Editorial
No mês de outubro de 2013, A CASA museu do objeto brasileiro levou interessados em arte popular e produção artesanal ao Cariri Cearense. Em Matéria do Mês, saiba mais sobre essa iniciativa inédita que percorreu as cidades de Barbalha, Crato, Juazeiro do Norte e Nova Olinda.
Em Boa Leitura, confira o artigo de Camila Soares, Luciana Caracas, Denilson Santos e Larissa Portela sobre a produção de biojóias em cerâmica do Grupo ARZA, em São Luís (MA).
Já em Entrevista, as artesãs Gercina Maria de Oliveira e Maria de Jesus Soares falam sobre a produção de tecelagem do projeto Polo Veredas, em Minas Gerais.
Acontece
no
museu A CASA
Cunha
Gago, 807
Boa Noite, Ilha do Ferro

Exposição reúne produtos de artesãs da Ilha do Ferro (AL), criados em parceria com o designer e tecelão Renato Imbroisi. O projeto é uma realização de A CASA em parceira com Paula Ferber. Abertura dia 27 de novembro, das 19h30 às 22h30. Visitação de segunda a sexta, das 10h às 19h. Sábados, das 12h às 16h. Até 18/12. Saiba mais.
www.acasa.org.br
Vídeos SATORILAB

Conjunto de vídeos apresenta iniciativas e trabalhos desenvolvidos pelo SATORILAB, projeto de Alejandro Sarmiento e Luján Cambariere: "A Infância em Jogo", oficinas de elaboração de brinquedos com o uso de materiais descartados, “Marca Cárcel”, trabalho com descartes realizado por mulheres encarceradas da Argentina e “Workshop Infância em Jogo”, oficinas desenvolvidas com estudantes de Design.
Guia do Objeto Brasileiro

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Entrevista - Gercina Maria de Oliveira e Maria de Jesus Soares
“Quem trabalha com o artesanato nunca está com as suas mãos vazias”
Gercina Maria de Oliveira e Maria de Jesus Soares são artesãs do projeto Polo Veredas.

Como vocês aprenderam o ofício da fiação e da tecelagem?
Gercina Maria de Oliveira: Comecei a aprender o ofício de tecelagem quando tinha sete anos de idade. Na época minha avó ainda era viva, e aprendi a tecer com ela e com a minha mãe. Ao ver o serviço delas com o algodão fiquei com muita vontade de fazer aquele trabalho. Sou da tribo indígena de Caeté, onde a maioria das pessoas viviam do algodão. Todas as roupas, sapatos e demais utensílios eram feitos de algodão. Até o agasalho, que nós chamamos de “blusa de frio”, era feito de algodão. Dessa forma, vendo aquele trabalho, já cresci com uma grande vontade de aprender a fiar e tecer. Além disso, o artesanato sempre foi uma atividade que me ajudou a complementar a renda da família. Não dá para manter uma casa com todas as suas despesas, mas esse trabalho ajuda muito na situação financeira familiar de cada um. Quem trabalha com o artesanato nunca está com as suas mãos vazias. Sempre tem um dinheirinho.
Maria de Jesus Soares: A minha novela é quase igual à dela. Aprendi o ofício com a minha mãe, quando tinha dez anos de idade. Sempre utilizei muitas coisas de algodão. Antigamente o povo dava muito valor a esses objetos, afinal, muitos viviam disso. Entretanto, depois de um tempo, isso aí acabou, morreu. Todo mundo encostou e foi mexer com outras coisas. Porém, com a ajuda do SEBRAE e da consultora Luciana Valle, as coisas começaram a mudar. Tudo começou a se levantar de novo para nós. Foi uma benção porque em Riachinho quase todo mundo não tinha trabalho, mas agora todo mundo têm o seu servicinho. Todos pegam seu algodão e levam para casa para fiar (só tecelão que não tem muito). No geral, tudo isso foi uma mão na roda. Nós sempre agradecemos primeiramente a Deus e depois ao SEBRAE e a Luciana. Foi a Luciana que puxou tudo para nós.
Gercina Maria de Oliveira: A Luciana veio através do Artesanato Solidário (ArteSol). Esse programa foi uma benção para nós. O ArteSol é um programa criado pela Dona Ruth e que a Luciana abraçou e ajudou a expandir na nossa região.
Na região de Veredas existem cinco associações de artesãs que fazem o trabalho de fiação e tecelagem dos produtos. Como funciona a divisão do trabalho entre as diferentes associações?
Gercina Maria de Oliveira: Trabalhamos em rede. Temos cinco núcleos que trabalham com apenas um objetivo. Quando vendemos um produto, nele tem a mão de obra da fiadeira, da tingideira, da tecelã e da pessoa que fez o acabamento. Então, quando a peça é vendida, todo mundo acaba recebendo uma parte. O trabalho em rede é assim: uma coisa depende da outra e, no fim, todos saem beneficiados. Quando o círculo de produção se fecha, todo mundo se beneficia com a peça que foi feita.
Maria de Jesus Soares: E nesse processo todo mundo tem serviço. Dividimos o trabalho para que cada um faça a sua parte e nada fique concentrado.
Gercina Maria de Oliveira: E quando as tecelãs precisam de muitos produtos ao mesmo tempo, nós dividimos toda a cadeia produtiva nos cinco núcleos.
Maria de Jesus Soares: É. Sempre quando temos grandes pedidos nós já dividimos o trabalho, porque uma associação só não dá conta.
Gercina, em setembro de 2013 você participou da exposição “Mulher Artesã Brasileira”, em Nova York, na Sede da Organização das Nações Unidas (ONU). Qual foi a importância dessa participação para a senhora e para o grupo de artesãs?
Gercina Maria de Oliveira: Foi muito bom, um passeio muito bem aproveitado. Vi muita coisa. Aprendi. Ensinei. Tive contato com pessoas do país inteiro - não só de Minas Gerais, como de todo o Brasil. Vi cada artesã fazendo a sua parte, mostrando o seu ser, a sua cultura, a sua tradição. Esse encontro foi muito importante. E, também, a gente vê a importância do nosso trabalho, já que ele foi muito bem aceito no exterior. Estar lá na ONU foi uma grande satisfação. Eu me senti muito honrada por Deus ter me dado esse chance de ir lá.
Quando a minha mãe morreu eu acabei saindo um pouco da minha rotina, só que nunca deixei a minha roda de lado. Também nunca abandonei as minhas letras, as minhas cantigas que eu faço. Eu canto a minha própria letra, não pego a de ninguém não. Não faço paródia. Eu canto a letra que eu mesmo faço. Até hoje eu ainda tenho uma cantiga assim:
Quando eu fico sem serviço, a tristeza me atormenta
Há mais de cinquenta anos essa roda me sustenta.
Com ela eu ganho dinheiro, roupa e pão que me alimenta.
E assim eu vou levando a minha vida em marcha lenta
Leia entrevista na íntegra
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Matéria do Mês
A CASA leva viajantes ao Cariri Cearense
por Ivan Vieira e Laura Bing
Como já dito na música, “no meu Cariri, pode se ver de perto quanta boniteza, pois a natureza é um paraíso aberto...”.
Talvez seja esse museu natural a céu aberto que inspire tantos artistas populares e artesãos a expressarem seu talento de forma tão rica.
Localizada ao sul do Ceará, a região metropolitana do Cariri reúne cidades repletas de cultura e história. Através de um projeto inédito desenvolvido por A CASA museu do objeto brasileiro, em outubro de 2013, nove viajantes tiveram a oportunidade de conhecer os municípios de Barbalha, Crato, Juazeiro do Norte e Nova Olinda, manifestações e mestres da cultura locais.
Na viagem, com duração de quatro dias, os participantes entraram em contato com a Associação dos Artesãos do Crato, na cidade de Crato; as bordadeiras de renda de bilro em Santana do Cariri; o atelier de Espedito Seleiro, o Centro de Artesanato Mestre Noza e a Associação dos Artesãos da Mãe das Dores, todos em Nova Olinda; e com a Lira Nordestina, que produz xilogravuras em papel e também em azulejos em Barbalha. Uma verdadeira miscelânea de técnicas artesanais e artesãos com uma arte tão única como a própria região do Cariri, lugar com nome de etnia indígena e lar de Padre Cícero.
Para Renata Mellão, diretora do museu A CASA, a viagem permite um mergulho em outra realidade e um tete-a-tete com produtores artesanais e artistas populares. “É muito diferente ver o trabalho do Espedito Seleiro em uma exposição em São Paulo e no próprio local onde ele vive, trabalha e obtém suas matérias-primas”, afirma.
Dulce Vasconcellos ficou encantada com a viagem. Apesar de não ter familiaridade com artesanato, gostou da companhia de outras pessoas que tinham experiência para contextualizar um pouco mais a viagem, explicando as técnicas artísticas. Ela apreciou a viagem e disse que gostaria de participar de outras iniciativas como essa.
Segundo Renata Mellão, novas viagens poderão ser organizadas para a região do Cariri Cearense ou para outros destinos no Brasil. “Basta que tenhamos novos grupos de pessoas interessadas em conhecer o país e suas manifestações culturais”, revela.
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A CASA indica
Banana, Barro e Mandioca

Lançado em setembro, o livro é resultado da pesquisa de mais de dez anos da jornalista Mônica Montoro sobre os habitantes do Vale do Ribeira, revelando como eles incorporaram tradições indígenas e africanas no trabalho do barro e como a mandioca, cultivada pelos índios, gera receitas, quitutes e sabor para o paladar nacional. Saiba mais.
A Casa e a Cidade – Coleção Crespi-Prado

A exposição possibilita novas leituras a respeito da coleção da Fundação Crespi Prado, que apresenta um retrato da cidade de São Paulo entre o final do século 19 e meados do século 20. Até 31/12. De terça a domingo, das 10h às 18h. Museu da Casa Brasileira. Av. Brigadeiro Faria Lima, 2705. Pinheiros. São Paulo-SP. Saiba mais.
Mulher Artesã Brasileira

Com realização da Associação Brasileira de Exportação de Artesanato (ABEXA), um grupo de jornalistas e documentaristas percorreram o Brasil retratando o trabalho de mulheres artesãs. Para a coleta do material foram visitadas 25 cidades de 15 estados brasileiros. O documentário faz parte do projeto "Mulher Artesã Brasileira", que divulgou a produção do artesanato nacional em exposição realizada na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, no mês de setembro de 2013. Veja aqui.
Móvel brasileiro contemporâneo

Organizado por Adélia Borges, Paulo Herkenhoff e Rafael Cardoso, o livro apresenta a produção de 63 designers ou equipes atuantes nas várias regiões do Brasil. A publicação é uma sequência do livro "Móvel Moderno Brasileiro". Editora Aeroplano. 388 páginas. R$ 260. Saiba mais.
Boa
leitura
O projeto foi delineado visando desenvolver novas biojóias, explorando os materiais já utilizados pelo grupo e acrescentando a cerâmica como fator de inovação e diferenciação em relação às biojóias existentes no mercado local, cuja linguagem e material têm sido muito explorados e repetidos. Associados ao novo material e suas técnicas, conceitos estéticos e formais seriam baseados na cultura e história local e poderiam utilizar tanto iconografias do projeto coordenado pela prof.ª Raquel Noronha, também do Curso de Design, quanto imagens e grafismos desenvolvidos pelos alunos voluntários da extensão.
Camila Soares, Luciana Caracas, Denilson Santos e Larissa Portela
Biojóias em cerâmica: o design na produção artesanal de uma comunidade da periferia ludovicense
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