Editorial
A cerâmica é destaque na 86ª edição da newsletter. Confira, em Matéria do Mês, o artigo de Luciana Beatriz Chagas sobre o curso de Bacharelado em Artes Aplicadas com Ênfase em Cerâmica da Universidade Federal de São João Del Rei, em Minas Gerais. Veja ainda, em Boa Leitura, o texto de Raiama Lima Portela sobre a Associação Cerâmica das mulheres de Itamatatiua. Além disso, o museu A CASA, no dia 12 de agosto, realizará a abertura da exposição "Cerâmicas do Brasil - Edição 2015". Reserve a data!
Em Entrevista, Roberto Lessa fala sobre a Fenearte, a maior feira do segmento na América Latina e que reúne cultura, gastronomia, moda, decoração, música e artesãos de Pernambuco, do Brasil e de mais 50 países.
E não deixe de conferir, em A CASA indica, as sugestões de Ricardo Gomes Lima de espaços que apresentam a rica produção artesanal brasileira e que são excelentes locais para se visitar durante as férias de julho.
Acontece
no
museu A CASA
Pedroso de Morais, 1216
Cerâmicas do Brasil - Edição 2015

O primeiro dia do Design Weekend marcará a realização de um debate e a inauguração da exposição "Cerâmicas do Brasil - Edição 2015". Com curadoria de Adélia Borges, serão apresentados pequenos conjuntos da produção dos povos indígenas Paiter-Suruí, de Rondônia, e Waujá/Mehinako, de Mato Grosso; as paneleiras da região de Goiabeiras, do Espírito Santo; Irineia, de Alagoas; Sara Carone, de São Paulo; Inês Antonini, de Minas Gerais; Heloísa Galvão, nascida no Espírito Santo e radicada em São Paulo; e Brunno Jahara, do Rio de Janeiro. A abertura, no dia 12 de agosto, terá debate entre alguns participantes das 18h às 19h30 e coquetel das 19h30 às 22h. Saiba mais.
Pedroso de Morais, 1234
A CASA - Anexo
Girando o Acervo IV

A CASA apresenta uma nova seleção de peças de seu acervo. A bolsa Lagoa dos Patos da Colônia de Pescadores São Pedro Z-3 e a echarpe Memória da Paraíba de Renato Imbroisi e do Clube de Mães de Camalaú são alguns dos destaques da mostra. De segunda a sexta, das 10h às 19h. A CASA – Anexo. Até 21/08. Saiba mais.
www.acasa.org.br
Palestra RENDA-SE - Depoimentos

Com participação de João Braga e de Dudu Bertholini, a palestra apresentou a trajetória histórica da renda e abordou todo o processo de desenvolvimento do Projeto RENDA-SE. Confira os depoimentos de quem participou do evento. Veja aqui.
Museu A CASA nas redes sociais

Apoio

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Entrevista - Roberto Lessa
"O artesanato faz parte da formação do povo pernambucano"
Roberto Lessa é responsável pela Secretaria Executiva de Inovações Urbanas de Recife e entre 2009 e 2012 foi coordenador-geral da Fenearte.

Como surge a Fenearte (Feira Nacional de Negócios do Artesanato)?
A Fenearte, agora em 2015, já está na sua 16ª edição. Como se trata de um evento que ocorre anualmente, esta iniciativa surgiu em 2001, portanto. E acredito que a feira, desde o seu início, nasce para reforçar uma característica muito presente aqui em nossa região, sobretudo em Pernambuco, que é do trabalho que o povo nordestino desenvolve com as artes, de uma maneira geral, e com o artesanato, especialmente. Antes da Fenearte, existia uma feira em Pernambuco que se chamava “Feira dos Municípios”, promovida espontaneamente pelos próprios artesãos e com alguma ajuda governamental. Contudo, a partir de 2001, o governo constatou a necessidade de organizar de forma mais direta este evento. E aí surge a Fenearte, que desde então passou a ser realizada no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda. No início, a feira ainda estava muito conectada com a venda do artesanato pernambucano, mas com o tempo a iniciativa foi ganhando fama e se tornou uma feira regional. Com cinco anos de existência, aproximadamente, a Fenearte já atraía outros municípios e estados da região, e desde então não parou mais de crescer. Entre a sexta e a oitava edição, passaram a vir outros estados fora do raio do Nordeste, a ponto da feira, cada vez mais, abranger de forma mais representativa o artesanato nacional. Em 2009, quando me tornei coordenador, a feira já era muito grande, mas ainda estava um pouco desorganizada. Assim, começamos um processo de qualificação geral. E por fim, percebemos que, com essa arrumação, o evento não parou mais de crescer. Tanto o público visitante e o público consumidor, quanto os próprios artesãos, quando sentiram que tudo estava sendo bem cuidado, passaram a ter mais interesse pelo evento.
A Fenearte, atualmente, é a maior feira do segmento na América Latina. Quais são fatores responsáveis por esse alcance do evento?
Realmente, nos últimos anos a feira tem tido um alcance muito grande. E foi com esse crescimento que um grande problema começou, porque passamos a ter uma demanda de expositores muito maior do que poderíamos suportar no Centro de Convenções. Acredito que isso ocorreu por vários fatores. Em primeiro lugar, pela criatividade latente do povo pernambucano, que impulsionou de maneira intensa o desenvolvimento da feira. A arte, e suas diversas manifestações, é a energia vital desta terra. O artesanato faz parte da formação do povo pernambucano. E nós também nos destacamos na música, no teatro, no cinema, nas artes plásticas e em vários outros campos da arte. A partir daí, tivemos uma demanda maior por espaços do que conseguíamos oferecer. A feira não é pequena. Trabalhamos hoje num pavilhão com quase trinta mil metros quadrados de área expositiva. São quase oitocentos estandes com gastronomia, moda e artesanato, principalmente. Além disso, o apoio oferecido pelo governo, sobretudo pela primeira dama na época, Renata Campos, nos deu respaldo político para garantir e assegurar os critérios de qualidade da feira. Com esse apoio conseguimos fazer com que o principal critério de participação no evento seja os atributos do produto, e não a indicação de terceiros. Essa seriedade e organização fez com que a feira ganhasse impulso.
Como você enxerga a relação entre design e artesanato?
Pernambuco é uma terra privilegiada em relação a esse ponto porque tivemos aqui uma pessoa que é um marco na história do país no ponto de integração entre design e artesanato, que é Janete Costa. Janete não foi somente uma arquiteta reconhecida. Ela teve uma sensibilidade rara para entender essa questão do artista popular, do artesão, e fazer esse casamento com os conceitos de design. Isso deixou uma escola para o país todo. E foi isso que procuramos manter aqui. A UFPE hoje, no Laboratório de Design, trabalha muito com comunidades e possui um papel muito importante nessa interação. E na própria feira, logo na entrada do centro de convenções, todo ano criamos o Espaço Interferência Janete Costa. É uma das filhas de Janete Costa, Roberta Borsoi, que também é arquiteta, junto com a Bete Paes, que organizam esse espaço e procuram manter o legado que a relação entre artesanato e design já trouxe não só para Pernambuco, mas para todo o país.
Leia entrevista na íntegra
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Matéria do Mês
A formação em cerâmica do curso de Artes Aplicadas da UFSJ
Luciana Beatriz Chagas
O curso de Artes Aplicadas com Ênfase em Cerâmica da UFSJ (Universidade Federal de São João Del Rei) foi criado no ano de 2007, como parte do programa federal de expansão do ensino universitário, e a primeira turma do curso ingressou em 2009. É o primeiro curso no país voltado para as Artes Aplicadas, sendo assim, não há parâmetros curriculares e pedagógicos no Brasil. O curso foi credenciado pelo MEC em 2013 com nota máxima (nota 5).
A região do Campo das Vertentes possui uma vocação histórica para o artesanato. Temos a tapeçaria de Resende Costa, o entalhe em madeira de Prados, a selaria em couro de Dores de Campos, a escultura em pedra de Coronel Xavier Chaves, a movelaria de Santa Cruz de Minas e os objetos de estanho fundido de São João Del Rei. Porém, a prática da cerâmica artesanal ainda era inexpressiva antes da chegada do curso.
Trata-se de um curso superior voltado especificamente para a cerâmica artística e artesanal, como conhecida mundialmente, “cerâmica de estúdio”. Seu projeto pedagógico foi idealizado de modo a englobar, num único curso superior, formação artística, técnica e empreendedora.
Diferentemente dos cursos de Design, feitos em sua maioria para servir à indústria, nosso egresso trabalha com todas as etapas da produção, desde a formação de repertório artístico e elaboração do conceito e do processo criativo, passando pelas técnicas específicas da cerâmica, como as técnicas de modelagem, processamento de massas cerâmicas, formulação de esmaltes, construção de fornos, técnicas de queima tradicionais e alternativas, até os aspectos da comercialização, organização da produção e gestão do empreendimento. O resultado disso é o objeto artesanal e artístico que carrega em si um alto grau de elaboração e investimento estético e técnico.
O espaço onde ocorrem as aulas é o Laboratório Escola de Cerâmica, localizado no Campus Tancredo Neves da UFSJ. É um grande ateliê de mais de 600 m² de área construída, englobando: pátio de fornos, sala de tornos, sala de massas e salas de modelagem, que proporcionam ao estudante o contato e o manuseio dos mais diversos equipamentos do processamento cerâmico.
O curso visa não apenas a cerâmica utilitária, decorativa e funcional, mas também a cerâmica contemporânea e escultórica, a obra de arte autoral. Dentro do curso, o aluno vai se aproximar da opção que mais dialoga com seu processo criativo. Mesmo porque, a equipe de professores do curso é toda composta de ceramistas, com formação superior em Artes Visuais e Arte-Educação.
O curso tem a duração de quatro anos e é oferecido no período noturno, de modo que temos muitos alunos que são artesãos já tradicionais da região, não necessariamente ceramistas, mas que buscam conosco uma formação cultural, técnica e empreendedora para aplicar em seus ateliês. Muitos já mudaram a sua produção, tornando-se ceramistas e inaugurando uma nova tradição na região.
No último ano, o aluno deve reunir todo o conteúdo apreendido ao longo dos quatro anos de curso, para elaborar um trabalho de conclusão de curso (TCC), que envolva criação, pesquisa teórica, técnica e artística, além da realização do trabalho plástico autoral em cerâmica.
O Curso de Artes Aplicadas da UFSJ atua também na comunidade, nos projetos de extensão que trabalham a arteterapia numa comunidade de recuperação de dependentes químicos e a arte-educação e capacitação profissional em uma comunidade carente na periferia da cidade, e também nas comunidades rurais de remanescentes quilombolas na cidade de Nazareno. Nossos alunos participam dessas atividades como bolsistas ou voluntários, o que abre um outro campo de trabalho para aqueles que se identificam com os aspectos sociais da cerâmica.
Estamos também organizando e catalogando um acervo de cerâmica indígena e popular, que será o “Museu do Barro”, acervo este doado à UFSJ juntamente com um casarão histórico, por um proeminente almirante da Marinha que era também colecionador de arte.
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A CASA indica
Por Ricardo Gomes Lima
Região Norte | Associação de Artesãos de Brinquedo e Artesanato de Miriti

Localizada no município de Abaetetuba (PA), a Associação de Artesãos de Brinquedo e Artesanato de Miriti é composta por mais de 100 artesãos, quase todos homens, que trabalham em oficinas nas suas próprias casas. Tradicionalmente, os brinquedos eram confeccionados para colorir as ruas da capital Belém durante a realização do Círio de Nazaré. Associação de Artesãos de Brinquedo e Artesanato de Miriti. Rua Getulio Vargas, 1056, Abaetetuba-PA. Saiba mais.
Região Nordeste | Associação Artesanal Xique Xique

O artesanato em tecelagem realizado em Pedro II (PI) destaca-se pela sua tradição na produção de redes, colchas, bolsas, jogos americanos, caminhos de mesa, toalhas, entre outras peças. Criada em 1990, a associação vem, deste então, auxiliando a organizar, agrupar e fortalecer o trabalho das tecelãs que atuam do município. Associação Artesanal Xique Xique. Rua Projetada, 35, Pedro II-PI. Saiba mais.
Região Centro Oeste | Casa do Artesão - SESC Mato Grosso

Fundada em 1975 por iniciativa de Maria Lígia Garcia, então Primeira Dama do Estado de Mato Grosso, a Casa do Artesão, localizada em prédio tombado pelo patrimônio histórico, possui salas que apresentam diversos segmentos da produção artesanal brasileira, com destaque a trabalhos realizados com fibra, madeira, cerâmica e tecido. Casa do Artesão - SESC Mato Grosso. Rua Treze de Junho, 315, Cuiabá-MT. Saiba mais.
Região Sudeste | Centro de Artesanato da Região de Januária

De origem indígena, o artesanato da região de Januária caracteriza-se pelo uso do barro, de fibras vegetais, da madeira, da flande ou folha de zinco, do couro e do algodão. Inaugurado em 2004, o centro de artesanato da região surge a partir de um grupo de gestores culturais apoiados pelo Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular/CNFCP e por parceiros locais. Centro de Artesanato da Região de Januária. Rua Visconde de Ouro Preto, 92, Januária-MG. Saiba mais.
Região Sul | Centro de Referência da Renda de Bilro de Florianópolis

O Centro de Referência da Renda de Bilro de Florianópolis, batizado de Casarão das Rendeiras, foi inaugurado em 2011 por iniciativa do Promoart (Programa de Promoção do Artesanato de Tradição Cultural), do Ministério da Cultura. Atualmente, o espaço conta com uma loja, biblioteca e centro museográfico, além de abrigar uma sala de exposição permanente que apresenta diversos tipos de renda de bilro produzidos na capital catarinense. Centro de Referência da Renda de Bilro de Florianópolis. Rua Henrique Veras do Nascimento, 50, Florianópolis-SC. Saiba mais.
Boa
leitura
Uma das principais contribuições do design para dinamizar os recursos do território e valorizar seu patrimônio cultural imaterial é reconhecer e tornar reconhecíveis valores e qualidades locais. O papel do designer nesse projeto vai muito além de projetar para o mercado e sim criar a partir da subjetividade e do contexto subjacente ao produto. Trata-se da construção de um sistema de identidade visual pautada na pesquisa etnográfica, inserindo-se no território de uma forma densa, e com um deslocamento do tradicional papel do designer, do centro para o meio da cadeia produtiva.
Raiama Lima Portela
Território e Identidade: o caso da Associação Cerâmica das mulheres de Itamatatiua.
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