Editorial
O ano começou agitado. Na Cunha Gago, 807,
A CASA apresenta uma exposição com a seleção
de peças de seu acervo. Já no mundo virtual, o site
foi reformulado e ganhou novas áreas. Portanto, aproveite
o final das férias para nos fazer duas visitas: uma visita
ao museu e uma visita virtual ao nosso site. E não para por
aí. Mais novidades estão reservadas para o mês
de fevereiro. Aguardem.
Acontece no
museu A CASA
Cunha Gago, 807
Girando o acervo
Nesse início de ano, A CASA apresenta uma
seleção de peças do seu acervo. A chita, um
dos destaques da exposição, aparece em vestidos dos
estilistas Lino Villaventura e Karlla Girotto e em peças
de design gráfico de Iris de Ciommo e Amanda Oliveira. A
partir de 26 de janeiro, de segunda a sexta, das 10h às 19h.
Saiba
mais.
O site está de cara nova

Visando facilitar a navegação do usuário e
apresentar novos conteúdos, a home do site foi reformulada
e ficou muito mais dinâmica. Confira.
Videoteca

Agora o site conta com uma área especial
para os vídeos. Dentre os já publicados, destaque
para as entrevistas com Gerson de Oliveira, Kimi Nii e Mercedes
Monteiro. Confira.
Ação Sócio-ambiental

Com o objetivo de destacar as ações
sócio-ambientais com foco na produção artesanal,
essa nova área reúne diversas ações
de norte a sul do país. Veja
aqui.
Apoio
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Entrevista - Marta Maria Mendes
e Paulo Sérgio Franzosi
"Os
dois agregam valor ao produto, tanto o artesão dizer
que o produto tem a participação de um designer,
como o designer falar que o produto tem a participação
do artesão"
Marta Maria Mendes é coordenadora
estadual de artesanato do Sebrae-SP
e Paulo Sérgio Brito Franzosi é designer e coordenador
do programa Sebrae-SP de desgin.
Um
caminho de mão dupla
Paulo Sérgio: E aí
mais uma coisa de mão dupla que a gente tem. Da mesma
forma que um artesão pode pensar “esse meu produto
foi feito com a participação da designer ou
do designer tal”, o designer pode falar “o meu
produto tem a participação da comunidade de
artesãos tal”. Então é uma mão
dupla muito interessante, os dois agregam valor ao produto,
tanto o artesão dizer que o produto tem a participação
de um designer, como o designer falar que o produto tem a
participação do artesão.
Marta: E é um namoro
que dá certo. Os artesãos têm um prazer
enorme em falar isso! Muitas vezes, eles colocam o nome do
designer no produto. Têm “colheres Lars”,
“bolsa Fabíola”, “luminária
Baba Vacaro”. Quer dizer, é a paixão deles.
Não é que o designer falou “olha, vai
ser isso”. Não, “é nosso”.
Como o produto continua sendo deles, quando eles nomeiam eles
dão o nome do designer. É muito bonito.
Desmistificação do
design e do artesanato
Paulo Sérgio: O que
a gente vê é que a gente trouxe essa questão
do design para deixar para as pessoas. A gente foi buscar
uma coisa que era um pouco de elite, o design nas lojas, e
desmistificou. Desmistificou a questão da elite, que
era na Al. Gabriel Monteiro da Silva e trouxe para o artesanato.
Marta: E a gente fez o contrário.
A gente desmistificou a história de que o lugar do
artesanato é só nas casas de praia e na casa
de campo. A gente está falando que o artesanato pode
estar na Al. Gabriel Monteiro da Silva! A gente fez o caminho
contrário.
A importância de vender e de
saber vender
Paulo Sérgio: Não
adianta fazer uma cadeira diferenciada, inovadora, se na hora
de eu colocar no mercado não consigo transmitir isso,
se eu não consigo fazer uma etiqueta diferenciada,
se eu não consigo fazer uma embalagem diferenciada,
se a loja em que eu vou expor não tem esse ambiente
diferenciado, se a comunicação que eu faço,
seja impressa, digital ou via rádio, não expressa
isso. Quer dizer, eu fiz todo um trabalho de design, mas ele
parou na cadeira. Eu não fiz uma gestão do design.
Então eu faço esse trabalho e ele tem muitas
chances de não obter sucesso, porque eu só trabalhei
com um elo dessa cadeira. A mesma coisa com a questão
do artesanato. Não adianta nada apenas ter um produto
interessante.
Marta: Eu acho que é
uma das coisas que a gente precisa vender. Artesanato é
negócio, é uma empresa como outra qualquer e
o designer também é um empresário. Porque
eu posso ser um bom criador, mas se eu não souber vender
o meu produto, não souber colocar um preço no
meu produto, não adianta. Eu vou ser só criador
e vou morrer de fome sendo criador.
Objetos tradicionais e interferências
Marta: A gente não
quer que determinada artesã deixe de fazer objetos
tradicionais. A bisavó dela fazia e é uma questão
cultural. Ela faz e acho lindo. Mas ela não sobrevive
daquilo. Ela morre de fome. Ela depende de programas de governo.
Que absurdo é esse? Um país em que a pessoa
depende de programa de governo para ter a sua renda. É
uma cultura que é subsidiada. Não pode. Então
a gente faz esse processo de adequar. Tentar adequar para
que ela tenha um mercado e consiga sobreviver daquilo, se
sinta valorizada e tenha tempo para fazer sua toalha da melhor
forma. Esse trabalho é muito bem pensado. E a gente
convida, não impõe.
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Matéria do MÊS
Mamirauá: uma opção
para o desenvolvimento sustentável
Há
600 km de Manaus, no médio Solimões, fica
a primeira reserva de desenvolvimento sustentável
do Brasil, a RDS Mamirauá. A criação
da reserva se deve à multiplicidade e variedade de
espécies vegetais e animais existentes nos 1,24 milhão
de hectares de exuberante floresta de várzea, em
plena Amazônia. Algumas espécies são
endêmicas da região, como é o caso do
macaco uacari, objeto de pesquisa do cientista Marcio Ayres,
idealizador do projeto de proteção ambiental
de Mamirauá.
Entre os meses de dezembro e maio, a área da reserva
fica praticamente submersa entre os rios Solimões
e Japurá, quando o nível das águas
chega a subir 12 metros. Criada em 1990, inicialmente como
área de proteção ambiental integral
com acesso restrito a pesquisadores, logo se percebeu que
o envolvimento e adesão dos habitantes das comunidades
tradicionais era fundamental para a preservação
da impressionante biodiversidade da região. O modelo
de Reserva de Desenvolvimento Sustentável foi criado
especialmente para Mamirauá em 1996 e conjuga a pesquisa
científica com a cultura local tendo em vista a preservação
do meio-ambiente.
Além
do manejo sustentável do pirarucu e da floresta,
praticado pelos moradores da região sob orientação
dos pesquisadores, o ecoturismo é também uma
fonte de renda para os moradores das comunidades, que administram
a pousada flutuante uacari (www.mamiraua.org.br)
com o apoio do Instituto Mamirauá. Neste cenário,
o artesanato surge como mais uma opção de
renda e valorização da cultura local, já
que a visita às comunidades locais é uma das
atividades programadas para os hóspedes da pousada.
Seja preservando técnicas ancestrais, como a mistura
da cinza da madeira do Caripé ao barro para dar resistência
à cerâmica utilitária queimada a céu
aberto, seja se dedicando à produção
de objetos exclusivamente para o comércio, como os
pequenos animais entalhados em madeira molongó e
os colares de sementes, os moradores começam a enxergar
as possibilidades da produção artesanal. E
nós, visitantes, temos a oportunidade de conhecer
um pouco mais desta fascinante cultura que vem contribuindo
há anos para a preservação da floresta
amazônica.
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A CASA indica
Pousada Uacari, Amazônia

Construída sobre sete estruturas flutuantes
de madeira, a pousada visa o mínimo impacto ambiental e conta com
tecnologias apropriadas, como a coleta de água de chuva, energia
solar e sistema de filtragem de dejetos. Veja
mais.
CD Cantos de trabalho

A Cia. Cabelo de Maria apresenta o CD com cantigas das
destaladeiras de fumo de Arapiraca (AL) às fiandeiras de
algodão do Vale do Jequitinhonha (MG). Com ritmos regionais
e vozes femininas, o CD conta ainda com a participação
da cantora Ceumar. Selo Sesc. R$15,00. Ouça
aqui trechos das músicas.
Livro “Caminhos da Arte Popular”

Além de trazer uma cuidadosa seleção
de obras produzidas no Vale do Jequitinhonha (MG), o livro da antropóloga
Angela Mascelani problematiza questões próprias ao
mundo da arte, como: quais as fronteiras entre arte e artesanato?
Como as “tradições” são atualizadas
no contexto atual de fortes e aceleradas mudanças sociais?
Museu
Casa do Pontal. 180 págs. R$ 130,00
Oferenda

A ceramista Caroline
Harari apresenta bilhas, potes e gamelas inspiradas nas tradições
nordestinas. A artista se vale de uma técnica especial em que faz
a impressão da textura de rendas e bordados na argila, criando
efeitos surpreendentes. Museu de Arte da Bahia. Av. Sete de Setembro,
2340, Salvador (BA). Informações: (71) 3336 9450. De ter
a sex, das 14h às 19h, sáb e dom das 14h30 às 18h30.
Até 29/03.
Boa leitura
“Do mesmo modo que o mameluco construiu uma raça
híbrida, metade índia, metade portuguesa, todos os equipamentos
também se adaptaram meio a meio. O português viu o índio
espremendo a mandioca no tipiti, que era tracionado. Era uma bolsa que
tinha duas argolas, duas possibilidades de ser esticado. E quanto mais
esticado, mais comprimida ficava a massa e o líquido escorria por
ele. O português dizia que aquilo não dava certo, que ele
ia aperfeiçoar. O que ele fez? Pegou a prensa do lagar, de fabrico
de azeite, onde a azeitona era espremida para tirar o óleo. E ao
invés de tirar o óleo da azeitona, passou a tirar o suco
venenoso da mandioca espremendo com a mesma prensa que é um parafuso
que vocês devem conhecer”.
Carlos Lemos
Texto adaptado a partir da transcrição
da palestra “Casas do Brasil 2008 – A Casa Xinguana”,
ministrada no Museu da Casa Brasileira em 19/08/2008.
Leia
o texto na íntegra
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