Editorial
A exposição Transgressão é destaque na 81ª edição da newsletter. Em Matéria do Mês, saiba mais sobre a mostra desenvolvida pelo Instituto de Pesquisas em Tecnologia e Inovação (IPTI) que reúne peças criadas a partir da parceria entre designers e comunidades artesanais de Alagoas e Sergipe.
Em Entrevista, Marlúcia Cândida fala sobre as ações públicas desenvolvidas pelo governo do estado do Acre para o incentivo, fomento e valorização da produção artesanal da região.
Já em Boa Leitura, Daniella Magri Amaral discute as relações existentes entre a loiceira do agreste pernambucano e a produção das loiças de barro.
Acontece
no
museu A CASA
Pedroso de Morais, 1216
Transgressão

Desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas em Tecnologia e Inovação (IPTI), a exposição apresenta o trabalho realizado por artesãos que integram cinco organizações coletivas situadas no sertão de Alagoas e de Sergipe. A mostra busca transgredir diversos elementos dos objetos com o objetivo de inovar na proposição de diferentes usos, composições, técnicas e tecnologias dos artefatos. Abertura dia 24 de fevereiro, das 19h às 22h30. Visitação de terça a domingo, das 11h às 19h. Até 22/03. Saiba mais.
Pedroso de Morais, 1234
A CASA - Anexo
4° Prêmio Objeto Brasileiro

Exposição apresenta os objetos e projetos vencedores e os de maior destaque do 4° Prêmio Objeto Brasileiro. De segunda a sexta, das 10h às 19h. A CASA - Anexo. Até 27/02. Saiba mais.
www.acasa.org.br
Coleção 4º Prêmio Objeto Brasileiro

Coleção virtual apresenta os objetos e projetos vencedores e os de maior destaque do 4° Prêmio Objeto Brasileiro. Veja aqui.
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Entrevista - Marlúcia Cândida
"Se o estado não for um grande motivador, o artesanato não ganha a visibilidade necessária para o seu desenvolvimento"
Marlúcia Cândida é arquiteta e primeira dama do estado do Acre.
Uma questão interessante e recorrente é o papel desenvolvido por primeiras damas na área da cultura – como as ações realizadas pela Ruth Cardoso, por exemplo. Como você enxerga o trabalho promovido por essas mulheres no setor?
Nós tivemos o prazer de receber a Ruth Cardoso no Acre quando o meu cunhado, Jorge Viana, era prefeito. Ela esteve lá pela Comunidade Solidária e nos ajudou muito com a questão artesanal. E a minha atuação nessa área do artesanato, assim como no design e na gastronomia, surgiu não simplesmente como um papel de primeira dama, mas pela minha vontade de estar inserida, de alguma maneira, dentro do governo. O objetivo, então, era poder ajudar de alguma forma, mas sem estar longe da minha profissão de arquiteta. Aliado a esse ideal, a questão da gastronomia e do design é algo extremamente necessário num estado que está se desenvolvendo, mas que precisa agregar alguns valores a esse crescimento. Portanto, torna-se necessário valorizar a nossa gastronomia, melhorar a nossa hospitalidade. E, no setor do design, uma das nossas vantagens é a matéria-prima. A nossa agenda de política ambiental, sobretudo de certificação da madeira, tem sido bem desenvolvida. Hoje em dia grande parte da nossa madeira é extraída de projetos de manejos florestais. Contudo, nos falta agregar valor a essa madeira e gerar mais emprego e renda. Além da madeira, temos o látex, que também é uma matéria-prima da floresta e que tem uma história muito rica, totalmente conectada com o processo de formação do território acreano. Sobre essa questão, estamos motivando o seringueiro a trabalhar com o sapato de látex. Antes ele era só preto. Agora, com a tecnologia de tratamento, esse látex não é mais defumado. Ele recebe um produto químico para coagular e, assim, fica pronto para receber o tingimento. Também começamos a desenvolver biojoias, que são feitas de sementes que encontramos nas florestas. No Acre temos a jarina, considerado o marfim da Amazônia. E agora nós começamos a investir também no trabalho com bambu, fazendo com que ele saia do nosso estado como um produto acabado, e não em varas.
De que forma o poder público pode trabalhar de modo a promover o artesanato brasileiro?
O poder público tem um papel fundamental nesse tipo de atuação. Se o estado não for um grande motivador, o artesanato não ganha a visibilidade necessária para o seu desenvolvimento. O artesão começa a trabalhar na produção de alguma peça quando surge uma curiosidade, ou quando aquilo é uma tradição de família. Mas se ele não tiver o governo incentivando com cursos, com formação, com aprimoramento, com participação em feiras, com promoção de catálogos, ou ainda com a construção das casas de artesanato e de museus, o seu trabalho não aparece. O estado precisa estar junto, motivando, fazendo com que o artesanato gere renda para o artesão e, consequentemente, concedendo-lhe autonomia. É necessário dar as condições para que a pessoa caminhe com as próprias pernas. E, nesse sentido, o que temos feito é fortalecer cada vez mais o artesanato, levando-o para as feiras, eventos e ajudando o artesão com a sua formação. Nós agora vamos dar uma ordem de serviço para construir e reformar um edifício antigo que será o Mercado do Artesão. O governo também alugou um colégio antigo, construído no começo do século XX, para transformá-lo no Museu da Gente Acreana.
A distância geográfica do Acre em relação a centros como Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília traz algum tipo de dificuldade para o escoamento da produção, ou problemas até mesmo para que as pessoas cheguem ao estado e conheçam a produção artesanal?
Hoje já temos outro olhar sobre isso. Nós não nos achamos tão distantes. Tudo depende do seu ponto geográfico, do seu ponto de vista. Estamos estrategicamente num lugar onde o mundo inteiro quer olhar, quer vigiar, quer controlar e quer opinar. E estamos geograficamente ligados com o mundo, conectados, via terrestre, com o Peru e a costa oeste americana. Então, o que é difícil? É caro ir para o Acre? É. E isso é ruim, porque dificulta tudo. Mas também nos preserva de muitas coisas que o progresso traz que às vezes não são boas. E, agora, o que acho muito interessante é esse sentimento de acreanidade. O acreano lutou muito para ser brasileiro. A história desse povo é marcada por lutas, por conquistas. Já fomos um estado independente de Gálvez, com diversas leis escritas. O Acre também já lutou contra a Bolívia. E, depois, vem o Chico Mendes, que já é uma luta contemporânea, lutar para que a floresta seja preservada, para que o homem que mora na floresta seja respeitado. E nesse momento estamos caminhando para a industrialização, mas sempre conscientes da questão ambiental e da questão social. Já que temos água, temos terra, temos pessoas que querem trabalhar e temos essa consciência ambiental, agora queremos mais autonomia e liberdade.
Leia entrevista na íntegra
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Matéria do Mês
O TRANSGREDIR DOS BORDADOS E RENDAS DO SERTÃO NORDESTINO
por Agda Sardinha
Entre 25 de fevereiro e 22 de março de 2015, A CASA e o Instituto de Pesquisas em Tecnologia e Inovação – IPTI, com o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae e do Governo do Estado de Sergipe, apresentam a exposição Transgressão. Na mostra serão exibidos lençóis, colchas, mantas, toalhas de mesa, jogos americanos e porta-copos, especialmente desenhados para compor a casa contemporânea: são fáceis de cuidar, versáteis e, ao mesmo tempo, arrojados e bem elaborados. As peças feitas à mão destacam a beleza da renda de Bilro e a arte dos bordados Redendê, Boa Noite e Ponto Cruz.
Os produtos foram desenvolvidos a partir da parceria entre cinco comunidades artesanais do sertão de Alagoas e de Sergipe – Associação dos Artesãos do Município de Poço Redondo, Associação de Bordados de Entremontes, Associação da Cultura Artesanal de Poço Verde, Cooperativa do Sítio dos Bordados “Um sonho a mais”, de Sítios Novos, e Cooperativa Art Ilha, de Ilha do Ferro – e os designers Aldi Fiosi, Izildinha Carderari, Adriana Fortunato, Kelly Oliveira, Beatriz Martinez e Adriana Fernandes.
Transgressão busca desvelar um nordeste pujante, com um potencial para fornecer referências importantes à inovação. Sendo assim, o processo criativo das peças foi fundamentado nas relações de trocas entre o conhecimento científico e os saberes tradicionais, engendrando processos baseados na experimentação com diferentes tipos de materiais para a base do bordado, no desenvolvimento de novos produtos e na criação de novos desenhos. Como resultado, instaura-se o diálogo entre diversas técnicas: bordados, rendas e tecelagem.
Iraci Nunes Dias Lima, artesã e tesoureira da Cooperativa Art Ilha, considera que a experiência de participar do projeto foi muito boa. “Nós ainda estamos trabalhando nos resultados, mas, por enquanto, consideramos que foi algo positivo. A exposição ajudará a promover ainda mais os nossos trabalhos e a expectativa é que ocorra um aumento nas vendas das nossas peças”.
De acordo com Renata Piazzalunga, curadora da exposição, “para manter a produção artesanal brasileira viva, é necessário, além de um olhar alinhado e atento para o mundo contemporâneo, criar condições reais para que os artesãos tenham acesso a processos de inovação. Essa é a transgressão mais relevante que trazemos nessa exposição”.
Exposição Transgressão
Abertura: Dia 24 de fevereiro de 2015, das 19h às 22h30
Visitação: 25 de fevereiro a 22 de março de 2015
Terça a domingo, das 11h às 19h
Local: A CASA | Av. Pedroso de Morais, 1216 | Pinheiros | SP
Entrada Franca
Mais informações: T + 11 3814 9711 | www.acasa.org.br
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A CASA indica
Paralela Gift

Com direção de Marisa Ota, a feira reúne as últimas coleções de design autoral, alta decoração e artesanato contemporâneo no país. A visitação é exclusiva para lojistas, arquitetos, decoradores, designers e demais profissionais do setor. De 20 a 23/02, das 10h às 19h. Parque Ibirapuera - Portão 3. Av. Pedro Álvares Cabral. São Paulo-SP. Saiba mais.
26ª Craft Design

Direcionada a lojistas, indústrias, arquitetos, decoradores e outros profissionais da área, a Craft Design é uma feira de negócios que busca ser a ponte entre o designer e o mercado, apresentando tendências na área de decoração e arte. De 21 a 23/02, das 10h às 20h. Dia 24/02, das 10h às 19h. Centro de Convenções Frei Caneca. Rua Frei Caneca, 569. São Paulo-SP. Saiba mais.
Craft, design and social change in Latin America

"Craft, design and social change in Latin America” é o tema da palestra que Adélia Borges fará em Doha, no Qatar, no dia 18 de fevereiro. O convite partiu da Virginia Commonwealth University, que também programou workshops conduzidos por Adelia com professores e alunos da instituição. Este será o 18º país em que a curadora e escritora independente falará – em seu currículo já constam Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, México, Panamá, Estados Unidos, Espanha, Alemanha, Dinamarca, Finlândia, Suécia, Holanda, Inglaterra, Austrália, Índia e Japão.
V Mostra Jovens Designers

Em sua quinta edição, a Mostra Jovens Designers tem o objetivo de estimular a formação de novos talentos e difundir a cultura do design no país. Abertura dia 12 de fevereiro, a partir das 19h30. Visitação de terça a domingo, das 10h às 18h. Até 29/03. Museu da Casa Brasileira. Av. Brigadeiro Faria Lima, 2705. São Paulo-SP. Saiba mais.
Alimentário – Arte e Patrimônio Alimentar Brasileiro

A exposição tem o objetivo de apresentar ao público a importância do patrimônio alimentar brasileiro. Em um mesmo projeto expográfico, a mostra reúne trabalhos de chefes da cozinha como Alex Atala e Helena Rizzo e obras de artistas visuais como Caetano Dias e Lasar Segall. Até 29/03. De terça a domingo, das 9h às 18h. Oca. Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, Parque do Ibirapuera, portão 3. São Paulo-SP. Saiba mais.
Boa
leitura
Fazer loiça de barro é um conhecimento tradicional, não apenas porque este conhecimento é reproduzido há gerações em uma sociedade sertaneja em que os modos de vida e a relação com o meio são bem particulares, mas também porque atribui a quem detém o conhecimento deste saber-fazer, a loiceira, a autoridade para criá-lo, reproduzi-lo, reinventá-lo, ensiná-lo, difundi-lo, atribuindo também identidade tanto à loiceira quanto a comunidade da qual ela faz parte e que se apropria deste conhecimento.
Daniella Magri Amaral
A loiceira do Agreste e a sua loiça de barro
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