A CASA - Newsletter #07 - Dezembro de 2008
Newsletter N° 07
Dezembro de 2008

 

Editorial

 

2008 está chegando ao fim, e muitas foram as realizações neste ano. O 1° Prêmio Objeto Brasileiro, que destacou e promoveu a produção artesanal em todo o país, a Exposição Encontros Design + Artesanato, retrospectiva do melhor dessa união nos últimos 20 anos, publicação de nossa newsletter mensal, Exposição Virtual Tissume, Coleção ,OVO e Coleção Kimi Nii, que disponibilizaram informação e conteúdo aos usuários da internet através de textos, fotos e vídeos, Workshop Design de Superfície, primeiro curso em nossa nova sede.

Não podíamos deixar de lembrar nossa querida Janete Costa. Com o passar do tempo comecei a vê-la como uma pessoa sem fronteiras. Nascida em Garanhuns, tornou-se cidadã do mundo. Sem fronteiras ao transitar livremente por todos os níveis sociais e econômicos. E, como arquiteta artista, obedecia apenas aos seus próprios critérios com grande talento e conhecimento. Sem fronteiras ao integrar e fazer conviver, a arte popular e arte erudita, como mencionou Adélia Borges. Ela afetuosamente me ensinou muito. Agora é hora de dar continuidade ao trabalho de Janete e iniciar 2009 com o mesmo fôlego que permitiu que 2008 fosse repleto de realizações.

 

Renata Mellão

 


Acontece no
museu A CASA

 

Cunha Gago, 807

 

 

Recesso de final de ano


 

No período de 22 de dezembro a 2 de janeiro, A CASA vai estar em recesso devido às festividades de final de ano. Retomamos nossas atividades no dia 5 de janeiro.

 

 

www.acasa.org.br

 

 

Vídeo Mercedes Montero

 

 

Veja o vídeo feito com a designer Mercedes Montero, do ateliê Tissume. Ela veio à CASA e nos contou tudo sobre o ateliê em Pirenópolis, o trabalho com tecelagem, e o uso de materiais diversificados, como algodão natural mesclado a fios industriais. Ela nos deu também depoimentos poéticos sobre a arte de tecer e as metáforas contidas no ofício que influenciaram sua vida. Para assistir, clique aqui.

 

 

Vídeos dos projetos finalistas em Ação Sócio-Ambiental

 


Agora já estão disponíveis no nosso site os vídeos dos projetos que foram finalistas na categoria Ação Sócio-Ambiental do 1° Prêmio Objeto Brasileiro. São eles: Aldeia do Futuro, Oficina de Artes Boracea, Estampando a Ásia, Mundaréu, Projeto Evamaria, Oficina Gente de Fibra, Design Possível, Barra do Riachão. Para assistir, clique aqui.

 

 

 

 

Apoio

 

 

 

Entrevista - Christian Ulmann e Tania de Paula

 

 

“Não adianta ser designer, tem que conhecer o clima, os materiais, as possibilidades, as técnicas”

 

 

Christian Ulmann e Tania de Paula são designers e idealizadores do Projeto Oficina Nômade. Foram responsáveis pela concepão e desenvolvimento do 1º Prêmio Objeto Brasileiro.


 

 

Até que ponto o design brasileiro está pautado por influências externas?

 

Tania: Morei quatro anos na Itália e fui fazer uma especialização na Domus Academy. Tive dois mestres, Andrea Branzi e Isao Hosoe, e os dois não entendiam porque nós da América Latina, estávamos lá tentando fazer design italiano. Eles falavam “tudo bem que vieram até aqui, mas vocês têm que aprender a fazer o design de vocês! A gente espera de vocês o design de vocês e não que venham aqui, um brasileiro, um mexicano, um argentino, fazendo design italiano”. Então foi aí que eu comecei a entender que alguma coisa não estava muito certa. Que talvez não fosse esse o caminho que nós, designers sul-americanos, deveríamos seguir.

 

O que as experiências in loco ensinam?

 

Christian: Chegamos na Amazônia e uma das primeiras lições a natureza nos deu. Tínhamos quarenta dias. Já tínhamos comido dez, onze dias, nos faltavam trinta e tínhamos que fazer produtos porque a coisa não estava andando. “Vamos trabalhar com fibras naturais”. “Ótimo, vamos buscar o material”. “Não, tem que esperar que o rio desça”. “Tudo bem. Então amanhã vamos, depois de amanhã, ou hoje, mais tarde. Como o mar, em que você tem a maré alta e a vazante”. “Não, hoje não dá”. “Bom, então amanhã?”. “Amanhã não dá”. “Então quando?”. “Daqui a seis meses!”. Então nós fomos no momento errado, quando o rio estava cheio e a fibra estava lá em baixo. Pensei “caramba, não entendemos nada ainda”. Não adianta ser designer, tem que conhecer o clima, os materiais, as possibilidades, as técnicas.

 

Quais são os limites para o trabalho com as comunidades?

 

Christian: Não é justo que nós colaboremos para acabar com culturas milenares, com valores, com conceitos de alto valor agregado. É muito mais coerente explicar para o nosso mercado o valor desses produtos. Assim, eu posso ser muito útil, eu entendendo o produto, tentando manter ele dentro do seu contexto, e trazer, dessa forma, para o mercado contemporâneo. E transformar isso em um objeto de desejo por todo o valor cultural e todas as informações e conteúdo que ele tem. “Ah, mas esse mercado é muito pequeno”. Ótimo. É justo e coerente com a quantidade de produção que eles têm. Não entender a partir do ponto de vista do mercado que nos trouxe até aqui para desenvolver um produto e sim entender da realidade, da história e do valor que esses produtos têm. Nós insistimos que é melhor que o consumidor chegue até a comunidade artesanal a que o produto artesanal chegue ao mercado

 

Tania: Mas quando a gente fala de comunidades, de cultura tradicional, o que precisa fazer é avaliar a atuação. Porque um grupo que não tem o que fazer, não tem tradição, se formou em uma cidade ou em uma periferia e dali se apropria de alguma tradição ou se adequa a algum produto, que acaba sendo esse produto de design, que o design ajudou, por que não? Na verdade eles não tinham nem tradição, não tinham nem produtos, não tinham renda, não tinham nada. Cada caso é um caso. É difícil generalizar: “é assim”, “nunca podemos pegar um objeto e transformá-lo em uma outra coisa”. Será que nunca podemos? Podemos em que casos?

 

 

 

Leia a entrevista na íntegra

 

 

 


 

 

Matéria do MÊS

 

 


DA ENXADA AO BORDADO

 

 

 

Mãos calejadas da colheita do café trocaram a enxada pela agulha, a linha e o bordado. No distrito de Igaraí, em Mococa (SP), o projeto Café Igaraí há três anos reúne artesãs para a produção de peças feitas à mão com a temática do café, item característico da região.

 

Numa região de forte tradição cafeicultora, os empregos eram majoritariamente masculinos, e muito atrelados à época da safra. Com o avanço da cana no lugar do café e a mecanização da colheita, os empregos foram se tornando cada vez mais escassos.

 

Por iniciativa de uma fazendeira da região, as mulheres de Igaraí começaram a fazer produtos de bordado e crochê para vender aos visitantes, como fonte alternativa de renda. Dentro de um ano o projeto ganhou fôlego e conseguiu uma parceria com o Sebrae-SP para oficinas de capacitação.

 

O designer Renato Imbroisi foi à comunidade como consultor. As artesãs freqüentaram oficinas de aprimoramento técnico de bordado manual, costura, pintura em porcelana e tingimento natural de tecido. O resultado foram produtos que formam uma verdadeira mesa de café da manhã: toalhas, xícaras, guardanapos etc.

 

Os bordados desenham nas toalhas a fauna e a flora típica dos cafezais. E os tecidos são tingidos com corantes naturais do reaproveitamento do próprio café e de árvores que crescem próximo à lavoura, imprimindo tons terrosos, cru, marrom e preto.

 

O projeto conta com o apoio da Prefeitura Municipal e consultoria do Instituto Vivarta. A idéia é ter uma associação formalizada até o final do ano e depois deixar que as artesãs dêem continuidade ao projeto de forma autônoma. “A medida do sucesso vai ser daqui a 2 ou 3 anos. Consideramos que a gente vai ter sucesso no dia em que não estivermos mais lá e mesmo assim aquilo não morra”, afirma Claudia Meirelles Davis, consultora do projeto através do Instituto Vivarta.

 

 

 


A CASA indica

 

 

Exposição 22° Prêmio Museu da Casa Brasileira

 

 

O Prêmio foi marcado por peças com importantes avanços tecnológicos no processo de produção e resgate do artesanato. São 52 peças e 10 trabalhos escritos em exibição na mostra, além da peça vencedora do Concurso de Cartaz, e as outras 11 selecionadas. Até 18 de janeiro. De terça a domingo, das 10 às 18h. Museu da Casa Brasileira – Av. Faria Lima, 2705. São Paulo. Telefone: 11 3032 3727. www.mcb.sp.gov.br

 

 

Site Povos Indígenas no Brasil


 

Parte do portal do Instituto Socioambiental (ISA), o site reúne informações sobre os povos e a temática indígena. Criado com o propósito de reunir verbetes com informações e análises de todos os povos indígenas que habitam o território nacional, além de textos, tabelas, gráficos, mapas, listas, fotografias e notícias sobre a realidade desses povos e seus territórios. http://pib.socioambiental.org/

 

 

Festas de Folia de Reis

 

 

Para quem estiver aproveitando as férias no interior paulista, vale a pena conferir as festas de reis nas cidades de Santo Antonio da Alegria e Altinópolis, na região de Ribeirão Preto. A festa começa em Santo Antonio da Alegria por volta do dia 6 de janeiro e depois vai até meados do mês a Altinópolis, onde mais de 40 comitivas se encontram e formam a maior festa do país.

 

 

My Space - Orquestra Contemporânea de Olinda

 

 

Doze músicos de diferentes origens compõem o grupo, que está sediado nas ladeiras do Sítio Histórico de Olinda. A proposta é experimentar livremente novos caminhos pelo universo pop, misturando grooves latinos, afro beats e ritmos pernambucanos. O diferencial se dá também pelo uso de instrumentos pouco usuais na música pop, como tuba e rabeca. Ouça aqui.

 

 

 

Boa leitura

 

 

Tem um lado negativo da interferência [de designers em comunidades artesanais] que você, quando faz, interfere ligeiramente, esse trabalho vai ser ligado a uma classe social que pode comprar, mas tem a classe social deles que também gostaria de ter aquele trabalho. Não se pode esquecer que eles usufruem e precisam, eles gostam daquilo, daquela coisa que pra gente seria kitsch, ou de mau gosto. Essa palavra é terrível porque mau gosto é o gosto dos outros, o nosso é sempre bom gosto, todo mundo tem bom gosto. Então, tem também esse lado da população na qual você vai deixar um grande buraco, porque ela passa a fazer coisas de que não gosta.

Texto: O mau gosto é o gosto dos outros, de Janete Costa, publicado pelo ArteSol, no livro Artesanato, Produção e Mercado: uma via de mão dupla.

 

Leia o texto na íntegra


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