Por R$ 468, o estilista Walter Rodrigues comprou todos os 156 recortes de renda de bilro que utilizou para fazer sua coleção. O valor‚ inferior a um vestido de porte médio produzido por sua marca, foi suficiente para animar 21 rendeiras da Associação de Artesanato de Ilha Grande, na região do Delta do Paranaíba, no Piauí. Além dos recortes, elas confeccionaram 64 metros de renda linear, a preços variados. “A gente cobrou o mesmo valor que a gente sempre pede. Não aumentamos em nada, não. Cada recorte saiu por R$ 3. A diferença é que a gente teve um comprador certo. As peças não ficaram encalhadas, como acontece com as outras coisas que a gente faz e não acha comprador”, explica Maria de Fátima dos Santos Souza, tesoureira da associação, que viajou a São Paulo para conferir o desfile de Rodrigues.
A iniciativa de aproximar moda e artesanato partiu de uma organização não-governamental (ONG) chamada A Casa. A proposta é semelhante àquela que o estilista Eduardo Ferreira tentou implementar em Pernambuco, com rendeiras do interior do Estado. Infelizmente, a de Ferreira não recebeu apoio governamental ou institucional e não foi adiante.
As artesãs do Piauí tiveram mais sorte. Depois de conferir a delicadeza do trabalho das ‘meninas’, Walter Rodrigues decidiu que gostaria de trabalhar com uma renda elástica. Então, A Casa, as linhas Círculo e a DuPont desenvolveram uma linha com Lycra. Do projeto, que aliou a beleza secular da renda nordestina com tecnologia, surgiu um trabalho singular. A renda não perdeu sua delicadeza e ainda ganhou sofisticação, ao ser modelada pelas mãos do talentoso Walter Rodrigues, que criou peças sensualíssimas com os recortes.
A parceria entre o estilista e as rendeiras terminou com o desfile do São Paulo Fashion Week, mas a DuPont e a Círculo garantem que continuarão a fornecer as linhas elásticas e coloridas para a Associação de Artesanato de Ilha Grande. O único senão do projeto é que ele pode até ter melhorado a vida das rendeiras, mas, infelizmente, não foi definitivo para mudar sua condição social. “Uma artesã que trabalha rápido, produz dois recortes por dia e ganha R$ 36 por semana, que equivale a R$ 144 num mês. A triste constatação é de que nem as mais ágeis dessas trabalhadoras receberam um salário mínimo por mês.