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A CASA E O MUNDO

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OS DESIGNERS LARS DIEDERICHSEN E FABÍOLA BERGAMO CONTAM SEPARADAMENTE SUAS EXPERIÊNCIAS

Publicado por A CASA em 13 de Dezembro de 2002
Por Marina Vidigal

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 Os designers Lars Diederichsen e Fabíola Bergamo que desde 1996 têm atuado como consultores de artesanato em vários estados brasileiros, desenvolvendo também projetos de design industrial nos segmentos de móveis, luminárias e máquinas, entre outros, contam separadamente suas experiências com comunidades em vários pontos do país.

 

O Terra Design Projetos é um conhecido escritório paulistano de design industrial. Criado em 1992, é dirigido pelo casal Lars Diederichsen e Fabiola Bergamo. A par a intensa atuação no campo dos produtos destinados à produção industrial, desde meados dos anos 1990 seus titulares têm trabalhado também no campo do artesanato.

Lars Diederichsen é mexicano, descendente de dinamarqueses e alemães, e estudou design na Alemanha. Fabíola é brasileira, neta de italianos, e cursou Desenho Industrial no Mackenzie, na capital paulista. Ambos se conheceram em 1991, quando estagiavam num escritório de design em Milão, na Itália - ela, recém-saída de um curso de especialização na Domus Academy. Um ano depois, estabeleceram-se em São Paulo.

Enquanto nos projetos destinados à produção industrial os dois trabalham juntos na Terra Design, naqueles destinados à confecção artesanal atuam separadamente, como consultores convidados, em sua quase totalidade a serviço do Sebrae. Eis um resumo de sua atuação: Lars Jorge Diederichsen (Cidade do México, 14/11/1966) A incursão de Lars Diederichsen no artesanato tem início em 1996, ao ser convidado pelo Sebrae para participar do workshop Tradição e Renovação, em Brasília, que reúne designers brasileiros e estrangeiros em oficinas para artesãos do Distrito Federal.

Lars deveria cuidar da oficina de fibra e madeira. Segundo conta, o workshop possibilitou várias experiências com mistura de materiais, por conta da proximidade física com outros grupos de artesãos que participavam de outras oficinas simultaneamente. Sua maior satisfação chega alguns meses mais tarde, quando toma conhecimento do grande sucesso comercial que um dos artesãos estava experimentando em decorrência das melhorias em produtos conseguidas no workshop.

"Na última vez que o encontrei, ele tinha comprado um carro novo, estava todo feliz e orgulhoso. Provocar uma mudança efetiva na vida de alguém é muito bom, é realmente recompensador", diz. Em 1997 Lars é convidado para um workshop com 50 artesãos de cestaria com fibra de carnaúba em Natal, no Rio Grande do Norte. Ali havia previamente uma cooperativa já organizada e o workshop serve para transmitir técnicas de tingimento natural das fibras e para diversificar o tipo de objetos produzidos.

Antes concentrados basicamente em produzir cestos, passam a fazer também objetos como luminárias.O paradeiro seguinte, em 1998 e 1999, é Planaltina, no Distrito Federal. "Havia uma associação de artesãos que trabalhava com estruturas de madeira revestidas com fibra de buriti. O único problema é que a madeira era muito mal trabalhada e acabava desvalorizando os produtos", observa.

Sua interferência foi orientar os participantes em relação a técnicas para trabalhar melhor a madeira, de modo que ela valorizasse os cestos, cadeiras, bancos, criados-mudos e outros objetos que produziam. Em comunidades onde a técnica já é bem aprimorada, o designer diz que pode se concentrar na criação de novos produtos. É o que acontece em Dourados, no Mato Grosso do Sul, também em 1998.

"Como os artesãos de lá trabalhavam bem a madeira, pudemos dedicar os quinze dias de workshop para desenvolver novos produtos, como petisqueiras, fruteiras e outras peças que mesclavam madeira com fibra ou capim". Ainda em 1998, Lars inicia no Tocantins um trabalho com madeira e fibra. Foram praticamente três anos de diagnósticos e oficinas realizadas em várias comunidades do estado, com destaque para a região do Bico do Papagaio, ao norte. Um exemplo de sua intervenção foi a introdução da mistura de materiais em Itaguatins.

"Os homens trabalhavam exclusivamente com móveis de madeira e as mulheres mexiam com cestaria de fibra. Mantendo os mesmos produtos, experimentamos unir as duas técnicas". Lars ainda ensina a técnica da colagem de madeira aos artesãos, a fim de que pudessem ter um aproveitamento total de pequenos pedaços e restos que obtinham em madeireiras.

Entre as surpresas que esta oficina revela, Lars aponta o choro emocionado de um dos artesãos, ao se dar conta com orgulho do que ele e sua comunidade eram capazes de criar. Na cidade de Araguacema, no centro do Tocantins, identifica um nicho de atuação. "As pousadas de lá precisavam de móveis e costumavam comprá-los no Sudeste. Decidimos, portanto, projetar uma linha para atendê-las". Foram ao todo três consultorias – cada uma delas com cerca de duas semanas – e lá estavam armário, mesa, cadeira, criado-mudo e cama em fibra com madeira, formando uma linha própria para pousadas.

Antes das consultorias, conta, os artesãos mal davam conta de se sustentar e tinham que trabalhar também na lavoura. Ao término de toda e qualquer oficina, Lars faz questão de montar uma exposição e divulgar os resultados do trabalho para comunidade, moradores, prefeitura, lojistas. "Por mais simples que seja, a exposição muda a visão dos visitantes em relação aos artesãos e deles mesmos em relação a seu trabalho. Em Araguacema, por exemplo, a repercussão foi tão boa que o prefeito decidiu doar um terreno aos artesãos e montar um quiosque próprio para venda de seus produtos".

Na porção sul do Tocantins, na cidade de Gurupi, o artesanato em madeira estava praticamente se perdendo – o principal produto que confeccionavam eram pilões, para os quais praticamente não havia mercado. Ao chegar na comunidade, o designer procurou com os artesãos uma peculiaridade da região para inserirem em novas peças. Fizeram, então, uma linha de produtos que tinha as frutas do cerrado como temática.

Terminadas as duas semanas de workshop, os 20 artesãos que participaram levaram o trabalho adiante e hoje a comunidade tem uma associação que não apenas vende localmente, mas ainda exporta para França pequenos potes dessa linha.Em 2001, Lars desenvolve seu primeiro trabalho no estado de São Paulo, em Ubatuba. Os artesãos de uma comunidade local faziam bancos, gamelas e animais de madeira usando apenas facões, pois não tinham condições financeiras de comprar equipamentos e ferramentas. Lars diz que os objetos foram melhorados, mas não conseguiu sair de lá com todos os problemas que levantou resolvidos. "Eles retiram madeira por extrativismo e, no futuro, deverá faltar matéria-prima. Tentei colocar a comunidade em contato com pessoas que fazem extração com manejo sustentado em Iguape, no Vale do Ribeira, mas não deu certo".

Outro problema é que as famílias não apresentaram disposição para se unir e trabalhar juntas o que, no ponto de vista de Lars, prova que se a comunidade não tiver disposição para mudar, o designer, por si só, não é capaz de promover melhorias profundas.Situação oposta ele encontra no Macapá, capital do Amapá, onde passa uma semana em 2002. Já havia no local uma associação organizada, formada por mulheres que faziam trabalhos em madeira, cipó, fibra de buriti e fibra de tururi. Ali, a intervenção do designer tem a intenção de melhorar os produtos. Elas faziam, por exemplo, caixinhas de madeira com vários detalhes em machetaria e fecho de metal.

Tirando um pouco do machetado, Lars cuida de simplificar a peça; além disso, substitui o fecho de metal por prendedores feitos com sementes. Nos chapéus de tururi, o designer introduz um bordado e aplica sementes e fibra de buriti em pequenos detalhes. "Com essas mudanças, a renda dessas mulheres triplicou."Ainda em 2002, em Bela Vista (MS), o designer vê uma possibilidade de incentivar a combinação de materiais, uma constante em seu trabalho. Entre os artesãos, um trabalhava apenas com bambu, havia os que faziam bijuterias com osso de vaca, outros confeccionavam roupas de couro para e havia os que montavam móveis de madeira.

Ele misturou as técnicas e desenvolveu vários produtos, como acessórios de cozinha e peças decorativas. Um dos trabalhos que Lars considera mais significativo foi em Rondônia, em 2002, quando realiza duas oficinas em Porto Velho, duas em Ariquenes e duas em Ji-Paraná. Em seis semanas de trabalho, são criados cerca de cem novos produtos: bolsas feitas com sementes de açaí, produtos para cozinha (como bandeja de madeira, colher de pau, sousplats e descanso de travessas), objetos de decoração (como luminárias e cestos), jogos pedagógicos de madeira, etc. "Esse foi o trabalho que me trouxe maior satisfação pela possibilidade de fazê-lo de maneira bastante completa.

Conforme adquiri experiência na área, percebi que para o meu trabalho de designer gerar frutos, ele tem de ir muito além do desenvolvimento de produtos. Em Rondônia, nós trabalhamos a criatividade, discutimos cálculo de preços, criamos um selo com certificado de origem do produto, fizemos um catálogo de produtos, uma feira de negócios e duas exposições." Para ele, esse conjunto de atividades possibilita que os artesãos dêem continuidade ao trabalho de criação e elaboração de produtos, mesmo ao término das oficinas.

Eles passam a andar com as próprias pernas, a se orgulhar do que fazem e, principalmente, melhoram seu nível de vida. E conclui: "Vejo aí a grande importância do designer. Ele entra em uma comunidade, interfere no modo de trabalho, na renda, nas relações sociais e familiares. É um profissional que precisa ter muita sensibilidade, algo que só se aprende na prática".

Fabíola Duva Bergamo
(São Paulo, 19/10/1961)

Fabíola Bergamo começa a trabalhar com artesanato em 1996, ao participar de um workkshop em Campo Grande (MS). Ao todo, cinco designers coordenam simultaneamente oficinas de cerâmica, madeira, fibra, tecelagem e ferro, revezando-se em cada material. Em duas semanas, desenvolvem-se 98 produtos. Esta é a primeira de uma série de viagens que a designer faria pelo Brasil, sempre a serviço do Sebrae.Em 1998, Fabíola coordena em Brasília uma oficina de papel artesanal. A técnica para se trabalhar o papel era bem desenvolvida entre os artesãos locais e a maioria deles já fabricava material de papelaria, como blocos, envelopes, pastas, etc.

Por causa dessa experiência anterior, sua oficina pode ser bem específica, direcionada exclusivamente para a produção de luminárias, conta Fabíola, salientando a grande produtividade de atividades bem focadas. No mesmo ano, a designer volta a Brasília; desta vez para participar de uma oficina de pedra e prata (matérias-primas abundantes na região) na periferia da cidade. A atividade acontece no sítio de um coronel aposentado da região, que queria gerar uma fonte de renda local e tornar a cidade mais atraente profissionalmente para os jovens ali nascidos – "estavam todos migrando para Brasília e este coronel queria fazer algo que impedisse a dispersão familiar." Funcionários de sítios próximos, trabalhadores da zona rural, o próprio coronel, sua família e muitas pessoas gente da região participaram do curso.

Elas haviam feito anteriormente cursos de lapidação de pedras, fundição e laminação de prata. Fabíola cuidou do desfecho, promovendo uma oficina própria para trabalhar o design nesses materiais. "Sempre tento mostrar que para desenvolver uma peça, como por exemplo uma jóia, não adianta utilizar revistas de jóias como inspiração, já que isso levaria a uma derivação de algo já existente. Procuro ensinar a desenvolver peças inspiradas no que há ao redor", expõe a designer, contando que levou um livro do Niemeyer, com as principais obras e até plantas-baixas de Brasília, para os "alunos" usarem como fonte de inspiração.

Já em Três Lagoas (MS), ainda em 1998, embora chamada para dirigir uma oficina de cerâmica, ao chegar ao local depara-se com um grupo de artesãos que trabalhava com cerâmica, outro especializado em peças de madeira, outro em entalhe e ainda um de fibra. Ela não só coordena as equipes, mas promove a integração entre elas: os potes de cerâmica receberam tampas de madeira; os cestos de fibra, fundo de madeira; e os banquinhos de madeira, com assentos de fibra. Em 2000, a designer vai trabalhar numa comunidade de Rio Branco, no Acre. Havia algum tempo que os artesãos tinham tido contato com técnicas de reciclagem de papel, porém não sabiam onde aplicá-la.

Fabíola vai para lá a fim de orientá-los. No entanto, os artesãos ainda não tinham total domínio da técnica (nem os materiais necessários para levá-la adiante), a qualidade do papel era ruim e ele facilmente rasgava. "Fizemos alguns produtos de papelaria, como papel, pastas, mas o papel não agüentava. Optamos então por criar luminárias – feitas com estruturas de cipó, já que ninguém trabalhava com arame na comunidade – e por revestir peças já produzidas por ali, como molduras de quadros e espelhos."Em seu único trabalho a convite da Comunidade Solidária, em 2000 Fabíola vai a Valente, na Bahia, para oficinas com sisal.

Em elaboradas tramas, membros da comunidade faziam bolsas utilizadas para a alimentação de cavalos e para o transporte de itens para a roça. Fabíola sabia como as peças eram trabalhosas e, por conta do uso, bastante desvalorizadas. Dando nova cara e função aos itens – que se transformaram em cestos, bolsas e cintos, por exemplo – torna-os menos trabalhosos e mais rentáveis para os artesãos. A consultoria seguinte é em uma pequena vila chamada Entroncamento do Jaú, localizada no município de Peixe, em Tocantins, em 2001.

As artesãs, que trabalhavam com fibra de buriti, confeccionavam exclusivamente chapéus. A técnica era trabalhosa, demorada e gerava um retorno financeiro muito pequeno para as mulheres. A designer decide mesclar o trançado do buriti com outras técnicas com a intenção de fazer peças mais valorizadas no mercado e com melhor relação custo-benefício. Desenvolvem bolsas só de buriti, outras que misturam a fibra trabalhada com pano de saco, apoios de pirex com tampa, etc.

Criam também uma flor, que passa a ser utilizada em vários produtos, como uma marca da comunidade. Além disso, Fabíola sugere a confecção de um produto que possa ser vendido a baixo custo dentro da própria comunidade – daí surgiram paninhos de parede para pendurar talheres, muito utilizados na região.Também no Tocantins, ainda em 2001, Fabíola dá uma consultoria em Dianópolis, onde artesãos trabalham com capim dourado. Desta vez, o objetivo maior da designer foi evitar o desenvolvimento de uma linha de produtos similar ao que outras comunidades da região já vinham produzindo há um tempo, sob a liderança de outro designer, Renato Imbroisi, a fim de evitar a concorrência entre as comunidades próximas.

Encontrando um grupo de artesãos especializado em cerâmica, Fabíola sugere a mistura de materiais, e daí partem para a confecção de grandes peças de cerâmica – como cestos, sousplats etc. –, com detalhes e acabamento em capim-dourado. Em 2001, Fabíola realiza em Miracatu, na região do Vale do Ribeira, a primeira de uma série de consultorias que faria no estado de São Paulo. Na região, há muitas plantações de bananeira e, da mesma forma, o artesanato feito a partir da fibra desta planta é bastante desenvolvido.

Dentro das técnicas já empregadas na comunidade, a designer propõe novas tramas e desenhos. Sugere também a substituição do material plástico que utilizavam para fazer o urdume (a estrutura que sustenta as tranças de fibra), pela própria fibra de bananeira. Entre os objetos criados, há bolsas, cestos, sousplats, porta-pirex, cintos, cortinas, argolas para guardanapos, guirlandas, pufes, etc. Em jogos americanos e caminhos de mesa, até as varetas presentes na base da folhagem de palmáceas são aproveitadas.Já na cidade de Olímpia, também em São Paulo, a oficina trata de palha de milho. Desta vez, a grande dificuldade da comunidade é redescobrir a maneira de confeccionar objetos com estrelas decorativas, conforme fazia uma artesã já falecida.

Depois de muitas tentativas e análises, chegam à técnica inicial, que consistia em fazer as peças umas sobre as outras, de modo que as partes das estrelas tivessem o mesmo tamanho. Dominada a técnica, fazem experimentos com tingimento natural – à base de casca de cebola, chá-mate, beterraba, espinafre e açafrão – e desenvolvem diversos produtos, como bolsas, almofadas e enfeites de Natal, já que a data se aproximava. "Para mim, esta oficina foi extremamente recompensante.

Quando cheguei na comunidade, os artesãos não estavam fazendo nada, a não ser tentar e tentar fazer estrelas, sem conseguir bons resultados. Passados poucos dias, a antiga técnica já estava dominada e inúmeros produtos haviam sido criados."Outra consultoria que rendeu bons frutos acontece em 2002, em São Miguel Arcanjo (SP), junto a uma comunidade que trabalhava com sementes de rosário. O principal produto das artesãs eram galinhas decorativas e, no processo de confecção, determinadas técnicas e materiais retardavam a produção e desvalorizavam o produto. Diante desse cenário, a palavra de Fabíola foi limpeza.

"Tirei as peças plásticas – como os olhos – que elas colocavam nas galinhas; removi também o bico de madeira que era muito trabalhoso para artesãs não especializadas no trabalho com esta matéria prima." A designer sugere que praticamente a galinha toda seja feita com sementes de rosário - as sementinhas menores e mais claras são usadas no bico, na crista e no gogó, e para desenhar os olhos empregam-se sementes de olho de cabra, de coloração vermelha e preta. Com isso, o produto fica mais limpo e bem mais rápido de ser feito.

Outra interferência é o desenvolvimento de tramas quadradas, que possibilitam a confecção de novas peças, como apoios de panela e até bijuterias. Cordões de rosário envolvendo potes de vidro, garrafas e peças de cerâmica também são introduzidos, com a sugestão de Fabíola de que toda e qualquer peça artesanal que saia da região tenha ao menos um detalhe neste material, que se tornaria uma marca de São Miguel Arcanjo.Já em Cajobi (perto de Barretos), SP, em 2002, o trabalho deveria ser com capim amargoso, material que não se sustenta e, portanto, tem de ser utilizado como revestimento.

Apenas uma artesã já trabalhava com o material. Ela aplicava o capim em madeirite, com base em esquemas de ponto cruz e depois pintava. A pintura, no entanto, tirava o brilho natural da matéria-prima e rapidamente descascava. Fabíola sugere que o capim seja utilizado nas três colorações naturais disponíveis ou, no caso de colori-lo artificialmente, que isso fosse feito antes da colagem no madeirite. Uma das artesãs participantes da oficina descobre a possibilidade de tingimento do material com papel de seda, método que não tira o brilho do capim.

Além disso, Fabíola levanta na região diversas peças de madeira passíveis de serem revestidas, a fim de mostrar para a comunidade a variedade de peças que podem ser confeccionadas com o material. Fazem quadros, mesas com tampo revestido, cabides, apoios para panelas, suporte para toalhas de lavabo, quadros, etc. No mesmo ano, a designer vai para Juquiá, no Vale do Ribeira (SP), em comunidade que trabalhava com fibra de bananeira. O trabalho desta vez é padronizar e melhorar os cestos já confeccionados por eles, utilizando fôrmas; e também desenvolver novos produtos, como chapéus e bolsas. Meses depois, a padronização volta a ser o foco de Fabíola em Araraquara (SP).

Por ser um pólo produtor de laranja e cana de açúcar, eram as cascas de laranjas e fibras de cana os materiais que serviam como base para o artesanato. Os artesãos faziam caixinhas pirografadas com cascas de laranja, que na oficina recebem trabalhos de tingimento e padronização em tamanho. Com forminhas de biscuits, trabalha-se também o corte de cascas, formando folhas, flores, etc., posteriormente fixadas nas caixinhas de cascas de laranja ou em peças feitas com fibra de cana. Desta fibra, por sua vez, surgem caixas, produzidas em técnica semelhante à do papel machê.Em mais uma visita ao Tocantins, em 2002, para trabalhar com capim dourado - desta vez no povoado de Carrapato, no Jalapão - sua preocupação é, de novo, não gerar concorrência com outra comunidade próxima que trabalhava com o mesmo material. Por isso, decide fazer uma linha de produtos exclusiva da comunidade onde estava e passa a desenvolver objetos para casa, como caixas e potes.

"O sucesso e o retorno financeiro conseguidos pela comunidade de Carrapato foram incríveis. Eles não tinham água, luz, sabão, nada. Desde a consultoria, têm realizado vendas de 10 a 12 mil reais a cada 3 ou 4 meses. Muitos deles estão comprando fogões e bicicletas. A comunidade já conseguiu até um caminhão para fazer as colheitas e armazenar o capim que não dá o ano todo." Com estímulos e conquistas deste tipo, ela segue viajando pelo país e se desdobrando entre o escritório de design para empresas e as oficinas de artesanato.

Para obter informações sobre onde comprar os objetos feitos por Lars e Fabíola junto às comunidades citadas, entrar em contato com:

Sebrae São Paulo: (11) 3177-4725
Sebrae Rondônia: (62) 224-1380
Sebrae Tocantins: (63) 223-3356
site: www.sebrae.com.br

Texto: Marina Vidigal


Fonte: A CASA casa-museu do objeto brasileiro