Editorial
Faltam poucos dias para o início da Copa do Mundo da FIFA 2014! Com a chegada de turistas nacionais e internacionais nas cidades brasileiras que sediarão os jogos, quais serão os impactos sobre a comercialização dos objetos artesanais? Confira, em Matéria do Mês, as expectativas para o setor do artesanato brasileiro durante a realização da Copa do Mundo.
Em Entrevista, Nanci Takeyama, pesquisadora e professora da Universidade Tecnológica de Nanyang, fala sobre a sua atuação em projetos que promovem a pesquisa e preservação de culturas tradicionais da Ásia.
Já em Boa Leitura, Sâmia Batista e Silva apresenta relatos sobre o projeto de design participativo conduzido entre os anos de 2006 e 2007 com a Associação Ver-as-Ervas.
Acontece
no
museu A CASA
Pedroso de Morais, 1216
A CASA viaja - Programação Ilha do Ferro

Em sua segunda edição, A CASA viaja leva interessados em artesanato e arte popular a diversos municípios de Sergipe e Alagoas, tais como Divina Pastora, Piranhas, Entremontes e Ilha do Ferro. O objetivo é proporcionar o encontro dos viajantes com artesãos e artistas populares locais. De 21 a 25/05. Saiba mais.
SP.ECOERA 4

A quarta edição do SP.ECOERA, que acontecerá em A CASA museu do objeto brasileiro, tem o objetivo de discutir os impactos ambientais e sociais provocados pela indústria da moda. O evento conta com a parceria do projeto Fashion Revolution. Dias 23 e 24 de maio 2014, das 10h às 20h. A CASA – Anexo. Saiba mais.
Girando o acervo III

A CASA apresenta uma seleção de peças do seu acervo. A bolsa de couro do Espedito Seleiro, a luminária Cristal de Luz da Coopa Roca e a almofada com o bordado Boa Noite da Ilha do Ferro são alguns dos destaques da exposição. De segunda a sexta, das 10h às 19h. A CASA – Anexo. Até 16/05. Saiba mais.
4° Prêmio Objeto Brasileiro

Estão abertas as inscrições para o 4º Prêmio Objeto Brasileiro, que irá destacar projetos que promovem o encontro entre design e artesanato em quatro categorias: Objeto de Produção Autoral, Objeto de Produção Coletiva, Ação Socioambiental e Textos. Os prêmios variam de R$ 1.500,00 a R$ 10.000,00. Acesse o regulamento e inscreva-se aqui.
www.acasa.org.br
Coleção Jorge Zalszupin

Coleção virtual reúne mesas, bancos e outras peças de mobiliário confeccionadas pelo arquiteto Jorge Zalszupin. Veja aqui.
Museu A CASA nas redes sociais

Apoio

|
Entrevista - Nanci Takeyama
“O Ocidente apresenta uma ruptura grande entre a forma tradicional e o design contemporâneo, mas, no Oriente, essa ligação ainda é muito presente”
Nanci Takeyama é pesquisadora e professora da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura, e fundadora e diretora do grupo design for

Você, em parceria com a Universidade Tecnológica de Nanyang, fundou o “design for”. Como surgiu esse projeto? Quais são os principais objetivos dessa iniciativa?
Na época, tinha acabado de voltar de uma viagem que havia feito à cidade de Da Nang, no Vietnã. Da Nang, durante a guerra com os Estados Unidos, foi utilizada como uma base militar e, por conta disso, muitos habitantes daquela região foram afetados pelo Agente Laranja – até hoje existem algumas pessoas que adquiriram deficiências físicas por causa desse agente. E, nessa cidade, acabei conhecendo uma loja que vendia produtos artesanais para turistas. Quando entrei naquele estabelecimento, queria ajudar de alguma maneira. Pensei em comprar alguma coisa, mas não consegui, porque os produtos não eram atrativos e eu não queria dar esmola. Queria ajudar, mas não podia comprar uma peça para depois deixar a coisa jogada de lado. Porém, no fim da minha viagem, comecei a pensar que eu podia ajudar aqueles artesãos através do meu trabalho como designer. Pensei que poderia trabalhar junto com aquela comunidade para tornar seus produtos visualmente mais atrativos. Portanto, quando voltei para Singapura, propus ao grupo do Vietnã, que se chama Reaching Out, em fazer um projeto de colaboração. Fizemos o redesenho da marca deles e o redesenho de alguns produtos. Com tudo isso que ocorreu, ficamos totalmente inspirados e procuramos desenvolver outras iniciativas parecidas. Outros alunos também se interessaram por esse ramo do design que trabalha para o bem comum e, assim, acabamos criando o “design for”. Depois de realizarmos o projeto no Vietnã, resolvemos trabalhar em Laos: um dos países mais pobres do mundo, mas que tem um artesanato riquíssimo baseado na tecelagem. Em Laos, nós procuramos ajudar os artesãos a entrarem em contato com o mercado internacional para que as vendas pudessem ser ampliadas. Uma das vertentes do nosso projeto, portanto, é mostrar para essas pessoas que o artesanato que eles produzem tem um padrão internacional e pode ser vendido nas melhores lojas de departamento do exterior. Em Laos e no sudeste asiático, as práticas artesanais estão desaparecendo muito rapidamente. Se as pessoas não começarem a trabalhar com essas comunidades, o artesanato deles não deve sobreviver por mais uma geração.
Como você mencionou, o “design for” desempenhou um projeto com comunidades de Laos. O resultado dessa iniciativa, exposto no Asian Civilisations Museum, foi apresentado em três diferentes seções: Re-crafting the Past, Crafting for a Cause e Crafting Community. Qual é o significado e o objetivo de cada uma dessas categorias?
No início, nós começamos a pesquisar o sentido da forma, buscando a representação entre a ligação das raízes antropológicas da forma e os motivos. Em Laos, a maioria dos sentidos é um motivo baseado na serpente cósmica, que tem uma ligação com a espiritualidade dos laosianos. Assim, a primeira parte do projeto – o Re-crafting the Past – foi tentar estudar e entender esse símbolo que é recorrente nos tecidos que eles produzem. Pesquisamos o significado do símbolo da serpente cósmica. Depois, com o Crafting for a Cause, nós aplicamos o significado do sentido nos produtos. Por fim, com o Craft Community, nós promovemos workshops para disseminar o sentido que havia sido pesquisado, ensinando pessoas a fazerem produtos artesanais que usam a tecelagem. Essa terceira parte foi realizada com uma contribuição do Museu da Civilização Asiática. Portanto, a metodologia desse projeto em Laos é encontrar o sentido, aplicar esse sentido e depois dividir o significado com outras pessoas.
Durante a sua trajetória, como foi a passagem do design propriamente dito para o design em sua interação com o artesanato?
O reencontro com essas formas tradicionais do artesanato é uma herança que eu recebi da pesquisa realizada no Japão. O Japão, na minha visão, é um dos únicos países do mundo que mantém essa ligação do artesanato tradicional com as formas do design contemporâneo. Pelo o que eu observo, a passagem do tradicional para o contemporâneo não é tão brusca no Oriente. Sinto que não existe uma diferença tão grande, na verdade. Em minha opinião, o Ocidente apresenta uma ruptura grande entre a forma tradicional e o design contemporâneo, mas, no Oriente, essa ligação ainda é muito presente.
Como você poderia caracterizar a dimensão espiritual do artesanato, que parece muito presente na tradição oriental?
Na forma do artesanato tradicional da Ásia, os objetos produzidos são todos usados para cumprir uma função no mundo além. Até mesmo os tecidos que eles criam com as serpentes cósmicas, por exemplo, são usados em diferentes tipos de rituais. Então, nas formas tradicionais – mas não nas formas contemporâneas – existe uma relação muito forte com a espiritualidade. O artesanato, em muitos casos, é criado para a relação das pessoas com o além.
Para o futuro, quais são as prioridades do seu trabalho como especialista em design? Quais são os planos?
Estou muito contente que o ramo do design social está se expandindo de forma considerável hoje em dia. A humanidade está numa encruzilhada, mas o design pode ter um papel muito importante nessa situação que nós vivemos hoje. Se os designers tiverem a consciência de como o consumo e os modos de produção utilizados na atualidade impactam o meio ambiente, podemos mudar rapidamente o caminho da humanidade. Portanto, em relação ao meu trabalho, gostaria de continuar trabalhando com os alunos, oferecendo uma plataforma para que eles percebam que, sim, cada um tem a oportunidade de criar um mundo melhor para eles e para as próximas gerações. Quero também continuar conhecendo diferentes culturas, diferentes tradições, diferentes artesanatos e trabalhar juntamente com eles.
Leia entrevista na íntegra
|
Matéria do Mês
As expectativas para o comércio do artesanato durante a Copa do Mundo da FIFA
por Laura Bing

A aproximação da Copa do Mundo é um tema que estampa os noticiários e as conversas, que vão das triviais às engajadas. A vinda do campeonato mundial de futebol ao território brasileiro traz muitas contradições sobre os financiamentos federais e da FIFA, questionamentos sobre a infraestrutura das cidades que sediarão os jogos e qual será o legado que o megaevento deixará para a sociedade brasileira.
Segundo dados oficiais do ”Portal da Copa” – Site do Governo Federal Brasileiro sobre a Copa do Mundo da FIFA 2014 – a estimativa é que o evento agregará 183 bilhões ao PIB nacional até 2019. Além disso, há incentivo federal de 2 bilhões para melhorias em aeroportos e transporte público nas cidades que sediarão os jogos e estima-se a geração de 710 mil empregos, entre fixos e temporários.
Mas, em relação ao campo da atividade artesanal, quais serão os benefícios que a Copa trará ao país? De acordo com Tânia Machado, em entrevista concedida ao museu A CASA, “na Copa do Mundo, o artesão não vai ganhar dinheiro! Turista de Copa não carrega sacola, turista da Copa não vai sair visitando exposições de artesanato. Fui conversar com amigos da África do Sul para saber o que aconteceu com o artesanato durante a Copa do Mundo de 2010 e eles falaram justamente isso: todo mundo falou para o artesão sul-africano produzir porque o turista iria comprar muito. Eles não venderam e estão lá entupidos de produtos, vendendo para atravessadores a preços baixíssimos para poder desovar”.
Tendo em vista essa perspectiva, fomos atrás do Sebrae, Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, para obter informações sobre iniciativas governamentais e demais políticas públicas para incentivar o artesanato brasileiro durante a Copa do Mundo. Conversamos com Denise Forini, da Unidade de Atendimento Coletivo e da Carteira de Projetos de Artesanato. Denise contou sobre o nascimento de projeto “Brasil Original” em 2011, cujo objetivo é desenvolver o mercado da produção artesanal através de oficinas de capacitação e exposições de objetos artesanais em showrooms. Em 2013, durante a Copa das Confederações, os showrooms foram montados em cinco cidades com o objetivo de observar a dinâmica das vendas. No total, as vendas totalizaram cerca de 714 mil reais, com mais de 22 mil itens comercializados.
Em 2014 9 cidades sede se beneficiarão com a presença do “Brasil Original” em shoppings de clase A e B, com artesanato de mais de 21 estados brasileiros. Denise afirma: “A exigência para integrar o programa era que participassem artesãos com boa gestão e maturidade de trabalho, justamente para garantir que todos estivessem prontos para a comercialização durante a copa”. Ainda acrescenta: “Os artesãos foram informados a especificar o preço para que as peças tenham o valor justo, mas também para que ninguém tenha prejuízo. O valor das peças vão de 10 reais até valores acima de mil reais”. O diferencial das lojas do Brasil Original é que houve uma licitação para a gestão das vendas e da comercialização, então os artesãos não perderão tempo de trabalho e não precisarão se preocupar com habilidades de comércio e público.
As expectativas são otimistas, pois o Sebrae acredita que o piloto de vendas durante a Copa das Confederações trouxe o know how de como potencializar a divulgação e vendas do artesanato brasileiro para turistas nacionais e internacionais. Em breve teremos as respostas para saber se os turistas preferem levar nossas culturas tradicionais para além das fronteiras. Aguardemos.
|
|
A CASA indica
Utensílios: o espírito das formas

Com curadoria do pesquisador Gilberto Habib Oliveira, a exposição apresenta a produção e o uso de utensílios presentes no cotidiano doméstico das casas brasileiras por meio de imagens da fotógrafa Zaida Siqueira e peças da ceramista Caroline Harari. Até 01/06. De terça a domingo, das 10h às 18h. Museu da Casa Brasileira. Av. Brigadeiro Faria Lima, 2705. Pinheiros. São Paulo-SP. Saiba mais.
Marcas Registradas

A mostra, que tem curadoria de Salomon Cytrynowicz, traz fotografias do arquiteto Michel Gorski ao lado de peças de caráter lúdico e outras de uso cotidiano que revelam a diversidade gráfica e as cores que criaram a identidade visual do mobiliário das barracas do comércio de rua em Salvador (BA). Até 01/06. De terça a domingo, das 10h às 18h. Museu da Casa Brasileira. Av. Brigadeiro Faria Lima, 2705. Pinheiros. São Paulo-SP. Saiba mais.
Ocupação Zuzu

Com curadoria de Hildegard Angel, do Itaú Cultural e de Valdy Lopes Jn, a 17ª edição do programa Ocupação homenageia a estilista brasileira Zuzu Angel. A exposição apresenta a multiplicidade da obra de Zuzu por meio de documentos, cartas, vestidos e referências que constroem o universo da fashion designer. De terça a sexta, das 9h às 20h. Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h. Até 11/05. Itaú Cultural. Av. Paulista, 149. São Paulo-SP. Saiba mais.
,OVO - Nova Loja

No dia 29 de março de 2014 foi inaugurada a nova loja da ,OVO. O projeto do novo espaço é assinado pela equipe da ,OVO, a iluminação por Ricardo Heder, da Lux Projetos, e o paisagismo por Rodrigo Oliveira. Desde 1991, a ,OVO atua na criação de móveis e projetos no campo da arte. ,OVO. Rua Estados Unidos, 2104. Jardim América. São Paulo-SP. Saiba mais.
Prêmio Tok&Stok de Design Universitário

Em sua 9º edição, o prêmio propõe a criação de um móvel sob o tema "Banco". O concurso é voltado a estudantes de design de produto, arquitetura e design de interiores de todo o Brasil. Os projetos podem ser enviados até o dia 30 de maio. Saiba mais.
Manual de Boas Práticas para Embalagem de Artesanato

Com o objetivo de atribuir valor, segurança e competitividade às peças artesanais, o Sebrae fornece um manual orientando o artesão na confecção das embalagens de seus produtos para evitar perdas, fidelizar clientes e conquistar mercados. Disponível em versão digital. Veja aqui.
Boa
leitura
Sobre o design participativo, é possível afirmar que essa metodologia se inscreve – assim como as mais diversas dinâmicas participativas que buscam dar voz aos excluídos da história – na modalidade das novas práticas que refletem a junção dos saberes subalternos aos saberes balizados pelo academicismo. Sob a ótica do interventor (o designer), inúmeros são os desafios apresentados pelos grupos trabalhados, em sua maioria relativos à desigualdade social, ao fantasma do assistencialismo, à inexistente tradição participativa e às desvantagens competitivas. Atuando como mediador, o designer deve aprender a conduzir tais grupos em processos de autoconhecimento, elevando seus saberes a uma esfera de igualdade cognitiva, assim contrariando a tradição cientificista que teima em diminuí-los.
Sâmia Batista e Silva
O design participativo como elemento de valorização da produção cultural da Associação Ver-as-Ervas, em Belém-PA.
Leia o texto na íntegra |