Editorial
2008 está chegando ao fim, e muitas foram
as realizações neste ano. O 1° Prêmio Objeto
Brasileiro, que destacou e promoveu a produção artesanal
em todo o país, a Exposição Encontros Design
+ Artesanato, retrospectiva do melhor dessa união nos últimos
20 anos, publicação de nossa newsletter mensal, Exposição
Virtual Tissume, Coleção ,OVO e Coleção
Kimi Nii, que disponibilizaram informação e conteúdo
aos usuários da internet através de textos, fotos
e vídeos, Workshop Design de Superfície, primeiro
curso em nossa nova sede.
Não podíamos deixar de lembrar nossa
querida Janete Costa. Com o passar do tempo comecei a vê-la
como uma pessoa sem fronteiras. Nascida em Garanhuns, tornou-se
cidadã do mundo. Sem fronteiras ao transitar livremente por
todos os níveis sociais e econômicos. E, como arquiteta
artista, obedecia apenas aos seus próprios critérios
com grande talento e conhecimento. Sem fronteiras ao integrar e
fazer conviver, a arte popular e arte erudita, como mencionou Adélia
Borges. Ela afetuosamente me ensinou muito. Agora é hora
de dar continuidade ao trabalho de Janete e iniciar 2009 com o mesmo
fôlego que permitiu que 2008 fosse repleto de realizações.
Renata Mellão
Acontece no
museu A CASA
Cunha Gago, 807
Recesso de final de ano
No período de 22 de dezembro a 2 de janeiro,
A CASA vai estar em recesso devido às festividades de final
de ano. Retomamos nossas atividades no dia 5 de janeiro.
Vídeo Mercedes Montero

Veja o vídeo feito com a designer Mercedes
Montero, do ateliê Tissume. Ela veio à CASA e nos contou
tudo sobre o ateliê em Pirenópolis, o trabalho com
tecelagem, e o uso de materiais diversificados, como algodão
natural mesclado a fios industriais. Ela nos deu também depoimentos
poéticos sobre a arte de tecer e as metáforas contidas
no ofício que influenciaram sua vida. Para assistir, clique
aqui.
Vídeos dos projetos finalistas em Ação
Sócio-Ambiental

Agora já estão disponíveis no nosso site os
vídeos dos projetos que foram finalistas na categoria Ação
Sócio-Ambiental do 1° Prêmio Objeto Brasileiro.
São eles: Aldeia do Futuro, Oficina de Artes Boracea, Estampando
a Ásia, Mundaréu, Projeto Evamaria, Oficina Gente
de Fibra, Design Possível, Barra do Riachão. Para
assistir, clique
aqui.
Apoio

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Entrevista - Christian Ulmann
e Tania de Paula
“Não adianta
ser designer, tem que conhecer o clima, os materiais, as possibilidades,
as técnicas”
Christian Ulmann e Tania de Paula são
designers e idealizadores do Projeto Oficina
Nômade. Foram responsáveis pela
concepão e desenvolvimento do 1º Prêmio
Objeto Brasileiro.
Até
que ponto o design brasileiro está pautado por influências
externas?
Tania: Morei quatro anos
na Itália e fui fazer uma especialização
na Domus Academy. Tive dois mestres, Andrea Branzi e Isao
Hosoe, e os dois não entendiam porque nós da
América Latina, estávamos lá tentando
fazer design italiano. Eles falavam “tudo bem que vieram
até aqui, mas vocês têm que aprender a
fazer o design de vocês! A gente espera de vocês
o design de vocês e não que venham aqui, um brasileiro,
um mexicano, um argentino, fazendo design italiano”.
Então foi aí que eu comecei a entender que alguma
coisa não estava muito certa. Que talvez não
fosse esse o caminho que nós, designers sul-americanos,
deveríamos seguir.
O que as experiências in loco
ensinam?
Christian: Chegamos na Amazônia
e uma das primeiras lições a natureza nos deu.
Tínhamos quarenta dias. Já tínhamos comido
dez, onze dias, nos faltavam trinta e tínhamos que
fazer produtos porque a coisa não estava andando. “Vamos
trabalhar com fibras naturais”. “Ótimo,
vamos buscar o material”. “Não, tem que
esperar que o rio desça”. “Tudo bem. Então
amanhã vamos, depois de amanhã, ou hoje, mais
tarde. Como o mar, em que você tem a maré alta
e a vazante”. “Não, hoje não dá”.
“Bom, então amanhã?”. “Amanhã
não dá”. “Então quando?”.
“Daqui a seis meses!”. Então nós
fomos no momento errado, quando o rio estava cheio e a fibra
estava lá em baixo. Pensei “caramba, não
entendemos nada ainda”. Não adianta ser designer,
tem que conhecer o clima, os materiais, as possibilidades,
as técnicas.
Quais são os limites para
o trabalho com as comunidades?
Christian: Não é
justo que nós colaboremos para acabar com culturas
milenares, com valores, com conceitos de alto valor agregado.
É muito mais coerente explicar para o nosso mercado
o valor desses produtos. Assim, eu posso ser muito útil,
eu entendendo o produto, tentando manter ele dentro do seu
contexto, e trazer, dessa forma, para o mercado contemporâneo.
E transformar isso em um objeto de desejo por todo o valor
cultural e todas as informações e conteúdo
que ele tem. “Ah, mas esse mercado é muito pequeno”.
Ótimo. É justo e coerente com a quantidade de
produção que eles têm. Não entender
a partir do ponto de vista do mercado que nos trouxe até
aqui para desenvolver um produto e sim entender da realidade,
da história e do valor que esses produtos têm.
Nós insistimos que é melhor que o consumidor
chegue até a comunidade artesanal a que o produto artesanal
chegue ao mercado
Tania: Mas quando a gente
fala de comunidades, de cultura tradicional, o que precisa
fazer é avaliar a atuação. Porque um
grupo que não tem o que fazer, não tem tradição,
se formou em uma cidade ou em uma periferia e dali se apropria
de alguma tradição ou se adequa a algum produto,
que acaba sendo esse produto de design, que o design ajudou,
por que não? Na verdade eles não tinham nem
tradição, não tinham nem produtos, não
tinham renda, não tinham nada. Cada caso é um
caso. É difícil generalizar: “é
assim”, “nunca podemos pegar um objeto e transformá-lo
em uma outra coisa”. Será que nunca podemos?
Podemos em que casos?
Leia
a entrevista na íntegra
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Matéria do MÊS
DA ENXADA AO BORDADO
Mãos
calejadas da colheita do café trocaram a enxada pela
agulha, a linha e o bordado. No distrito de Igaraí,
em Mococa (SP), o projeto Café Igaraí há
três anos reúne artesãs para a produção
de peças feitas à mão com a temática
do café, item característico da região.
Numa região de forte tradição cafeicultora,
os empregos eram majoritariamente masculinos, e muito atrelados
à época da safra. Com o avanço da cana
no lugar do café e a mecanização da
colheita, os empregos foram se tornando cada vez mais escassos.
Por iniciativa de uma fazendeira da região, as mulheres
de Igaraí começaram a fazer produtos de bordado
e crochê para vender aos visitantes, como fonte alternativa
de renda. Dentro de um ano o projeto ganhou fôlego
e conseguiu uma parceria com o Sebrae-SP para oficinas de
capacitação.
O
designer Renato Imbroisi foi à comunidade como consultor.
As artesãs freqüentaram oficinas de aprimoramento
técnico de bordado manual, costura, pintura em porcelana
e tingimento natural de tecido. O resultado foram produtos
que formam uma verdadeira mesa de café da manhã:
toalhas, xícaras, guardanapos etc.
Os bordados desenham nas toalhas a fauna e a flora típica
dos cafezais. E os tecidos são tingidos com corantes
naturais do reaproveitamento do próprio café
e de árvores que crescem próximo à
lavoura, imprimindo tons terrosos, cru, marrom e preto.
O projeto conta com o apoio da Prefeitura Municipal e consultoria
do Instituto Vivarta. A idéia é ter uma associação
formalizada até o final do ano e depois deixar que
as artesãs dêem continuidade ao projeto de
forma autônoma. “A medida do sucesso vai ser
daqui a 2 ou 3 anos. Consideramos que a gente vai ter sucesso
no dia em que não estivermos mais lá e mesmo
assim aquilo não morra”, afirma Claudia Meirelles
Davis, consultora do projeto através do Instituto
Vivarta.
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A CASA indica
Exposição 22°
Prêmio Museu da Casa Brasileira

O Prêmio foi marcado por peças com importantes
avanços tecnológicos no processo de produção
e resgate do artesanato. São 52 peças e 10 trabalhos escritos
em exibição na mostra, além da peça vencedora
do Concurso de Cartaz, e as outras 11 selecionadas. Até 18 de janeiro.
De terça a domingo, das 10 às 18h. Museu da Casa Brasileira
– Av. Faria Lima, 2705. São Paulo. Telefone: 11 3032 3727.
www.mcb.sp.gov.br
Site Povos Indígenas no Brasil

Parte do portal do Instituto Socioambiental (ISA), o
site reúne informações sobre os povos e a temática
indígena. Criado com o propósito de reunir verbetes com
informações e análises de todos os povos indígenas
que habitam o território nacional, além de textos, tabelas,
gráficos, mapas, listas, fotografias e notícias sobre a
realidade desses povos e seus territórios. http://pib.socioambiental.org/
Festas de Folia de Reis

Para quem estiver aproveitando as férias no
interior paulista, vale a pena conferir as festas de reis nas cidades
de Santo
Antonio da Alegria e Altinópolis,
na região de Ribeirão Preto. A festa começa em Santo
Antonio da Alegria por volta do dia 6 de janeiro e depois vai até
meados do mês a Altinópolis, onde mais de 40 comitivas se
encontram e formam a maior festa do país.
My Space - Orquestra
Contemporânea de Olinda

Doze músicos de diferentes
origens compõem o grupo, que está sediado nas ladeiras do
Sítio Histórico de Olinda. A proposta é experimentar
livremente novos caminhos pelo universo pop, misturando grooves latinos,
afro beats e ritmos pernambucanos. O diferencial se dá também
pelo uso de instrumentos pouco usuais na música pop, como tuba
e rabeca. Ouça
aqui.
Boa leitura
Tem um lado negativo da interferência [de designers
em comunidades artesanais] que você, quando faz, interfere ligeiramente,
esse trabalho vai ser ligado a uma classe social que pode comprar, mas
tem a classe social deles que também gostaria de ter aquele trabalho.
Não se pode esquecer que eles usufruem e precisam, eles gostam
daquilo, daquela coisa que pra gente seria kitsch, ou de mau gosto. Essa
palavra é terrível porque mau gosto é o gosto dos
outros, o nosso é sempre bom gosto, todo mundo tem bom gosto. Então,
tem também esse lado da população na qual você
vai deixar um grande buraco, porque ela passa a fazer coisas de que não
gosta.
Texto: O mau gosto é o gosto dos outros, de Janete Costa,
publicado pelo ArteSol, no livro Artesanato, Produção e
Mercado: uma via de mão dupla.
Leia
o texto na íntegra
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