A CASA - Newsletter #20 - Ano 2 | Janeiro de 2010

Newsletter N°20

Janeiro de 2010

 

Editorial

 

Agora, além de divulgar seus contatos, artesãos e designers poderão publicar imagens de seus trabalhos no Guia do Objeto Brasileiro! Confira a novidade em Acontece no museu A CASA - www.acasa.org.br e aproveite. Não deixe de conferir também o texto do Boa leitura, em que Julia Brussi faz um breve retrospecto histórico da renda, apresentando seu surgimento, difusão e chegada ao Brasil. É destaque também a matéria sobre o Banho da Dorotéia, manifestação carnavalesca do litoral paulista, e a entrevista com Auresnede Pires Stephan, o professor Eddy.


 

Acontece no
museu A CASA

 

 

 

Cunha Gago, 807

 

 

 

Exposição Girando o Acervo II


 

A profusão de cores é o destaque da segunda edição da exposição Girando o Acervo, que conta com o conjunto de gamelas e tigelas de papel machê, um vestido de Chita de Reinaldo Lourenço e cestas do grupo indígena Baniwa, além de peças de design gráfico. A exposição é uma boa oportunidade para conhecer ou rever objetos frutos de projetos realizados por A CASA, como o Design Solidário, que, em 2001, promoveu o encontro entre alunos holandeses da Design Academy Eindhoven e artesãos da Associação Comunitária Monte Azul, em São Paulo-SP, e da Associação dos Artesãos do Sertão Central, em Serrita-PE. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Saiba mais.

 

www.acasa.org.br

 

 

 

Coleção Sara Carone

 

 

Integrando modelagem e pintura em formas variadas, ora arredondadas, ora quadradas ou retangulares, Sara Carone tornou-se um nome de destaque na cerâmica brasileira. A coleção traz uma seleção de peças da artista, além de uma apresentação de sua a trajetória em texto assinado por Alberto Martins. Veja aqui.

 

Inclua imagens no Guia do Objeto Brasileiro

 

 

Além dos contatos de designers e artesãos de todo o país, o Guia do Objeto Brasileiro agora abre espaço para a divulgação de imagens dos trabalhos! Cada um pode inserir até três imagens. Para isso, após o cadastro no site e no Guia, basta fazer login e clicar em "Incluir imagens", na barra personalizada, que fica à direita, em todas as páginas do site. No caso de dúvidas, entre em contato conosco!

 

 

Museu A CASA no twitter

 


 

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Apoio

 

Entrevista - Auresnede Pires Stephan (Prof. Eddy)

 

 

"Qual é a verdadeira contribuição do design em nossa sociedade?"

 


Auresnede Pires Stephan (prof. Eddy) é professor universitário e atua como consultor em projetos, curador e coordenador de prêmios e mostras de design.


Como você avalia os caminhos do design em nosso meio?
Se por um lado estamos vivendo o reinado do design, podemos constatar, no entanto, que vivemos um mundo paradoxal do lixo que estamos acumulando, do descarte que era, até alguns anos atrás, um luxo e que hoje constamos que se transformou num dos grandes problemas da humanidade. Não podemos esquecer também do avanço da tecnologia dos materiais compostos e que posteriormente passam a ser mais uma incógnita para decompô-lo química e fisicamente. Acredito que vivemos um momento histórico complexo, que vai exigir de todos, e em particular do designer, uma nova postura ao desenvolver um novo projeto. Por outro lado, vivemos bombardeados de estímulos visuais, de novos produtos lançados, que criam um grau de ansiedade por adquiri-los e, com uma morte prematura já programada, levam à frustração de um grande contingente de consumidores. E aí podemos interrogar: qual é a verdadeira função e a contribuição do design em nossa sociedade? Entendo que o design deve ser uma ferramenta que resolva problemas e necessidades humanas. No entanto, observo que grande parte dos estudantes e de alguns profissionais entendem o design como um status de sofisticação e requinte. Vivemos, assim, um impasse: afinal, desenhar o que e para quem? Precisamos de fato desenvolver novos desenhos? Quem de fato resolve os problemas do nosso cotidiano? O designer reconhecido e que assina seus projetos ou o designer anônimo que, no seu dia a dia, "desenha e constrói seu carrinho de pipoca"?

 

O design acompanha a mudança dos valores sociais? Em que medida ele é reflexo desses valores e em que medida ele ajuda a formá-los?

Ele reflete e ele propõe, o tempo todo. Ele incita, ele é uma mola propulsora, ele avança, ele vem com a novidade, mas ao mesmo tempo ele também absorve o que está dentro da sociedade. O design propõe, questiona, soma, agrega, o tempo todo, é um processo contínuo. Nós, profissionais, precisamos estar muito atentos, como se fossemos antenas captando tudo o que está acontecendo. No fundo, eu diria assim: é uma capacidade de ser jogador. Você joga o tempo todo. As peças estão aí: tem um público aqui, tem uma empresa lá, tem a tecnologia, as disponibilidades, os interesses. Eu caminho por tudo isso. E aí eu tenho que saber jogar. E tenho que entender, principalmente, quais são as regras desse jogo. Grande parte das vezes, a posição do designer é a de quebrar as regras. A hora que ele quebra a regra e propõe algo que não está lá, ele também está jogando. Eu tenho as regras, eu entendo as regras e eu vou subvertê-las. Na hora que subverte as regras, eu tenho o design. Todas as pessoas vão pelo mesmo caminho e eu falo assim: "não, eu vou fazer o contrário". Aí você cria a surpresa. No fundo, eu acho que o bom desenho, o bom design, é aquele em que você quebra regras, incita, cria dúvidas, questionamentos, antecipa alguma coisa que alguém nem havia pensado. Esse é o grande jogo.

É possível falar em um "design brasileiro"?
Neste momento você entra no contexto da identidade e o Brasil, na verdade, está em busca dessa identidade. Para isso, inevitavelmente, precisamos recorrer à história desse país-continente e sua complexa miscigenação de portugueses, índios, negros, holandeses, italianos, espanhóis, alemães, japoneses, entre outros. Além disso, a influência norte-americana no pós guerra, que nos legou, a partir do final da década de 40, toda uma cultura material. Na verdade, somos um grande caldo, com ingredientes desde o descobrimento e outros que foram e estão sendo agregados no decorrer dos séculos. Permanecemos, durante muitos séculos, isolados frente às limitações impostas por Portugal, que impedia a colônia de produzir qualquer coisa industrialmente. Passados os anos, através de políticas desenvolvimentistas, abriu-se o capital para que grandes multinacionais aqui se instalassem, ou seja, não caminhamos, fomos obrigados a marchar e correr para não perdermos o bonde da história. A partir das últimas décadas, podemos visualizar o esforço de empresários e empreendedores que, atentos, já começam a investir e qualificar seus produtos, pela exigência local e pelas exigências no âmbito da exportação. Não temos um passado, como a Europa, não sabemos com clareza o que será o amanhã, estamos, até certo ponto, livres de certas amarras, o que nos possibilita acertar e a errar como jovens que somos. No ano passado, participando de um seminário em Bento Gonçalves perguntaram a uma crítica italiana: "como é que vocês europeus vêem o design brasileiro?". Sua resposta foi a seguinte: "ele é jovem, ele é adolescente, e os adolescentes não sabem que caminho vão seguir, apresentam uma série de incertezas e inseguranças, mas eles experimentam, acertam e erram".

 

Leia entrevista na íntegra

 

 

 

Matéria do MÊS

 

 

Dona Dorotéia, vamos furar aquela onda?

 

 

Quem foi que disse que não há carnaval tradicional em São Paulo? Diante de tanto alarde em torno dos carnavais de sambódromo, que trazem luxuosos desfiles televisionados para todo o Brasil, algumas manifestações culturais tradicionais acabam passando quase despercebidas. Festejo típico do litoral paulista, o Banho da Dorotéia, que ocorre desde 1923 - não sem ter passado por uma série de mudanças -, é uma delas. Na forma como acontece hoje, os foliões vestem-se com fantasias de papel crepom, saem desfilando pela cidade e terminam a performance com um banho de mar, momento em que as fantasias se desintegram, conferindo um colorido especial às águas marinhas.


Escrever a respeito da história de blocos tradicionais carnavalescos é uma tarefa quase impossível, ainda mais quando a mesma remete aos primórdios do século passado. Lendas sobre as origens, disputas pela paternidade dos desfiles e a variedade das formas adquiridas ao longo do tempo são algumas das dificuldades. No entanto, entre pesquisadores e veículos de comunicação mais confiáveis, há certo consenso de que o Banho da Dorotéia surgiu na cidade de Santos (SP), em 1923, no Clube de Regatas Saldanha da Gama, com o nome D. Dorotéia, vamos furar aquela onda?


Antes disso, já era costume, à época de carnaval, tomar banhos de mar trajando fantasias, principalmente no Rio de Janeiro. E foi justamente um carioca que levou a idéia a Santos. Nascido em Petrópolis (RJ), Luís Vieira de Carvalho, o Lorde Gorila, morou em Santos de 1919 a 1927 e é tido como um dos principais fundadores do bloco. Junto com outros companheiros do Clube de Regatas Saldanha da Gama, ele costumava tomar banhos de mar fantasiado de mulher um domingo antes e durante o carnaval. A partir de 1923, conseguiram caminhões, contrataram uma banda e resolveram organizar o desfile, agregando novos participantes. O nome veio em seguida e surgiu numa noite em que os organizadores do evento estavam na platéia de Teatro Guarany, em Santos, para assistir a uma comédia estrelada pelo humorista Pinto Filho que, na ocasião, representava um cabo de polícia. A certa altura, Pinto Filho dirigia-se a uma donzela cujo rosto estava encoberto por um guarda-sol e, com ares de galanteador, disparava duas vezes: "Dona Dorotéia, vamos furar aquela onda?". A revelação na cena seguinte de que a donzela era, na verdade, uma idosa provocava gargalhadas no público.


Ao longo do tempo, a festa foi crescendo e, naturalmente, sofrendo mudanças. No início, apenas os homens, fantasiados de mulher, participavam. A partir de 1973, o desfile foi aberto às mulheres. Além de Dorotéia, novos personagens foram agregados. O bloco passou por momentos de auge e decadência, esteve suspenso durante alguns anos do final da década de 60 e teve seu fim decretado em 1997, diante do registro de diversos episódios de violência. De acordo com a assessoria de imprensa da Prefeitura de Santos, a atual política do governo é a de descentralizar os festejos para evitar aglomerações. Por isso, o carnaval conta agora com diversas tendas espalhadas pela cidade.


Se o D. Dorotéia, vamos furar aquela onda? não existe mais no local em que foi fundado, a tradição acabou contagiando diversas praias do litoral paulista e ganhou contornos específicos em cada região. O Banho da Dorotéia de Ilhabela, que ocorre desde 1950, e o de Iguape, que ocorre desde 1972, são os mais famosos. O sucesso dos blocos pode ser explicado pelo fato de se realizado de dia e terminar com um revigorante mergulho no mar, momento mais esperado pelos foliões. Em muitos dos desfiles, as fantasias de papel crepom tornaram-se obrigatórias e, com isso, o banho de mar que encerra o evento deixa as águas coloridas, num espetáculo visual à parte.

 

Em tempos de desfiles faraônicos com celebridades, camarotes disputadíssimos, abadás e cordões de isolamento, vestir-se de mulher e refrescar-se com um banho de mar, sentido a fantasia do corpo desmanchar, é um respiro a todos aqueles que preferem aproveitar o carnaval longe das telas e à moda antiga.

 

A CASA indica

 

 

Projeto Pulseira Ver a Árvore

 

 

A partir do fim de semana dos dias 6 e 7 de fevereiro, o Parque do Ibirapuera, em São Paulo, recebe o projeto de arte ambiental Pulseira Ver a Árvore. Criação de Renata Mellão, a idéia é envolver árvores do parque em grandes pulseiras contendo lentes de aumento que permitam enxergar sua casca em amplas dimensões, proporcionando ao visitante a contemplação da árvore em toda a sua riqueza de detalhes. Tudo isso ocorre sem agressão ao meio ambiente. As pulseiras foram desenvolvidas de modo a não precisarem ser pregadas ou amarradas nas árvores, que permanecem intactas. O projeto teve apoio da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente. Não perca! Inauguração: 6 e 7 de fevereiro, a partir das 12h. Parque do Ibirapuera, atrás do MAM, próximo à casa da administração do parque.

 

 

Sara Carone - cerâmicas e desenhos

 

Mostra reúne 200 trabalhos entre desenhos, esboços e cerâmicas. Até o encerramento da exposição, a artista estará no local todos os sábados, das 14h às 17h, recebendo visitantes. De terça a domingo, das 10h às 18h. Até 7 de fevereiro. Estação Pinacoteca. Largo General Osório, 66. Luz. São Paulo-SP. Telefone: 11 3335 4990. Saiba mais. Confira algumas das peças de Sara Carone no museu virtual e o novo site da ceramista!

 

 

Izabel Mendes da Cunha: Cerâmicas

 

 

Com curadoria de Lélia Coelho Frota, exposição apresenta bonecas de barro de Izabel Mendes da Cunha ou apenas "mestre Isabel", como é conhecida. Aos 85 anos, a artista foi responsável por uma verdadeira revolução na produção cerâmica do Vale do Jequitinhonha (MG), local em que nasceu. De segunda a sexta, das 11h às 19h. Sábados, das 11h às 15h. Até 10 de março. Entrada gratuita. Galeria Estação. Rua Ferreira de Araújo, 625. Pinheiros. São Paulo-SP. Telefone: 11 3813 7253. Saiba mais.

 

 

Boa leitura

 

"A renda foi incorporada como item de diferenciação social e seu uso tornou-se indicativo de status, distinção e poder. A renda "virou moda" em toda Europa e além da qualidade, a quantidade de rendas que ornava uma vestimenta estava diretamente relacionada à posição social de quem a trajava. A gola é um bom exemplo, uma vez que ganhou grandes proporções que, associado ao seu formado cilíndrico, "praticamente afogavam o pêscoço, mal deixando virar a cabeça" (Ramos,1948:16). O exagero e a ostentividade no uso da renda fizeram com que a Igreja lançasse éditos suntuários, visando coibir tal "abuso". Durante a Revolução Francesa, o uso da renda sofreu um declínio por ser associada àquilo que então se combatia: o luxo e a ostentação. No entanto, passado esse período voltou a ocupar função de distinção social".


Julia Brussi

A renda de bilro e a rendeira. Capítulo da dissertação de mestrado "Da 'renda roubada' à renda exportada: a produção e a comercialização da renda de bilros em dois contextos cearenses", submetida ao Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília.

 

Leia o texto na íntegra


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