A CASA - Newsletter #87 - Ano 8 | Agosto de 2015





Newsletter N°87

Agosto de 2015

 

 

Editorial

 

 

No próximo dia 12 de agosto, a partir das 18h, o museu A CASA realizará a abertura da exposição "Cerâmicas do Brasil - Edição 2015", com curadoria de Adélia Borges. Em Matéria do Mês, confira maiores detalhes sobre o projeto, que se tornará um programa fixo da instituição com edições a cada dois ou três anos.

 

Em Entrevista, Eileen Leyton Faúndez e Bárbara Velasco Hernández, ambas do Conselho Nacional da Cultura e das Artes do Chile, falam sobre as principais características do artesanato chileno e apresentam algumas políticas públicas que foram desenvolvidas pelo governo nos últimos anos.

 

 

Acontece no
museu A CASA

 

 

Pedroso de Morais, 1216

 

 

Cerâmicas do Brasil - Edição 2015

 

 

A exposição, com curadoria de Adélia Borges, junta em pé de igualdade criações de indígenas, artistas e designers populares e artistas e designers eruditos. A mostra apresenta pequenos conjuntos da produção dos povos indígenas Paiter Surui, de Rondônia, e Wauja/Mehinako, de Mato Grosso; as paneleiras da região de Goiabeiras, do Espírito Santo; Irinéia Nunes da Silva e Antônio Nunes, de Alagoas; Sara Carone, de São Paulo; Inês Antonini, de Minas Gerais; Heloísa Galvão, nascida no Espírito Santo e radicada em São Paulo; e Brunno Jahara, do Rio de Janeiro. A abertura, no dia 12 de agosto, terá debate entre alguns participantes das 18h às 19h30 e coquetel das 19h30 às 22h. Saiba mais.

 

 

Pedroso de Morais, 1234

A CASA - Anexo

 

 

Girando o Acervo IV

 

 

A CASA apresenta uma nova seleção de peças de seu acervo. A bolsa Lagoa dos Patos da Colônia de Pescadores São Pedro Z-3 e a echarpe Memória da Paraíba de Renato Imbroisi e do Clube de Mães de Camalaú são alguns dos destaques da mostra. De segunda a sexta, das 10h às 19h. A CASA – Anexo. Até 21/08. Saiba mais.

 

 

www.acasa.org.br

 

 

Palestra RENDA-SE - Vídeo

 

 

O vídeo exibe a íntegra da Palestra RENDA-SE, que ocorreu em junho de 2015 no museu A CASA. Com participação de João Braga e de Dudu Bertholini, o evento apresentou a trajetória histórica da renda e abordou todo o processo de desenvolvimento do Projeto RENDA-SE. Veja aqui.

 

 

Museu A CASA nas redes sociais

 

 

 

Apoio

 

 

 

 

Entrevista - Eileen Leyton Faúndez e Bárbara Velasco Hernandéz

 

"A diversidade geográfica do Chile se reflete em um artesanato rico e heterogêneo"

 

Eileen Leyton Faúndez é Coordenadora Nacional dos Programas “Tesouros Humanos Vivos” e “Portadores de Tradição” e Bárbara Velasco Hernández é Coordenadora da Área de Artesanato do Conselho Nacional da Cultura e das Artes do Chile.

 

Quais são as principais características do artesanato chileno? Quais são os materiais mais utilizados?
Bárbara:
A diversidade geográfica do Chile se reflete em um artesanato rico e heterogêneo. De acordo com a nossa política pública, definimos um determinado grupo de ofícios artesanais presentes no país, aqueles que correspondem às diversas expressões da produção artesanal, caracterizada por culturas e matérias primas representativas do território chileno. Cada um desses ofícios representa em si uma disciplina com diferentes significados, níveis e processos produtivos – conforme o território e a identidade de quem os executa ou transmite. Entre os ofícios ou categorias de artesanato destacam-se a tecelagem, o trabalho em madeira, cestaria, cerâmica, trabalhos em couro, ourivesaria e entalhe em pedra.

 

O “Tesouros Humanos Vivos” foi um programa criado pela UNESCO na década de 1990. Como surgiu esta iniciativa no Chile, em 2009?
Eileen:
No Chile, esse reconhecimento começou a ser feito assim que foi ratificada a Convenção da UNESCO para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, no ano de 2008. O programa entrou em vigor em 2009, tornando-se o Conselho Nacional da Cultura e das Artes o órgão estatal responsável pelo seu cumprimento. Assim, foi iniciada a construção de um modelo de implementação, baseado nas diretrizes da UNESCO e adaptado à realidade do país. Conforme esse modelo, anualmente é feita uma convocação pública para que as pessoas indiquem para o reconhecimento como Tesouro Humano Vivo aqueles cultores ou cultoras que criam, recriam e transmitem os saberes e técnicas que herdaram e que fortalecem a identidade de suas comunidades, enriquecendo a diversidade cultural presente no Chile. O reconhecimento consiste em uma certidão pública da qualidade do Tesouro Humano Vivo, além de um incentivo econômico único, para as seguintes categorias e valores: a) Para três pessoas físicas, ou cultores(as) individuais: um prêmio de $3.000.000 (três milhões de pesos - equivalente a U$4.500) para cada um dos três cultores(as); b) Para três coletivos ou comunidades: um prêmio de $7.000.000 (sete milhões de pesos - equivalente a U$10.600) para cada uma das três entidades.

 

O interesse do governo pelo artesanato é algo mais recente, ou já foram desenvolvidas outras iniciativas em períodos anteriores?
Eileen: O trabalho na esfera do artesanato foi desenvolvido por diversos governos e instituições. No ano de 2003 foi criada a Área de Artesanato, na Divisão de Cultura do Ministério de Educação, com o objetivo de se tornar referência pública para o setor de artesanato no país e trabalhar pelo seu reconhecimento, valorização e promoção. Nesse mesmo ano, com a criação de nova institucionalidade cultural, o Conselho Nacional da Cultura e das Artes tornou-se parte deste, constituindo-se no campo de ação que atualmente se foca na promoção do artesanato. Paralelamente, o artesanato tradicional é abordado a partir de uma perspectiva patrimonial pela Seção do Patrimônio Cultural Imaterial, onde eu trabalho e que, embora não seja uma área voltada exclusivamente para o artesanato, é um foco importante do trabalho pelo fato de existirem inúmeras manifestações, muito diversas e representativas de certos territórios, principalmente os rurais. As três linhas de trabalho principais são: elaboração de dossiês e de planos de salvaguarda no âmbito do Inventário Priorizado do Patrimônio Cultural Imaterial no Chile; turismo cultural; e reconhecimentos, como o “Tesouros Humanos Vivos” e “Portadores de Tradição”.

 

Leia entrevista na íntegra

 

 

Matéria do Mês

 

Cerâmicas do Brasil | Edição 2015

por Adélia Borges

 

 

A transformação do barro está presente com muita força na cultura brasileira. Vários povos indígenas têm uma requintada produção de utensílios cerâmicos; em todos os estados do país há comunidades artesanais dedicadas ao material; e nas últimas décadas cresceu a sua utilização por artistas e designers urbanos.


Cerâmicas do Brasil, em cartaz em A CASA de 12 de agosto a 18 de outubro, quer apresentar um olhar transversal sobre essa produção. Nos concentrarmos no momento atual, século 21, procurando pontuar algumas vertentes dos trabalhos que vem sendo desenvolvidos. A exposição junta em pé de igualdade criações de indígenas, artistas e designers populares e artistas e designers eruditos, universos tantas vezes vistos de maneira estanque.


Da produção indígena pinçamos os Wauja, tradicionais ceramistas do Parque Nacional do Xingu, muito conhecidos por suas panelas de vários formatos e tamanhos, algumas enormes, e com ricos grafismos. No processo recente de interação entre os vários grupos xinguanos, houve uma absorção da técnica pelos Mehinako. Na exposição apresentamos uma panela e um torrador de beiju de autoria de Iamony Mehinako e uma panela zoomorfa elaborada por Uleialu Mehinako.


As peças do povo indígena Paiter Surui, de Rondônia, não apresentam qualquer ornamento. A única preocupação é com a forma, que atende a diferentes funções. Os utensílios revelam grande primor técnico e chegam a espessuras muito finas e delicadas e a texturas lisas e suaves.


Os legados culturais indígenas muitas vezes sofrem processos de recriação e continuidade. Foi o que aconteceu com a comunidade de mulheres dedicadas à produção artesanal de panelas de barro no bairro de Goiabeiras, em Vitória, no Espírito Santo, herdeiras de tradições indígenas. O Ofício das Paneleiras de Goiabeiras integrou o primeiro registro de Patrimônio Imaterial no Brasil, em 2002. As panelas são indispensáveis no preparo e na apresentação de pratos típicos capixabas e se tornaram o principal ícone da identidade cultural do estado.


Outra comunidade artesanal representada na mostra é o povoado do Muquém, antigo quilombo localizado no município de União dos Palmares, Alagoas, onde há pelo menos cinco gerações alguns moradores se dedicam à produção de utensílios em cerâmica. Embora continuem fazendo panelas para uso próprio e para venda, Irinéia Nunes da Silva e o marido Antônio Nunes se descolaram do utilitário e passaram a fazer obras com forte valor simbólico.


Inês Antonini e Heloísa Galvão também trafegam entre o utilitário e o artístico. De Inês escolhemos a série Fragmentos, uma reinterpretação contemporânea da tradição barroca mineira. Sua produção busca uma linguagem brasileira na queima a lenha no forno Anagama, em geral associado à influência japonesa. Já Heloísa desenvolveu uma linguagem muito própria utilizando a porcelana líquida para a criação de objetos em série. As superfícies de algumas peças exibem serigrafias de imagens capturadas em fotos. Nas bordas irregulares e nas gotas escorridas, cada obra traz o registro do momento fugaz em que surgiram – não por acaso, tal como na fotografia.


Sara Carone vem da pintura, desenho e escultura. A partir dos anos 1980 elege a cerâmica como suporte, fazendo objetos que são como telas tridimensionais, sobre as quais ela desenha. Nesta mostra buscamos uma faceta nova de seu trabalho. Cacos em diversas fases de queima e sobras destinadas ao lixo do ateliê são amarrados e/ ou colados ganhando poeticamente uma nova vida.


Quem também dá vida nova a um material é o designer Brunno Jahara. Brunno empilha os vasos e pratos de terracota fabricados em série por olarias para o mercado de jardinagem e com eles compõe luminárias, fruteiras, candelabros e vasos. As peças da série Conterrâneos saem do banal para galgar o mercado recente e crescente dos colecionadores de design.


Colocar lado a lado no mesmo espaço expositivo peças tão diversas permite, a meu ver, que uma ilumine a outra, compondo um mosaico de enorme riqueza. Esta reunião também mostra como, na contemporaneidade, os limites entre artesanato, design e arte perderam a rigidez e passaram a se interpenetrar, abrindo novas possibilidades no universo criativo.

 

 

A CASA indica

 

 

Design Weekend

 

 

Com o objetivo de promover a cultura do design e suas conexões com a arquitetura, arte, decoração, urbanismo, inclusão social, negócios e inovação tecnológica, o evento reúne inúmeros eventos independentes, simultâneos e integrados por um programa oficial. O festival ocorrerá na cidade de São Paulo entre os dias 12 e 16 de agosto e contará com palestras em instituições educacionais, visitas guiadas em galerias e ateliês, exposições, instalações, intervenções artísticas e urbanas, circuitos temáticos, concursos, festas e lançamentos de produtos em lojas e showrooms. Saiba mais.

 

A CASA integra a programação do evento com as exposições Girando o Acervo IV e Cerâmicas do Brasil - Edição 2015.

 

 

Feira MADE

 

 

A MADE - Mercado, Arte e Design - é uma feira internacional de design colecionável que reúne um grupo formado por designers, arquitetos, entusiastas, colecionadores e galeristas com o intuito de apoiar a arte, o design e outras áreas convergentes. O evento tem como objetivo disseminar a educação e a cultura no setor, por intermédio de uma programação de fóruns sobre design. De 12 a 14/08, das 13h às 21h. Dia 15/08, das 12h às 21h. Dia 18/08, das 12h às 20h. Jockey Club de São Paulo. Av. Lineu de Paula Machado, 1173. São Paulo-SP. Saiba mais.

 

Nesta edição, o museu A CASA será um dos participantes do evento, apresentando três vestidos da coleção RENDA-SE.

 

 

Paralela Gift

 

 

Em sua vigésima oitava edição, a feira Paralela Gift apresenta um painel de diversos produtos nas áreas de design autoral, artesanato contemporâneo e alta decoração. Destinada a lojistas, a feira reúne as últimas coleções de designers e artesãos de todo o país. De 12 a 15/08, das 10h às 19h. Fundação Bienal de São Paulo. Parque Ibirapuera. Av. Pedro Álvares Cabral, s/n. São Paulo-SP. Saiba mais.

 

 

Craft Design

 

 

Visando ser uma ponte entre o designer e o mercado, a Craft Design é uma feira de negócios que apresenta tendências na área de decoração, mobiliário, artes plásticas, joalheria e artesanato contemporâneo. O evento é exclusivamente direcionado a lojistas, indústrias, arquitetos, decoradores e outros profissionais do setor. De 13 a 15/08, das 10h às 20h. Dia 16/08, das 10h às 19h. Centro de Convenções Frei Caneca. Rua Frei Caneca, 569. 5º andar. São Paulo-SP. Saiba mais.

 

 

29º Prêmio Design MCB

 

 

Estão abertas as inscrições para o 29º Prêmio Design do Museu da Casa Brasileira, realizado desde 1986. A premiação recebe criações em categorias que abrangem o design de produto e a produção escrita na área de design, visando desafiar profissionais, estudantes, estúdios e empresas de todo o Brasil. Inscrições até 19/08. Saiba mais.

 


Boa leitura

 

 

Se o turismo é um produto da modernidade, e esta produz homogeneização, instabilidade e inautenticidade, o artesanato que hoje é produzido também é um produto da modernidade, mas materializa o oposto. A concepção de quilombo em Alcântara não está referenciada em um discurso sobre o passado, mas a uma contingência do presente. Isso não quer dizer que aquele lugar não tenha sido ocupado por quilombos, mas que o imaginário contemporâneo dessas comunidades sobre o quilombo talvez não esteja ancorado somente em referências da memória e do passado, mas também no atual momento que vivem. Quando as artesãs de Itamatatiua falam do artesanato do quilombo e valorizam a produção da boneca tradicional do quilombo, estão construindo no presente uma ponte com o passado e abrindo portas para o futuro.

 

Raquel Noronha
Era uma vez no quilombo - Narrativas sobre turismo, autenticidade e tradição entre artesãs de Alcântara (MA)

 

Leia o texto na íntegra


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