Editorial
Há quase dois séculos, a receita do queijo artesanal da ilha de Marajó vem ganhando destaque e reconhecimento na produção gastronômica e cultural do estado do Pará. Em vista da restrição existente no Brasil para a comercialização de queijos artesanais, a 65ª edição da newsletter aborda o atual processo de regularização da iguaria paraense. Confira em Matéria do Mês.
Em Entrevista, a jornalista argentina especializada em design Luján Cambariere fala sobre sua atuação na área e apresenta o trabalho desenvolvido pelo SATORILAB, projeto criado com a colaboração do designer Alejandro Sarmiento, tema da atual exposição do museu A CASA.
Já em Boa Leitura, confira o artigo de Andressa Trivelli sobre a produção e comercialização de artesanato no Brasil.
Acontece
no
museu A CASA
Cunha
Gago, 807
SATORILAB "A Infância em Jogo"

Com curadoria de Alejandro Sarmiento e Luján Cambariere, a exposição SATORILAB "A Infância em Jogo" traz brinquedos confeccionados a partir de resíduos industriais de empresas como Adidas, Natura e Chilli Beans. As peças foram criadas em laboratórios de design experimental entre 2007 e 2013, com mais de 800 estudantes de design e arquitetura da Argentina, Brasil, Chile e Colômbia. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Sábados, das 12h às 16h. Até 14/11. Saiba mais.
www.acasa.org.br
Coleção Cultura em Foco

Coleção virtual apresenta objetos confeccionados pelo Cultura em Foco, projeto concebido e coordenado pelo Instituto de Pesquisas em Tecnologia e Inovação (IPTI). São persianas, luminárias, almofadas, mantas e pendentes produzidos a partir de fibra, madeira e tecido por artesãos de Santa Luzia do Itanhy (SE) em parceria com os designers Kelley Brian White, Paulo Alves e o estúdio Nada Se Leva. Veja aqui.
Nova sede do museu A CASA

Acompanhe o andamento da construção da nova sede do museu A CASA. O término das obras está previsto para o início de 2014. Veja aqui.
Museu A CASA nas redes sociais
 

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Entrevista - Luján Cambariere
“A comunicação é um modo de se desenhar com palavras”
Luján Cambariere é jornalista especializada em design e criadora do SATORILAB.

Conte brevemente um pouco da sua trajetória, desde sua formação até o atual momento da sua carreira como especialista em design.
Na Argentina, estudei Comunicação Social com especialização em Jornalismo durante cinco anos. Em seguida, passei a trabalhar em diversos órgãos de mídia, tendo me tornado editora da revista ELLE Decoração (ELLE Decor). Há doze anos, comecei a editar o m² – um suplemento do jornal Página|12, um dos mais importantes da Argentina, e a escrever sobre design todos os sábados. Vejo o design como uma ferramenta, e o que me interessa é o seu aspecto social. Portanto, esse trabalho reúne minhas duas especialidades em jornalismo: o design e as temáticas sociais. Além disso, considero que a comunicação é um modo de se desenhar com as palavras. Com o passar dos anos, outro projeto que mexeu com o meu coração foi o SATORILAB, trabalho desenvolvido em parceria com o designer industrial Alejandro Sarmiento. O projeto possui, basicamente, três pilares: o trabalho coletivo, o trabalho com estudantes de todas as disciplinas de design e, o mais importante de todos: o trabalho com valores da vida. Para nós, esses valores são: o amor, os vínculos, a juventude, a infância, a celebração, a ecosofia.
O trabalho do SATORILAB está muito associado ao conceito de design “sustentável”, termo desgastado pelo uso indiscriminado. Em sua visão o que significa sustentabilidade?
Como jornalista, as palavras sempre tiveram um peso importante para mim. Quando vejo que os significados estão desgastados, fico preocupada. Ultimamente, identidade e sustentabilidade são palavras que, no SATORILAB, quase não queremos usar, porque estão associadas a muitas outras coisas que não tem relação alguma com o que tentamos fazer. Prefiro usar a palavra “transmutado”. Gosto dessa palavra porque ela tem a ver com a questão química. Eu não falo mais em reciclar, falo em transmutar, porque, na realidade, as transmutações químicas consistem em usar um material ordinário para dar origem a coisas preciosas e belas. O que queremos é justamente usar materiais e temas comuns para transformá-los em beleza. Preocupa-me muito a ignorância com que se trata a sustentabilidade, como sendo algo que é apenas o ato de trabalhar com materiais descartados ou com lixo. Na minha visão, sustentável significa trabalhar com o objetivo de se fazer um bom produto e que ele perdure por toda uma vida. Isso é mais sustentável do que trabalhar só com lixo.
Em um mundo em que a preocupação ambiental é o tema da vez, é possível pensar em um design que desestimule o consumo desenfreado?
Eu gosto do mundo material e acredito que ele pode impactar positivamente a vida das pessoas. Quando fazemos oficinas em presídios ou com viciados em drogas, mudamos a visão estética desses indivíduos, alteramos a maneira com a qual eles olham o mundo. Isso faz com que essas pessoas queiram estar em um ambiente mais bonito e mais belo. Então, não renego o mundo material. Penso que os produtos têm alma, e concebo o mundo material a partir deste ponto de vista. Não me parece mal consumir a partir desses critérios que eu mencionei, mas é claro que eu não concordo com o consumo desmedido. Prefiro ter poucas coisas, mas que elas sejam de qualidade, que me acompanhem e que tenham alma. Acredito que isto é sustentabilidade também: amar um objeto e querer que perdure uma vida, e não descartá-lo sem necessidade.
Leia entrevista na íntegra
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Matéria do Mês
O processo de legalização do queijo artesanal de Marajó
por Ivan Vieira
Em 2012, por meio do decreto da Lei Estadual de Produtos Artesanais (nº 7.565/2011), o queijo da ilha de Marajó passou a ser reconhecido como uma iguaria da produção artesanal do Estado do Pará. O queijo já é confeccionado há séculos por habitantes da região, mas sua comercialização é restrita em todo o país por ser um produto feito com o uso de leite cru que, se não for corretamente elaborado, pode trazer riscos à saúde humana. Só recentemente órgãos de inspeção sanitária paraenses e a organização dos produtores conseguiram o reconhecimento intraestatal do queijo, o que possibilitou sua saída da ilha e a comercialização do produto em todos os municípios do estado.
A lei de produtos artesanais decretada no Pará dialoga com a Instrução Normativa nº 57 de 2011 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que só permite que “queijos artesanais tradicionalmente elaborados a partir de leite cru sejam maturados por um período inferior a 60 (sessenta) dias” caso a qualidade do produto seja preservada e sejam realizados estudos técnicos que demonstrem que o queijo não oferece nenhum risco à saúde humana.
Produtores do queijo que habitam a região dizem faltar estudos científicos e conhecimento técnico por parte de representantes do Ministério da Agricultura. De acordo com o produtor Carlos Augusto Nunes Gouvea, conhecido como Tonga, o primeiro a receber o selo de produto artesanal, “se o queijo já existe há 200 anos e nunca fez mal para o povo de Marajó, ele também não fará mal para os outros brasileiros”. Para Tonga, é necessário legalizar o queijo no comércio nacional e internacional, dado que há uma grande demanda do produto por chefes gastronômicos de São Paulo, demais brasileiros e até estrangeiros.
O queijo de Marajó era tradicionalmente produzido por fazendeiros portugueses e franceses que, no início, utilizavam o leite de vaca para prepará-lo. Com o passar dos anos e com o aumento do rebanho de búfalos na região, o produto começou a ser elaborado exclusivamente com leite de búfala. Atualmente, o rebanho bubalino de Marajó já tem 320.335 mil cabeças, o que coloca a região como a maior detentora de búfalos do Brasil.
O queijo de Marajó é do tipo fresco e normalmente feito e comercializado em formatos retangulares. De acordo com relatos, o queijo apresenta cremosidade e o seu sabor lembra um requeijão, apesar de possuir uma composição mais firme e rígida. A receita do queijo existe a quase dois séculos e, de acordo com Edith Mello, gerente da área de produção animal da Secretaria de Estado da Agricultura do Pará (Sagri), a população local se preocupa em preservar o modo de fazer tradicional do produto. Estima-se que hoje o arquipélago de Marajó produza, em períodos de safra elevada, em torno de 1500 kg de queijo por dia, fabricado por cerca de 60 queijarias. Até o momento, com a efetivação da Lei Estadual de Produtos Artesanais, somente três delas receberam o selo de produto artesanal.
No dia 6 de março de 2013, queijarias da região, com o auxílio do SEBRAE-PA e do Sagri, enviaram um protocolo ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento a fim de solicitar a regularização da comercialização do queijo de Marajó em todo o território nacional. Para os moradores da região, o comércio do produto desempenharia um importante papel econômico numa região que possui um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil. Ainda não houve nenhuma resposta definitiva por parte do governo federal.
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A CASA indica
A CASA viaja - Cariri Cearense

Por meio de uma iniciativa inédita, A CASA museu do objeto brasileiro leva interessados em arte popular e produção artesanal ao Cariri Cearense. O objetivo da viagem é proporcionar o encontro com artistas e artesãos das cidades de Barbalha, Crato, Juazeiro do Norte e Nova Olinda. De 24 a 27/10. Saiba mais.
Cheongju International Craft Biennale 2013

A exposição revela os trabalhos premiados pela 8ª Cheongju International Craft Competition, que contou com a participação de 1.188 artistas de 55 países do mundo. Representando os brasileiros, a artesã Edna Mesadri recebeu um prêmio de menção especial com a "Tigela". Até 20/10. The Old Cheongju Tobacco Processing Plant. Sangdang-ro, 314, Cheongju City. Coreia do Sul. Saiba mais.
Exposição Mão Brasileira

A exposição retrata o artesanato de tradição cultural nas diversas as regiões do Brasil. Com curadoria de Renato Imbroisi, a mostra revela 80 peças produzidas por comunidades dos 27 estados do país. Até 14/10. De segunda a sábado, das 10h às 22h. Domingo, das 14h às 20h. Foyer do Teatro Brasil Kirin no Iguatemi Campinas. Av. Iguatemi, 777. 3º Piso. Campinas-SP. Saiba mais.
O Escultor Francisco Brennand - Milagre da Terra, dos Peixes e do Fogo

Com curadoria de Emanoel Araujo, a mostra apresenta a obra escultórica do artista pernambucano Francisco Brennand. A exposição apresenta cerca de 80 esculturas produzidas através da técnica de cerâmica vitrificada. Até janeiro de 2014. De terça a domingo, das 10h às 17h. Museu Afro Brasil. Av. Pedro Álvares Cabral, s/n. Parque Ibirapuera - Portão 10. São Paulo-SP. Saiba mais.
II Mostra do Programa de Exposição

Com curadoria de Kiki Mazzucchelli e Nilton Campos, a segunda edição da mostra exibe o trabalho de 12 artistas plásticos além de obras de Fyodor Pavlov-Andreevich e bordados de Fernando Marques Penteado. Até 17/11. De terça a domingo, das 9h às 17h. Casa Modernista. Rua Santa Cruz, 325, Vila Mariana. São Paulo-SP. Saiba mais.
Boa
leitura
O negócio que for se aventurar no mercado de artesanato, seja ele um grande varejista ou a loja no bairro para turistas, deve ter em mente que por mais que seus recursos e competências sejam fabulosamente bem geridos e que já tenha conseguido construir uma cadeia de valor significativa, a indústria do artesanato sofre e sofrerá imensa e constantemente com o que estou considerando a força mais impactante das Cinco Forças de Porter: Ameaça de Produtos Substitutos.
Andressa Messa Trivelli
O setor artesanal brasileiro do ponto de vista de estratégia porteriana
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