Histórico da comunidade
O distrito de Igaraí faz parte do Município de Mococa no Estado de
São Paulo e comemorou 152 anos em 2008.
Igaraí nasceu de uma área de 60 alqueires doada por um fazendeiro
que tinha uma propriedade na região.
O mesmo fazendeiro doou ainda dinheiro para que fosse erguida uma capela, Nossa Senhora da Luz, Santa de devoção de sua esposa. Em torno da capela começou a nascer o povoado, que foi batizado de Nossa Senhora da Luz das Canoas, numa referência também ao Rio Canoas que passa por ali. Depois de 48 anos a localidade passou a ser conhecida como Igaraí, que significa "canoa pequena" em tupi-guarani. Esta denominação é oficial até os dias de hoje.
Contexto Sócio-Ambiental
O distrito de Igaraí possui 3.180 habitantes sendo que 1.050 vivem na zona rural, cujas principais atividades são as lavouras de café e cana-de-açúcar e o leite vendido aos laticínios locais. Mesmo a população que vive na vila de Igaraí depende quase que 100% dos empregos
gerados na zona rural.
Com o declínio das lavouras de café e da produção leiteira na última década e com o avanço da cana-de-açúcar e a mecanização de sua colheita os empregos estão cada vez mais escassos e sem qualquer outra atividade industrial a localidade de Igaraí se vê a cada dia mais insegura do ponto de vista social e económico.
Os trabalhos existentes em sua maioria são ocupados pêlos homens. Dentro do grupo somente uma das mulheres (ver Anexo I - Perfil Demográfico do Grupo de Mulheres do Projeto Café Igaraí) possui trabalho fixo registrado como caseira em uma das fazendas locais. Durante 4 meses ao ano, 2 ou 3 destas mulheres conseguem trabalho temporário nas poucas lavouras de café ainda existentes com remuneração baseada em diárias, alcançando em sua maioria no máximo um salário mínimo mensal.
Além disto, com o casamento, chegada dos filhos e grandes distâncias com escasso transporte público, a tendência é de que as mulheres fiquem em casa sem muito poder contribuir para a cada vez mais agravante situação financeira do núcleo familiar.
Deste contexto e necessidade, nasceu o Projeto Café Igaraí.
Histórico do Projeto Café Igaraí
A semente do Projeto Café Igaraí nasceu em uma das fazendas locais
chamada Fazenda Ambiental Fortaleza. Preocupada com a escassez de trabalho para as mulheres fora dos meses da colheita do café e com a redução mesmo desta opção devido à substituição destas lavouras por cana-de-açúcar, a dona da fazenda incentivou as mulheres residentes na propriedade a confeccionar produtos em bordado e croché artesanal para venda aos hóspedes ocasionais.
Percebendo as carências locais e o potencial de mudança que esta atividade poderia ter na da vida destas e outras mulheres da região, um grupo de amigos da Fazenda Ambiental Fortaleza e sua dona, resolveu buscar uma solução para transformar esta iniciativa em uma açâo de maior impacto comunitário.
Esta busca culminou com o envio de uma proposta de projeto ao Sebrae –SP em maio de 2006, depois aprovada, para a contratação do designer têxtil Renato Imbroisi e sua equipe. O escritório regional do Sebrae-SP não possuía até então nenhum projeto de geração de renda de sucesso por meio do artesanato nos 16 municípios que atendia. Este foi e ainda é o primeiro e único projeto do designer Renato Imbroisi no Estado de São Paulo.
O foco do projeto passou a ser não só as mulheres da Fazenda Ambiental Fortaleza, mas de outras fazendas da região, como a Fazenda Santo António e da vila de Igaraí.vizinha à estas fazendas, com o objetivo de criação de um projeto de base de geração de renda de maior impacto comunitário possível.
O grupo de 30 artesãs iniciou as atividades do programa PSA (Programa Sebrae Artesanato) em agosto de 2006, terminando em novembro 2006.
De novembro de 2006 à janeiro de 2007 passaram também por oficinas de aprimoramento técnico de Bordado, Costura, Pintura em Porcelana e Tingimento Natural de Tecido. A primeira Oficina de Criação foi realizada no salão de festas cedido pela Igreja local em Janeiro de 2007.
Objetivos e Metas
Ao elaborar o Projeto Café Igaraí em Julho de 2006 o grupo fundador chegou a um
consenso sobre os seus objetivos:
- Criar condições para a geração de renda e aumento da auto-estima das artesãs, preservando, valorizando e mantendo as tradições locais por meio do artesanato.
- Desenvolver o potencial do grupo através de cursos de capacitaçâo e ampliação de atividades sócio-culturais de forma sistemática.
- Fomentar a construção de identidade e organização do grupo visando sua futura auto-suficiência e independência financeira.
- Aumentar a capacidade de produção e venda do artesanato.
- Criar uma marca conhecida e respeitada por meio da comercialização dos produtos.
- Utilizar a força de organização do grupo para a realização de atividades que envolvam e beneficiem a comunidade.
- Desenvolver uma atitude de respeito e sustentabilidade em relação ao meio-ambiente e à comunidade onde vivem.
Resultados Intangíveis
Logo de início já pudemos observar e constatar com as participantes os benefícios da formação do grupo;
- Maior integração com outras mulheres da comunidade, as quais antes só conheciam de vista.
- Aumento do respeito e admiração entre as artesãs através da descoberta das diferentes e muitas vezes semelhantes aptidões artesanais.
- Reuniões e encontros sistemáticos, maior participação e envolvimento social, em diferentes extratos sócio-econômicos por parte das artesãs.
Houve um grande investimento por parte de todos os envolvidos, pois foi quase um ano e meio de preparação, treinamentos, capacitações, sem que o resultado tangível, ou seja, a renda proveniente da comercialização dos produtos chegasse às mãos das artesãs.
Neste meio tempo havia muita pressão por parte dos familiares e amigos para que as artesãs abandonassem o grupo. A própria comunidade tem um histórico de projetos iniciados que não tiveram continuidade e fracassaram.
Com O Projeto Café Igaraí a expectativa era a mesma, o consenso da comunidade era "mais uma iniciativa que não vai dar certo", "estão trabalhando de graça".
Hoje dois anos depois a conquista da permanência e estabilidade do grupo trouxe um incrível aumento da auto-estima das artesãs. Assim que a renda começou a ajudar no orçamento domiciliar, os familiares se aquiesceram. As amigas e colegas hoje querem participar do grupo. A visibilidade alcançada na mídia local e nacional ajudou muito no fortalecimento da imagem das artesãs entre elas mesmas e junto à comunidade. Nunca imaginaram que poderiam aparecer em revistas e em um programa da Rede Globo (Ação Social - Julho 2007).
Os horizontes se expandiram com a participação em feiras e bazares em cidades como Brasília e São Paulo. Hoje o pensamento já se aventura e querem programar uma excursão à praia que a maioria não conhece.
A Identidade
As peças feitas à mão do projeto Café Igaraí têm, como tema, a bebida em si e toda sua produção, a partir do plantio, no interior paulista, pois apesar de ter uma história conhecida, não existia nenhum trabalho no Estado onde as mãos que fizeram esta história também pudessem contá-la.
Grãos pintados em porcelana com realismo e sutileza, ramos da planta, com frutos e flores delicadamente bordados em guardanapos e
toalhas de mesa, quadrinhos com cenas de fazendas, e desenhos inspirados nas aves que habitam os cafezais - tudo combinando, na exata medida, realismo e poesia, com técnica esmerada.
As cores remetem ao universo da lavoura do café: utiliza-se o branco, o cru, o marrom, o preto e tons terrosos resultantes do tingimento vegetal natural com palha e pó de café reciclado, folhas de árvores amigas dos cafezais, como pata-de-vaca, amoreira, ipê, jacarandá e outras, todas típicas da região de Igaraí, povoado rural de Mococa, a 260 quilómetros da capital.
A grande surpresa da linha de artesanato Café Igaraí, porém, ocorre quando se olha nos rostos e se vê as mãos - fortes, marcadas, calejadas - das artesãs habilidosas responsáveis por esta produção singular. Hoje, agulhas, linhas, tesouras, tecidos, pincéis, ocupam o lugar do instrumento de trabalho que carregaram durante anos, até bem pouco tempo atrás: a enxada, a pá, os balaios para colocar os grãos colhidos, com mãos nuas, na "panha de café", como se referem à colheita.
A inspiração no tema café apela diretamente à vivência coletiva e ao histórico particular de quem produz as peças. O resultado remete à tradição e ao ambiente bucólico e acolhedor, característico das fazendas paulistas de café.
Seria exagero dizer que o café corre nas veias destas ex-lavradoras, hoje artesãs; mas, sem dúvida, ele está plantado fundo em seus corações.
As Técnicas
O Projeto Café Igaraí contempla a utilização principalmente de três técnicas: Bordado Manual, Tingimento Vegetal Natural de Tecidos e Pintura Manual em Porcelana. Além destas utiliza-se também de técnicas complementares como costura, croché, desenho e patchwork.
Os Produtos
A linha de produtos concebida pelo designer Renato Imbroisi para o Projeto Café Igaraí foi produto das várias conversas com o grupo durante a Oficina de Criação em janeiro de 2007 e da experiência de mercado do designer.
A inspiração veio da tradição histórica do "Café com Leite" da região e resultou na criação de produtos que compõe uma linda Mesa de Café da Manha.
O Mercado
O projeto Café Igaraí reúne, neste momento, 15 mulheres, a maioria ex-lavradoras, ou de famílias que trabalham na lavoura de café, e que dominam técnicas de artesanato passadas de mãe para filha, como o bordado e o croché. A parceria entre o designer têxtil Renato Imbroisi e sua equipe, de São Paulo, resultou na orientação e criação de produtos com identidade local, valor agregado e apelo comercial dirigido ao público apreciador do artesanato com design que se faz hoje no Brasil.
Inicialmente a comercialização foi feita através de bazares regionais. O lançamento comercial foi comemorado com um evento de sucesso na loja paulista Rendas e Fricotes que contou com uma vitrine viva com as artesãs.
Todas as artesas do grupo são cadastradas pela Sutaco e em seu primeiro ano de existência o grupo vendeu mais de R$ 60.000.
No final de 2007 e em fevereiro de 2008 o grupo participou de duas exposições seguidas de vendas de seus produtos em Chicago, nos Estados Unidos, nos cafés Wild Tree e Metropolis. O produto teve boa
aceitação e alguns quadros bordados pelas artesãs chegaram a ser vendidos por U$ 150 cada.
Em março de 2008 o grupo recebeu o patrocínio da organização da feira Craft + Design, da qual participou com sucesso. Neste evento o grupo conseguiu captar cerca de 30 novos clientes lojistas, principalmente de outros estados brasileiros como Ceará, Piauí, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
O crescimento das vendas vem sendo contínuo e principalmente acompanhado por um amadurecimento organizacional do grupo para que possa garantir a produção e atendimento de seus clientes.
O grupo já tem uma exposição seguida de venda de seus trabalhos agendada para o mês de setembro de 2008 na Willis Harman House em São Paulo.
O Amadurecimento
Apesar do grupo hoje ser menor em número de artesãs do que era inicialmente, as atuais participantes tem um nível de amadurecimento
conquistado com a vivência deste último ano.
Através do apoio recebido do Instituto Vivarta em forma de patrocínio de uma Coordenadora Local, o grupo recebe semanalmente orientações e treinamento em áreas imprescindíveis à sua sobrevivência como relacionamento entre as artesãs, divisão de tarefas, compra de matéria prima, organização da produção, vendas e
controle de qualidade, administração financeira e contabilidade entre outras.
Ao invés de acrescentarem mais artesas ao grupo, as participantes decidiram manter o grupo com poder de decisão com as participantes originais e formar pequenos núcleos de terceirizaçâo da produção. Cada participante treina suas próprias terceirizadas, geralmente uma irmã, cunhada ou vizinha, e se responsabiliza pela gerência deste núcleo. Desta maneira as reuniões semanais e tomadas de decisões
têm sido mais eficientes e o benefício da geração de renda começa a se estender para além do grupo inicial do projeto.
As artesas são remuneradas por peça vendida, ou seja, elas investem na confecção da peça e uma vez vendida a peça, a artesa recebe o equivalente à mão de obra empregada na peça. O lucro da peça, assim como o equivalente aos custos de matéria prima vão para um fundo do grupo que é gerenciado por 2 artesãs e pela coordenadora. Este fundo é utilizado para a compra coletiva de matéria prima e para
investimentos do grupo como compra de máquina de costura, custos de participação em Feiras e Bazares, construção de website entre outras.
Em março de 2008, o grupo pagou de seus próprios fundos o designer Renato Imbroisi por uma segunda Oficina de Criação em preparação para a feira Craft + Design. Segundo testemunho do designer, este foi o primeiro grupo em seus 25 anos de carreira que pagou de seu próprio bolso por uma de suas Oficinas. Normalmente os fundos para este tipo de investimento provêm de agências governamentais.
O grupo hoje é financeiramente independente e persegue de maneira contínua as metas e objetivos estabelecidos em seu planejamento estratégico em 2007.
Mãos calejadas da colheita do café trocaram a enxada pela agulha, a linha e o bordado. No distrito de Igaraí, em Mococa (SP), o projeto Café Igaraí há três anos reúne artesãs para a produção de peças feitas à mão com a temática do café, item característico da região.
Numa região de forte tradição cafeicultora, os empregos eram majoritariamente masculinos, e muito atrelados à época da safra. Com o avanço da cana no lugar do café e a mecanização da colheita, os empregos foram se tornando cada vez mais escassos.
Por iniciativa de uma fazendeira da região, as mulheres de Igaraí começaram a fazer produtos de bordado e crochê para vender aos visitantes, como fonte alternativa de renda. Dentro de um ano o projeto ganhou fôlego e conseguiu uma parceria com o Sebrae-SP para oficinas de capacitação.
O designer Renato Imbroisi foi à comunidade como consultor. As artesãs freqüentaram oficinas de aprimoramento técnico de bordado manual, costura, pintura em porcelana e tingimento natural de tecido. O resultado foram produtos que formam uma verdadeira mesa de café da manhã: toalhas, xícaras, guardanapos etc.
Os bordados desenham nas toalhas a fauna e a flora típica dos cafezais. E os tecidos são tingidos com corantes naturais do reaproveitamento do próprio café e de árvores que crescem próximo à lavoura, imprimindo tons terrosos, cru, marrom e preto.
O projeto conta com o apoio da Prefeitura Municipal e consultoria do Instituto Vivarta. A idéia é ter uma associação formalizada até o final do ano e depois deixar que as artesãs dêem continuidade ao projeto de forma autônoma. “A medida do sucesso vai ser daqui a 2 ou 3 anos. Consideramos que a gente vai ter sucesso no dia em que não estivermos mais lá e mesmo assim aquilo não morra”, afirma Claudia Meirelles Davis, consultora do projeto através do Instituto Vivarta.