A CASA - Newsletter #68 - Ano 6 | Janeiro de 2014





Newsletter N°68

Janeiro de 2014

 

 

Editorial

 

 

O ano de 2014 começa com grandes novidades! A partir de janeiro, a sede do museu A CASA passará a funcionar em novo endereço, na Av. Pedroso de Morais, 1216. Ainda fechado à visitação do público, o espaço de exposições deverá ser inaugurado em breve.

 

A primeira newsletter do ano traz uma seleção de livros que são excelentes opções de leitura durante as férias. Confira em A CASA indica.

 

Em Entrevista, Elizabeth Raimundo dos Santos, presidente da Associação para o Desenvolvimento de Renda de Divina Pastora (ASDEREN), fala sobre a importância do registro do modo de fazer Renda Irlandesa como Patrimônio Cultural Brasileiro para as artesãs do município de Divina Pastora (SE). O texto de Maria de Fátima Ferreira, em Boa leitura, apresenta mais informações sobre o trabalho dessa comunidade.

 

Já em Matéria do Mês, conheça algumas das iniciativas existentes no Brasil para a comercialização virtual do artesanato.

 

 

 

Acontece no
museu A CASA

 

 

Pedroso de Morais, 1216

 

 

Novo Endereço

 

 

A CASA está de mudança! Em breve passaremos a atender na Av. Pedroso de Morais, 1216/1234. Enquanto isso, aproveite para navegar pelo site e confira as exposições, coleções e acervo de nosso museu virtual. Acompanhe também as redes sociais do museu A CASA para obter mais informações sobre a inauguração da nova sede.

 

 

www.acasa.org.br

 

 

Coleção Boa Noite, Ilha do Ferro

 

 

Coleção virtual apresenta o resultado do trabalho desenvolvido pelo designer Renato Imbroisi e artesãs da Cooperativa Art-Ilha, de Ilha do Ferro (AL). Por meio de uma iniciativa do museu A CASA, em parceria com a marca Paula Ferber, as artesãs da comunidade participaram de oficinas de criatividade com o designer, que introduziu diversas cores e tecidos na linha de peças produzidas utilizando-se a técnica do bordado “Boa Noite”. Integrando a coleção, vídeo apresenta o processo de trabalho do grupo e depoimentos das artesãs. Veja aqui.

 


Museu A CASA nas redes sociais

 

 

 

 

Apoio

 

 

Entrevista - Elizabeth Raimundo dos Santos

 

“O registro como Patrimônio Cultural Brasileiro permitiu que o país inteiro tivesse conhecimento sobre o trabalho que fazemos aqui”

 

Elizabeth Raimundo dos Santos é presidente da Associação para o Desenvolvimento de Renda de Divina Pastora (ASDEREN)

 

Qual é a origem da renda irlandesa em Divina Pastora?
Escuto desde pequena que a renda irlandesa foi trazida para Divina Pastora através de algumas freiras que vieram de outro país. Elas chegaram aqui e ensinaram o ofício para as senhoras de Divina Pastora. Depois que elas foram embora, as pessoas que aprenderam o ofício passaram esse aprendizado para toda a comunidade. De acordo com a pesquisa feita pelo IPHAN, essas freiras chegaram aqui em Sergipe no século XIX.

 

Em 2009, o IPHAN registrou o modo de fazer Renda Irlandesa da cidade da Divina Pastora como Patrimônio Cultural Brasileiro no Livro de Registro dos Saberes. Qual foi a importância desse registro?
Para nós, da comunidade, esse registro foi algo além do esperado. Foi muito surpreendente. O Registro como Patrimônio Cultural Brasileiro permitiu que nossas peças fossem mais divulgadas e que o país inteiro tivesse conhecimento sobre o trabalho que fazemos aqui. Tivemos um aumento no número de pedidos e encomendas, possibilitando que tenhamos trabalho o ano todo. Portanto, esse registro foi ótimo não só para associação, mas para todas as rendeiras que moram aqui em Divina Pastora.
 
Em 2013, a renda irlandesa da Divina Pastora recebeu o Selo de Indicação Geográfica do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Como esse selo contribui para a produção local das artesãs?
Esse selo veio para valorizar ainda mais o nosso trabalho. Com ele, toda artesã precisa fazer a renda irlandesa com qualidade. Dessa maneira, a rendeira precisa se aperfeiçoar ao máximo para receber o selo. Se não tiver qualidade, não tem o selo. Como essas peças que tem o selo ficam viajando pelas feiras, todo mundo fica sabendo que nosso trabalho é de qualidade. Isso valorizou muito.
 
Todas as artesãs que participam da associação recebem este selo?
Sim. Todas as peças feitas para a associação recebem o selo. Algumas rendeiras da cidade, não associadas, também têm direito de receber o selo, mas só o recebem aqueles trabalhos feitos com qualidade.
 
Quais são as principais dificuldades enfrentadas por vocês?
Existem muitas dificuldades, principalmente porque têm épocas que a venda cai muito. Então, a dificuldade acaba sendo a realização do pagamento das rendeiras, porque sem venda nós não temos dinheiro. Enfrentamos outra dificuldade quando, numa época, um dos materiais que usamos estava escasso. Então, de forma geral, sempre tivemos várias dificuldades, mas, pouco a pouco, elas vão sendo vencidas. Aliás, precisa existir dificuldade para algo ser realmente valorizado.
 
A comercialização tem melhorado nos últimos anos?
Sim, melhorou. Mas existem algumas dificuldades na venda porque o nosso artesanato é o mais caro do país. Assim, muita gente não tem condições de comprar. Uma toalha de mesa grande custa, por exemplo, R$ 6.000,00. A matéria-prima torna o produto muito caro, principalmente porque nós usamos materiais de excelente qualidade. O cordão, o tipo de linha, os tecidos e uma série de outras coisas acabam tornando o produto mais caro. O cordão até melhorou de preço agora, porque o IPHAN comprou uma boa quantidade e forneceu o material com um preço menor para a gente. Mas mesmo assim, depois que a gente coloca tudo na ponta do lápis, fica caro.

 

Leia entrevista na íntegra

 

 

Matéria do Mês

 

 

Hefesto na era digital

por Laura Bing

 

O artesanato é uma prática milenar, ocorrendo desde o período neolítico. É um trabalho tão tradicional que em várias culturas politeístas existem deuses do artesão, sendo um deles o Hefesto, deus grego dos artesãos, ferreiros e escultores. Mas, assim como qualquer atividade social, o artesanato passou por diversas transformações: desde a produção manual de artigos de caça para subsistência até a ameaça de sua perenidade com o surgimento da industrialização e crescimento do capitalismo. Independente da época, o artesão é o profissional intimamente ligado à elaboração do seu trabalho, desde a matéria prima até a comercialização.


A produção artesanal é uma das mais ricas expressões de cultura de um determinado grupo ou indivíduo, resistindo e valorizando a produção livre de industrialização. Para muitos, o artesanato é tido como uma peça de elevado valor financeiro, exatamente pela concepção de hoje em dia onde tudo é produzido em larga escala e com materiais feitos para durarem o tempo que as tendências fashionistas demandarem.


Um movimento que podemos perceber hoje em dia é a venda virtual de artesanato, ainda que esse tipo de comércio seja um grande tabu para consumidores que preferem adquirir produtos em lojas físicas. Essa foi uma das desvantagens apontada por Carlos Curioni, CEO do site Elo7, o maior site brasileiro de compra e venda de artigos artesanais. Por outro lado, Carlos afirma que o preço dessa “ausência do olho no olho é ter a possibilidade da quebra de barreiras, onde uma pessoa pode comprar um artigo a quilômetros de distância”. Mas para Carlos, o artesanato continua carregando a carga emocional natural de uma peça produzida manualmente, mesmo sem a existência do contato direto entre consumidor e artesão. Entretanto, a quantidade de artesãos brasileiros que vendem via internet é um número embrionário: apenas 2% apostam na ferramenta virtual.


Para Jaques Weltman, CEO e um dos fundadores do Airu, o brasileiro ainda tem notável receio de compras online por conta do tempo de espera e do receio de colocar as informações do cartão de crédito num ambiente que pode não ser seguro. A ideia, ao formular o site com seu sócio Fabio Tran, era criar uma plataforma virtual confiável e que valorizasse o artesão e o micro empreendedor de marcas desconhecidas, como uma alavanca que impulsionasse suas vendas e os colocasse em destaque.


A utilização da internet como uma ferramenta de comercialização pode fomentar a venda do artesanato brasileiro, levando também à quebra de tabus sobre o consumo online. Além disso, o comércio virtual de peças artesanais pode contribuir na expansão da idéia de que o artesanato é uma produção com muito potencial cultural, que valoriza características regionais, ideológicas, religiosas e históricas. É necessário que o artesanato seja apreciado com a devida consciência da técnica que traduz o maior significado de humanidade: a passagem da cultura popular e coletiva a objetos concretos.

 

 

A CASA indica

 

 

Domingos Tótora

 

 

Com autoria de Maria Sônia Madureira de Pinho e prefácio de Adélia Borges, o livro fala sobre a vida e obra de Domingos Tótora, apresentando o processo de criação utilizado pelo artista: desde a escolha da matéria-prima até o resultado final. Editora Papel & Tinta. 204 páginas. Disponível em versão digital. Veja aqui.

 

 

Lá e Cá

 

 

Novo livro do designer Renato Imbroisi e da jornalista Maria Emilia Kubrusly apresenta as trocas culturais existentes entre Brasil e África nas áreas de artesanato e gastronomia. Editora Senac São Paulo. 159 páginas. R$65. Saiba mais.

 

 

Barro e Balaio - Dicionário do Artesanato Popular Brasileiro

 

 

Com autoria de Raul Lody, o livro apresenta um retrato contemporâneo das técnicas populares e tradicionais que fazem o artesanato brasileiro. A obra reúne, nos seus mais de 1.800 verbetes, um acervo de representação nacional, com exemplos que caracterizam a invenção brasileira. Editora Nacional. 400 páginas. R$59. Saiba mais.

 

 

Edições digitais da Revista Sexta-Feira

 

 

O corpo editorial da Revista Sexta Feira - Antropologia, Artes e Humanidades realizou, em dezembro de 2013, o lançamento do formato digital das suas publicações. No site é possível conferir os oito números publicados da revista, editada entre 1997 e 2006 por um coletivo de antropólogos.  Veja aqui.

 

 

 

Boa leitura

 

Esta renda em forma de texto mostra a trama entre a vida das mulheres rendeiras e a tradição feminina de fazer renda. Foi composta por contribuições do passado e atuais de mulheres anônimas e esquecidas, obtidas através da técnica da história oral de vida, com as mulheres rendeiras de Divina Pastora. Em Divina Pastora a renda irlandesa é uma atividade exclusivamente feminina, chega à cidade pelas mãos de mulheres e assim permanece. Não foi possível saber o número de mulheres que se dedicam à renda irlandesa na cidade, mas a renda é algo incorporado à cultura das mulheres da localidade. Na verdade, podemos dizer que é a teia que tece a vida das mulheres em Divina Pastora. Elas se relacionam a partir da renda, é do trabalho com a renda que tiram seu sustento ou ajudam no sustento da casa, muitas criam seus filhos sozinhas, com esse trabalho. É fazendo renda que se divertem e encontram forças para continuar vivendo.

 

Maria de Fátima Ferreira


Mulheres tecendo renda irlandesa e a vida em Divina Pastora, Sergipe

 

Leia o texto na íntegra


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