Editorial
A CASA está de portas abertas ao mundo! Desde a sua fundação, em 1997, a instituição sempre buscou meios de compreender a dinâmica da produção artesanal em outras regiões do planeta. Projetos envolvendo países como Dinamarca, Argentina, Chile, Colômbia, França e Moçambique estiveram presentes durante a trajetória de 18 anos do museu. Nesse sentido, dando continuidade ao ideal de constantemente ampliar as suas fronteiras, A CASA apresenta novas ações que buscam contribuir positivamente para o intercâmbio e a troca cultural no setor do artesanato. Confira em Matéria do Mês.
Já em A CASA indica, confira algumas sugestões de museus, publicações e iniciativas no exterior que trabalham para o fomento e a valorização do objeto artesanal.
Acontece
no
museu A CASA
Pedroso de Morais, 1216
Cerâmicas do Brasil - Edição 2015

A exposição, com curadoria de Adélia Borges, junta em pé de igualdade criações de indígenas, artistas e designers populares e artistas e designers eruditos. Últimos dias. Visitação de terça a domingo, das 11h às 19h. Até 18/10. Saiba mais.
Palestra - Cerâmica Brasileira

Com a participação de Lalada Dalglish, o objetivo do evento é apresentar um panorama sobre a produção de cerâmica no Brasil, situando-a no contexto latino americano. A palestra ainda contará com a participação especial de Uraan Anderson Surui, que falará sobre a importância da educação e do respeito à cultura e às tradições indígenas. Dia 14/10, quarta-feira, das 19h às 21h. Saiba mais.
Pedroso de Morais, 1234
A CASA - Anexo
Girando o Acervo IV

A CASA apresenta uma nova seleção de peças de seu acervo. A bolsa Lagoa dos Patos da Colônia de Pescadores São Pedro Z-3 e a echarpe Memória da Paraíba de Renato Imbroisi e do Clube de Mães de Camalaú são alguns dos destaques da mostra. De segunda a sexta, das 10h às 19h. A CASA – Anexo. Até 23/10. Saiba mais.
www.acasa.org.br
A CASA e o mundo - Textos

A CASA o o mundo é um espaço virtual que, gradualmente, reunirá informações sobre a produção artesanal desenvolvida em outros países do mundo. Para inaugurar esta nova ferramenta do site, A CASA disponibiliza textos e documentos produzidos por especialistas e instituições governamentais e internacionais que trabalham para o fomento e a valorização do setor artesanal em diferentes regiões geográficas do planeta. Confira.
Museu A CASA nas redes sociais

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Entrevista - Lalada Dalglish
"A preservação dos saberes tradicionais só se perdura com publicações"
Lalada Dalglish é professora no Instituto de Artes da UNESP e realiza estudos sobre a produção de cerâmica no Brasil e em diversos países do mundo.

Atualmente você desenvolve a sua pesquisa de pós-doutorado em artes pela Universidade de Lisboa, em Portugal, investigando alguns vestígios e memórias lusas aplicadas na arte brasileira. Quais foram as principais relações já encontradas entre as cerâmicas portuguesa e brasileira? Para minha surpresa, para conseguir descobrir maiores informações sobre a cerâmica de Portugal, tive que descer para o Marrocos, no norte da África. Foi a partir dali que surgiu um ciclo que percorreu a Espanha, Portugal e depois chegou ao Brasil. Todos os alguidares que existem na Bahia, que são geralmente utilizados nos rituais da umbanda, da macumba e nas oferendas que se colocam em cruzamentos de ruas, vieram do norte da África – passou via Portugal e veio para o Brasil. Mas o meu interesse principal era mais na cerâmica popular. E foi aí que eu fiquei mais surpresa: muito do que eu descobri das figurações das cerâmicas de Barcelos e de Estremoz, que são bem coloridas, tiveram origem com as Figureiras de Taubaté, em São Paulo. Toda aquela tradição das flores e dos presépios de Natal foram levadas por portugueses que estiveram no Brasil e depois retornaram. Num primeiro momento pensei que fosse o inverso, que essa tradição tivesse vindo de Portugal para o Brasil, mas durante as investigações percebi que o intercâmbio ocorreu do Brasil para Portugal. Nesse sentido, imagino que o mais importante para vermos nessa pesquisa é que o norte da África possui uma influência extremamente forte sobre a cerâmica portuguesa. E que existe sim uma ida do Brasil para Portugal que misturou alguns dos elementos da tradição ceramista portuguesa com o vigor das cores e com a questão da floresta, que para eles é um enigma muito grande. Dessa forma, esse tropicalismo das nossas peças acabou indo para lá, onde eles exageraram no uso das flores e na representação do amor, mas com trabalhos muito conectados com a cultura portuguesa. Espero ter uma publicação mostrando aspectos desse vai e volta da arte. Afinal, na minha opinião, a preservação dos saberes tradicionais só se perdura com publicações. Então, enquanto acadêmicos, esta é a nossa responsabilidade: preservar memórias.
Em sua segunda tese de doutorado, desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Integração da América Latina da Universidade de São Paulo (PROLAM/USP), você analisou, especificamente, aspectos da produção em cerâmica no Brasil e no Paraguai. Quais foram as principais semelhanças e diferenças encontradas no trabalho com o barro nesses dois países?
O PROLAM, que é um programa de estudos sobre a América Latina, exige que se faça uma comparação entre dois países latino americanos. Alguns países, como Peru e México, já eram muito conhecidos, então resolvi escolher o Paraguai, que é um país fascinante quanto à produção e preservação da sua cerâmica através do Museu do Barro, em Assunção. Este é um dos museus mais bonitos e mais organizados que eu já vi, e que tem uma função extrema de preservar os saberes cerâmicos do país porque as novas ceramistas vão ao museu para observar as peças que seus avós e bisavós faziam, com o intuito de resgatar essas memorias. No Brasil concentrei minha análise no Vale do Jequitinhonha. Assim, entre a produção brasileira e paraguaia, pude constatar que as duas cerâmicas são feitas por mulheres e que normalmente elas não têm marido. Os temas trabalhados na cerâmica também são os mesmos nos dois grupos: a mulher, o filho, o casamento - que é o objeto de desejo das mulheres, ou os animais que circundam o ambiente. E são comunidades onde a mulher vive ao redor do fogo. Isso é muito interessante. Elas nunca saem ou vão a outro lugar porque estão a todo tempo produzindo, buscando o barro, triturando-o e confeccionando as suas peças. Em relação às diferenças, no Vale do Jequitinhonha nota-se que elas trabalham a figura humana em oxidação; entra bastante oxigênio dentro do forno para expulsar o gás carbônico. As peças são puras e limpinhas, sem manchas pretas. Já no Paraguai o objetivo é a carbonização, tanto que elas chamam as peças de fumigado. A beleza da peça vem do negro. Quanto mais negra, mais belo. Se restar uma manchinha do barro, elas voltam e carbonizam aquele local. A estética da obra também é diferente entre as duas comunidades. No Vale do Jequitinhonha as artesãs sempre miram a proporção ideal do rosto, o olho azul, a pele branquinha e os vestidos de florzinhas com babadinhos. As bonecas estão sempre vestidas, como diz a Dona Isabel, em “roupa de domingo”. Já no Paraguai, as bonecas são nuas, negras, com o pé no chão e órgãos genitais mostrando. E também são imensas, com aproximadamente um metro e meio. É uma escultura bem tradicional da América Central, da Mesoamérica e dos Maias. E elas fazem isso sem nunca ter lido um livro.
Leia a entrevista na íntegra
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Matéria do Mês
A CASA e o mundo: internacionalizando saberes e fazeres
por Angelo Miguel e Ivan Vieira
Em todo o mundo, o objeto artesanal resguarda uma íntima relação com o ambiente onde ele surge e onde a sua produção efetivamente ocorre. Entretanto, a apreciação deste produto não está restrita àquele local. O encurtamento das distâncias geográficas promovido pelo crescente aumento no fluxo de produtos, pessoas, conhecimentos e saberes possibilitou que o artesanato chegasse a diversos locais do planeta.
Compreendendo esse “ir mais longe” como um fator de extrema importância para suas atividades, A CASA museu do objeto brasileiro, desde a sua fundação, sempre buscou meios de compreender a dinâmica da produção artesanal em outras regiões do globo terrestre. Por meio de workshops, publicações, seminários, exposições e outros projetos, A CASA buscou contribuir positivamente neste debate, que tem o intercâmbio cultural como um dos seus principais objetivos.
Uma das iniciativas que mais atraiu olhares foi o projeto A Chita na Moda, sob curadoria do estilista Dudu Bertholini, que recontou a história deste tecido surgido na Índia, mas que ganhou novos contornos em solo brasileiro. Passado, presente, trabalho, castigo, festa, criação, arte, infância e malícia se combinam nas cores e misturas descontroladas das estampas, que vestiram escravos, camponeses, tropicalistas, personagens de literatura, teatro, novela e cinema. Onze estilistas brasileiros deram suas diferentes interpretações ao tecido. O resultado disso chegou em 2005 às tradicionais Galerias Lafayette, em Paris, na França.
Já em 2009, a Exposição Brasil na África Artesanato Moçambicano + Design Brasileiro, com curadoria do designer Renato Imbroisi, trouxe a São Paulo peças feitas à mão em Moçambique, por artesãos daquele país, criadas e desenvolvidas a partir de oficinas de artesanato orientadas por designers brasileiros.
Mais tarde, em 2013, os argentinos Alejandro Sarmiento e Lujan Cambarieri foram responsáveis pela Exposição Satorilab: A Infância em Jogo, cujo objetivo era trazer brinquedos produzidos a partir de materiais reciclados. O projeto Satorilab desenvolve laboratórios de design experimental com materiais recicláveis. Seus pilares são o pensamento e a experimentação. Para isso, sempre se valem de um tema diferente. O projeto propõe dar início a um processo de conscientização sobre o consumo desenfreado, o meio ambiente, problemas sociais e questões para as quais o design pode oferecer respostas.
No ano seguinte, A CASA serviu de palco para reflexões sobre o design como uma ferramenta de mudança social. Para tanto, a jornalista Adélia Borges mediou a palestra do grupo dinarmarquês FairTrade Designers. Fundado em 2007, suas três criadoras trabalham separadamente com a temática do design. A palestra foi sobre o trabalho da instituição na abordagem do design thinking e do artesanato em projetos interculturais e interdisciplinares em todo o mundo. “O FairTrade Designers faz perguntas para gerar ideias poderosas, desenvolver cenários e convertê-los num objetivo estratégico ou num objeto físico, baseado numa crença fundamental de que tudo pode ser feito e realizado de forma sustentável”, afirma Adélia.
Em 2015, no âmbito da abertura da exposição Cerâmicas do Brasil, A CASA reafirmou novamente seu compromisso em promover o intercâmbio e a troca cultural entre sociedades geograficamente distantes ao realizar um debate sobre a produção de cerâmica no cenário contemporâneo. O evento contou com a participação da curadora da mostra, Adélia Borges, da ceramista indígena Katiane Suruí e do designer dinamarquês Ole Jensen, que veio especialmente para a palestra, por meio da Danish Agency for Culture do governo da Dinamarca.
Desse modo, seguindo a sua missão de promover a valorização e o fortalecimento do artesanato, A CASA, em agosto de 2015, tornou-se o representante brasileiro e do Mercosul na Rede Internacional de Consultoria para o Desenvolvimento do Artesanato (RIDA). A rede conta com participantes dos cinco continentes que desenvolvem ações relevantes para a comercialização do produto artesanal, a coleta de dados e a inserção destes produtos no mercado, visando a produção sustentável e, principalmente, a valorização das técnicas e conhecimentos dos artesãos.
Além disso, dando continuidade ao ideal de constantemente ampliar as suas fronteiras, o museu A CASA, a partir deste mês, anuncia aos usuários do museu virtual a criação de duas novas ferramentas: o desenvolvimento da iniciativa A CASA e o mundo e a disponibilização parcial do conteúdo do website da instituição em inglês.
O projeto A CASA e o mundo tem como objetivo central apresentar para o público brasileiro elementos e características da produção artesanal desenvolvida em outros países do globo, através da disponibilização gradual e contínua de textos, vídeos e imagens de projetos, museus, ações e iniciativas internacionais que procuram valorizar o saber fazer e a tradição do trabalho efetuado por artesãos e comunidades.
Segundo Renata Mellão, diretora do museu A CASA, “para nós, sempre foi muito relevante o que acontece em outras instituições e a criação do A CASA e o mundo surgiu justamente para nos conectar com outros projetos e instituições. Para tanto, também é necessário que o nosso museu virtual também esteja cada vez mais acessível. Por isso, para nos comunicar, estamos empenhados em traduzir o site para o inglês a fim de garantir que mais pessoas possam acessá-lo”.
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A CASA indica
Crafted - Objects in Flux

Com curadoria de Emily Zilber, a mostra procura apresentar o atual momento de "fluxo" vivenciado pelo artesanato contemporâneo, exibindo objetos que desafiam as fronteiras cada vez mais indefinidas entre arte, artesanato e design. A exposição reúne obras de 41 artistas que estão particularmente interessados em observar como o objeto artesanal pode refletir a dinâmica da produção artística contemporânea. O Brasil está representado na mostra com peças da artista carioca Maria Nepomuceno. Até 10/01/2016. De sábado a terça, das 10h às 16h45. De quarta a sexta, das 10h às 21h45. Museum of Fine Arts. Avenue of the Arts, 465, Boston, Estados Unidos. Saiba mais.
Japanese Kōgei | Future Forward

A exposição apresenta o trabalho realizado por 12 artistas kōgei, entre consagrados e emergentes, examinando a evolução do papel desta disciplina dentro da cultura japonesa atual. Kōgei é um gênero da arte tradicional característico de algumas regiões e povos específicos no Japão. Sua expressão pode ser compreendida como uma produção artesanal associada a um trabalho artístico altamente qualificado, tanto em forma como em decoração. De 20/10/2015 a 07/02/2016. De terça a domingo, das 10h às 18h. Quintas e sextas, das 10h às 21h. Museum of Arts and Design (MAD). Columbus Circle, 2, Nova York, Estados Unidos. Saiba mais.
Centro de Artes Visuales - Museo del Barro

Localizada em Assunção, capital do Paraguai, a instituição tem como um dos seus principais objetivos resgatar, preservar, promover e difundir as diversas manifestações de arte popular, arte indígena e arte urbana do país. Com origem em 1979, atualmente o espaço reúne o Museo de Arte Indígena, o Museo del Barro e o Museo Paraguayo de Arte Contemporáneo. Visitação de quarta a sábado, das 09h às 12h e das 15h30 às 20h. Centro de Artes Visuales - Museo del Barro. Calle Grabadores del Cabichuí, 2716, Assunção, Paraguai. Saiba mais.
10th International Film Festival on Crafts

Estão abertas as inscrições para o 10º Festival Internacional de Filmes sobre Artesanato. Lançado em 1998 pelo Ateliers d'Art de France, a iniciativa busca revelar toda a riqueza do patrimônio cultural e do saber fazer associado ao artesanato. Podem se inscrever filmes de diferentes durações e que abordam o artesanato e os seus materiais, como barro, madeira, couro, fibras e vidro. Os prêmios, de acordo com as categorias, variam entre 1.000 e 3.000 euros e as inscrições podem ser realizadas até o próximo dia 30/10. Em abril de 2016 os filmes premiados serão exibidos em escolas e cinemas de Paris. Saiba mais.
Viva Basket!

Desenvolvido pelo projeto "Viva Basket", o livro conta a história da cestaria e procura situá-la como um importante elemento do patrimônio cultural imaterial da atualidade. A partir de pesquisas realizadas em países como Espanha, Dinamarca, Reino Unido, Noruega e Polônia, a obra busca compreender como a cestaria, enquanto atividade realizada por comunidades de artesãos, tem resistido ao longo dos tempos mesmo com a emergência de recipientes industriais que apresentam preços mais atrativos. Editora Stowarzyszenie Serfenta. 140 páginas. Disponível em inglês e polonês na versão digital. Veja aqui.
Boa
leitura
A arte oleira wauja corresponde à mais elaborada classe de artefatos do sistema de objetos do Alto Xingu. Seus tipos variam desde minúsculas panelinhas que cabem na palma de uma mão até enormes panelas de 115 cm de diâmetro. Quando destinadas aos rituais, as panelas são recobertas com pinturas cuidadosas e refinadas que afirmam a eficácia estética que esses objetos devem ter em tais contextos. A cerâmica wauja é suporte pedagógico durante a reclusão pubertária das meninas, de brincadeiras infantis, de tradução de imagens oníricas dos xamãs, de prestígios político e econômico, somados ao seu caráter de “objeto de luxo”, e de afirmação identitária na trama xinguana e extra-xinguana. Para os Wauja, a “panela” é um tipo de “escola” estratégica no complexo jogo das identidades “étnicas” no Xingu e no panorama do contato com a sociedade nacional. As panelas são uma metáfora da identidade Wauja. O aprendizado da modelagem ensina os Wauja a serem Wauja. Esse discurso pode ser observado em vários contextos, seja quando os Wauja oferecem exegeses míticas ou quando valorizam suas exímias habilidades como ceramistas.
Aristóteles Barcelos Neto
A Cerâmica Wauja: etnoclassificação, matérias-primas e processos técnicos
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