportos do estado, entre outras ações. A primeira grande conquista foi uma reunião realizada no último dia 23 com o Secretário da Casa Civil, Edson Aparecido, para receber as propostas dos artesãos. “Na reunião, o Secretário se comprometeu a atender todas as nossas reivindicações. Ele disse que não vai ser possível revogar o Decreto, mas que o Governo vai manter os serviços prestados pela Sutaco, mesmo que ela seja absorvida por alguma secretaria”, conta o tecelão e presidente da comissão permanente de artesãos Demétrio Augusto da Silva.

 

Um grupo técnico do governo receberia os artesãos no dia 26 de julho, sexta, numa reunião para esclarecer como essas propostas seriam postas em prática. Porém, no fim da tarde de quinta-feira, dia 25, a reunião foi cancelada pelo Governo. A previsão é de que ela seja remarcada para o dia 30 de julho ou 1° de agosto. “A comissão está indignada com esse retrocesso. Estamos achando que foi uma manobra do governo para ganhar tempo e adiar essas soluções”, comenta Demétrio. “Mas estamos respaldados pela Defensoria Pública, que está acompanhando de perto o processo e nos orientando juridicamente, para tomar medidas legais caso alguma das reivindicações não seja cumprida”, enfatiza. “Nós artesãos não queremos que a Sutaco corra o risco de ser terceirizada, como é o caso das estradas. Não queremos que seu trabalho seja transferido para uma ONG, para sermos tributados e termos que pagar anuidade de filiação. Não queremos que a Sutaco vá para SERT, para que não se torne ainda mais burocratiza, ou para a Secretaria da Cultura, correndo o risco de virar só museu. Queremos que ela seja absorvida pela Fazenda, pois só assim será possível manter sua atuação tal como está hoje”, afirma.


Segundo Demétrio, se bem administrada, a Sutaco seria muito rentável: “Ela já movimenta muito dinheiro e tem potencial de movimentar muito mais, pois há demanda reprimida de produção. Nosso medo é que, deixando de ser autarquia, a Sutaco perca sua transparência”. O artesão ressalta a também a importância do desfecho da questão pela repercussão nacional que pode ter. “O que se faz em São Paulo serve de modelo. O que for aplicado aqui, que é o estado com a maior economia do país, pode ser facilmente aplicado em qualquer outro lugar”, observa.

 

Leia a matéria na íntegra

 

 

 

A CASA indica

 

 

Aurelino - Pinturas

 

 

Com curadoria de Lorenzo Mammì, a exposição apresenta 21 quadros de Aurelino dos Santos, artista soteropolitano que, a partir de triângulos, círculos, formas retangulares e o uso de cores intensas, expressa a cultura moderna e a vida urbana. De segunda a sexta, das 11h às 19h. Sábados, das 11h às 15h. Até 31/08. Galeria Estação. Rua Ferreira de Araújo, 625. Pinheiros. São Paulo-SP. Saiba mais.

 

 

Cândido Portinari | Séries Bíblica e Retirantes

 

 

Em sala especialmente desenhada para a exposição, a mostra reúne oito telas da série Bíblica e três telas da série Retirantes de Cândido Portinari. O conjunto abrange o período em que a denúncia social marcou a pintura do artista, sendo um exemplo singular da arte pública engajada que, à época, se identificava com a vanguarda política e estética. De terça a domingo, das 10h às 18h. Quinta, das 10h às 20h. Museu de Arte de São Paulo (MASP). Av. Paulista, 1578. São Paulo-SP. Saiba mais.

 

 

Casa Brasil

 

 

Em sua quarta edição, a feira de design e negócios apresenta uma exposição de produtos contemporâneos de alto padrão para arquitetura e decoração, projetos culturais e seminários internacionais. O evento é promovido pela Sindmóveis - Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves. De 13 a 16/08, das 12h às 20h. Parque de Eventos de Bento Gonçalves. Alameda Fenavinho, 481. Bento Gonçalves-RS. . Saiba mais.

 

 

Mais de mil brinquedos para a criança brasileira

 

 

Em comemoração ao aniversário de trinta anos do Sesc Pompeia, a exposição é uma homenagem à mostra Mil Brinquedos da Criança Brasileira, organizada por Lina Bo Bardi no ano de sua inauguração (1982). Nesta edição serão apresentados mais de 6 mil brinquedos, incluindo peças artesanais e eletrônicas. De terça a domingo, das 10h às 19h. Até 02/02/2014. Sesc Pompeia. Rua Clélia, 93. Pompeia. São Paulo-SP. Saiba mais.

 

 

 

Boa leitura

 

Levei praticamente um dia para percorrer 173 km. No final da tarde daquela quinta-feira, o cansaço estava presente: podia senti-lo no corpo e nos olhos. Felizmente, o reflexo não estava adormecido, o que impediu uma picada de uma jararaca no banheiro. Já tinha tomado banho no brejo ouvindo a sinfonia dos sapos à noite, mas a presença de uma cobra venenosa foi a primeira vez. O Jalapão deixou de ser apenas o lugar de pesquisa, onde o estudioso tradicionalmente coleta informação e analisa posteriormente para tornar-se o espaço da criação como um atelier de artista. A estrada, a viagem e o capim foram tratados como elementos de reflexão e de fazer artístico. Em Mateiros, refiz algumas edições, organizei alguns arquivos digitais, registrei outras fotografias, construí uma primeira narrativa a partir das “coleções de imagens” e, especialmente, dos conteúdos visuais aliados à experiência e à percepção do cerrado, afinal contava com quatro viagens singulares.

 

 

Silva Helena dos Santos Cardoso

Estrada, Paisagem e Capim: Fotografias e Relatos no Jalapão.

 

Leia o texto na íntegra


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