A CASA - Newsletter #83 - Ano 7 | Abril de 2015





Newsletter N°83

Abril de 2015

 

 

Editorial

 

 

A exposição RENDA-SE é destaque na 83ª edição da newsletter. Em Matéria do Mês, saiba mais sobre o projeto idealizado pelo museu A CASA e que apresenta o trabalho realizado por designers de moda e comunidades rendeiras de diversos estados brasileiros.

 

Em Entrevista, Sérgio J. Matos fala sobre seu trabalho como designer e consultor em projetos que unem o artesanato ao design.

 

Já em Boa Leitura, João Braga, numa contribuição especial, apresenta elementos etimológicos, técnicos e históricos da renda no contexto nacional e internacional.

 

 

 

Acontece no
museu A CASA

 

 

 

Pedroso de Morais, 1216

 

 

 

RENDA-SE

 

 

Exposição reúne looks desenvolvidos a partir do encontro entre estilistas e marcas da moda - como Amapô, André Lima, Huis Clos e Walter Rodrigues - e comunidades rendeiras dos estados do Ceará, Paraíba, Piauí, Santa Catarina e Sergipe. O projeto é uma realização de A CASA e conta com a curadoria de Dudu Bertholini. Abertura dia 13 de abril, das 19h00 às 22h30. Visitação de terça a domingo, das 11h às 19h. Até 28/06. Saiba mais.

 

 

 

Pedroso de Morais, 1234

A CASA - Anexo

 

 

 

A CASA viaja Dinamarca

 

 

Em sua terceira edição, A CASA viaja levará interessados em design e artesanato à Dinamarca. O objetivo da viagem é promover um passeio pela capital Copenhague e a ilha de Bornholm, visitando museus de arte, design, joalherias e ateliês de artistas. De 19 a 27/06. Adesões até 17/04. Saiba mais.

 

 

Girando o Acervo IV

 

 

Em abril, A CASA apresentará uma nova seleção de peças de seu acervo. O banco sela, de Ricardo Graham, e a necessarie borrachuda, da Saissu Design, serão alguns dos destaques da mostra, que ocorrerá em A CASA - Anexo. Em breve mais informações.

 

 

 

www.acasa.org.br

 

 

 

V Prêmio Casa Claudia Design de Interiores | Homenagem à Renata Mellão

 

 

Com depoimentos de Adélia Borges e Carmo Sodré Mineiro, o vídeo apresenta a homenagem exibida no V Prêmio Casa Claudia Design de Interiores ao trabalho desenvolvido por Renata Mellão, diretora do museu A CASA. Veja aqui.

 

 

Museu A CASA nas redes sociais

 

 

 

 

Apoio

 

 

 

 

Entrevista - Sérgio Matos

 

"A atividade artesanal dá alma para o produto"

 

Sérgio J. Matos é designer de mobiliário e atua como consultor em projetos que unem o artesanato ao design.

 

Em 2005, o museu A CASA publicou o livro “Que Chita Bacana” e realizou a exposição “A Chita na Moda”. Na confecção desses dois projetos, uma das ideias que nos nortearam foi: "a história deste tecido traz um pouco da trajetória da alma brasileira". Como você avaliaria essa frase? Ao criar a “coleção Chita”, qual foi a sua principal inspiração?
Acredito muito nessa frase que você mencionou. Em inúmeros casos, quando vamos trabalhar com uma peça popular – seja do Nordeste, do Norte, ou até mesmo do Mato Grosso, onde eu nasci – vemos a chita sendo largamente utilizada pelas pessoas nas mais variadas situações. Em festas de santo, por exemplo, a chita é muito usada para decorar a barraca e para a produção de roupas. A chita é um tecido muito presente na vida das pessoas do interior. Eu mesmo nasci no interior do Mato Grosso e me lembro que em casa tínhamos a chita, às vezes como cortina, às vezes como almofada, ou para cobrir a mesa. A chita é uma referência para inúmeras pessoas, principalmente no Nordeste. E os padrões dela são bonitos e riquíssimos. Não existe só um tipo de chita; existem vários. E, como você mencionou, usei a chita como referência no desenvolvimento de uma coleção. Todo esse processo começou através de uma consultoria que eu fiz para o Sebrae da Paraíba com artesãs que trabalhavam com linha de crochê. Nós pegamos o desenho e as cores que estavam estampados na chita e transformamos isso em algo volumétrico com uma estrutura de arame. E depois revestimos tudo com linha de crochê. Após esse processo nós começamos a criar várias peças, como bolsas e luminárias. E uma das cadeiras produzidas na coleção vai para o Brazil S/A, que ocorrerá em Milão.

 

Quais os benefícios do encontro entre design e artesanato para a produção material do Brasil?

Na minha opinião, o trabalho artesanal enriquece muito o produto final. Porém, há ainda um preconceito muito grande em relação ao objeto feito à mão. Várias pessoas vão para as feiras da Itália, por exemplo, e valorizam peças artesanais que são expostas lá. Mas quando voltam para cá, o discurso muda. Portanto, ao contrário dessa visão negativa, propagada inúmeras vezes, acredito que a produção artesanal valoriza a peça final dado que por trás do artesanato existe uma história riquíssima. É rica porque tem uma pessoa que foi lá coletar os materiais, na sua grande maioria naturais, para confeccionar o produto; é rica porque às vezes para a produção de uma única peça são necessárias vinte mulheres de uma mesma comunidade envolvidas no trabalho. E eu tento escutar a história de cada uma dessas mulheres que produzem as peças para descobrir o mundo existente em torno do produto. E, na grande maioria das vezes, a peça artesanal carrega consigo a identidade do local, como um desenho que é baseado numa folha típica da região, ou a tradição que é passada ao longo das gerações. Assim, na minha visão, a atividade artesanal dá alma para o produto. É diferente da peça industrial, que é algo mais “frio”. É lógico que existe todo um projeto envolvido por trás do objeto industrial, com foco no consumidor, normalmente. Mas ele não chega a ter toda a emoção que envolve um produto artesanal. Um produto feito à mão sempre vai ter uma imperfeiçãozinha aqui, ou vai sair um pouco diferente dos demais – afinal, o acabamento da peça varia de um artesão para o outro. Mas isso é que é interessante, porque você acaba levando uma peça quase que exclusiva para a sua casa. Ela só não chega a ser 100% exclusiva porque por dentro o desenho usado por artesãos de uma mesma comunidade é semelhante, mas, se você for olhar no detalhezinho, vai conseguir reparar as diferenças. E isso não ocorre na produção industrial de massa.

 

Como projetos que trabalham com o encontro entre design e artesanato devem ser conduzidos para que se estabeleça uma relação positiva entre designers e artesãos?
Sempre procuro ir com muito cuidado nessas comunidades, principalmente nas que já possuem uma identidade própria. No caso do Brasil Original, em que estamos trabalhando com comunidades indígenas, o nosso objetivo principal é fazer com que toda a história e todas as referências já existentes não se percam. As técnicas da comunidade, por exemplo, são mantidas. E as referências para o desenho de cada peça são obtidas por meio de uma visita na comunidade, com o intuito de conversar e escutar histórias para ver o que se tem em volta, quais são os materiais disponíveis, e também para fotografar como é a casa, como é o dia a dia e o que é que faz parte da cultura dessas pessoas. Em São Gabriel da Cachoeira, por exemplo, na primeira visita que eu fiz, as artesãs me contaram a história de uma folha gigante que elas utilizavam para se cobrir da chuva e que também usavam para fazer o teto da casa e para preparar a farinha. É a folha do inhambé, que é muito bonita e é típica daquela região. Então, eu usei o desenho dessa folha para desenvolver os produtos com aquela comunidade. Eu poderia ter usado a chita do Nordeste, por exemplo, mas aí a peça não ia ter nada a ver com elas. E a técnica da tecelagem que elas já utilizavam na produção de colares e de algumas peças menores foi mantida. Então, o que nós fizemos foi aliar a técnica já existente com um novo desenho, sendo que esse desenho é algo que já pertencia ao dia a dia e a cultura delas. Minha preocupação é exatamente essa: não fugir do entorno geográfico, histórico e cultural da comunidade.

 

Leia entrevista na íntegra

 

 

Matéria do Mês

 

RENDA-SE aos encantos que a cultura imaterial brasileira pode revelar

por Agda Sardinha

 

 

A CASA museu do objeto brasileiro recebe, a partir de 13 de abril, a exposição RENDA-SE, uma oportunidade para o público conhecer o resultado de um projeto, idealizado por Renata Mellão, que tem o intuito de valorizar e difundir a produção nacional de rendas, bem como de mostrar possibilidades de inserção das rendas no circuito da moda.

 

O resultado do projeto foi a criação e a produção de looks elaborados por meio da parceria entre estilistas e comunidades rendeiras, promovendo assim um intercâmbio cultural entre os profissionais selecionados para compor a equipe que participou do processo criativo.

 

As peças que compõem a mostra apresentam a renda em seus mais variados formatos. Portanto, na confecção dos trajes, utilizou-se a renda de bilro, a renda filé, a renda renascença, a renda irlandesa, a renda labirinto e a renda de bilro no exclusivo ponto “tramoia”.

 

Os 10 looks inéditos que serão exibidos na exposição foram criados pelas parcerias estabelecidas entre Walter Rodrigues e a Associação das Rendeiras de Morros de Mariana (PI),Lino Villaventura e Perpétua Martins (CE), Adriana Barra e o Clube das Mães de Camalaú (PB), André Lima e o Clube das Mães de Camalaú (PB), Amapô e a Associação para o Desenvolvimento da Renda Irlandesa de Divina Pastora (SE), Samuel Cirnansk e a Associação para o Desenvolvimento da Renda Irlandesa de Divina Pastora (SE), Huis Clos e a ONG Caiçara (CE), Liana Bloisi e Elita Catarina Ramos (SC), Martha Medeiros e comunidades rendeiras do sertão de Alagoas, Neon e a ONG Caiçara (CE).

 

Além destes, a exposição contará com mais 4 looks elaborados pelo estilista Ronaldo Fraga e pelas marcas Cavalera, Zuzu Angel e Alexandre Herchcovitch.

 

“Uma equipe guiada por Dudu Bertholini trabalhou intensamente por três anos. Durante este período, foram realizados diversos encontros que uniram técnicas já existentes e inovações propostas pelos estilistas. Este vai e vem entre designers de moda e rendeiras transformou-se nesta exposição, uma soma do talento dos estilistas com a maestria das artesãs envolvidas, que pretende ressaltar todos os atores envolvidos”, conta Renata Mellão, diretora do museu A CASA.

 

Já a artesã Elizabete Raimundo dos Santos, ex-presidente da Associação para o Desenvolvimento da Renda Irlandesa de Divina Pastora, que participou de uma das etapas do projeto, revela detalhes a respeito dessa experiência: “Foi interessante porque sentamos e conversamos. O Dudu veio com uma proposta e nós dissemos que daquele jeito o vestido ficaria muito pesado. O Dudu foi muito aberto e ouviu a nossa opinião com relação ao desenho e a escolha das rendas para a roupa”.

 

Para Dudu Bertholini, curador da mostra, “os estilistas contemporâneos brasileiros trabalham hoje para fortalecer o DNA da moda nacional e torná-la relevante no mundo todo. As rendeiras, em um caminho inverso, preservam a memória cultural de nosso país de forma preciosa e intimista, respeitando suas tradições. Nesse processo, ambas as partes se transformam. As rendeiras incorporam as inovações de design propostas pelos estilistas, e estes aprendem com seu preciosismo - surpreendente em um mundo tão acelerado como o que vivemos hoje”.

 

 

Exposição RENDA-SE
Abertura: 13 de abril, das 19h às 22h30
Visitação: de 14 de abril a 28 de junho
Terça a domingo, das 11h às 19h
Endereço: Av. Pedroso de Morais, 1216 – Pinheiros/SP
Telefone: (11) 3814-9711

 

 

A CASA indica

 

 

Design+Têxtil

 

 

Com curadoria de Nadia Rezende e José Carlos Honório, a exposição apresenta objetos de design construídos com técnicas têxteis que fazem uso de tecidos, fibras ou fios. A mostra reúne trabalhos de designers premiados como Sérgio J. Matos, Renata Meirelles e Ricardo Graham. Até 30/04. De segunda a sábado, das 9h às 22h. Domingos e feriados, das 12h às 20h. Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Avenida Paulista, 2073. São Paulo-SP. Saiba mais.

 

 

Living Heritage is Our Future: Global ICH Cases and Practices

 

 

Produzido pelo Inter-City Intangible Cultural Cooperation Network (ICCN), o livro reúne informações sobre projetos desenvolvidos em diversos países por instituições que documentam, promovem e salvaguardam o Patrimônio Cultural Imaterial. Além de abordar o trabalho realizado pelo Artesol, no Brasil, a obra apresenta ações promovidas na Espanha, Croácia, México, Vietnã, Coreia do Sul, Índia, França, Turquia, Macedônia, Canadá, Irã e Mauritânia. Saiba mais.

 

 

Artesanato Sustentável: Natureza, Design e Arte

 

 

Com fotos de Jaime Acioli, o livro apresenta relatos da trajétoria profissional de Monica Carvalho, descrevendo a participação da designer em projetos sociais que geram renda para comunidades de artesãs. Além disso, a obra também revela informações sobre sementes e fibras naturais, conhecimento técnico proveniente das pesquisas e experimentações desenvolvidas por Monica ao longo de sua carreira. Editora Senac. 144 páginas. R$54. Saiba mais.

 

 

Making Futures

 

 

Estão abertas, até 18/05, as inscrições de resumos e apresentações para a quarta edição do programa Making Futures. Promovido pela Plymouth College of Art, do Reino Unido, o Making Futures apresenta o "retorno do artesão" como um projeto capaz de gerar novas possibilidades progressistas e de contribuir para a formação de novos futuros sociais e econômicos. Saiba mais.

 

 

Rendeiras Urbanas

 

 

O vídeo apresenta o trabalho artesanal desenvolvido pelo Grupo de Mães da Associação da Aldeia de Carapicuíba, em São Paulo. Desde 2007 as artesãs da comunidade trabalham com o fazer artesanal da renda renascença, técnica que surgiu em Veneza, na Itália, no século XVI, e foi introduzida no Brasil pelos colonizadores europeus. Confira.

 

 

Tucum

 

 

A loja virtual da Tucum comercializa arte e artesanato indígena produzido com técnicas ancestrais, tradicionais e contemporâneas de mais de 50 etnias. Confira.

 

 

 

Boa leitura

 

Em solo europeu, a renda ganhou corpo, fez escola, foi desenvolvida em diversos lugares, normalmente ganhando o nome do topônimo onde era elaborada. Tornou-se patrimônio cultural de cada lugar que disputavam entre eles não só o domínio técnico como também, especialmente, a beleza dos pontos e os resultados em motivos fantasias e alegóricos que despertavam a experiência estética em si. Havia inclusive espécies de patentes dos pontos e que não podiam ser desenvolvidos fora do seu lugar de origem. As rendas tornaram-se tão cobiçadas e caras que eram consideradas formas de patrimônio financeiro. Algumas nações ganharam muito dinheiro exportando seus respectivos “pontos no ar”.

 

João Braga
Sobre a renda

 

Leia o texto na íntegra


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