A CASA - Newsletter #80 - Ano 7 | Janeiro de 2015





Newsletter N°80

Janeiro de 2015

 

 

Editorial

 

 

Abrimos a primeira newsletter de 2015 trazendo sugestões de livros que são excelentes opções de leitura para as férias. Veja em A CASA indica.


Em Matéria do Mês, conheça a cerâmica icoraciense, produzida no Pará e que apresenta grafismos inspirados em peças arqueológicas de diversas tradições encontradas na região Amazônica. Já em Entrevista, o mestre J. Borges fala sobre sua produção de cordéis e xilogravuras que buscam retratar a cultura e o dia a dia do povo nordestino.


E saiba mais, em Boa Leitura, sobre o relacionamento entre artesanato e desenvolvimento local na Comunidade Quilombola de Giral Grande (BA) através do estudo realizado por Marcelo Geraldo Teixeira, Julio Santana Braga, Sandro Fábio César e Asher Kiperstok.

 

 

 

Acontece no
museu A CASA

 

 

Pedroso de Morais, 1216

 

 

Exposição Sentido Figurado

 

 

Na mostra, o artista f.marquespenteado exibe quatro séries de trabalhos inéditos: "Esculturas Reticuladas", "Mandalas Disfuncionais", "Florais Rajados" e "Arranjos Premiados". De terça a domingo, das 11h às 19h.  Até 18/01. Saiba mais.

 

 

Pedroso de Morais, 1234

A CASA - Anexo

 

 

4° Prêmio Objeto Brasileiro

 

 

Exposição apresenta os objetos e projetos vencedores e os de maior destaque do 4° Prêmio Objeto Brasileiro. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Até 30/01. Saiba mais.

 

 

www.acasa.org.br

 

 

Coleção Irmãos Campana

 

 

Coleção virtual reúne sandálias, tênis, camisas, sofás, mesas, armários e poltronas desenvolvidas por Fernando e Humberto Campana em parceria com as empresas Edra, Lacoste e Melissa. Veja aqui.

 

 

Museu A CASA nas redes sociais

 

 

Apoio

 

 

 

 

Entrevista - J. Borges

 

"O que me inspira é a vida, é o movimento; é aquilo que vejo, aquilo que sinto"

 

J. Borges é xilogravurista e cordelista. Em 2005, recebeu o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco.

 

O senhor já fez alguns cordéis para políticos. É verdade que todo candidato que recebe um cordel feito pelo senhor ganha a eleição?
Pois é. Sempre que faço o candidato se elege. Nunca fiz um cordel para um candidato que não se elegeu. Mas não creio que a minha mensagem seja tão otimista assim. Acho que é porque dá sorte. As pessoas que procuram o cordel normalmente compreendem o que ele significa, além de gostar e confiar na gente. Então, escrevo com muito gosto, porém sempre meio desconfiado, porque, afinal, vou endeusar o político, dizer que ele é uma ótima pessoa. Vou pedir voto para ele. Mas, até hoje tenho dado sorte porque, para os que eu escrevi, além de serem eleitos, também são pessoas ótimas, que trabalham em prol do povo e em benefício da comunidade. No início tinha receio, mas agora já escrevi para várias pessoas e todos eles se tornaram amigos. Não é o meu cordel que elege o candidato, mas ele dá um empurrãozinho para o homem ser eleito. Um dos políticos que recebeu o meu cordel e foi eleito é o Raul Henry, que foi deputado federal no tempo do Jarbas Vasconcelos. Na época, os dois criaram um projeto em Pernambuco que deu a vários autores e vários artistas o título de Patrimônio Vivo. No dia de apresentação desse projeto, fui lá no palácio. O Jarbas leu o projeto, assinou e me colocaram para ser o orador. Eu dei uns pinotes lá. Depois, disse: “Senhor deputado e senhor governador, me perdoem a expressão: Estou assinando esse projeto, que é louvável e muito bom, mas tenho as minhas dúvidas porque, desde a minha adolescência, participo de reuniões e de coisas relacionadas à ajuda aos poetas, porém, até hoje, que já estou de cabelo branco, nunca vi uma ajuda. Os papéis vão para a gaveta e a gente fica no beleléu. Me desculpe, mas é isso que eu penso. Talvez esse vá vingar”. Nesse momento, veio o assessor do Jarbas e disse “Você aguarde que vai sair esse projeto, sim. Não é uma brincadeira”. E realmente, o projeto passou a funcionar depois de quatro anos. A partir disso, todos os artistas que ganharam o título recebem uma pensão vitalícia. Não é muito dinheiro, mas ajuda muito. Já morreram vários deles, mas hoje em dia existem 28. Cada ano mais três pessoas são contempladas.

 

Qual é a relação da mentira com o cordel?
A maioria das histórias de cordel são mentiras. O poeta vive de escrever mentiras porque quem escreve a verdade passa fome. Falei isso em Passo Fundo, numa palestra, aí o povo deu uma risada geral e, depois, no meio das 5 mil pessoas que estavam lá, um homem levantou o braço e pediu um exemplo. Falei: “Dou um agora! O cordel Pavão Misterioso foi escrito em 1920 e, até hoje, é o mais vendido, de geração para geração. E tudo isso ocorreu porque a história é uma mentira. Agora, não é uma mentira seca, não.” Aí, o cabra perguntou: “O que é uma mentira seca?”. Respondi que quando a mentira é muito seca, todo mundo percebe que aquilo é impossível. Essa mentira impossível não presta. No cordel, os poetas escrevem histórias que deixam as pessoas em cima do muro. É a mentira que deixa dúvida. Quando o cara termina de ler, diz “isso é uma mentira”, mas o outro fala “não, pode ter acontecido, tem condição de acontecer aqui, agora, ou depois.” É essa a mentira que o bom poeta se agarra e vive escrevendo: aquela que dá para acontecer um dia.

 

O que influencia o trabalho que o senhor desenvolve? Existe alguma inspiração?
O que me inspira é a vida, é a continuação, é o movimento; é aquilo que vejo, aquilo que sinto. Também sempre faço coisas relacionadas ao popular. Gosto de retratar os acontecimentos, as tristezas e as consequências da região, além da alegria e das festas do povo. Tudo isso é que me dá inspiração. Sem querer imitar o Ariano Suassuna, mas agindo mais ou menos como ele, procuro ser muito patriota. Ele dizia que só era brasileiro o que era popular, e eu tenho esse capricho também. Já andei por vários países por aí. Vi muita coisa. Mas, mesmo assim, quero fazer coisas da minha terra, do meu lugar. Minha inspiração vem daquilo que vejo no povo. Relaciono às vezes a religião com a sociedade e vice versa. Ou coloco a boniteza e a feiura, mas sempre dentro das coisas relacionadas à vida do povo. Afinal, é disso que eles gostam. E é desse jeito que eu gosto de trabalhar. Me inspiro no povo e faço para o povo. E ali, dentro do meu trabalho, eles encontram uma coisa que toca no íntimo. E, aí, já é negócio feito.

 

Leia entrevista na íntegra

 

 

Matéria do Mês

 

Icoaraci: a herança arqueológica na produ-

ção cerâmica artesanal contemporânea

por Agda Sardinha

 

Icoaraci é um distrito do município de Belém, localizado a cerca de 20 quilômetros da capital paraense. A região, também conhecida como “Vila Sorriso”, é um importante polo de produção cerâmica da região Amazônica.

 

A maior parte da produção ocorre no bairro do Pacuri, no centro de Icoaraci. No local há diversas olarias e oficinas, situadas lado a lado, sobretudo na Travessa Soledade, onde é possível conhecer alguns produtos e artesãos, bem como adquirir peças de cerâmica. Além das olarias, a região conta com pontos turísticos interessantes como a Feira de Artesanato do Paracuri, a Praça São Sebastião – que possui uma série de exposições de artesanato, a Praia do Cruzeiro, o Pontão, a orla da Baia de Guajará e restaurantes que servem comidas típicas paraenses (tacacá, maniçoba, pato-no-tucupi).


Até a década de 1960, as olarias de Icoaraci estavam centradas predominantemente na fabricação de telhas, tijolos, panelas e tigelas de argila. Contudo, na década de 1970 a produção de cerâmica inspirada em grafismos encontrados em materiais arqueológicos foi iniciada a partir da iniciativa de dois artesãos: Raimundo Saraiva Cardoso – “mestre Raimundo Cardoso” e Antônio Farias Vieira –“mestre Cabeludo”.


Mestre Cabeludo, ao ver a imagem de uma peça marajoara em uma revista, decidiu reproduzi-la e, assim, iniciou o processo de produção das réplicas arqueológicas em Icoaraci. Já Mestre Cardoso, após visitar uma exposição de arqueologia interessou-se pela iconografia marajoara e solicitou acesso à reserva técnica do Museu Goeldi para realizar pesquisas com o intuito de aprofundar seus conhecimentos com relação à técnica e à decoração das peças. 


Atualmente a cerâmica de Icoaraci é inspirada em peças arqueológicas de diversas tradições encontradas na região Amazônica: Marajoara, Tapajônica, Konduri e Maracá. Além disso, as peças icoracienses muitas vezes contam com uma mescla de estilos que agregam tanto o grafismo de materiais arqueológicos quanto motivos florais e desenhos que retratam elementos como o Sol, a Lua, relevos, rios e outros aspectos da natureza. Esse hibridismo é visto por alguns como uma descaracterização da identidade cultural da região, mas para os produtores de Icoaraci esse processo marca o surgimento de uma escola de arte ceramista, com cotornos próprios que seriam específicos da cerâmica icoraciense.

 

 

 

A CASA indica

 

 

Triunfos e Impasses: Lina Bo Bardi, Aloisio Magalhães e o design no Brasil

 

 

Com autoria da designer e antropóloga Zoy Anastassakis, o livro procura analisar a forma como a instituição e a consolidação do design no Brasil se deu através das ideias e perspectivas presentes no trabalho de Lina Bo Bardi e de Aloisio Magalhães. Editora Lamparina. 256 páginas. R$45. Saiba mais.

 

 

Urbano Ornamento

 

 

O livro de Fernanda Guimarães Goulart, professora de Artes Gráficas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), documenta as variedades de grades ornamentais presentes em Belo Horizonte, refletindo sobre a memória das casas guardadas por elas e das pessoas que as habitam. Saiba mais.

 

 

Mistura Morena: cozinha tropical brasileira

 

 

Com autoria da chef Morena Leite, do Capim Santo, e fotos de Tuca Reinés, o livro apresenta a diversidade da culinária nacional com pratos de diversos estados brasileiros. Dentre as inúmeras receitas presentes no livro, alguns dos destaques são: o miniacarajé, o vinagrete de aratu com palmito pupunha fresco, o feijão tropeiro com frutos do mar, a rabada desfiada com purê de banana-da-terra e o brigadeiro de capim-santo. Editora Senac. 144 páginas. R$139,90. Saiba mais.

 

 

Sinal

 

 

Produzido pelo programa de extensão Esdi: Janelas Abertas, o boletim eletrônico da Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) tem o objetivo de divulgar as atividades desenvolvidas pela Esdi e veicular notícias e informações relativas ao ensino, ao design e a áreas correlatas. Com mais de 480 edições publicadas desde 2002, o boletim atinge toda a comunidade esdiana e a maioria dos ex-alunos, além de empresas, instituições, estudantes, docentes, pesquisadores e profissionais da área, num total de mais de 6 mil assinantes. Veja aqui.

 

 

 

Boa leitura

 

O artesanato produzido em Giral Grande não só reflete o autorreconhecimento de uma comunidade quilombola, mas também se constitui num fator de identificação de outras pessoas que estão fora da comunidade. É o olhar dos outros convergindo para a construção da identidade. Esta, então, é considerada como uma referência em torno da qual o indivíduo se autorreconhece e se constitui, estando em constante transformação e construída a partir da sua relação com o outro. As características encontradas neste artesanato demonstram que, além de ser uma atividade de importância econômica para a comunidade, reúne componentes culturais que lhe são próprios: o aproveitamento de recursos disponíveis; a manifestação positiva sobre a beleza dos produtos e as manifestações sobre a preservação da cultura local.

 

Marcelo Geraldo Teixeira, Julio Santana Braga, Sandro Fábio César e Asher Kiperstok


Artesanato e desenvolvimento local: o caso da Comunidade Quilombola de Giral Grande, Bahia

 

Leia o texto na íntegra


Av. Pedroso de Morais, 1216/1234 | Pinheiros | São Paulo | SP | CEP 05420-001 | T (+5511) 3814-9711 acasa@acasa.org.br | www.acasa.org.br | Twitter | Facebook | YouTube
Envie críticas, comentários e sugestões de conteúdo para a nossa newsletter.