A CASA - Newsletter #76 - Ano 7 | Setembro de 2014





Newsletter N°76

Setembro de 2014

 

 

Editorial

 

 

A vida e a obra de Lina Bo Bardi, que completaria 100 anos em dezembro de 2014, são o destaque na 76ª edição da newsletter. Em Matéria do MÊS, saiba mais sobre a abordagem da arquiteta em relação à arte e à cultura popular.

 

Em Entrevista, Marcelo Ferraz, co-fundador do Brasil Arquitetura e da Marcenaria Baraúna, fala sobre design, arquitetura e o seu convívio profissional com Lina Bo Bardi entre 1977 e 1992.

 

Já em Boa Leitura, Eduardo Pierrotti Rossetti apresenta as relações entre o moderno e o popular na produção arquitetônica de Lina Bo Bardi.

 

 

 

 

Acontece no
museu A CASA

 

 

 

Pedroso de Morais, 1216

 

 

 

Inauguração da nova sede do museu A CASA

 

 

2014 continua sendo um ano de grandes novidades no museu A CASA! Após o lançamento do novo layout do site e do estabelecimento das áreas de coordenação, comunicação, administração e biblioteca em A CASA - Anexo, o museu irá inaugurar a sua nova sede em outubro. Localizado na Av. Pedroso de Morais, 1216, o espaço contará com duas salas expositivas.

 

 

Prêmio Objeto Brasileiro

 


 

Já estamos na segunda e última fase de seleção do 4° Prêmio Objeto Brasileiro. A abertura da exposição e a cerimônia de premiação acontecem no dia 22 de outubro de 2014. Saiba mais.

 

 

 

www.acasa.org.br

 

 

 

Coleção Ilse Lang

 

 

Coleção virtual reúne peças de mobiliário confeccionadas por Ilse Lang. São cadeiras, mesas, poltronas e bancos produzidos a partir de desenhos focados na simplificação de soluções e com utilização de elementos culturais regionais. Veja aqui.

 

 

Vídeo - Palestra FairTrade Designers

 

 

Com mediação de Adélia Borges, as palestrantes Pil Bredahl, Liselotte Risell e Henriette Melchiorsen apresentaram os diferentes tipos de projetos desenvolvidos pelo grupo FairTrade Designers em países como China, Gana e Zimbabué. Veja aqui.

 

 

 

 

Museu A CASA nas redes sociais

 

 

 

 

Apoio

 

 

 

Entrevista - Marcelo Ferraz

 

“Prefiro ser um arquiteto que transita num mundo nada monótono”

 

Marcelo Ferraz é arquiteto e co-fundador do Brasil Arquitetura e da Marcenaria Baraúna.

 

Você cursou Arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) e colaborou em diversos projetos da Lina Bo Bardi. Além disso, você é um dos fundadores da Brasil Arquitetura e da Marcenaria Baraúna. De onde vem seu interesse pela arquitetura e pelo design? Como se desenvolveu sua trajetória nessa área?

Eu não sei exatamente quando começou o meu interesse pela arquitetura, mas sempre gostei de construção. Desde criança eu adorava frequentar obras e ver as pessoas fazendo a argamassa, mexendo com a enxada, assentando tijolo. Fui sempre muito ligado a isso. Mas naquela época pensava em ser engenheiro porque não conhecia a arquitetura.

Depois, entretanto, minha irmã mais velha veio fazer arquitetura em São Paulo, aí eu já sabia que também queria fazer esse curso. Nessa época comecei a entender também que fazer arquitetura era projetar, além de poder construir. Cabia mais sonho nessa profissão. Assim, vim para cá – como todo mundo dessa região do sul de Minas, que vem para São Paulo porque é mais perto do que Belo Horizonte. Fiz o terceiro colegial e depois entrei na FAU. Na verdade, fui descobrindo aos poucos esse mundo da arquitetura. As coisas não estavam dadas.

Sempre tive esse gosto pelo projeto, por projetar alguma coisa. Já no terceiro ano da FAU fiz uma reforma para um amigo lá em Cambuí. E, no quarto ano, fui trabalhar com a Lina Bo Bardi, quando começava o Sesc Pompéia. E, com isso, um mundo enorme se abriu. O Sesc Pompéia não era só um projeto. Eram muitos projetos: tinha um restaurante, um teatro, uma biblioteca. Era algo grandioso. E o que era mais fascinante ainda é que havia um escritório dentro da obra. Estávamos começando a fazer o levantamento dos galpões, os cadastros, e já tinha operário trabalhando, descascando parede, demolindo coisas. Então, eu caí dentro desse mundo de uma maneira total. E, aí, não teve mais como sair dele. Não tinha mais volta.

E paralelamente, no último ano da FAU, em 1978, quando eu já trabalhava no Sesc como estagiário, eu e um grupo de amigos participamos de um concurso para o projeto do Paço Municipal de Cambuí, em Minas, e ganhamos. No fim, esse concurso foi um pouco a origem do Brasil Arquitetura. Abrimos o escritório em 1979. E o trabalho com Lina, até sua morte em 1992, correu em paralelo o escritório do Brasil Arquitetura. Depois de seis anos de funcionamento do Brasil Arquitetura, nos encorajamos e abrimos a Marcenaria Baraúna, em 1986 - justamente no ano que terminamos a obra do Sesc. Tivemos muito o incentivo da Lina nessa empreitada.

E assim, a partir desse momento, o Brasil Arquitetura vai andando junto com a Baraúna. O Brasil Arquitetura começou com cinco arquitetos. Alguns tiveram que sair, mas eu, o Francisco e o Marcelo Suzuki continuamos e abrimos a Baraúna juntos. O Marcelo Suzuki ficou até 1995, depois decidiu trabalhar sozinho.

 

Na sua opinião, qual é a relação entre o popular e o moderno no design brasileiro?
Acho que existe um pouco de forçação de barra e um pouco de exagero quando as pessoas tentam carimbar ou rotular os trabalhos desenvolvidos por essas áreas. Muitos dizem: “Ah, é ligado à questão brasileira, à cultura brasileira, ou isso e aquilo”. Enquanto tem outros que dizem: “Eu faço um móvel muito ligado à cultura popular, à arte popular brasileira”. Eu não vejo como fazer isso. Ou você fica repetindo aquilo, ou é mentira, porque fazemos coisas que beberam nas mais diversas fontes.

Eu até acho que o que a gente faz hoje tem muito mais a ver com a Bauhaus; tem muito mais a ver com todo o movimento moderno do que com um banquinho que está sendo feito ali na Serra da Mantiqueira, onde eu fui, visitei e escrevi um livro. Na época, o meu interesse era justamente encontrar naquele banquinho, talvez, um racionalismo tão incrível, uma forma racional de construir tão incrível quanto aquilo que eu tinha visto quando estudei a Bauhaus. Isso é uma coisa interessante de ver, porque as formas e as soluções construtivas são usadas enquanto soluções para a atualidade, não para a reprodução estilística. Porém, o risco de você cair numa questão estilística, que eu coloco como secundária, até nefasta, é muito grande.

Então, acho que é uma falácia dizer que eu faço uma arquitetura ou desenho móveis inspirados na cultura brasileira. Eles são brasileiros principalmente porque nós somos brasileiros, a nossa formação é brasileira, nós gostamos desse país, trabalhamos nesse país, etc. Somos basicamente e fundamentalmente brasileiros. Nossas referências são prioritariamente as que estão no nosso entorno, que é o mundo brasileiro. Mas nada impede de vermos uma coisa incrível lá na Finlândia e falar: “Puxa, eu vou fazer esse móvel aqui porque eu consigo encontrar uma função para ele no meu mundo”. A questão da função é muito importante. Em arquitetura e em design, a funcionalidade das coisas é o objetivo final do trabalho.

 

Leia entrevista na íntegra

 

 

Matéria do Mês

 

Lina Bo Bardi e sua paixão pelas culturas e as artes populares brasileiras

por Agda Sardinha

 

 

"Quando a gente nasce, não escolhe nada, nasce por acaso. Eu não nasci aqui, escolhi esse lugar para viver. Por isso, o Brasil é meu país duas vezes, é minha 'Pátria de Escolha', e eu me sinto cidadã de todas as cidades, desde o Cariri, ao Triângulo Mineiro, às cidades do Interior e as da Fronteira”.

 

Em virtude das comemorações do centenário de nascimento da arquiteta Lina Bo Bardi (Roma, Itália, 1914 – São Paulo, SP, 1992), a Matéria do Mês procura desvelar a contribuição de Lina no campo das culturas e das artes populares.
A arquitetura de Lina Bo Bardi quebra a rigidez de fronteiras espaciais e busca a criação de espaços de diálogo que promovam o encontro de pessoas e o convívio social na cidade, bem como supera os limites de possibilidades de usos entre diferentes tipos de materiais. Entre os seus projetos se destacam: a Casa de Vidro (1949), o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - MASP (1957) e o Sesc Pompeia (1977).
O pensamento humanista e libertário de Lina Bo Bardi perpassava diferentes esferas do conhecimento. O legado de Lina extrapola o campo da arquitetura, pois ela também trouxe contribuições também para o design, a museografia e a cenografia.
Entre 1958 e 1964 Lina Bo Bardi morou em Salvador, BA. Nesse período, ela entrou em contato com as matrizes das culturas e das artes populares do Nordeste. A partir de 1959, ela projeta o restauro do Solar do Unhão, um conjunto arquitetônico do século XVI, e sua adaptação para abrigar a sede do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). Em 1963, Lina inaugura nesse espaço o Museu de Arte Popular do Unhão (MAP) com a mostra “Nordeste”, que contava com artefatos feitos de madeira e de argila, peças feitas de material reciclado, ex-votos, santos e objetos do Candomblé. O projeto de Lina para o Solar era muito mais amplo, ela desejava criar uma Universidade Popular que unisse escolas de desenho industrial e de artesanato, pois ela acreditava que a industrialização brasileira poderia se desenvolver a partir das matrizes  culturais do Brasil.
Do encontro entre Lina e o Nordeste veio a transformação que influenciaria os trabalhos posteriores da arquiteta:  a articulação entre o popular e o moderno, que pode ser observada em trabalhos como  a “Cadeira de beira de estrada”, criada por ela em 1967, e a “Grande Vaca Mecânica” idealizada por Lina em parceria com o arquiteto Marcelo Suzuki.
Lina Bo Bardi possuía um olhar sensível para a cultura popular brasileira. Ela não via a arte popular como “folclore” e sim como algo que “que define a atitude progressiva da cultura ligada a problemas reais” . Para Lina: “Arte popular é o que está mais longe daquilo que se costuma chamar de Arte pela Arte. Arte popular, neste sentido, é o que mais perto está da necessidade de cada dia, NÃO-ALIENAÇÃO, possibilidade em todos os sentidos. (...). Precisamos desmitificar imediatamente qualquer romantismo a respeito da arte popular, precisamos nos libertar de toda mitologia paternalista, precisamos ver, com frieza crítica e objetividade histórica, dentro do quadro da cultura brasileira, qual o lugar que à arte popular compete, qual sua verdadeira significação, qual o seu aproveitamento fora dos esquemas românticos do perigoso folclore popular” .
Com o olhar antropológico Lina Bo Bardi coletou diversas peças de arte popular ao longo de sua vida. Esses acervos estão salvaguardados no Instituto Lina Bo e P. M. Bardi que abriga cerca de 200 objetos de arte popular e no Centro Cultural Solar Ferrão no Pelourinho em Salvador, que guarda cerca de 800 peças oriundas da coleção organizada por ela nas décadas de 50 e 60, em sua passagem pelos estados da Bahia, Pernambuco e Ceará.
Em 2014 estão previstas várias atividades e exposições que apresentam por diferentes vieses a versatilidade de Lina Bo Bardi.  Agora a expectativa é que ocorram mais mostras que exibam ao público os objetos que representam o olhar de Lina sobre a arte popular brasileira.

 

Notas:

BARDI, Lina Bo. Tempos de Grossura: o design no impasse. Ed. Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, São Paulo, 1994, p. 37
Ibid., p. 25

 

Leia a matéria da íntegra

 

 

A CASA indica

 

 

Lina 100 anos!

 

 

No ano de 2014, Achillina Bo, mais conhecida como Lina Bo Bardi, completaria 100 anos. No âmbito do centenário de nascimento da arquiteta, designer, cenógrafa, editora e ilustradora ítalo-brasileira, o Instituto Lina Bo e P.M. Bardi prepara uma série de homenagens. Várias exposições, publicações, filmes, encontros e uma campanha pela recuperação de suas principais obras serão realizadas no Brasil, Alemanha, Estados Unidos, Itália e Suíça. Veja aqui.

 

 

Design Dinamarquês: mestres e ícones

 

 

Com curadoria de Lars Dybdahl, do Museu de Design da Dinamarca, a mostra apresenta 50 peças que buscam refletir sobre a identidade da produção dinamarquesa do século XX até os dias de hoje. A exposição destaca principalmente cadeiras, por sublinhar o modernismo orgânico adotado pelo país e que tornou o seu design especialmente original. De terça a domingo, das 11h às 20h. Instituto Tomie Ohtake. Rua Coropés, 88. São Paulo-SP. Até 28/09. Saiba mais.

 

 

Museu Cais do Sertão

 

 

Em abril de 2014, em Pernambuco, foi inaugurado o Museu Cais do Sertão. O espaço, instalado no novo Terminal Marítimo do Porto do Recife (antigo Armazém 10), possui dois mil metros quadrados e conta com uma exposição permanente sobre o Rio São Francisco, estúdios de gravação, oficinas de instrumentos musicais e a obra completa de Luiz Gonzaga. Saiba mais.

 

 

Revelando São Paulo

 

 

Em sua 54ª edição, o evento apresenta a culinária, o artesanato, as danças e as manifestações culturais tradicionais de quase 200 municípios paulistas. O Festival de Cultura Paulista Tradicional tem como objetivo aproximar o público do universo do Patrimônio Imaterial da Cultura. De 12 a 21/08. Parque Vila Guilherme-Trote. Praça dos Trotadores,1. São Paulo-SP. Saiba mais.

 

 

Luxo & Design: ética, estética e mercado do gosto

 

 

Com autoria de Giovanni Cutolo, o livro aborda questões como o conceito de luxo na atualidade, os valores que definem a qualidade dos objetos e as relações que intercorrem entre o projeto e distribuição e entre design e mercado. Editora Perspectiva. 200 páginas. R$53. Saiba mais.

 

 

 

Boa leitura

 

A arquitetura de Lina Bo Bardi é surpreendente pela multiplicidade com que se manifesta, se constituindo num procedimento fértil que propõe soluções arrojadas e também incorpora soluções vernaculares, que organiza e participa de movimentos culturais, e assim, estabelece seu código poético. O enfrentamento da tensão moderno/popular se faz premente para pensar o espaço e a materialidade de um projeto moderno que se estrutura a partir da valorização de um fator cultural, mormente não considerado como parte integrante de tal procedimento de criação: a cultura popular, com seus usos e seu saber fazer. A tensão moderno/popular em Lina Bo Bardi se trata de uma diferenciação, de um “fenômeno de ruptura”.

 

Eduardo Pierrotti Rossetti
Tensão moderno/popular em Lina Bo Bardi: nexos de arquitetura

 

Leia o texto na íntegra


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