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RENATO IMBROISI, DESIGNER, TECELÃO E EMPREENDEDOR CARIOCA

Publicado por A CASA em 24 de Junho de 2002
Por Marina Vidigal

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Renato Imbroisi, o designer, tecelão e empreendedor carioca que desde 1985 vem transformando a história da tecelagem brasileira

  

Renato Imbroisi

Resgatar o artesanato de longínquos cantinhos brasileiros. Mesclar materiais tão diversos como algodão, linho, seda, sementes e palha de milho. Conceber suas criações pelas mãos de artesãs e trabalhadoras rurais. Buscar a identidade de mulheres tantas vezes desligadas de sua origem. Fazer desta cultura uma fonte de renda e transformar a forma de vida de pequenas comunidades. Eis as paixões de Renato Imbroisi – o designer, tecelão e empreendedor carioca que desde 1985 vem transformando a história da tecelagem brasileira.

O envolvimento com os tecidos vem de longe. Ainda criança, Renato se lembra de passar as tardes na casa da avó costureira, no bairro da Urca, no Rio de Janeiro, brincando com retalhos e restos de linhas. Ele tinha apenas 14 anos quando experimentou suas primeiras criações. “Para ganhar alguns trocados, montei meu tear de pregos, uma peça muito simples, na qual trançava tiras com fios de linho e algodão. Fazia pulseiras e cintos, vendidos na confecção de uma amiga”. Em 1991, aos 19, já casado, foi para São Paulo e, trabalhando em uma pequena confecção, adquiriu ainda mais gosto e intimidade com o ofício.

“Eu montava vitrines, cortava tecidos e fazia produções. À medida do possível, ainda participava de aulas relacionadas a tecelagem.” Entre os cursos freqüentados, fez alguns semestres na Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e viveu uma grande experiência em curso profissionalizante de tecelagem manual numa escola Waldorf. Ao término deste último, em 1985, sentia-se enfim preparado para montar o próprio ateliê.

À procura de mão-de-obra

Almofadas, cortinas, colchas e tapetes: além de produzir e vender diversas peças decorativas, Imbroisi ministrava cursos regulares nos fundos de sua loja-ateliê, a Manufacta. Até que, para melhor abastecê-la, sentiu necessidade de ir atrás de mão-de-obra.

“Comecei a ir regularmente a Minas Gerais, pesquisando a tecelagem regional. Não queria adquirir artigos prontos, mas criar novas peças que fossem executadas por tecelãs, conciliando o que eu queria do produto com o que elas tinham para oferecer.” Embrenhando-se pela zona rural, o tecelão passou por diversas regiões até chegar, em 1985, ao vilarejo de Muquém, no município de Carvalho, no sul de Minas."Fui extremamente bem recebido por duas irmãs, Eva e Noêmia, as únicas tecelãs de todo o interior mineiro que tinham um tear com 1,80 m de largura (as outras, na época, tinham peças que não passavam de um metro).

Percebi no ato que eram pessoas diferenciadas e elas vieram a se tornar peças fundamentais no meu trabalho", descreve Imbroisi.Em viagens quinzenais a Minas, Renato passou a criar novos produtos com as artesãs. Aos poucos, o núcleo inicial de duas artesãs foi crescendo até chegar a 120 pessoas envolvidas, entre tecelãs, bordadeiras, crocheteiras, costureiras etc., absorvendo até os maridos, encarregados de coletar a matéria-prima.Uma das razões do sucesso comercial do trabalho foi o fato de ele incorporar matérias-primas disponíveis na região, tirando proveito das riquezas naturais locais.

É o caso, por exemplo, das fagulhas de pinhão, dos vários tipos de sementes e da taboa e que passaram a compor as peças em conjunto com os tecidos ou com as linhas de algodão. Outra característica é fazer pequenas modificações em técnicas e procedimentos para ter uma grande inovação no resultado. Um exemplo: já era uma prática comum no Muquém aproveitar retalhos para fazer tecidos para tapetes. Imbroisi, no entanto, decidiu interferir, sugerindo o corte de peças de chita em tiras, para depois tecê-las no tear.

De Carvalho, Renato passou a trabalhar em 1987 no município vizinho de Mato Dentro, onde realizou um trabalho com cestarias de taboa e palha de milho, interferindo basicamente na forma e na cor, para fazer cestas, sacolas, caixinhas, jogos americanos, bolsas e fruteiras. Dali, em 1996 foi também em outro município mineiro, Carmo do Rio Claro, com crocheteiras. A partir das grandes peças que elas já faziam, sugeriu a criação de detalhes que decorariam peças maiores, utilizando flores de aproximadamente 4 cm, para compor cortinas, toalhas de mesa, colchas, guardanapos etc.

Brasil adentro

O êxito da intervenção de Renato Imbroisi no sul de Minas o levou a ser convidado pelo Sebrae e por algumas Secretarias de Cultura a desenvolver novos produtos em comunidades artesanais em outras regiões do país.

Desde 1996, contratado pelo Sebrae doDistrito Federal, faz workshops em algumas cidades-satélite de Brasília, com técnicas como crochê, bordado e costura, em algumas misturando o crochê com a reciclagem de peças industriais, como os lacres de latinhas de bebidas. Numa dessas comunidades, em Santa Maria, um núcleo formado para a elaboração de acabamentos de panos de prato em crochê já congrega 200 artesãs. Em 1997 mudou-se para Florianópolis para iniciar outro trabalho por conta própria, desta vez a renda-de-bilro, uma técnica portuguesa que já foi bem difundida na região. Desenvolveu toalhas de mesa, cortinas, lençóis, jogos americanos e outras peças, com temas como flores, peixes e a bandeira brasileira.

O empreendimento não teve continuidade, talvez pela falta de uma liderança local, acredita Renato. Mas dali foi até o Rio Grande do Sul, em 1997, onde trabalhou na utilização de favos de abelha em bordado e costura, para a criação de bombachas (tradicionais indumentárias gaúchas) e peças decorativas. Em 1998 teve início o trabalho como consultor do Sebrae no Mato Grosso do Sul. "Cheguei em uma região próxima ao Pantanal, onde o crochê era exatamente igual a tantos outros já vistos. As prateleiras estavam abarrotadas de matéria-prima e as peças prontas, encalhadas. Notei que as artesãs viviam todas em fazendas, cercadas de garças, tuiuius, outras aves e animais.

Então, escolhemos dez deles, a partir dos quais montamos novas peças. A resposta tanto em produtos quanto em vendas foi fantástica e hoje há cerca de 40 mulheres trabalhando nisso."Em 1998, numa breve passagem pelo Rio Grande do Norte, revitalizou o artesanato com restos de lycra costuradas em tiras, usado tradicionalmente para fazer tapetes, para seu emprego na elaboração de bandeiras do Brasil e de vários times de futebol, conseguindo ótima repercussão em vendas. Ainda em 1998, outra consultoria se deu na região do Jalapão, no Estado de Tocantins.

A matéria-prima mais importante da região é o capim dourado , fibra com um brilho especial que lembra o ouro. Com ela as artesãs passaram a fazer não só chapéus e pequenos potes, mas também bolsas, colares, pulseiras, cestos e sousplats. Outro material abundante é a palha do buriti. Com ambas, desenvolveu técnicas de cestarias.No ano de 2000, em comemoração aos 500 anos do Brasil, Renato desenvolveu um projeto chamado Terra do Pau-Brasil, com Hisako Kawakani, especialista em pigmentos vegetais.

Em Minas, Hisako ensinou às mulheres uma técnica de tingimento e pigmentação. O trabalho resultou em vários painéis de seda, posteriormente expostos. O mais novo alvo de Renato é Goiás, onde atua desde 2002. O processo de trabalho em cada um desses locais é o mesmo. Ao chegar em um novo paradeiro, seu primeiro passo é levantar a história local e identificar elementos peculiares que possam fazer parte dos novos produtos. "Às vezes, porém, chego em lugares que por si só não têm identidade. Brasília, por exemplo, reúne mulheres de todo o Brasil e, na falta de elementos comuns, acabo recorrendo a referências pessoais das próprias artesãs", conta.

A linguagem, da mesma forma, pode se colocar como um obstáculo, já que é comum os mesmos tecidos, técnicas e recursos receberem diferentes denominações em um ou outro local. A quebra de resistência diante da proposta de utilizar materiais até então vistos como restos – como a palha de milho – é outro desafio de Renato.

Muito além dos produtos

Embora o objetivo de suas consultorias seja a criação de novos produtos, Renato vai além e se preocupa em estimular a continuidade do trabalho. "Para mim não basta criar um modelo e vê-lo pronto. Preciso que as peças sejam comercializadas corretamente, gerando renda e sustento para as artesãs. Só assim me realizo."

É por isso que, sempre que possível, ele atua também na elaboração de material de divulgação apropriado e na aproximação entre artesãs e lojistas. Como fechou sua loja própria em 1994, agora ele apenas facilita o contato entre as comunidades e as lojas de decoração ou as redes de supermercado.Munido de muita paixão e intuição, muito mais do que de teorias, Renato se diz interessado sobretudo na pesquisa, no encontro de uma vocação para cada comunidade e na troca as artesãs que tem encontrado ao longo de seu percurso.

Onde Encontrar as Peças de Renato Imbroisi

- House Garden (São Paulo, SP): (11) 3649-4450, Av. Imperatriz
  Leopoldina, 86 (São Paulo, SP)
- Empório Beraldim: (11) 3032-8751, Rua Mateus Grou, 604  (São Paulo,
  SP)
- Etno Brasil: (61) 364-4180, SHIS QI 05 Bloco E, sobreloja 9/15 (Brasília,
  DF)
- Empório Design: (27) 3225-3567, Rua Des. Sampaio, 224 – Praia do
  Canto (Vitória, ES)
- Cor do Sol: (11) 3062-8272, Praça Benedito Calixto, 50 (São Paulo, SP)
- Benedixt: (11) 3064-1438, Praça Benedito Calixto, 103 (São Paulo, SP)
- Arraial Boutique: (54) 2867025, Rua Augusto Zatti, 63 (Gramado, RS)
- Projeto Terra: (11) 3021-7873 – Av. Nações Unidas, 4.777 – loja 178   
  (São Paulo, SP)
- Terra Mar: (31) 3485-2400, Avenida Dona Senhorinha, 128, loja 11
  (Belo Horizonte, MG)
- Galeria Brasileira: (11) 3085-8769, Alameda Lorena, 2.163 (São Paulo,
  SP)
- Casa Fortaleza: (11) 3049-1511, Rua Afonso Braz, 747 (São Paulo, SP)
- Presentes Rubim: (11) 3081-9219, Alameda Lorena, 1580 (São Paulo,
  SP)
- Nature Market: (11) 3082-5342, Rua Augusta, 2624 (São Paulo, SP)
- Village Resorts do Brasil: (71) 463-1580, Rodovia BA 99, km 76 Linha
  Verde (Mata de São João, Bahia)

 

Texto: Marina Vidigal


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Fonte: A CASA casa-museu do objeto brasileiro