Editorial
por Daniel Douek
Todo objeto, de artesanato ou de design, nasce de um sonho imaginado. Cabeça e mãos do artífice põe-se à obra para materializá-lo, em confabulação com os atributos do barro, os contornos naturais da tora de madeira ou os limites do tear. Uma vez corporificados, transcendem o sonhador: encantam, cativam, seduzem e fascinam até os mais desavisados.
De um sonho imaginado surgiu também o lugar em que hoje se encontram tantos sonhos que foram imaginados nos quatro cantos do país: de São Paulo (SP) a Serrita (PE); de Morros da Mariana (PI) a Cerro Azul (PR), de Pelotas, Jaguarão e Pedras Altas (RS) a Ilha do Ferro (AL), de Mumbuca (TO) a Nova Olinda (CE).
Na edição especial de aniversário, em comemoração aos dezoito anos da inauguração do museu A CASA, a newsletter rememora esse percurso, verbalizado pela sonhadora que imaginou tudo isso.
Acontece
no
museu A CASA
Pedroso de Morais, 1216
RENDA-SE

Exposição reúne looks desenvolvidos a partir do encontro entre estilistas e marcas da moda - como Amapô, André Lima, Huis Clos e Walter Rodrigues - e comunidades rendeiras dos estados do Ceará, Paraíba, Piauí, Santa Catarina e Sergipe. O projeto é uma realização de A CASA e conta com a curadoria de Dudu Bertholini. De terça a domingo, das 11h às 19h. Até 28/06. Saiba mais.
Design da Mata no museu A CASA

Em edição especial de Dia das Mães, o bazar acontece pela primeira vez no museu A CASA e reúne produtos sustentáveis fabricados por mais de 200 artesãos de comunidades de diversas regiões do Brasil. De quinta a sábado, das 11h às 19h. Domingo das 11h às 17h. De 07 a 10/05. Saiba mais.
Pedroso de Morais, 1234
A CASA - Anexo
Girando o Acervo IV

A CASA apresenta uma nova seleção de peças de seu acervo. A bolsa Lagoa dos Patos da Colônia de Pescadores São Pedro Z-3 e a echarpe Memória da Paraíba de Renato Imbroisi e do Clube de Mães de Camalaú são alguns dos destaques da mostra. De segunda a sexta, das 10h às 19h. A CASA – Anexo. Até 29/05. Saiba mais.
www.acasa.org.br
Projeto RENDA-SE

Vídeo apresenta o resultado do projeto desenvolvido pelo museu A CASA com a participação de designers de moda e comunidades rendeiras de vários estados no Brasil. Veja aqui.
Museu A CASA nas redes sociais

Apoio

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Entrevista - Renata Mellão
"Nos últimos anos, o artesanato tem conquistado novos patamares"
Renata Mellão é diretora de A CASA museu do objeto brasileiro.

Como surgiu o museu A CASA?
Sempre tive vontade de desenvolver algum projeto que falasse sobre o Brasil. Mas em inúmeros casos me perguntava como a realização dessa iniciativa seria possível. Foi nesse momento de questionamento que conheci Benjamim Taubkin. Ele é músico e também estava interessado em realizar um projeto semelhante. Baseados nessa ideia, fundamos o Centro Cultural A CASA, em maio de 1997. A localização inicial era no bairro dos Jardins, numa casa projetada pelo arquiteto Eduardo Longo. Logo após a inauguração começamos a ter uma programação intensa e variada, que envolvia apresentações de música, palestras, teatro, mostras de cinema e gastronomia. E grande parte dessas atividades eram realizadas dentro de uma piscina vazia. Após três anos, aproximadamente, começamos a receber um público cada vez maior. Com isso, a vizinhança começou a reclamar, dado que o centro cultural estava localizado numa área residencial. Assim, a Prefeitura nos notificou e tivemos que encerrar a oferta de atividades ao público. Dado a situação, eu e Silvia Sasaoka pensamos em elaborar um museu virtual. Essa foi a forma que encontramos naquele momento para continuarmos com o nosso trabalho. Ao todo ficamos durante dez anos na casa dos Jardins, desenvolvendo e ampliando o museu virtual, sobretudo. Depois desses dez anos nos mudamos para a Rua Cunha Gago, onde pudemos reabrir as nossas atividades ao público. Era um salão, e lá ficamos muito bem instalados durante seis anos, aproximadamente. Contudo, após um determinado período, o espaço foi vendido para que um edifício fosse construído no local. Foi nesse momento que apareceu o terreno da Pedroso de Morais. Assim, com o objetivo de continuar e ampliar o trabalho do museu A CASA, realizamos a construção da nossa própria sede. E para dar início a este processo, encomendamos um projeto ao arquiteto Luiz Fernando Rocco e colocamos a mão na massa. Inauguramos a nova sede do museu em outubro de 2014.
A CASA possui o objetivo de contribuir para o reconhecimento, valorização e desenvolvimento do artesanato e do design no Brasil. Como esse objetivo pode ser alcançado?
Na minha opinião, a promoção do artesanato pode ocorrer em várias direções. A primeira delas é o estabelecimento direto de um contato com uma associação ou comunidade produtora para verificar quais são as dificuldades do grupo e como podemos auxiliar na superação desses entraves. Por intermédio desse contato podemos ajudar no desenvolvimento de novos produtos, por exemplo. A técnica já é algo próprio do artesão e isso nós não devemos modificar, mas de maneira respeitosa podemos desenvolver soluções criativas ligadas à questão do produto em si. Outro caminho possível é construir um espaço para exibir as peças artesanais e fazer com que elas adquiram outro nível, outro status. Isso é o que conseguimos fazer agora com a nova sede do museu: valorizamos o artesanato ao vinculá-lo a uma boa iluminação, a uma boa montagem expositiva e ao divulgá-lo numa localização privilegiada. Todos esses fatores ajudam a agregar valor às peças artesanais. E, também, um terceiro caminho para promover o artesanato é a venda dos produtos. Isso é importantíssimo. Somente através da comercialização e da geração de renda as comunidades de artesãos podem continuar o processo de elaboração e confecção de produtos. Assim, para mantermos a tradição artesanal brasileira, a venda dos produtos é algo que precisa estar sempre na nossa mira.
Atualmente, muitas instituições e profissionais que trabalham com comunidades de artesãos têm encontrado dificuldades na venda dos produtos. O que ocorre? Por que é tão difícil comercializá-los?
Se pensarmos de forma ampla, realmente percebemos que a comercialização do artesanato, em inúmeros casos, torna-se muito difícil. E isso ocorre devido à insuficiência ou a incapacidade das políticas públicas de resolverem os principais problemas dos artesãos. Mas sobre a questão da venda, na minha opinião, nós podemos trabalhar de forma a ampliá-la. Nesse sentido, um fator essencial para se pensar é onde o produto artesanal está sendo comercializado. Precisamos mostrar um produto feito à mão que tenha condições de ser vendido na cidade, onde usualmente a maioria das vendas ocorre. É dentro desse contexto que o trabalho de um designer, por exemplo, torna-se essencial para ampliar o escoamento da produção. Ao pensar junto com os artesãos formas de adequar e difundir o produto artesanal, o designer realiza um papel importantíssimo na promoção e no desenvolvimento de associações e comunidades produtoras. Além desses pontos, acredito que no momento atual o público, em geral, está valorizando mais o bom artesanato. Antigamente as pessoas só olhavam para a produção que ocorria fora do Brasil ou para o design de última geração. Mas recentemente, e aos poucos, estas visões estão se alterando. O público, cada vez mais, está valorizando o objeto artesanal brasileiro. Com isso, nos últimos anos, o artesanato tem conquistado novos patamares.
Leia entrevista na íntegra
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Matéria do Mês
Guiados pela mão
por Maria Helena Estrada
O Salão do Móvel de Milão é o mais importante palco da grande indústria. Mas, é preciso ressaltar que, sem a força, a maestria e a beleza proporcionada pelo artesanato, seu brilho não alcançaria a dimensão e o prestígio atuais. Assim, propomos uma pequena volta ao mundo, guiada por mãos habilidosas que tecem poesia ou, algumas vezes, ironia e humor.
O conceito de artesanato, hoje alargado, não se refere mais, ou apenas, aos trabalhos manuais realizados por pequenas comunidades – em todo o mundo. Muitos artesãos se dedicam aos protótipos ou, na outra ponta, aos acabamentos. E, cada vez mais, há a aproximação entre artesanato e indústria, criando produtos belamente elaborados e finalizados.
Destacamos este ano, no Salão do Móvel, quatro culturas ou expressões diversas, vindas do Japão, da Coreia, da Dinamarca, com a mostra coletiva organizada pela Mindcraft e, claro, ótimos exemplos brasileiros.
Qual foi, considerada pela grande maioria, a mais bela mostra de 2015? A da empresa japonesa Nendo, com móveis em bambu natural, trabalhado de forma única e com detalhes em tingimento preto. Trançados manualmente nas Filipinas, obedecem a rigoroso geometrismo em suas doces formas. A estrutura é de carvalho maciço e os acabamentos em gesso formado por areia vulcânica!
Para continuarmos no Oriente podemos falar do tradicional artesanato coreano e sua expressão contemporânea, utilizando matérias que vão da porcelana e terracota ao metal, ao bambu, à laca e ao papel originário da amoreira. A mostra “Constancy and Change in Korean Traditional Craft”, realizada na Trienal de Milão, traz em seu catálogo um texto da crítica de arte Bepe Finesse, que nos fala do reconhecimento do próprio passado para encontrar a expressão contemporânea. É o que vemos nesta exposição.
O artesanato da Dinamarca esteve presente na MindCraft que, no cenário espetacular de um antigo claustro recebeu o prêmio de melhor exposição do ano. Destacamos o trabalho de Louise Campbell em papel desenhado utilizando canetas com ponta de feltro que, em suas linhas onduladas, expandem ou contraem o suporte. Surpreendente ao olhar, geram vários resultados, baseados na variação dos espaçamentos. Outro destaque é o Terroir, de Edvard e Steenfatt, que utiliza um novo material, resistente, formado por algas marinhas e papel. Tem o toque da cortiça e a leveza do papel. Sua cor é determinada pelas diversas tonalidades das algas e o composto pode ser também utilizado para a confecção de móveis.
E o Brasil pediu passagem com duas mostras de grande sucesso e a certeza de que, com mais algumas gramas de esforço e capricho, outras de competência, uns quilinhos de senso crítico e muito brasileirismo ampliado e traduzido para o internacional, a “taça” também será nossa. Vamos aos fatos com duas mostras: RIO + DESIGN e MADE A MILANO, uma carioca, outra paulista.
A exposição organizada pelo Rio de Janeiro, com curadoria de Guto Indio da Costa, teve como ponto alto o espetáculo da medição exata da estátua do Cristo Redentor, com o uso de drones e da tecnologia 3D. Trabalho coordenado pela equipe da PUC Rio. Mostrou também um exemplo de aproximação entre o artesanato e a indústria, com as luminárias Ouriço, de Angela Carvalho.
MADE A MILANO, com curadoria de Waldick Jatobá, teve como objetivo mostrar o design jovem, próximo à arte e às pequenas séries. Enfatizando a vertente artesanal e a aproximação artesanato/indústria, destacamos a coleção de bancos indígenas e os designers Domingos Tótora, Carol Gay, Ricardo Graham Ferreira, Sergio Matos e a Outra Oficina. A mostra anunciava uma nova estética, de sabor brasileiro e linguagem abrangente, capaz de sensibilizar culturas distantes.
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A CASA indica
What design can do?

Com o objetivo de apresentar o design como uma ferramenta capaz de lidar com os desafios críticos que a sociedade enfrenta na atualidade, o What Design Can Do, através da realização de encontros entre designers, formadores de opinião, decisores políticos e cientistas que atuam em diferentes países do mundo, estabelece o design como um catalisador de mudanças e de renovação social. Em sua quinta edição, o evento terá a participação de Alex Atala e dos Irmãos Campana. Dias 21 e 22/05. Stadsschouwburg Amsterdam. Leidseplein, 26. Amsterdam, Holanda. Saiba mais.
Como montar uma loja de artesanato

Produzido pelo Sebrae, o manual reúne informações importantes para o empreendedor que tem intenção de abrir uma loja de artesanato. Ao caracterizar a produção artesanal como uma das principais atividades econômicas de vários municípios brasileiros, o documento procura desmistificar e dar uma visão geral de como um negócio se posiciona neste setor, abordando questões relacionadas ao mercado, localização, estrutura, custos e organização do processo produtivo. Veja aqui.
Prato Feito: Cozinhando com as Cores

O livro de Lucia Eid, designer de cerâmicas focada na coordenação de cores entre a comida e a louça, compartilha com o leitor cerca de 30 receitas de família e apresenta modos de harmonizar as cores da comida com a cor de fundo que o prato de cerâmica proporciona ao todo. Para a autora, “não tem prazer maior do que servir uma refeição caprichada, num prato especial, sobre um fundo que valorize tanto as peças quanto o alimento”. Editora SESI-SP. 180 páginas. R$89. Saiba mais.
Tenho dito: histórias e reflexões de moda

Com autoria de João Braga, especialista em História da Indumentária, da Moda e da Arte, o livro apresenta conteúdos teóricos sobre diversos assuntos do universo da moda. Os quinze artigos que compõem esta edição foram publicados originalmente na revista dObra[s] entre 2007 e 2014. Editora Estação das Letras e Cores. 128 páginas. R$38. Lançamento dia 13 de maio, das 19h30 às 21h30. Faculdade Santa Marcelina. Rua Dr. Emilio Ribas, 89, Perdizes. São Paulo-SP.Saiba mais.
As Margens dos Mares

Com curadoria de Agnaldo Farias, a mostra reúne artistas de Angola, Brasil, Moçambique e Portugal a fim de apresentar uma parcela da produção contemporânea destes países lusófonos. Os trabalhos apresentam interseções entre as artes visuais e a música, refletem sobre questões como memória, espaço e arquitetura por meio de instalações, fotografias, vídeos e objetos. De 08/05 a 02/08. De terça a sexta, das 10h às 21h30. Sábados, das 10h às 21h. Domingos e feriados, das 10h às 18h30. Sesc Pinheiros. Rua Pais Leme, 129. São Paulo-SP. Saiba mais.
Boa
leitura
Todo o processo evolutivo da cerâmica popular baiana foi baseado numa sequência cumulativa de influências. Primeiro os indígenas, pré-coloniais, desenvolveram suas técnicas e aprimoraram o processo da queima e uso de diversos tipos de materiais, depois vieram os portugueses e sua influência ibérica, que nos trouxe um enriquecimento nas formas, na variedade, na construção e na decoração das peças; e, por último, mas não menos importante, os negros, que acrescentaram um tempero lúdico, estabelecendo uma relação barro + vida, tão bem sacramentada quanto nos tempos de Adão e Eva.
Celso Almeida
A cerâmica popular baiana: suas origens e principais influências
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